AbdonMarinho - BRASIL: Do Grito do Ipiranga ao C… .
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BRASIL: Do Grito do Ipi­ranga ao C… .

BRASIL: Do Grito do Ipi­ranga ao C… .

Por Abdon Marinho.

DAQUI a pouco mais de um ano, em 7 de setem­bro de 2022, o país cel­e­brará o bicen­tenário da sua inde­pendên­cia de Por­tu­gal que, para os reg­istros históri­cos, teria sido mar­cado com a frase do Imper­ador D. Pedro I: “inde­pendên­cia ou morte”, suposta­mente pro­feri­das às mar­gens do Ria­cho Ipi­ranga, por isso pop­u­lar­mente con­hecido como o “grito do Ipi­ranga”. Alguns dizem, entre­tanto, que a inde­pendên­cia teria começado na ver­dade com a recusa do príncipe regente em aten­der as deter­mi­nações da Corte por­tuguesa para retornar a Por­tu­gal, ocor­rido em 9 de janeiro daquele e que ficou mar­cada pela frase: “Se é para o bem de todos e feli­ci­dade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico».

Após a abdi­cação de D.Pedro I, em 1831, com ape­nas 5 anos de idade, o filho caçula, Pedro, torna-​se príncipe regente, tendo como tutor José Bonifá­cio de Andrada. Em 1840, com 15 anos, Pedro é declar­ado maior de idade e coroado imper­ador com o nome de D. Pedro II, dando iní­cio ao Segundo Reinado que durou até a procla­mação da República em 1889. O imper­ador do Brasil foi motivo de muito orgulho e respeito para o país mundo a fora por conta da sua inteligên­cia, sabedo­ria, senso democrático, respeito à liber­dade de expressão e de opinião. É dele as seguintes frases: “Se não fosse imper­ador, dese­jaria ser pro­fes­sor. Não con­heço mis­são maior e mais nobre que a de diri­gir as inteligên­cias jovens e preparar os homens do futuro”; “Enquanto se puder reduzir a despesa, não há dire­ito de criar novos impos­tos”; «Deus que me con­ceda esses últi­mos dese­jos — Paz e Pros­peri­dade para o Brasil»; “Despesa inútil é furto a nação”; e tan­tas outras.

Com a procla­mação da República, muitos pres­i­dentes e seus gov­er­nos foram mar­ca­dos por alguma frase dita em deter­mi­nado momento.

Deodoro da Fon­sêca, primeiro pres­i­dente da República, mar­cou seu período pres­i­den­cial com críti­cas à República que procla­mara. Dizia que a solução para a esta­bil­i­dade do país era a monar­quia.

São de Getúlio Var­gas as frases: “Quanto menos alguém entende, mais quer dis­cor­dar…” e “Saio da vida para entrar na história”, escrita na sua famosa carta-​testamento.

O grande pres­i­dente Juscelino Kubitscheck é autor das frases: “Um gov­erno forte se faz per­doando” e “Creio na vitória final e inex­orável do Brasil, como nação”.

Outro grande fra­sista foi Jânio Quadros, das quais desta­camos: “Intim­i­dade gera abor­rec­i­men­tos ou fil­hos. Como não quero abor­rec­i­men­tos com a sen­hora, e muito menos fil­hos, trate-​me por Senhor”.

O marechal Hum­berto de Alen­car Castelo Branco, den­tre out­ras é o autor da seguinte frase: “A esquerda é boa para duas coisas: orga­ni­zar man­i­fes­tações de rua e des­or­ga­ni­zar a econo­mia”.

O pres­i­dente Ernesto Geisel, que ini­ciou a aber­tura democrática no país é o autor da seguinte frase: “É muita pre­ten­são do homem inven­tar que Deus o criou à sua imagem e semel­hança. Será pos­sível que Deus seja tão ruim assim? Eu sou um sujeito pro­fun­da­mente democrático”.

O último pres­i­dente do ciclo mil­i­tar, o pres­i­dente João Figueiredo, que pos­suía um dos mais irascíveis tem­pera­men­tos é o autor de frases como: “pre­firo o cheiro de cav­a­los ou do povo”; “Vou fazer deste país uma democ­ra­cia” e “A única solução é dar um tiro no coco”, quando per­gun­tado sobre o que faria se recebesse um salário mín­imo.

O maran­hense José Sar­ney, assumiu a presidên­cia da República em vir­tude da doença de Tan­credo Neves, em 15 de março de 1985, den­tre as suas frases predile­tas tinha aquela que dizia da neces­si­dade de se respeitar a litur­gia do cargo. Uma outra frase dele, que con­sidero inter­es­sante é: “Sou ape­nas um menino do Maran­hão que o des­tino disse: vai José, ser Presidente!”.

Sar­ney é suce­dido por Fer­nando Col­lor, primeiro pres­i­dente eleito dire­ta­mente pelo povo após o régime mil­i­tar (Tancredo/​Sarney foram eleitos pelo Colé­gio Eleitoral) tinha como mote o com­bate à cor­rupção – visto de hoje parece uma piada de mau gosto –, uma das suas frases era: “O meu primeiro ato como pres­i­dente será man­dar para a cadeia um bocado de cor­rup­tos”, dita ainda durante a cam­panha. Uma outra, que até tornou-​se pre­cur­sora dos memes de hoje foi: “Eu tenho aquilo roxo!”, dita quando acos­sado pelas denún­cias da cor­rupção que prom­e­tera com­bater assim que chegasse ao gov­erno.

Fer­nando Hen­rique Car­doso que sucedeu ao gov­erno Collor/​Itamar na esteira do Plano Real, que debe­lou a inflação, tinha frase bem inter­es­sante sobre isso que dizia: “Não é a moeda forte que faz o país. O país é que faz a moeda forte!”, uma outra de sen­tido mais filosó­fico, diz: “Cada um tem que inven­tar sua resposta. Dar sen­tido a sua vida. A vida, em si, não tem sen­tido. Cada um tem que con­struir o seu sen­tido. E vai sofrer para encontrar”.

O FHC foi suce­dido pelo sen­hor Luís Iná­cio Lula da Silva, que legou as seguintes frases para a pos­teri­dade: “Pre­cisamos vencer a fome, a mis­éria e a exclusão social. Nossa guerra não é para matar ninguém — é para sal­var vidas!”, “Na primeira vez que me per­gun­taram se eu era comu­nista, respondi: «Sou torneiro mecânico» e, ainda, a igual­mente famosa: “Eu não sabia”, quando con­frontado com as incon­táveis denún­cias de cor­rupção do seu gov­erno.

O sen­hor Lula é suce­dido pela sen­hora Dilma Rouss­eff, autora de frases impagáveis e que entraram para os anais do ane­dotário nacional. Den­tre as quais: “Não acho que quem gan­har ou quem perder, nem quem gan­har nem perder, vai gan­har ou perder. Vai todo mundo perder” ou “Nós não vamos colo­car uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atin­gir a meta, nós dobramos a meta” ou “Na vida a gente não sobe de salto alto”.

A sen­hora Dilma disse, tam­bém coisas com algum sen­tido, do tipo: “Nós acred­i­ta­mos que, sem­pre, em qual­quer situ­ação, é muito mel­hor o diál­ogo, o con­senso e a con­strução democrática do que qual­quer outro tipo de rup­tura insti­tu­cional” e “Nós con­vive­mos com a democ­ra­cia. E quem tem democ­ra­cia quer sem­pre mais democracia”.

Lis­tei essas frases, man­i­fes­tações, mes­mos as mais intem­pes­ti­vas, para dizer que nada, nada mesmo, nen­huma fala, de imper­adores a pres­i­dentes da República, nos quase duzen­tos anos em que exis­ti­mos enquanto nação sober­ana, se aprox­i­mou, chegou perto da man­i­fes­tação escat­ológ­ica do pres­i­dente do país na última sem­ana.

Acho que nem mesmo o gen­eral Figueiredo, de quem o atual donatário da República mais se aprox­ima, por sua ignorân­cia e arrou­bos autoritários, ape­sar de tudo que chegou a dizer enquanto se encon­trava no exer­cí­cio da presidên­cia – e olha que disse hor­rores –, chegou perto do que disse o atual pres­i­dente na última quinta-​feira, 8, em rede mundial de com­puta­dores – e depois repro­duzi­das em todas as mídias.

Quem, em sã con­sciên­cia, acha razoável que um pres­i­dente da República diga no horário do jan­tar da família brasileira que “c…, sim c… para a CPI”?

Primeiro que um pres­i­dente da República é exigido que jamais atente con­tra “o livre exer­cí­cio do Poder Leg­isla­tivo, do Poder Judi­ciário, do Min­istério Público e dos Poderes con­sti­tu­cionais das unidades da Fed­er­ação”, con­forme esta­b­elece o artigo 85, II, da Con­sti­tu­ição Federal.

Uma regra, ape­sar de não con­star no supra citado artigo, é o pres­i­dente da República deve respeito ao cargo que ocupa e porte-​se com decoro, pois é o espelho da nação que representa.

Não é admis­sível que um pres­i­dente da República, mesmo que coberto de razão (o que não é o caso), ocupe um espaço na mídia para dizer que está “c…” para isso ou aquilo.

É ina­ceitável que se chegue a esse nível de baix­eza e descon­t­role emocional.

O país não pode aceitar como nor­mal esse tipo de com­por­ta­mento da maior autori­dade do nação, do cidadão que investido no cargo, fala pelo povo brasileiro.

Se os cidadãos de bem não con­seguem mais indignar-​se com tal tipo com­por­ta­mento é porque, cer­ta­mente, já habitam a mesma lat­rina de quem pro­fere tamanha boçal­i­dade.

Encer­rando o pre­sente texto, faço uso das frases de Tan­credo Neves, que foi pres­i­dente sem ter a chance de gov­ernar, e que dizia: “O processo dita­to­r­ial, o processo autoritário, traz con­sigo o germe da cor­rupção. O que existe de ruim no processo autoritário é que ele começa des­fig­u­rando as insti­tu­ições e acaba des­fig­u­rando o caráter do cidadão”, “Esperteza, quando é muita, come o dono” ou ainda: “Cada gov­erno tem a oposição que merece. A um gov­erno duro, intran­si­gente e intol­er­ante cor­re­sponde sem­pre uma oposição apaixon­ada, vee­mente e destrutiva”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.