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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 16 de Maio de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


NARRATIVAS EM VERTIGEM. 

Por Abdon Marinho.

O BRASIL dos dias atuais vive uma guerra de narrativas. O cidadão que desejar acompanhar todas elas não pode piscar – sob pena de perder o próximo “lance”.

Outro dia um miliciano foi morto – segundo a versão oficial –, em um confronto com o polícia. Horas depois as redes sociais estavam “entulhadas” de vídeos, áudios e/ou textos, dizendo que se tratava de uma “queima de arquivo”, que o ministro da justiça e segurança pública seria o responsável por tal desdobramento para beneficiar o presidente da República e seus familiares.

Nos dias seguintes as narrativas não arrefeceram e, pior, não vinham apenas de pessoas comuns ou engajados  “militantes”. 

Entre seus propagadores diretos ou responsáveis por insinuações maliciosas acusando o ministro da justiça e o presidente constavam autoridades, como governador de estado, deputado federal, ex-governador, etc., todos dizendo que a responsabilidade pela extinção do “miliciano” era do ministro e do presidente. 

A ninguém ocorria uma análise cuidadosa dos fatos. Ora, o tal do miliciano morreu em uma operação policial em um estado comandado há mais de uma década pelo principal partido de oposição ao atual governo; a operação policial foi supervisionada pelo próprio secretário de segurança daquele estado, que atestou terem as forças de segurança por ele comandadas agido dentro dos protocolos.

Mesmo com tais esclarecimentos, deputados do próprio partido do governador da Bahia e seus aliados continuavam a insistir na tese conspiratória de que o ministro da justiça e o presidente seriam os responsáveis pela tal “queima de arquivo”. Tem vídeos disseminando tais coisas, chamou minha atenção um do deputado Paulo Pimenta (PT/RS), sustentando a patranha.

Ora, pelo raciocínio destas pessoas e seus “seguidores”, o ministro da justiça ou o próprio presidente da República teriam “combinado” com secretário de segurança da Bahia, ou talvez, com o próprio governador (de um partido arquirrival) para darem cabo ao miliciano e queimarem o suposto arquivo do presidente e familiares; estes – secretário ou governador – teriam passado aos integrantes da missão tal determinação. 

Quando vi tais narrativas comentei: — agora lascou, o PT se tornou o “queimador” de arquivos dos Bolsonaro.

É impressionante como coisas “sem pé nem cabeça” são disseminadas, inclusive, por “autoridades”. 

Faz algum sentido o Partido dos Trabalhadores - PT, que comanda o Estado da Bahia há tanto tempo fazer esse tipo de serviço sujo em benefício de adversários políticos? 

Mas as narrativas não ligam para a lógica, o que importa é “mitar”.

Ainda na intenção de “mitar” – e no mesmo assunto –,  um deputado da oposição radical ao governo atacou o ministro da justiça em uma audiência pública da Câmara dos Deputados com acusações de que o ministro seria “capanga de milícias” e “capanga da família Bolsonaro”. 

O ministro apenas respondeu que o deputado era um desqualificado. 

No dia seguinte, pelas redes sociais, o ministro lembrou que o partido do deputado que o atacou fora contra diversas medidas do pacote anticrime, de sua autoria, que endurecia o jogo contra o crime organizado, contra as milícias, inclusive. 

Parece que não há no país a intenção de esclarecer os fatos e de se trabalhar com a verdade ou de se construir um futuro melhor para todos.

Vejam, no episódio da suposta queima de arquivo, se a operação policial tivesse ocorrido em algum estado aliado ao presidente da República ou mesmo simpático a ele – se é que existe algum –, a narrativa passaria a ser a verdade inquestionável. Para sociedade ficaria a informação (certeza) que o presidente e o ministro, em conluio com o governo estadual, teriam eliminado uma pessoa que poderia ter “segredos” comprometedores. Se, com um fato ocorrido em um estado governado pela oposição, com o secretário de segurança pública assegurando a regularidade da operação, as “narrativas” ganharam tanto espaço, inclusive, em veículos de comunicação social ditos sérios, imaginem se fosse em um estado “aliado” do governo federal.

O que se constata é a mentira, diferente do que aprendemos, não tem pernas tão curta

Desmascarada a narrativa, quem passou a explorá-la, em sentido contrário e de forma, para dizer o mínimo, irresponsável, foi o próprio presidente da República, acusando a polícia baiana – e até mesmo o governador –, pelo fato da operação ter culminado na morte do miliciano.

O país parece girar em torno de insanidades. 

Vejam outra “historinha”. Por estes dias saiu uma “pesquisa” no Jornal El País, dando conta que o governador do Maranhão estaria em terceiro lugar na preferência do eleitorado brasileiro, com treze por cento dos votos, algo em torno de 20 milhões de eleitores.

A informação, principalmente no Maranhão, foi explorada à exaustão. Diziam: “o governador já está com treze por cento”, como a dizer, logo , logo, ultrapassa os demais e se torna o favorito; talvez ganhe a eleição de 2022 logo no primeiro turno. Coisa de maluco.

Recebi com incredulidade a notícia. E tinha razões para isso. Dias antes saíra uma pesquisa de um instituto nacional reconhecido por seus acertos, projetando cenários para as eleições de 2022, onde o tal governador nem aparecia. 

Como é possível que poucos dias depois, sem que nada de extraordinário tivesse acontecido, o mesmo cidadão não só apareça numa pesquisa, mas que apareça com um volume de votos tão expressivos? Ao meu sentir não fazia qualquer sentido. 

Mas a informação do “El País” com a tal pesquisa ganhou o mundo. 

Entretanto, um ou dois dias depois uma nova pesquisa, desta vez da Veja/FSB, confirmou os números anteriores e os trezes pontos que o governador do estado “tinham” viraram pó, desapareceram.

Não é crível ou aceitável que entre três pesquisas de opiniões, uma apresente um dado tão discrepante em relação às outras duas. Como já se dizia lá no sertão “jabuti em cima de árvore, ou foi enchente ou mão de gente”. 

Alguém deveria perguntar como duas pesquisas fizeram para “sumir” com 20 milhões de eleitores em questão de dois ou três dias ou, como a pesquisa divulgada pelo Jornal El País fez para que tais eleitores “aparecerem” onde – antes e depois –, havia um traço. 

Nem a Segunda Guerra Mundial “sumiu” com tanta gente. Não em tão pouco tempo. 

Bem sei que uma pesquisa pode lhe dá a resposta que se queira, desde que feita a pergunta certa.

Por outro lado, acredito que seria interessante que as autoridades buscassem saber o que – e/ou quanto –, se oculta por trás de informações tão desencontradas e/ou manipuladas. 

Uma outra narrativa que envolveu (e ainda envolve) o Maranhão e suas autoridades, foi o “aumento fake” concedido aos professores estaduais e “vendido” pelo próprio governador como uma coisa extraordinária. 

No “frigir dos ovos” o tal aumento não representava nem a metade do reajuste conferido pelo governo federal para o piso salarial do magistério, a chamada Lei do Piso. O governo federal concedeu quase 13% (treze por cento) enquanto que aqui as faixas salariais que tiveram aumento superior a isso foi apenas para alcançar o valor do piso nacional. Todas as demais faixas salariais ficaram com um aumento percentual em torno de 5% (cinco por cento), menos da metade do concedido pelo governo federal.

Quer dizer, se o valor bruto passou dos 6 mil reais isso se deve a conquistas históricas da categoria que o governo atual não teve qualquer ingerência ou participação. 

O que fez, na verdade, foi descumprir a legislação (o Estatuto do Magistério) que assegura aos mestres locais o mesmo percentual de aumento concedido pelo governo federal.

Durante a votação do projeto de lei que concedeu o “aumento” testemunhou-se uma situação inusitada, enquanto os governistas votavam envergonhados os professores protestavam das galerias da “casa do povo”. 

Os protestos dos professores não foram maiores porque muitos tiveram negado o acesso às galerias e a porque a representação da categoria virou “linha auxiliar” do governo, negando aquilo que é uma conquista e que consta da lei.

Assim caminha o país e o estado, ao sabor das narrativas.

Abdon Marinho é advogado.