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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A ÉTICA E O JORNALISMO DE TÉO PEREIRA.

Outro dia um amigo me reclamava de uma determinada notícia publicada num dos blogues da cidade. Dizia que tal blogueiro fazia um jornalismo à Téo Pereira. Que mentia de forma deliberada porque recebia dinheiro de alguém para difamá-lo. No meio da conversa citou outros fatos sabidamente inverídicos e que foram divulgados com ares de escândalo. Perguntava o que achava? Se era “direito\\\" fazer o que fazia?

Na verdade sempre tive muito apreço por jornalistas. Esses que podem e merecem ser escritos com “J\\\" maiúsculo e que encaram a profissão de informar um ministério e/ou dogma de fé. Aqueles que sem temer nada nem a ninguém e com o risco da própria segurança pessoal vão em busca da verdade real para transmiti-la aos seus destinatários. Os que possuem como lado, a verdade e como patrão o leitor.  

Assim, entendo que papel de informar a sociedade se confunde com a própria ideia de democracia. Ciente disso o legislador constituinte inseriu no texto da Constituição da República garantias que permitem o livre exercício da profissão, a liberdade de imprensa e de pensamento. 

Voltando à inquietação do meu amigo, é forçoso reconhecer que, de uns tempos para cá, começou a ser disseminada a ideia de que toda a imprensa está a serviço de um lado, que não existe imprensa isenta e que o o jornalismo está a serviço de determinados interesses políticos ou econômicos, em detrimento dos interesses da sociedade. Se é verdade? Não sei. O que sei é esse tipo de pensamento aos poucos vai se tornando uma verdade. 

O que mais temos nos dias de hoje são pessoas alugando suas “penas\\\" aos que melhores lhe pagam. Muitos recebem para plantar mentiras, difamar pessoas. Outros preferem o caminho da chantagem, vendem dificuldades para colher facilidades.  

Os avanços tecnológicos permitem que ideias, opiniões e noticias circulem com mais facilidade. O que qualquer pessoa escreve, em questão de segundos está ao alcance de todos ao redor do mundo. Qualquer homem diante de uma tela é um difusor de pensamentos para um numero cada vez maior de pessoas. Infelizmente, esses avanços não se refletem na qualidade do conteúdo ou que garantam que a informação difundida seja verdadeira.

Em decorrência da \\\"verdade\\\" que começa a se consolidar de que os veículos de comunicação possuem lado ou que estão a serviço deste ou daquele pensamento, já li e ouvir de diversos jornalistas expressarem que têm um lado. Fazem questão de exibirem  esse pensar com certo orgulho. Estes, que exibem aos leitores ou ouvintes que possuem um lado, são, até melhores, que aqueles que tratam os leitores e ouvintes na ignorância. 

Embora me pareça incompatível com a ideia de jornalismo – ao menos na forma que sempre concebi – com essa imposição de lados, para mim outra questão parece ainda mais grave, que é o fato do desapreço que muitos, na defesa dos seus “lados\\\" passaram a ter pelos fatos, pela verdade objetiva, pela ética. 

Há de se perguntar: o fato de do jornalista, do blogueiro, possuir um lado, uma inclinação politico-ideológica, claramente definido ou oculto, os permite descuidar da verdade? Mentir, deliberadamente, na defesa dos patrões ou patrocinadores? Inventar fatos, mascará-los ou deturpá-los em troca de audiência?  Difamar ou insultar honras alheias em estratégias políticas dos grupos ou teses que defendem? Vou além: que recebam para defender algo que não seja sua convicção ou que seja claramente mentira?

Mas isso sempre não foi assim? É verdade, talvez sempre tenha sido assim. Entretanto, também é verdade que já tivemos inúmeros bons jornalistas. O fato é estes, os bons, estão ficando cada vez mais escassos ou por não fazerem mais as coisas por idealismo ou por serem impedidos pelos veículos em que trabalham ou ainda por sucumbirem ao apelo do dinheiro fácil. 

Assim, quase de forma imperceptível vão construindo um novo padrão ético (?) cujo um dos maiores patronos é o fictício blogueiro Téo Pereira, interpretação magistral do ator Paulo Betti, no folhetim global assinado pelo novelista Aguinaldo Silva. 

Não precisamos ir muito longe para nos depararmos com atores da vida real bem semelhantes ao personagem do folhetim. São profissionais que perderam o idealismo que deve nortear qualquer oficio e passaram a viver em função de desgraças, fofocas, mexericos e mentiras. O fato de lucrarem “rios de dinheiro” com isso, fazem com que pensem estarem no caminho certo. 

Esses “novos padrões éticos” passaram a alimentar uma reação bem pior dos que pensam de forma autoritária, que é cecear a liberdade de expressão e de opinião, colocando em risco as conquistas já consolidadas no nosso país.

Os maiores cabos eleitorais dos querem uma imprensa sob controle, sob jugo de conselhos que orientem linhas editoriais e ceceiem a pluralidade de pensamento, são os que fazem do jornalismo um instrumento para difundir mentiras e infâmias.

Como advogado que sempre militou na defesa das liberdades individuais, de imprensa e de opinião, sempre me causa preocupação ouvir que a imprensa precisa de regulamentação especial, que as pautas devem ser submetidas a órgãos fiscalizadores. 

Penso que os limites á liberdade de imprensa e de expressão são os já estabelecidos na Carta Constitucional, que assegura a ampla liberdade, veda o anonimato e garante indenização proporcional ao agravo. A pior imprensa ainda é bem melhor que a melhor ditadura.

Causa-me enorme receio que se instale no Brasil, a exemplo do já vem ocorrendo em países vizinhos, a asfixia dos meios de comunicação, pelos mais diversos meios, mas esse é um assunto para um texto específico. 

Abdon Marinho é advogado.