AbdonMarinho - A inelegibilidade de Bolsonaro e a democracia relativa de Lula.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 02 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ineleg­i­bil­i­dade de Bol­sonaro e a democ­ra­cia rel­a­tiva de Lula.


A INELEG­I­BIL­I­DADE DE BOL­SONARO E A DEMOC­RA­CIA REL­A­TIVA DE LULA.

Por Abdon C. Marinho*.

SOBRE o ex-​presidente Bol­sonaro e sobre o atual pres­i­dente Lula muito já escrevi. Acred­ito que muito mais do que uma cen­tena de tex­tos, em muitos deles – como o atual –, eles apare­ce­ram jun­tos.

Lem­bro que ainda em 2018, logo após as eleições pres­i­den­ci­ais que elegeram o sen­hor Bol­sonaro dizia a respeito do eleito: “acho que ele, nem nascendo outra vez, seria um estadista à altura do país”, no texto “Bol­sonaro e a nova democ­ra­cia pos­sível”; em setem­bro do ano seguinte, a respeito das reit­er­adas ameaças do pres­i­dente, e seu entorno, as insti­tu­ições do país e prin­ci­pal­mente ao judi­ciário, escrevi um texto com o seguinte título: “Os Bol­sonaro e o leão da metro”; já em 2020, em maio, escrevi um texto com o título “Bol­sonaro ensaia para o impeach­ment – ou para o golpe”; em junho do mesmo ano, escrevi: “O gov­erno Bol­sonaro acabou”; em out­ubro, com­para­ndo as bobagens que tanto o Bol­sonaro pro­fe­ria quando as bobagens já ditas por Lula, sobre um tema especí­fico, escrevi: “Da trans­vi­adônica de Lula à “boio­lagem” de Bol­sonaro”; em janeiro de 2021, escrevi: “A insur­reição e o suicí­dio de Bol­sonaro”; mais adi­ante, no mesmo ano, pontuei em um texto com o título: “Bol­sonaro é tão inocente quanto Lula”; e um outro texto: “A escolha de Bol­sonaro: renún­cia ou impeach­ment”; já no iní­cio mouse meio da cam­panha de 2022, escrevi um texto: “Um can­didato entre à presidên­cia e a Papuda”.

Acima, ape­nas alguns títu­los dos tex­tos sobre a gestão do ex-​presidente Bol­sonaro e alguns out­ros sobre a “sime­tria” entre bobagens e ações exis­tentes entre ele (Bol­sonaro) e o atual pres­i­dente Lula da Silva. Teve um texto, inclu­sive, acho que de 2021 ou 2022, com um título “Lula ‘fechado’ com Bol­sonaro”, onde pon­tu­ava que as bobagens exter­nadas pelo primeiro era o prin­ci­pal com­bustível para o segundo.

Como dito no iní­cio, são dezenas de tex­tos, talvez cen­te­nas, onde anal­iso o com­por­ta­mento de tais per­son­agens – os prin­ci­pais da política brasileira da atu­al­i­dade, oh, Deus, que tragé­dia –, em face dos inter­esses da nação, da sociedade, dos dire­itos dos cidadãos, e tan­tos out­ros assun­tos. Muitos dos tex­tos com opiniões que não se con­cretizaram, out­ros em errei na avali­ação, mas, uma grande parte deles, sem qual­quer mod­és­tia, com a com­pro­vação de que estava certo e podem ser con­sul­ta­dos para análises e amor ao debate.

Na sem­ana pas­sada, os dois prin­ci­pais per­son­agens da tragé­dia nacional acabaram por “se encon­trarem” pelo menos na inspi­ração para o tex­tão sem­anal, por se tornarem assun­tos incon­tornáveis em quais­quer rodas de con­versa, das mais sérias as pil­hérias imor­tal­izadas em charges ou “memes”.

Durante qua­tro sessões (terça a sexta-​feira) o Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, ocupou-​se do jul­ga­mento de uma ação con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro, que cul­mi­nou com a dec­re­tação de sua ineleg­i­bil­i­dade por 08 (oito) anos, afastando-​o das dis­putas eleitorais, até, pelo menos, 2030, se out­ras con­de­nações mais graves, inclu­sive, alguma que o leve à Papuda, não se con­fir­marem, pois são pelo menos mais de uma dezena de ações, eleitorais e crim­i­nais que tem de respon­der, e os tri­bunais, pelo que vimos nessa primeira, não pare­cem dis­pos­tos a “aliviarem”.

Pois bem, con­cluído o jul­ga­mento, na sexta-​feira, com diver­sas man­i­fes­tações dos ali­a­dos do atual pres­i­dente pelo “sex­tou” espe­cial e protestos “incon­for­ma­dos” dos ali­a­dos do ex-​presidente inelegível – muitos demon­strando incon­formismo pub­li­ca­mente e fes­te­jando no íntimo –, vieram as per­gun­tas, muitas delas em forma de protestos.

— Abdon, o que você achou do jul­ga­mento?

— Doutor, como podem cas­sar o “homem” por fazer uma “reunião” com embaix­adores estrangeiros?

— Um absurdo, né, doutor?

A primeira sen­sação que me “acode” é a de frus­tração, por saber que estes ami­gos, a exem­plo do próprio ex-​presidente, não leram o que escrevi diver­sas vezes, desde o iní­cio do seu gov­erno, sobre os vários tipos de com­por­ta­men­tos inad­e­qua­dos à frente da chefia da nação.

No iní­cio “chamando para briga” os dois out­ros poderes con­sti­tuí­dos, leg­isla­tivo e judi­ciário; e, depois, “entre­gar” o gov­erno ao primeiro-​ministro do Con­gresso Nacional, se voltar sem­pre que tinha opor­tu­nidade, con­tra o Poder Judi­ciário, como um todo – e con­tra alguns dos seus inte­grantes em par­tic­u­lar.

Com tal com­por­ta­mento “desafiou” uma das primeiras regras da sabedo­ria política, segundo muitos, lecionadas com maes­tria pelo ex-​presidente José Sar­ney, aquela que diz: “não se briga com quem veste saias: mul­her, padre e juiz”. Acho que hoje se acres­cen­taria out­ros à cat­e­go­ria de “vestirem saias”.

Durante qua­tro anos tudo que o ex-​presidente e seu entorno fiz­eram foi agredi­rem, atacarem o Judi­ciário e seus mem­bros, muitas das vezes, sem qual­quer motivo aparente ou oculto.

Quem não se lem­bra dos xinga­men­tos con­tra o min­istro Alexan­dre de Moraes, chamando-​o de canalha em coro com seus ali­a­dos em um pleno feri­ado de Sete de Setem­bro?

O min­istro Alexan­dre de Moraes talvez tenha se lem­brado disso ao pro­ferir o seu voto no jul­ga­mento na última sexta-​feira, 30 de junho.

O amigo insis­tente não se dando por ven­cido, ques­tiona: — Abdon, a reunião com os embaix­adores era motivo sufi­ciente para a dec­re­tação de ineleg­i­bil­i­dade do capitão? Não houve perseguição política por parte do judi­ciário?

O que acho dessas coisas é o inserto em um adá­gio pop­u­lar: “quem pode mais, chora menos”.

Isso para dizer que se Bol­sonaro tivesse ven­cido as eleições pres­i­den­ci­ais, estando ou não os mem­bros do judi­ciário o odiando – e com razão –, provavel­mente ele não seria cas­sado e não teria con­tra si uma ineleg­i­bil­i­dade dec­re­tada, dariam o dito pelo não dito, engoliriam o choro e ten­tariam sobre­viver mais qua­tro anos.

No aspecto estri­ta­mente legal e pelos prece­dentes da Corte Eleitoral, a decisão tem amparo.

O ex-​presidente não foi tor­nado inelegível por ter feito uma “reunião com embaix­adores”. A ineleg­i­bil­i­dade deu-​se pela uti­liza­ção de um espaço público, com estru­tura pública, servi­dores públi­cos para um ato político de cam­panha eleitoral, desafiando e ten­tando jus­ti­ficar um golpe mil­i­tar (se tivesse cor­agem para tal, o que não teve) e trans­mitindo tal ato de cam­panha por emis­sora de tele­visão ofi­cial e demais mídias, para que fos­sem repli­cadas infini­tas vezes por seus seguidores.

Os votos dos cinco min­istros que for­maram a maio­ria pela dec­re­tação de ineleg­i­bil­i­dade estão ai para serem exam­i­na­dos. Acred­ito ser de fácil com­preen­são a ver­i­fi­cação, fora das paixões, se houve ou não abuso de poder político e o uso inde­v­ido dos meios de comu­ni­cação, condições esta­b­ele­ci­das na leg­is­lação.

O que me pare­ceu, das partes do jul­ga­mento que assisti, é que a maio­ria, os cinco min­istros, estavam muito mais las­trea­dos nos seus fun­da­men­tos do que os dois out­ros que diver­gi­ram, que, ao meu sen­tir, pro­feri­ram votos sem con­vicção, um tanto quanto “enver­gonhados”, como se estivessem pre­stando um favor. Tanto assim que os seus argu­men­tos foram facil­mente “desmon­ta­dos” pelos demais min­istros.

O meu amigo insi­s­tiria: — não teria havido “despro­por­cional­i­dade”?

A lei só exige a prática da con­duta abu­siva e não a sua poten­cial­i­dade.

Quem não se lem­bra da cas­sação do casal Capibaribe, do Amapá, anos atrás, por terem doado para eleitores o valor, se não me falha a memória de R$ 26,00 (vinte e seis reais)? No caso deles, além de cas­sa­dos e perderem os mandatos foram con­sid­er­a­dos inelegíveis por oito anos.

Esse exem­plo, em meio a tan­tos out­ros, para dizer que a ineleg­i­bil­i­dade do ex-​presidente não é “um ponto fora da curva”, muitos políti­cos, gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos, prefeitos, vereadores, não só perderam mandatos, mas foram declar­a­dos inelegíveis por atos até menos graves do que os atribuí­dos ao ex-​presidente. Agora mesmo dezenas de políti­cos perderam os mandatos, out­ros estão em vias de perderem, por terem “frau­dado” as cotas de gênero nas eleições, em alguns casos, os eleitos nem sabiam da fraude.

Uma vez, em uma eleição munic­i­pal qual­quer, pleno domingo, me liga o ex-​deputado Mar­cony Farias: —Abdon, pre­cisas fazer algo com urgên­cia. Enquanto me recu­pero do susto ele com­pleta: — Pren­deram o Raimundo João.

No caso, o saudoso Raimundo João Sal­danha, ex-​prefeito de Rosário foi detido no dia da eleição porque ao pas­sar pela praça um pop­u­lar gri­tou pra ele: — Raimundo João, me con­segue aí R$ 5,00 (cinco reais) para que possa tomar um café na rodoviária. Ele meteu a mão no bolso, deu o din­heiro e lá estava “enquadrado” por com­pra de votos e o escritório todo mobi­lizado e “per­dendo” o domingo para soltá-​lo.

O ex-​presidente teve con­tra si dec­re­tada a ineleg­i­bil­i­dade por ter, em sen­tido genérico, vio­lado e ata­cado a democ­ra­cia brasileira. Numa daque­las situ­ações em que a “vida imita a arte” tal con­de­nação deu-​se jus­ta­mente na mesma sem­ana em que o atual pres­i­dente da República, o sen­hor Lula da Silva, com todos os erros e absur­dos que uma con­ceitu­ação pode ter, em resposta a “Rádio Gaúcha”, disse que democ­ra­cia é um con­ceito rel­a­tivo – inda­gado sobre a situ­ação política na Venezuela.

Como disse ante­ri­or­mente, o Lula é outro que abusa do dire­ito de falar besteira, muitas das vezes aten­tando con­tra a própria democracia.

Pelo adi­antado da hora e do texto, dedi­care­mos um “tex­tão espe­cial” só para tratar da rel­a­tivi­dade da democ­ra­cia na visão do nosso pres­i­dente.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

PS. A ilus­tração genial foi “pescada” na internet.