AbdonMarinho - As fake news e a democracia – Considerações iniciais.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

As fake news e a democ­ra­cia – Con­sid­er­ações iniciais.

AS FAKE NEWS E A DEMOC­RA­CIACON­SID­ER­AÇÕES INICIAIS.

Por Abdon Marinho.

AQUE­LES que acom­pan­ham meus escritos já sabem que fui apre­sen­tado às chamadas “fakes news”, bem antes delas exi­s­tirem como tais. Aliás, antes mesmo da pop­u­lar­iza­ção do próprio termo.

Cor­ria o ano de 1994 quando fomos – eu e o Maran­hão inteiro –, apre­sen­ta­dos a uma espé­cie de avô das hoje chamadas “fake news”. Era, ainda, uma fake news analóg­ica, mas, já com poten­cial alta­mente destru­tivo.

Falo do rumor­oso “Caso Reis Pacheco”, que já foi tratado por mim noutras opor­tu­nidades, aqui mesmo, neste site.

Farei um resumo em pou­cas lin­has e, os mais inter­es­sa­dos, poderão apro­fun­dar no assunto, no site, no meu canal no YouTube ou noutros meios de comu­ni­cação.

Em resumo, deu-​se o seguinte: o grupo adver­sário ao senador Cafeteira, can­didato ao gov­erno do Maran­hão naquele ano de 1994, urdiu uma trama dia­bólica para destruir sua rep­utação.

Alguns anos antes de 1994 o con­sel­heiro do Tri­bunal de Con­tas, Hilton Rodrigues, sogro de Cafeteira, mor­rera vítima de um aci­dente de trân­sito, na antiga Estrada da Raposa, nas prox­im­i­dades do Bairro Araçagy.

O cidadão envolvido no aci­dente de trân­sito que causara morte do sogro do gov­er­nador, de nome Raimundo Reis Pacheco, mudou-​se do estado, para, suposta­mente, apare­cer como um fan­tasma.

No ano da eleição, um falso irmão dele – cri­ado arti­fi­cial­mente, com iden­ti­dade, CPF e endereços fic­tí­cios –, por nome de Ana­cleto, “bateu” as por­tas do Supremo Tri­bunal Fed­eral– STF, com uma rep­re­sen­tação crim­i­nal gravís­sima: acusava um senador da República, Epitá­cio Cafeteira, de haver “deter­mi­nado” a morte do seu irmão.

Às vésperas das eleições, fal­tando pouco mais de uma sem­ana, o senador Sar­ney, na col­una man­tém na capa do jor­nal que fun­dou, assi­nava o texto: “Liber­dade e Reis Pacheco”. Nela ven­dia a “fake news” do falso assas­si­nato, dev­i­da­mente “calçado” na rep­re­sen­tação do irmão fake, ao STF.

Com a “fake news” analóg­ica rever­berando nos meios de comu­ni­cação e na reta final para o segundo turno, os ali­a­dos de Cafeteira tiveram que se “virar” para des­fazer a men­tira, primeiro local­izando a mãe de Reis Pacheco na per­ife­ria de Belém, que lhes disse jamais ter tido um filho por nome de Ana­cleto, e, depois, local­izando o próprio “morto-​vivo”, no Estado do Amapá, que gravou um depoi­mento segu­rando o jor­nal do dia, con­fir­mando que estava vivo.

O mate­r­ial todo, cole­tado pelo dep­utado estad­ual Ader­son Lago e Juarez Medeiros, tam­bém dep­utado estad­ual e can­didato a vice-​governador na chapa com Cafeteira, chegou a tempo de ser usando-​nos último pro­grama eleitoral.

Lev­ado ao ar, aquele último pro­grama, prati­ca­mente, só teve audiên­cia na cap­i­tal. No resto do estado, ou as repeti­do­ras tiveram alguma falha téc­nica que as tiraram do “ar” jus­ta­mente no momento em que o pro­grama repunha a ver­dade e reti­rava a pecha de assas­sino do can­didato oposi­cionista; ou eram prob­le­mas de falta de ener­gia em vários pon­tos do estado.

Pelo tele­fone, única forma de mon­i­tora­mento disponível naquela época, acom­pan­hava a angús­tia e tris­teza dos ali­a­dos de Cafeteira infor­mando que o pro­grama não pas­sara; ou fora cor­tado; ou fal­tara energia.

A col­i­gação do can­didato ainda ten­tou junto ao TRE que o pro­grama fosse repetido, mas não obteve êxito. Acred­ito que o tri­bunal só jul­gou o assunto bem depois do pleito.

No meu canal no YouTube tem uma live que fiz com o ex-​deputado Ader­son Lago onde trata­mos deste assunto.

O senador Cafeteira perdeu aquela eleição – muitos sus­ten­tam que gan­hou –, por uma difer­ença ínfima de votos, menos de 20 mil sufrá­gios.

Pas­sa­dos todos estes anos ainda me per­gunto se o resul­tado não teria sido outro sem a farsa do “Caso Reis Pacheco”.

Será que no longín­quo 1994 uma fake news decidiu o des­tino do Maran­hão?

Será que a história de tan­tos mil­hões de maran­henses não teria sido difer­ente sem aquela engen­hosa fake news analógica?

O Maran­hão, o Brasil e o mundo tem um assunto urgente na pauta: o impacto das fakes news nas eleições, nas vidas das pes­soas e nas insti­tu­ições dos países.

Com o advento da inter­net e o avanço dos téc­ni­cas de comu­ni­cação e manip­u­lação de dados, até mesmo da voz e imagem das pes­soas, uma men­tira ganha vida e provoca estra­gos antes mesmo da vítima saber o o está acon­te­cendo.

As men­ti­ras e manip­u­lações de infor­mações podem criar aver­sões e empa­tias, deter­mi­nando, o resul­tado de eleições.

Como as democ­ra­cias vão se pro­te­ger dos efeitos das fake news?

Como impedir que os resul­ta­dos das eleições pos­sam ser manip­u­la­dos por esper­tal­hões, por forças políti­cas e por gov­er­nos estrangeiros?

A dis­cussão alcança, ainda, o impacto das fake news na vida das pes­soas. Os “assas­si­natos” de rep­utações são cada vez mais fre­quentes e comuns.

O Brasil, diari­a­mente, sofre com os ataques de falanges políti­cas con­tra suas insti­tu­ições.

Como ire­mos com­pat­i­bi­lizar liber­dade de expressão com os ver­dadeiros ataques crim­i­nosos à honra e a dig­nidade das pes­soas?

Nos próx­i­mos tex­tos irei – sem a pre­ten­são de ser o dono da ver­dade –, expor meu posi­ciona­mento a respeito destes temas e outro cor­rela­ciona­dos.

Não per­cam os próx­i­mos episó­dios.

Abdon Mar­inho é advo­gado.