AbdonMarinho - UM ESTADO A SERVIÇO DE UM PROJETO POLÍTICO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 16 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM ESTADO A SERVIÇO DE UM PRO­JETO POLÍTICO?

UM ESTADO A SERVIÇO DE PRO­JETO POLÍTICO?

Por Abdon Marinho.

DURANTE muitos anos na década pas­sada o saudoso advo­gado Pedro Leonel Pinto de Car­valho fez uma série de rep­re­sen­tações ao Min­istério Público Estad­ual denun­ciando o que, segundo ele, seria um abuso ou pro­moção pes­soal dos gestores munic­i­pais.

A situ­ação denun­ci­ada dizia respeito à divul­gação em jor­nais – à época as mídias dig­i­tais ainda engat­in­havam –, de even­tos daque­les municí­pios com a pre­sença do prefeito, vereadores, secretários, etc.

Um exem­plo clás­sico de tais rep­re­sen­tações era a divul­gação nos matuti­nos da imagem do prefeito cor­tando o bolo de aniver­sário da urbe, com uma mate­ri­az­inha sobre o fato.

O Min­istério Público Estad­ual “com­prou” a tese da suposta impro­bidade – e out­ras vezes por ini­cia­tiva própria –, e rep­re­sen­tou dezenas, talvez cen­te­nas de gestores ou ex-​gestores. Os cus­tos da denom­i­nada “pro­moção pes­soal”, da “impro­bidade admin­is­tra­tiva”, na maio­ria das vezes não chegava a um salário mín­imo, estourando dois. Não raro os gestores, sequer, haviam “encomen­dado” a divul­gação. Quase sem­pre estava por ocasião do evento algum “esperto” que tirava a foto, a man­dava para o jor­nal e depois apare­cia para cobrar.

Inad­ver­tida­mente (ou ape­nas para se livrar da cobrança) o gestor autor­izava ou deter­mi­nava o paga­mento a algum secretário.

Como disse, os val­ores eram ínfi­mos, duzen­tos, trezen­tos, quin­hen­tos reais, no máx­imo mil reais, ou, em casos excep­cionais, dois mil reais.

Algo tão insignif­i­cante que não jus­ti­fi­caria movi­men­tar a máquina judi­ciária do estado. Que se resolve­ria com uma recomen­dação para que os gestores se abstivessem, a par­tir de então, a faz­erem aquela pro­moção com recur­sos públi­cos.

Em casos extremos poder-​se-​ia acor­dar com os gestores para que fizessem uma doação de igual valor ou até o dobro para um fundo qual­quer de pro­teção à infân­cia, de com­bate à vio­lên­cia, à pobreza, etc.

O MPMA, entre­tanto, preferiu acionar por impro­bidade admin­is­tra­tiva os gestores munic­i­pais, que, como disse, na maio­ria das vezes, nunca encomen­daram pro­moção pes­soal nen­huma – e até seria risível falar-​se em pro­moção pes­soal com um gasto, no pior dos casos, de dois mil reais –, e nem con­hec­i­mento tiveram do que estava acon­te­cendo, pedindo que fos­sem con­de­na­dos nas penas gravís­si­mas da lei que trata do assunto.

Pior foi que o judi­ciário maran­hense, na sua grande maio­ria, embar­cou na tese e con­de­nou os gestores nas penal­i­dades da lei de impro­bidade admin­is­tra­tiva por, suposta­mente, come­terem a pro­moção pes­soal, que nos refe­r­i­mos.

Assim, dezenas, talvez cen­te­nas, de ex-​prefeitos estão como ímpro­bos, por terem apare­cido numa fotografia divul­gada em um jor­nal cor­tando um bolo de aniver­sário da cidade, por terem dilap­i­dado o patrimônio público em duzen­tos, trezen­tos, quin­hen­tos, mil ou dois mil reais.

Poucos sabem, mas a con­de­nação por impro­bidade admin­is­tra­tiva orig­i­nal que levou a cas­sação do mandato do fale­cido ex-​prefeito José Vieira Lins, de Baca­bal, foi uma desta natureza. Ninguém sabe o quanto a parte ou mesmo o Estado gas­tou na movi­men­tação dos proces­sos que tiveram como origem o ex-​gestor, no seu primeiro ou segundo mandato como prefeito, ter “cor­tado o bolo” de aniver­sário da cidade e isso ter sido divul­gado em um jor­nal.

Muitos casos de igual natureza ou semel­hantes, de valor irrisório, já tran­si­taram em jul­gado levando a con­de­nação de diver­sas pes­soas que, a despeito dos peca­dos que ten­ham, estes estão longe de serem os mais graves.

Pois bem, faço todo esse reg­istro para dizer que sem mesmo um pedido de esclarec­i­mento por parte do MPMA, pelo menos, que se saiba pub­li­ca­mente, o gov­erno do estado já executou com a sua comu­ni­cação social perto de meio bil­hão de reais (ou que sejam 400 mil­hões, 300 mil­hões), nos últi­mos cinco anos. Só em 2017, foram mais de 90 mil­hões; em 2018, foram mais 60 mil­hões e a pre­visão para este ano de 2019, é de mais de 60 mil­hões de reais.

Com o avanço da tec­nolo­gia, são recur­sos que, cer­ta­mente, pode­riam ser mel­hor empre­ga­dos em bene­fí­cio da pop­u­lação do nosso estado.

O que os órgãos de con­t­role – não ape­nas o Min­istério Público, mas tam­bém a Assem­bleia Leg­isla­tiva e o Tri­bunal de Con­tas, sem­pre tão valentes quando se trata de prefeitos –, pare­cem não enx­er­gar é que o estado pas­sou a despender seus recur­sos (recur­sos do povo) em bene­fí­cio de um pro­jeto político pes­soal do gov­er­nador.

Desde que chegou ao poder, em 2015, um sonho obses­sivo persegue sua excelên­cia: virar pres­i­dente da República. Nada con­tra, é um dire­ito dele e son­har não custa nada. Quer dizer, não cus­tava.

Em tem­pos de comu­ni­cação instan­tânea pelas mais diver­sas mídias dig­i­tais parece-​me um ver­dadeiro acinte o que o gov­erno estad­ual vem gas­tando com a comu­ni­cação de suas ações, sobre­tudo, quando sabe­mos que essa din­heirama toda faz falta em out­ras áreas, como saúde, edu­cação e infraestru­tura.

Mas quem liga para isso? Os dep­uta­dos estad­u­ais? O Min­istério Público? O Tri­bunal de Contas?

Outro dia alguém me disse que a pro­pa­ganda do gov­erno estad­ual estava sendo veic­u­lada, em horário nobre, em outro estado da fed­er­ação; tam­bém a vi sendo veic­u­lada em jor­nais de cir­cu­lação nacional (inclu­sive na Folha de São Paulo) além de veic­u­lada nas diver­sas mídias dig­i­tais com alcance transna­cional.

Sabe­mos que a pub­li­ci­dade dos atos públi­cos é uma imposição con­sti­tu­cional con­tida no artigo 37 da CF: “Art. 37. A admin­is­tração pública direta e indi­reta de qual­quer dos Poderes da União, dos Esta­dos, do Dis­trito Fed­eral e dos Municí­pios obe­de­cerá aos princí­pios de legal­i­dade, impes­soal­i­dade, moral­i­dade, pub­li­ci­dade e efi­ciên­cia e, tam­bém, ao seguinte:”.

Ape­sar disso, dever-​se-​ia per­gun­tar o que cidadão de São Paulo, do Paraná ou do Ceará tem a ver com o fato do gov­erno do Maran­hão ter con­struído uma “estrad­inha” que se for olhada com cuidado se ver­i­fica o barro, de tão fina a camada asfáltica; ou ter con­struída uma escol­inha digna de uma sala ao custo de mais de trezen­tos mil reais em uma reserva indí­gena.

Quer me pare­cer que nada. Quer me pare­cer que se trata de mera pro­moção pes­soal do gov­er­nante.

Não sei se é ver­dade – mas não tenho razão para duvi­dar, até porque nunca des­men­ti­ram –, que existe uma empresa encar­regada de “cuidar” da imagem do gov­er­nador ao custo anual de mais de seis mil­hões de reais. Seria essa empresa a respon­sável por “cavar” espaços e entre­vis­tas na grande imprensa nacional onde sua excelên­cia “se vende” como a solução taba­jara para os prob­le­mas nacionais.

Aliás, essas entre­vis­tas em rede nacional, tam­bém, pas­sam “bati­das” aos olhos dos fis­cais da lei. A ninguém socorre a ideia de per­gun­tar a razão de um servi­dor público, em pleno horário de expe­di­ente, se ausen­tar do tra­balho para ir con­ceder entre­vis­tas no Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília. O ato em si, fal­tar ao serviço público para tratar de inter­esse pri­vado, já dev­e­ria mere­cer à atenção dos órgãos de con­t­role. Mais: quem está “ban­cando” tais via­gens e hospeda­gens? O par­tido? O próprio gov­er­nador? O con­tribuinte maran­hense? São feitas em voos de car­reiras ou em jat­in­hos fre­ta­dos pelo estado?

Ape­nas como parâmetro, se o pres­i­dente dos EUA, nação tida pelos comu­nistas como o grande satã do norte, recebe alguém para jan­tar na Casa Branca que não seja do inter­esse do país, o pres­i­dente tem que arcar até com água servida.

Por isso mesmo é justo que se indague quem está pagando a conta de sua excelência.

Nes­tas entre­vis­tas sua excelên­cia não está tratando de assun­tos de inter­esse do estado, mas sim da sua “pauta” como pré-​candidato à presidên­cia da República. Não é só, antes, durante e depois de tais incursões midiáti­cas o que vemos são os xerim­ba­bos do gov­er­nador, muitos deles remu­ner­a­dos pelo con­tribuinte, ampli­f­i­cando as per­for­mances do gov­er­nante diante das telas.

Entre­vis­tado por jor­nal­is­tas que pouco con­hecem da real­i­dade maran­hense, o gov­er­nador, esperto como um camelô paraguaio, “vende” a solução para todos os prob­le­mas da nação, quando não con­segue resolver os prob­le­mas do nosso estado con­de­nado mis­éria per­pé­tua.

Para os seus adu­ladores isso pouco importa e até dizem que o gov­er­nador é tão “sabido”, mas tão “sabido”, que no dia em acorda cedo nem sol se lev­anta no fir­ma­mento.

Sem negar-​lhe o mérito de ser “bom de papo”, é fato que a grande maio­ria dos seus entre­vis­ta­dores – por descon­hec­i­mento ou por sim­pa­tia ao pro­jeto esquerdista –, lhe tem sido dócil a ponto de engolir como ver­dades tudo que o gov­er­nador lhes têm dito.

Os exem­p­los estão aí, como quando diz que não tem nada com fato de ter aumen­tado a mis­éria no estado, quando sabe­mos que foram seus equívo­cos os respon­sáveis por parte do aumento em quarenta por cento no número de mis­eráveis; como quando diz que o gov­erno não teve nada a ver com o despejo das famílias do Cajueiro para aten­der a uma empresa que foi con­tribuinte de sua cam­panha, quando sabe­mos que foi o próprio gov­er­nador que desapro­priou a área e deixou a comu­nidade ao léu e depois seu gov­erno reprimiu os man­i­fes­tantes na porta do palá­cio; como quando diz que não tem nada com o fato do estado estar que­brado, quando sabe­mos que foi este gov­erno o respon­sável pelo inchaço da máquina pública, o aumento de impos­tos, para afu­gen­tar investi­dores, as agressões gra­tu­itas ao gov­erno cen­tral, etc.

Como disse ante­ri­or­mente, é legí­timo que sua excelên­cia tente realizar seu sonho de ser pres­i­dente. Mas esse pro­jeto é dele. Não é do con­tribuinte que já passa mais da metade do ano tra­bal­hando para pagar impos­tos.

Ora, se sua excelên­cia quer “se vender” como alter­na­tiva às eleições de 2022, já a par­tir de agora, que renun­cie, que se licen­cie e caia em campo. Faça isso às suas expen­sas ou do seu par­tido ou custeado pelos seus adu­ladores, mas não às cus­tas e em pre­juízo do estado que já se encon­tra “que­brado” por sua própria inap­tidão para gestão.

Encerro reg­is­trando o meu espanto com o fato dos órgãos de con­t­role nada enx­er­garem de anor­mal em tudo isso, prin­ci­pal­mente o MPMA que levou às bar­ras da justiça tan­tos prefeitos sob o pálido argu­mento de terem se pro­movido ao apare­cerem numa página de jor­nal cor­tando um bolo de aniver­sário.

Abdon Mar­inho é advo­gado.