ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS.
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- Criado: Quinta, 02 Março 2017 16:04
- Escrito por Abdon Marinho
ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS.
NAQUELE 13 de dezembro de 1968, numa reunião ministerial do governo do general-presidente Artur da Costa e Silva, o coronel Jarbas Passarinho, então ministro do Trabalho, hipotecando incondicionalmente seu apoio ao Ato Institucional nº. 5 – tido por muitos como aquele mais duro do Régime Militar instalado quatro anos –, proferiu a seguinte frase: «Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”.
Às favas com os escrúpulos também foi uma peça no formato comédia escrita por Juca de Oliveira, dirigida por Jô Soares, da qual participaram, o próprio autor, Bibi Ferreira, Bárbara Paz, entre outros.
Neste 1º de março de 2017, a famosa, polêmica e criticada frase de Jarbas Passarinho encontrou-se – ainda que indiretamente –, mais uma vez, com a chamada «intelectualidade» brasileira. Nesta data, mais de quatrocentos destes valentes intelectuais subscrevem um documento onde conclamam o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, a lançar-se, desde já, como candidato à Presidência da República no próximo ano.
Sem contar o fato de que estão incitando o seu preferido ao cometimento de um ilícito eleitoral, uma vez que a legislação não acoita esse tipo de campanha antecipada, o texto deixa de trazer considerações importantes para a vida nacional.
Em nenhum momento os «intelectuais» usam o termo honestidade ou probidade administrativa. Será que não consideram a corrupção, senão a maior, umas das maiores chagas a denegar direitos e dignidade ao povo brasileiro?
Outro termo ausente no manifesto «Por que Lula?» é o termo ÉTICA. Os valentes «intelectuais» devem achar irrelevante que os gestores públicos tenham na ética um norte a perseguir e a dirigir seus passos.
Será que desconhecem que a corrupção que tomou de assalto o Estado brasileiro, nos tirou a dignidade, o orgulho e autonomia e que, por conta disso, somos motivo de chacota ao redor do mundo?
Será que não sabem que a fome é tem relação direta com os desvios de recursos para as contas dos corruptos que se locupletaram e ainda se locupletam dos governos petistas nos últimos 13 anos?
Será que não sabem, do mesmo modo, que os recursos da educação, da saúde, da habitação, da inserção social, mesmo os recursos das aposentadorias dos servidores públicos foram desviados pela quadrilha instalada na Esplanada dos Ministérios pelo governo da companheirada?
Será que ignoram que os prejuízos que causaram a Petrobrás com suas políticas equivocadas, com o roubo deliberado de suas riquezas são causas que levaram ao retrocesso na exploração do pré-sal e que apresentam como avanço estrangeiro sobre a soberania nacional e suas riquezas?
Os «intelectuais» brasileiros são de uma pobreza crítica de fazer vergonha a qualquer cidadão minimamente esclarecido. Não cobram do ex-presidente ou de seu partido, sequer, pasmem, uma autocrítica, mas, ao contrário, estão imbuídos no firme propósito de lhes conceder um salvo-conduto para torná-lo inalcançável à lei intimidando as autoridades do Ministério Público e do Poder Judiciário.
O manifesto tem o duplo sentido. A dupla intenção.
Os «intelectuais» que falam no manifesto em Estado Democrático de Direito, tentam justamente o contrário, como se estivessem em obstrução à Justiça. Não há Estado Democrático de Direito sem instituições fortes funcionando de forma regular e cumprindo seus papéis conforme designadas pela Constituição.
Ao tempo em o «manifesto» dos «intelectuais» fala que não é democrática a sociedade que separa seus cidadãos em diferentes categorias, faz o inverso ao colocar os petistas e seus cúmplices na categoria dos que são inimputáveis, dos que estão fora do alcance da legislação penal.
Existe maior distinção que essa?
Muitos anos depois daquele 13 de dezembro de 1968, assisti a uma entrevista do ex-senador Jarbas Passarinho onde o mesmo se penitenciava pelas palavras que dissera naquela reunião. Por suas palavras.
Os «intelectuais» que hoje subscrevem o “manifesto”, não se acham no dever de cobrar, sequer, uma «mea culpa» seja pelas ações, seja pelas omissões cometidas nos treze anos em que o ex-presidente Lula e os seus estiveram à frente dos destinos da nação.
A falta de crítica dos «intelectuais» sobre tudo que se deu no Brasil torna-os pouco menos que cúmplices. Não sei se perderam ou nunca tiveram quaisquer escrúpulos – não apenas os de consciência –, ou se é mesmo falta de vergonha ou caráter.
Abdon Marinho é advogado.
Abaixo o “Manifesto».
“Por que Lula?
É o compromisso com o Estado Democrático de Direito, com a defesa da soberania brasileira e de todos os direitos já conquistados pelo povo desse País, que nos faz, através desse documento, solicitar ao ex-Presidente Luiz Inácio LULA da Silva que considere a possibilidade de, desde já, lançar a sua candidatura à Presidência da República no próximo ano, como forma de garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam.
Foi um trabalhador, filho da pobreza nordestina, que assumiu, alguns anos atrás, a Presidência da República e deu significado substantivo e autêntico à democracia brasileira. Descobrimos, então, que não há democracia na fome, na ausência de participação política efetiva, sem educação e saúde de qualidade, sem habitação digna, enfim, sem inclusão social. Aprendemos que não é democrática a sociedade que separa seus cidadãos em diferentes categorias.
Por que Lula? Porque ainda é preciso incluir muita gente e reincluir aqueles que foram banidos outra vez; porque é fundamental para o futuro do Brasil assegurar a soberania sobre o pré-sal, suas terras, sua água, suas riquezas; porque o País deve voltar a ter um papel ativo no cenário internacional; porque é importante distribuir com todos os brasileiros aquilo que os brasileiros produzem. O Brasil precisa de Lula!