UM SENADOR E SEUS MOINHOS.
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- Criado: Quinta, 23 Fevereiro 2017 17:46
- Escrito por Abdon Marinho
UM SENADOR E SEUS MOINHOS.
CERTAMENTE não acho o senador Roberto Rocha semelhante ao cavaleiro D. Quixote, da obra imortal de Miguel de Cervantes. Nada tem o mesmo de quixotesco. Talvez, e apenas pela compleição física, uma leve semelhança com o seu fiel escudeiro, Sancho Pança, apenas isso.
Entretanto, o senador do Maranhão tal qual a figura da obra, enfrenta seus moinhos. E, diferente daquele, os seus não são tão imaginários assim.
Não é segredo para ninguém, e o próprio senador, com honestidade, nunca ocultou, que ele acalenta o sonho de ser governador do Maranhão. Um sonho legítimo, diga-se de passagem, maturado, acredita-se, ainda na infância/adolescência passada dentro do Palácio dos Leões.
O senador sabe como chegar lá. Orgulhando-se de fazer com maestria o jogo político, diz ser essa a atividade que mais lhe dar prazer e a que faz 24 horas por dia, leciona: – primeiro costuramos a convergência interna no partido, depois a convergência com o grupo político e, por fim, a convergência com o conjunto da sociedade.
Embora conhecendo a receita do «sucesso», e com um norte bem definido – diz a lenda que quando sabemos onde queremos chegar qualquer caminho nos leva lá – ele, Roberto, não tem conseguido desenvolvê-la, aí, talvez, a causa de tantos movimentos erráticos e contrários ao que prega e deseja.
O roteiro até vinha se desenrolando mais ou menos dentro do traçado.
Em 2002, após alguns mandatos nos parlamentos, estadual e federal, entendeu ser a hora de «cacifar-se» para um cargo majoritário, tornar-se conhecido em todo o estado. Candidatou-se a governador, renunciando às vésperas da eleição em favor de Jackson Lago. Uma estratégia minuciosamente planejada. Já se tornara uma pessoa conhecida – embora sem chances de vitória –, só teria a ganhar com o Jackson Lago que disputava palmo a palmo com o José Reinaldo que acabou eleito. A renúncia de nada serviu mas foi vendida com um extraordinário gesto de desprendimento em favor da causa oposicionista.
Nos anos seguintes teve importante papel na ruptura do governador José Reinaldo, com o grupo do ex-presidente Sarney, sendo uma espécie de «fiador» do seu ingresso nas hostes da oposição.
No governo, agora ligado ao novo grupo, José Reinaldo conduziu a estratégia da oposição ao sarneysmo para vencer a candidata Roseana e eleger um dos seus candidatos Jackson Lago ou Vidigal, naquela que ficou conhecida como «cooperativa de candidatos», levando a melhor o pedetista.
Nesta eleição Roberto Rocha foi o deputado federal mais bem votado do estado.
Com o governo Jackson cassado com pouco mais de dois anos de instalado, todas as peças tiveram que ser postas novamente no tabuleiro.
Em 2010, Jackson Lago buscou a revanche contra Roseana Sarney, dividindo os votos do campo oposicionista com o senhor Flávio Dino, o juiz que virara político pelas mãos de José Reinaldo na eleição anterior, candidato do PC do B. Roseana levou no primeiro turno.
Pior que a disputa para o governo com dois candidatos do campo oposicionista, foi a disputa para o Senado da República, lá pontificavam para a disputa de duas vagas: o ex-governador José Reinaldo, o ex-ministro Edson Vidigal e o deputado Roberto Rocha. Perderam. Muitos atribuíram a estratégia divisionista ao último que era, à época, presidente do PSDB.
Em 2012, já no PSB, Roberto Rocha, aceitou o «sacrifício» de ser candidato a vice-prefeito na chapa do atual prefeito Edvaldo Holanda Júnior.
Assim chegamos a 2014 e seus desdobramentos. Até onde me lembro, foi nesta eleição que se deu a transição de gerações (transição tardia, diga-se), com os dois candidatos majoritários eleitos com menos de cinquenta anos. Todos unidos para trazer ao estado todas as oportunidades perdidas.
O discurso feito por ambos remetíamo-nos a um outro patamar de desenvolvimento, com um senador e um governador, modernos, jovens, com ideias novas e arrojadas. Seria a primeira vez na história do estado.
O senador teria, então, 08 (oito) anos, voando em céu de brigadeiro para construção do seu projeto político.
Infelizmente, não demorou um ano e os observadores mais argutos começaram a perceber que o arranjo eleitoral que tornou o projeto vitorioso não era o que foi vendido na eleição. O Maranhão não era suficientemente grande para comportar o ego dos dois. Dos dois, é bom repetir.
Segundo dizem, as malquerenças vinham de antes, mal foram apurados os votos e, sobretudo, após a instalação do novo governo, por iniciativa do alto comando (politburo) ou através do serviço rasteiro dos serviçais que cercam o poder, teve início uma estratégia de «minar», não apenas o senador, mas também outras lideranças. Isso é patente nas notinhas aqui e ali, nas cobranças de que o governador lhe dera o mandato, etc.
Numa eleição majoritária todos são responsáveis pelo sucesso ou fracasso, mas de ninguém isso foi tão cobrado quando do senador eleito em 2014. Cobram dele até os «malfeitos» supostamente ocorridos no governo do seu pai (1983÷1987), quando era adolescente.
Na verdade, para a desgraça do Maranhão, a eleição de 2018, começou um pouco antes da 2014. Tudo que vemos são jogadas políticas, interesses políticos e briga pelo poder.
No jogo que está sendo jogado, o senador Roberto Rocha deixou de seguir suas próprias lições.
Não possui qualquer afinidade com a base do partido que o abrigou em 2012, o PSB, sendo impossível construir qualquer «convergência» interna a seu favor, pelo contrário. Essa falta de afinidade com o partido acaba por provocar efeitos nefastos para o próprio senador e para o partido. Não me recordo de ter visto, nos últimos tempos, uma crítica de um presidente de partido tão contundente quanto a feita pelo presidente do PSB, prefeito Luciano Leitoa, a um senador do mesmo partido. Disse o presidente Luciano Leitoa: «nunca vi alguém afastar tantas pessoas de um mandato que “ganhou» de graça». Para as sutilezas da política, são palavras fortes.
Este seria o primeiro moinho a ser vencido.
A «convergência» política no grupo é outra missão impossível. No grupo que trabalhou «unido» para o projeto de 2014, composto, principalmente, pelo PCdoB, PSDB, PSB e PDT, o senador precisaria ser mágico para conseguir uma convergência que o tenha como destaque, aliás, que o tenha como participante. As declarações dele sobre os integrantes do principal partido, o do governador – não questiono o acerto ou erro das mesmas –, foi o incêndio das derradeiras pontes.
Este seria o segundo moinho.
Sem as duas primeiras, restará ao senador buscar a convergência com a sociedade. Aí reside sua maior dificuldade e disso resulta a maior irresignação do senador com os atuais inquilinos dos Leões.
Errando na forma – mas não no conteúdo –, acusa o governo de subsidiar parcela da imprensa para destruir sua imagem e de outros adversários políticos perante a sociedade maranhense.
São de seu «manifesto» estas palavras: «Chamar comunista de arrogante e covarde é redundante. Jogam a pedra e escondem a mão. Com dinheiro público, pagam blogs para o serviço sujo.
Além de arrogantes e covardes, são ousados. Por um valor mensal milionário, alugaram a Difusora para agredir os que podem representar ameaça ao seu projeto de poder.
Os comunistas são conhecidos no mundo inteiro pela obsessão de tentar eliminar rivais para se manterem no poder.
O comunismo é a estupidez que se materializa na realidade em forma de aberração, e que vai tentando destruir e asfixiar tudo e todos no processo de se justificar e se preservar no poder.
Tenho dito, comunistas inteligentes são patifes; os honestos são burros; e os inteligentes e honestos nunca são comunistas.
Essa fome patológica pela manutenção do poder e pelo controle da vida alheia vão desapea-los do Palácio do Leões, em 2018.
Eu entendo esses blogueiros valentes e famintos, conhecidos como «pistoleiros dos teclados» ou «blogueiros camarão».
O cão não morde a mão que o alimenta. Enquanto tiver milho vai ter pipoca. »
São palavras de gravidade singular, não apenas pelo seu conteúdo, mas, sobretudo, porque proferidas por quem as proferiu.
Inúmeros outros adversários já acusaram – e acusam –, o atual governo disso e de coisas bem piores e graves. Já disseram, por exemplo, que o governo usou e usa o «aparelho», estatal para perseguir seus adversários Maranhão afora. Inclusive, acusando-o (o governo) de haver influenciado, criminosamente, no resultado das eleições passadas (2016).
São acusações gravíssimas que, em qualquer outro lugar do mundo, ensejaria investigações diversas por parte do Ministério Público, federal e estadual. Não soube de nada neste sentido.
A acusação de agora, ao meu sentir, muda de patamar, quem a está proferindo, publicamente (não se trata de uma conversa de bar), é um senador da República.
Aliás, ele próprio, para passar maior segurança do que diz, poderia acionar a Mesa do Senado e a Procuradoria-Geral da República para que apurassem o que disse. Denúncias com tamanha gravidade não podem perder-se no «disse-me-disse».
Mas, como já dito anteriormente, embora acertando no conteúdo (fez uma denúncia grave a exigir apuração), errou na forma. Uma acusação tão séria não é um chiste ou piada para vir emoldurada com a escatológica imagem de um «fortão» com cabeça de vaso sanitário.
Ao agir desta forma, o senador reforça o trabalho dos que «tramam» nos porões palacianos para lhe destruir politicamente.
Há uma coisa que aprendi desde a infância: «hora de brincadeira é hora de brincadeira, hora de falar sério é hora de falar sério».
Ora, se esta regra se aplica a nós, comuns mortais, com mais ênfase deve ser aplicada a um senador da República, sobretudo quando faz acusações tão sérias. O senador precisa investir-se de tal liturgia.
Como já disse, ao não separar coisas sérias de brincadeiras, do achincalhe, acaba por desvalorizar as coisas boas e sérias que produz, como por exemplo os projetos fundamentais para o desenvolvimento do estado, dentre os quais a Zona de Exportação do Maranhão — ZEMA.
O senador precisa mudar de postura para vencer mais este moinho e não facilitar o trabalho dos que querem destruí-lo.
Outro flanco que o senador deixa em aberto e que facilita o trabalho dos seus adversários é essa (má) fama – que o persegue como a bola corre para os pés do artilheiro –, de que não é um bom cumpridor de compromissos assumidos e/ou que não gosta de pagar «gente viva». Com ou sem razão, tal assertiva encontra muito eco na sociedade. Adversários, e até aliados, tratam tal informação como se fosse uma verdade absoluta.
Além deste, outra circunstância facilita o trabalho dos que querem lhe vê pelas costas, a que diz respeito à vida empresarial de sua família, cuja a responsabilidade lhe é atribuída. A todos é vendida a ideia de uma vida empresarial mais enrolada que «fumo sergipano» e que chega a dever por meses a fio os vencimentos dos colaboradores que prestam serviço a aquelas empresas. Se não é verdade, passa como se fosse.
E, vamos combinar, não fica bem a um senador da República cultivar tais «famas», principalmente quando sabemos que tudo «pega» negativamente na classe política hoje em dia.
São estes, ao menos por enquanto, os moinhos que o senador precisa vencer. São muitos e o tempo, outrora aliado, conspira contra.
Abdon Marinho é advogado.