AbdonMarinho - O AMBIENTE IDEOLÓGICO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quarta-​feira, 15 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O AMBI­ENTE IDEOLÓGICO.


O AMBI­ENTE IDEOLÓGICO.

Por Abdon Mar­inho.

O LEITOR já deve ter perce­bido que tudo no Brasil se tornou motivo para explo­ração política dos lados que se engalfin­ham na guerra de poder.

Quando se fala “tudo” é na acepção mais ampla da palavra. Como numa guerra, não há espaço que não esteja em dis­puta ou trincheira que não seja suscetível à con­quista.

Disputa-​se tudo, até aquilo que dev­e­ria ser motivo de con­vergên­cia – se hou­vesse alguma con­vergên­cia no país.

Nesta “guerra”, prin­ci­pal­mente, de vaidades, o que menos inter­essa é a ver­dade ou o bem-​estar da sociedade, que não passa de plateia. Como na antiga brin­cadeira de cabo de guerra, um lado só estará sat­is­feito com a queda do outro, sem, entre­tanto, o aspecto lúdico de out­rora.

Outro dia um amigo chamou minha atenção para a polêmica em torno da questão ambiental.

Na linha do que muitos dizem, não estaria havendo a mesma mobi­liza­ção das infini­tas insti­tu­ições e enti­dades de defesa do meio ambi­ente que hou­vera pouco antes, por conta dos incên­dios na Amazô­nia, agora, por conta do der­rame de óleo no litoral brasileiro atingindo a vida mar­inha e toda a costa nordes­tina.

Com efeito, por ocasião dos incên­dios na Amazô­nia, autori­dades do mundo inteiro se man­i­fes­taram cobrando solução para o prob­lema, chegando, inclu­sive, a sug­erirem uma “inter­venção” no ter­ritório brasileiro ou que a flo­resta amazônica deix­asse de ser con­sid­er­ada parte inte­grante do ter­ritório nacional.

O gov­erno brasileiro pas­sou a ser tratado como um pária entre as nações civ­i­lizadas.

As enti­dades ambi­en­tal­is­tas do mundo inteiro pas­saram a atribuir ao gov­erno a respon­s­abil­i­dade direta pelos crimes ambi­en­tais que estariam ocor­rendo como estraté­gia para destru­ição e explo­ração da flo­resta amazônica, como se os próprios inte­grantes do gov­erno estivessem com as tochas nas mãos colo­cando fogo nas árvores.

Mesmo agora, após pas­sado o ápice do prob­lema, gov­er­nadores da região, entre os quais o do Maran­hão, que há muito tempo deixou que destruíssem suas flo­restas, foram lit­eral­mente “recla­mar ao Papa” sobre os pos­síveis “maus tratos” impos­tos pelo gov­erno fed­eral a flo­resta amazônica.

Con­forme assen­tei naquela opor­tu­nidade, o gov­erno Bol­sonaro teve sua parcela de respon­s­abil­i­dade pelos incên­dios ocor­ri­dos, sobre­tudo, pelo dis­curso incon­se­quente de que deve­mos explo­rar as riquezas da flo­resta amazônica a todo custo, o que “abriu” opor­tu­nidade aos esper­tal­hões que há anos grilam ter­ras e explo­ram a flo­resta a se sen­tirem con­fortáveis para, inclu­sive, pro­moverem um “dia de fogo”, como ficou con­statado nas inves­ti­gações.

Outra, o gov­erno reagiu mal e fora do tom ao que estava acon­te­cendo no período, colo­cando a culpa no carteiro em detri­mento ao con­teúdo da carta.

O prob­lema não era a divul­gação das queimadas crim­i­nosas e sim as queimadas em si.

O fato de agora o Insti­tuto Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais — INPE, infor­mar que o mês de out­ubro apre­sen­tou o menor número de focos de incên­dio em vinte e um anos não elide os pre­juí­zos oca­sion­a­dos pelos incên­dios que ainda estão ocor­rendo (ape­sar de serem os menores no espaço-​tempo), assim como os que ocor­reram ante­ri­or­mente.

Como já disse: a flo­resta amazônica “encolhe” a cada ano sendo justa a pre­ocu­pação dos cidadãos brasileiros e estrangeiros com o seu futuro.

Pois bem, enquanto a flo­resta ardia (e ainda arde), um outro desas­tre ambi­en­tal se desen­rolava: o der­ra­ma­mento de toneladas de óleo cru na costa brasileira afe­tando a total­i­dade dos esta­dos do Nordeste.

Ape­sar da gravi­dade do dano ambi­en­tal aos diver­sos ecos­sis­temas mar­in­hos, aos mangues, onde se repro­duzem mil­hares de espé­cies e, mesmo, ao sus­tento de mil­hões de cidadãos, não vimos os protestos de enti­dades e ambi­en­tal­is­tas que “entraram em guerra”, quando das queimadas na Amazô­nia.

Assim como o gov­erno Bol­sonaro, no episó­dio da queimada da flo­resta, os protestos dos balu­artes do ambi­en­tal­ismo só foram apare­cer para criticar a demora do gov­erno na ação de com­bate ao óleo que inva­dia as pra­ias, os estuários dos rios e os manguezais.

Emude­ce­ram em relação a apu­ração das respon­s­abil­i­dades e se o der­ra­ma­mento de óleo acon­te­ceu aci­den­tal­mente ou se fora o crime cometido delib­er­ada­mente con­tra o Brasil, sobre­tudo, quando rev­e­lado, por dados cien­tí­fi­cos, que o óleo que apare­cia (e aparece) aos bor­botões tinha origem venezue­lana.

Ape­nas agora, mais de noventa dias depois da data ini­cial do desas­tre ambi­en­tal, ocor­rido a 700 km da costa da Paraíba, aponta-​se como prin­ci­pal sus­peito de ter efe­t­u­ado o der­ra­ma­mento de óleo uma embar­cação de ban­deira grega que fora car­regada na Venezuela com des­tino à Malásia.

Com a embar­cação iden­ti­fi­cada resta saber se foi aci­den­tal ou crim­i­noso o der­ra­ma­mento de óleo e as razões para não darem o alarme do aci­dente – como remen­dado –, no sen­tido de pre­venir ou mino­rar os danos a par­tir da adoção do Plano Nacional de Con­tingên­cia – PNC.

Ape­sar do que temos até aqui rev­e­lado ser estar­rece­dor, impera o mutismo sele­tivo de enti­dades ambi­en­tal­is­tas e de gov­er­nos em relação ao acontecido.

Para começar o próprio navio respon­sável pelo “aci­dente” dev­e­ria ter se repor­tado às autori­dades navais avisando do acon­te­cido. Depois, quando con­statado que se tratava de óleo de origem venezue­lana aquele país dev­e­ria ter se ofer­e­cido para aju­dar, infor­mando que embar­cações naquele período tin­ham sido car­regadas com aquele tipo de óleo.

Ambos preferi­ram o silên­cio. Por quais razões?

As descober­tas até aqui se deram graças aos esforços do gov­erno brasileiro, empresa, enti­dades e gov­er­nos estrangeiros que não aque­les que pode­riam e dev­e­riam ter aju­dado na alu­ci­nação dos fatos.

Vejam que mesmo cidadãos e enti­dades brasileiras, ditos defen­sores do meio ambi­ente, quando con­fronta­dos com a infor­mação de o óleo que chegava às pra­ias era ori­undo da Venezuela fiz­eram pouco caso ou con­tes­taram a infor­mação téc­nica numa nar­ra­tiva pura­mente ide­ológ­ica, que, aliás, per­manece até agora.

Para estes, a culpa pelo der­ra­ma­mento do óleo na costa do Nordeste é do gov­erno brasileiro – que, como em tudo que faz, é ata­bal­hoado –, e não daque­les que, efe­ti­va­mente, der­ra­ma­ram (por aci­dente ou de forma proposi­tal o óleo) e não repor­taram as autori­dades; ou do gov­erno venezue­lano que depois de saber a origem do pro­duto, nada fez para aju­dar na iden­ti­fi­cação dos respon­sáveis.

O certo é mil­hões de cidadãos brasileiros já estão pagando um preço ele­vado por um desas­tre ambi­en­tal enquanto a classe política nacional e a elas se agre­gando enti­dades de diver­sos matizes que se dizem defen­so­ras do meio ambi­ente pati­nam nas suas nar­ra­ti­vas ide­ológ­i­cas.

Onde ire­mos parar com tudo isso? Qual o futuro do país quando os inter­esses pes­soais ou das ide­olo­gias se sobrepõem aos inter­esses nacionais?

Abdon Mar­inho é advo­gado.