AbdonMarinho - A PÁTRIA ENVERGONHADA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 21 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A PÁTRIA ENVERGONHADA.

A PÁTRIA ENVER­GONHADA.

Por Abdon Mar­inho.

NO FERI­ADO da pátria acordei espe­cial­mente pesaroso.

O país parado. Mais um feri­ado. Talvez só um feri­ado. O que fes­te­jam? O que temos a festejar?

Refle­tia sobre o nosso Brasil e o que fiz­eram com ele.

Esta­mos ape­nas a qua­tro anos do bicen­tenário da Inde­pendên­cia do Brasil.

O que ire­mos dizer à história duzen­tos anos depois de nos torn­ar­mos uma nação independente?

Que nos tor­namos uma republi­queta de bananas?

Que viramos um ajun­ta­mento de arriv­is­tas onde os recur­sos da nação, que dev­e­riam servir a todos, servem a uns poucos?

Que desde muito vive­mos uma per­ma­nente guerra civil que ceifa anual­mente a vida de 60 mil cidadãos de morte “matada” e quase o mesmo número em aci­dentes de trân­sito – sem con­tar os mil­hares que ficam incapacitados?

Que o pais, tam­bém, desde muito pas­sou a ser con­duzido por quadrilhas dis­farçadas de par­tidos políti­cos que ao invés de con­duzir os des­ti­nos do povo rumo ao desen­volvido social e humano o espo­lia de todas as formas?

Penso que nada reflita mel­hor o que fize­mos a este país do que o incên­dio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.

O museus cri­ado por D. João VI, há duzen­tos anos, pos­suía um acervo com mais de 20 mil­hões de itens. Em pou­cas horas tudo virou cin­zas, escom­bros. Peças úni­cas, impos­síveis de serem sub­sti­tuí­das, uma grande parte delas reunidas pela própria Família Real e Impe­r­ial do Brasil, deixaram de existir.

O próprio palá­cio, sede do museu, que teste­munhou impor­tantes momen­tos da vida nacional, inclu­sive a própria assi­natura do decreto da inde­pendên­cia, pela Imper­a­triz D. Leopold­ina, ruiu pela neg­ligên­cia, incom­petên­cia, desleixo e incúria dos respon­sáveis esses anos todos.

Chega a ser emblemático que enquanto muitas peças do museu foram reunidas pelos pais da pátria por ocasião da sua fun­dação e nos anos pos­te­ri­ores, desde os anos cinquenta nen­hum pres­i­dente da República se dig­nou a visitá-​lo.

Quase toda a história do país ali reunida e nen­huma autori­dade com inter­esse sequer em con­hecer.

Nem mesmo para o aniver­sário de 200 anos da insti­tu­ição apare­ce­ram ou man­daram rep­re­sen­tantes para faz­erem os dis­cur­sos pro­to­co­lares.

Agora, tudo findo, cor­rem com medi­das e recur­sos públi­cos para recu­perar aquilo que nunca dev­e­ria ter sido des­cuidado; cor­rem, como se fosse pos­sível recu­perar o que não tem mais recu­per­ação.

Isso tem haver com a ideia de nação de cada um. Ou a falta desta ideia.

Às vésperas de eleições gerais não lem­bro de ter assis­tido ou estu­dado a nação tão divi­dida e rad­i­cal­izada, como se os inter­esses das ideias que rep­re­sen­tam os gru­pos fos­sem maiores que os inter­esses da pátria.

Ape­nas para citar o prin­ci­pal dos pleitos: o pres­i­den­cial, já tive­mos ameaças de toda sorte. Ainda que como figura de retórica já ouviu-​se ameaças de elim­i­nação física de adver­sários; de outro lado, as refer­ên­cias menos graves é a atribuição de com­por­ta­men­tos facis­tas e por aí vai.

No clima de acir­ra­mento, do ódio de uns ali­men­tando o ódio de out­ros e vice-​versa já tive­mos ataques à bala a um grupo e um can­didato afas­tado da cam­panha a golpe de faca.

Volta­mos ao velho coro­nelismo onde as eleições paro­quiais eram deci­di­das pela força física ou das armas dos capan­gas dos coronéis?

Como podem acred­i­tar que ideias e com­por­ta­men­tos tão extremos serão capazes de paci­ficar a nação? Quem vencer imporá a “paz de cemitérios”? Só assim para calar a ala perde­dora da con­tenda eleitoral.

Gostaria de expres­sar algum otimismo, mas, pelo andar da car­ru­agem, acred­ito que daqui a qua­tro anos, quando fes­te­jare­mos o bicen­tenário da inde­pendên­cia do Brasil, ter­e­mos avançado muito pouco, con­tin­uare­mos numa guerra política que só serve aos inter­esses dos con­tendores, mas não os inter­esses da nação.

Uma guerra que não aponta um rumo que não seja o do atraso.

Este é o legado dos últi­mos tem­pos para os próx­i­mos anos.

Outro dia alguém, com os dados sobre a edu­cação do país, o prin­ci­pal pilar do desen­volvi­mento, infor­mou que, para alcançar­mos as nações desen­volvi­das levare­mos mais de setenta anos, na dis­ci­plina matemática e, bem mais de duzen­tos anos, no caso de leitura e com­preen­são de tex­tos – isso se as nações desen­volvi­das “resolverem” parar e esper­arem por nós.

Antes acred­itá­va­mos que o Brasil era uma nação em desen­volvi­mento, bem próx­ima do primeiro “time” de nações. Os dados de hoje, em edu­cação rev­e­lam um atraso civ­i­liza­tório.

Uma vez, se não me falha a memória escrevi sobre o assunto, disse que o Brasil pela sua neg­ligên­cia cor­ria o risco de voltar a ser colô­nia de alguma nação desen­volvida, assen­tando que talvez isso não viesse a acon­te­cer pelo desin­ter­esse de algum pos­sível col­o­nizador.

Mas o que esperar de uma nação que se encon­tra tão atrasada no que se ref­ere à edu­cação (nem fale­mos no atraso cul­tural) que às vésperas de pleito deci­sivo para o seu futuro, não enx­erga nos con­tendores (ou nas suas pro­postas) um pro­jeto de desen­volvi­mento para país, preferindo acred­i­tar nas mes­mos soluções que exper­i­men­tadas ante­ri­or­mente nos levaram ao desas­tre que assis­ti­mos?

Como ire­mos nos apre­sen­tar para o futuro sem um pacto con­sen­sual mín­imo em torno de um pro­jeto comum com soluções reais aceitáveis e no inter­esse da maio­ria da pop­u­lação?

Diante de tanto que assis­ti­mos, pelo exem­plo do ocor­rido no Museu Nacional, estes duzen­tos anos de inde­pendên­cia foram per­di­dos e, pelo que prin­cipia, mel­hor sorte não terão os próx­i­mos duzen­tos anos.

A pátria que dev­e­ria ser maior que todos, estará sem­pre cur­vada aos inter­esses de guer­ras menores.

Abdon Mar­inho é advo­gado.