AbdonMarinho - O fenômeno Bolsonaro - Parte 1.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O fenô­meno Bol­sonaro — Parte 1.


O FENÔ­MENO BOL­SONARO — Parte 1.

Por Abdon Marinho.

UMA das razões pelas quais deixei para escr­ever o pre­sente texto nesta manhã de domingo foi aguardar o resul­tado da man­i­fes­tação pop­u­lar chamada pelo pres­i­dente da República, e seus ali­a­dos, para acon­te­cer na cap­i­tal fed­eral no sábado, dia 15 de maio.

Se não me falha a memória já vai pelo ter­ceiro fim de sem­ana que elas ocor­rem, sem con­tar as man­i­fes­tações ocor­ri­das na inau­gu­ração da ponte do Abunã, sobre o Rio Madeira, em Rondô­nia e em Maceió, Alagoas.

As man­i­fes­tações de apoio ao chefe da nação – a despeito de tudo que vem ocor­rendo no Brasil –, coloca-​o na condição de “fenô­meno”, que na acepção da palavra, em sen­tido fig­u­rado, sig­nifica: “pes­soa, ani­mal ou coisa com algo de extra­ordinário, que provoca admi­ração ou espanto”.

O sen­hor Bol­sonaro, segundo as últi­mas pesquisas, conta com um apoio pop­u­lar que não chega ou que oscila em torno dos 30% (trinta por cento) da pop­u­lação, e, segundo essas mes­mas pesquisas, 54% (cinquenta e qua­tro por cento) dos eleitores já cravaram que “não votarão nele de forma alguma”.

Registre-​se, ainda, que ape­nas 14% (qua­torze por cento) da pop­u­lação acred­ita pia­mente no que diz o pres­i­dente e que 58% (cinquenta e oito por cento) da pop­u­lação acham que ele não pos­sui capaci­dade para diri­gir o país.

Em tal con­texto, a não ser pela ótica do “fenô­meno” con­seguimos explicar ou com­preen­der as man­i­fes­tações de apoio que o sen­hor Bol­sonaro recebe de um segui­mento sig­ni­fica­tivo da população.

Merece relevo que os apoios rece­bidos pelo pres­i­dente não vêm dos cidadãos menos afor­tu­na­dos, menos esclare­ci­dos – não do ponto de vista for­mal –, não esta­mos diante de um Antônio Con­sel­heiro, que, de Canudos, com sua tropa de mal­trapil­hos, rebelou-​se con­tra a jovem República, na Guerra de Canudos (18961897).

As ima­gens rev­e­lam um público de classe média, empresários, estu­dantes, profis­sion­ais lib­erais, etc. Muitos vin­cu­la­dos a denom­i­nações reli­giosas, mas nem todos, provando que existe um “movi­mento bol­sonar­ista”, daí ter aguardado o último ato tendo em vista que con­vo­cado como “ato político”, por pes­soas que apoiam, inde­pen­dente de qual­quer coisa que diga ou faça – ele ou seu gov­erno. Até porque, os efeitos do que dizem ou fazem atinge a todos.

O prin­ci­pal min­istro do gov­erno, sen­hor Guedes, que con­trola a econo­mia, ao jus­ti­ficar a ele­vação do dólar face ao real disse o dólar alto fazia bem a econo­mia e aproveitou para recla­mar que “até as domés­ti­cas estavam indo para a Disneylândia”.

Outra vez reclamou que brasileiros estão vivendo “demais” – saiu-​se até com uma frase: “todo mundo quer viver mais de cem anos”.

No iní­cio da pan­demia, saiu a notí­cia (que até hoje me recuso a ter como ver­dadeira) de que alguém deste min­istério teria “fes­te­jado” a pan­demia sob o argu­mento de que mor­re­riam muitos idosos e que isso desafog­a­ria a pre­v­idên­cia social, um dos gar­ga­los do atual gov­erno.

Por último, reclamou do fato do FIES ter finan­ciado a for­mação do filho do porteiro.

Devo pen­sar, então, que as pes­soas que estavam nas ruas em favor do pres­i­dente – que nada disse sobre as falas do seu min­istro –, são con­tras que as domés­ti­cas pos­sam pagar uma pas­sagem para con­hecer a Dis­neylân­dia? Com­prar um iPhone?

São con­trários ao fato dos brasileiros, depois de muita luta, terem mel­ho­rado sua expec­ta­tiva de vida – que ainda é uma das baixas entre os países civilizados?

São con­tra o FIES finan­ciar a fac­ul­dade do filho do porteiro, do açougueiro, do pedreiro, do agricul­tor ou de qual­quer um que se enquadre no programa?

Cer­ta­mente que os cidadãos “de bem” que se vestem de verde-​amarelo, que são esclare­ci­dos não defen­dem tais ideias? Ou defen­dem? Por que nada dis­seram?

Quando o sen­hor Bol­sonaro assumiu o gov­erno, em janeiro de 2019, 1 dólar cus­tava R$ 3,75 reais, a cotação do dólar hoje é de R$ 5,56, ou seja, a moeda brasileira “perdeu”, no inter­valo de dois anos, quase R$ 2,00.

Já ouvi, de pes­soas igno­rantes, a assertiva de que “não viviam em dólar e sim, em real”.

Mas esse não é o público que estava nas man­i­fes­tações de apoio ao gov­erno. Exceto pelo pequeno nicho do agronegó­cio expor­ta­dor, a ele­vação do dólar em face da nossa moeda nos empo­brece, vez que a moeda amer­i­cana é o padrão de riqueza do mundo.

Imag­ine que você tem um pro­priedade, um bem, ou mesmo uma poupança no Brasil e em pouco mais de dois anos, isso esteja val­endo trinta ou quarenta por cento menos.

Sem con­tar que a cotação do dólar tem influên­cia no preço de tudo que con­sum­i­mos aqui no nosso país.

A ele­vação do preço do bar­ril de petróleo (que é cotado em dólar) ou da própria moeda, encar­ece tudo aqui den­tro: o preço do diesel, que em janeiro de 2019, estava abaixo de R$ 3,50, hoje já chega aos R$ 4,00 e até passa desse valor, trazendo, com isso a ele­vação de tudo que con­sum­i­mos.

Mais. A desval­oriza­ção da moeda nacional estim­ula as expor­tações de ali­men­tos.

Ah, isso é muito bom, dirão, nossa bal­ança com­er­cial terá superávit.

É ver­dade, mas de outro lado, o preço da carne, do frango, porco e de tudo que con­sum­i­mos sofr­erá aumento, levando o empo­brec­i­mento das famílias.

Uma das prin­ci­pais funções das autori­dades fed­erais é a pro­teção da moeda e o gov­erno brasileiro tem fra­cas­sado mis­er­av­el­mente neste ponto.

Não tudo, mais uma grande parte da desval­oriza­ção da nossa moeda tem a ver com man­i­fes­tações intem­pes­ti­vas, incom­petên­cia, falta de plane­ja­mento e de visão do mundo do pres­i­dente e da sua equipe.

O enfraque­c­i­mento do real frente ao dólar traz con­se­quên­cias nefas­tas para as pes­soas: não con­seguem se ali­men­tar como antes, não con­segue, sequer, coz­in­har com gás, nem se fale em con­sumir algum “luxo”.

Entre­tanto, para o gov­erno, o dólar alto é bom, onde já se viu domés­tica querer passear na Dis­neylân­dia.

Cer­ta­mente as pes­soas que saem às ruas para man­i­fes­tações de apoio ao sen­hor Bol­sonaro, que não são igno­rantes, sabem do efeito danoso que essa política econômica tem cau­sado a nossa econo­mia – e a apoia.

Um dos maiores ativos políti­cos do Brasil per­ante a comu­nidade inter­na­cional é o rela­cionado ao meio ambi­ente.

Desde que o atual gov­erno assumiu que o INPE — Insti­tuto Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais, órgão público, atesta ele­vação no des­mata­mento das nos­sas florestas.

O risco delas virem a desa­pare­cer, de tão real acen­deu o alerta na comu­nidade inter­na­cional a ponto do encar­regado para assun­tos rela­ciona­dos ao clima do gov­erno Joe Biden, John Kerry, man­i­fes­tar pub­li­ca­mente sobre o tema.

Tudo isso sem con­tar com a invasão de reser­vas indí­ge­nas para explo­ração de madeira e de minérios, a “gri­lagem” das ter­ras públi­cas, a legal­iza­ção de crimes ambi­en­tais, etc.

Sem con­tar com a própria vio­lên­cia prat­i­cadas con­tra os índios – os ver­dadeiros donos das ter­ras desde sem­pre.

Um dos fatos mais curiosos destes dias estran­hos que vive­mos, foi a notí­cia de a FUNAI — Fun­dação Nacional do Índio, que dev­e­ria tratar dos inter­esses dos indí­ge­nas, solic­i­tou a Polí­cia Fed­eral aber­tura de um inquérito.

Não con­tra os grileiros, não con­tra os garimpeiros, não con­tra os madeiros …

Pois é, a FUNAI, pas­mem! Solic­i­tou a PF que abrisse inquérito con­tra os índios, con­tra as lid­er­anças indí­ge­nas, jus­ta­mente por elas denun­cia­rem esse tipo de situ­ação.

Vejam, o gov­erno brasileiro, de forma delib­er­ada, por ignorân­cia ou inter­esses incon­fessáveis, não con­segue (ou não quer) pro­te­ger o maior patrimônio do país, muito emb­ora a comu­nidade inter­na­cional tenha ofer­e­cido recur­sos para aju­dar nessa empre­itada.

O que temos, entre­tanto, é um min­istro do meio ambi­ente – dos mais pres­ti­gia­dos pelo pres­i­dente –, sendo acu­sado pela Polí­cia Fed­eral, de atra­pal­har as inves­ti­gações de crimes ambi­en­tais e de “con­spirar” a favor dos des­mata­dores.

O que temos assis­tido, desde o iní­cio do gov­erno, é a “boiada” pas­sando, o IBAMA e o ICM­bio sem qual­quer estru­tura e recur­sos para cumprirem suas mis­sões insti­tu­cionais enquanto o Min­istério do Meio Ambi­ente edita por­tarias no sen­tido de inibir a atu­ação dos fis­cais.

Por der­radeiro, existe um esforço inco­mum dos ali­a­dos do gov­erno de faz­erem pas­sar no Con­gresso Nacional uma nova lei “con­tra” o licen­ci­a­mento ambiental.

Essa ini­cia­tiva é total­mente crit­i­cada por todos que entende do assunto e “gan­hou” uma carta con­trária de todos os ex-​ministros do meio ambi­ente, ainda vivos.

Será que todas essas pes­soas que criti­cam a con­dução ambi­en­tal do atual gov­erno estão erradas? Será que os órgãos do próprio gov­erno e do mundo estão erra­dos? Será que as pes­soas que defen­dem o meio ambi­ente no Brasil e mundo, e que nos aler­tam, estão erradas?

Pois bem, soube que na man­i­fes­tação de ontem a favor do pres­i­dente, do gov­erno e das suas pau­tas, um dos dos que se man­i­fes­taram foi o “nosso” anti-​ministro do meio ambiente.

Será que aque­les man­i­fes­tantes que estavam lá aplaudindo são con­trários ao meio ambi­ente? Acham que a política ambi­en­tal do atual gov­erno é digna de aplau­sos?

No (ou nos) texto seguinte con­tin­uare­mos a tratar do fenô­meno Bol­sonaro.

Abdon Mar­inho é advogado.