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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 26 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho



REFLEXÕES PARA O FUTURO.

Por Abdon Marinho.

COSTUMO DIZER que para começarmos a entender o Brasil faz-se necessário “olhar o quadro inteiro”, mais que isso, olhar para o passado e para o presente e intuir o que pretendem para o futuro.

Semana passada o Partido dos Trabalhadores - PT “saudou” a eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua, como a mais lídima manifestação popular, soberania do povo sobre o “imperialismo”. Claro que depois da péssima recepção da manifestação o partido lançou uma segunda nota dizendo que a nota anterior não fora submetida à direção partidária e que a posição do partido “é de defesa da autodeterminação dos povos, contra interferência externa e respeito à democracia, por parte de governo e oposição”.

Ortega elegeu-se para um quarto mandato consecutivo tendo a esposa como vice-presidente após prender sete adversários, mais de uma centena de opositores em um arremedo de eleição marcada pela violência e pela pouca participação popular. 

Em todo caso, não faria muita diferença se tivesse tido grande participação popular. Nas ditaduras, na maioria das vezes, o povo já foi de tal maneira alquebrado que até acha normal o que lhe sucede, mesmo as  privações aos direitos mais elementares. 

O PT praticamente fez desaparecer do seu site qualquer referência ao processo eleitoral na Nicarágua, assim como, qualquer notícia a respeito da ditadura venezuelana, que já levou 95% da população a situação de miséria; ou mesmo a Cuba ou a Coreia do Norte, outras ditaduras que sempre contaram – e contam –, com o apoio e a solidariedade dos líderes petistas. 

Esta semana o senhor Bolsonaro iniciou um périplo pelos países do mundo “onde se sente em casa”: as ditaduras mais repressoras do Oriente Médio, lugar em que os governantes tornaram-se donos dos países, não admitindo qualquer tipo de oposição, onde as mulheres e as minorias não possuem quaisquer direitos e são tratadas como se fossem objeto e sujeitas a perderem a vida ao menor deslize.

Por detrás da opulência dos seus monumentais prédios e mesquitas existe uma história de opressão contra as mulheres e minorias e inexiste qualquer espaço para discordância ou livre manifestação de pensamento ou de opinião. 

Claro, dirão os bolsonaristas, o presidente está falando e apertando as mãos de tais ditadores no interesse do nosso país, fazendo negócios e trazendo divisas. 

— “Ain”, Abdon é contra que se estabeleça relações diplomáticas e comerciais?

Não é nada disso, até porque o senhor Bolsonaro nunca teve esse tipo de preocupação. Não estão, os governistas preocupados com as boas relações comerciais no Oriente Médio. 

Se estivessem preocupados com isso, com o comércio, com a solidez da nossa economia, não teriam passado dois anos “espezinhando” a China, principal parceira comercial do Brasil. 

E coloco o “espezinhar” entre aspas – milhares delas –, porque o Brasil que precisava (e precisa) da China e não o contrário – ainda mais naquele período de pandemia incontrolável. 

Outra coisa, que história é essa (se for verdade) que o presidente e sua comitiva estão sendo “bancados” por governos estrangeiros? Viraram putas (com todo o respeito a essas profissionais)? Que relação comercial é essa em que uma das maiores economias do mundo aceita que o outro parceiro pague suas contas?

Logo, não se trata de acordos ou parcerias comerciais, mas, sim, afinidades “ideológicas”. 

Algo bem semelhante ao discurso petista da “grande manifestação popular e democrática” com que se referiu a “eleição na Nicarágua ou “autodeterminação dos povos” quando se trata da defesa dos seus ditadores de estimação. 

Assistir Bolsonaro e os seus embasbacados diante dos ditadores do Oriente Médio não é muito diferente das solenidades “beija-mão” promovidas por Lula e os seus aduladores quando visitavam Fidel Castro e/ou  mesmo, Hugo Chávez.  

No quesito amor a ditaduras, farinha do mesmo saco.

Há quase vinte anos o petismo criou o mensalão, um mecanismo de compra de apoio parlamentar, para fazer aprovar tudo que queria. 

Por tal artifício os parlamentares da “base” recebiam um “extra” para apoiarem o governo. 

Os recursos ilegais vinham de diversas fontes e irrigavam as contas das excelências. 

Descoberto o esquema, mas já concomitante a ele, criaram o “petrolão”, outro esquema de corrupção fundado na apropriação de empresas estatais – notadamente a Petrobras –, mas com ramificações noutros organismos estatais ou não como Banco Brasil, Caixa, BNDES, FNDE e tantos outros, loteados entre os partidos para que dessem sustentação ao governo. 

A patuleia, por conta da Operação Lava Jato e outras, acabou tomando conhecimento de uma pequena parte do muito que roubaram dos cofres públicos. 

Quantias tão absurdas que tornou-se comum o sub do sub do sub alguma coisa, em acordos de delação premiada, oferecer-se para devolver algo como cem milhões de dólares para não ser preso. 

Além do PT, partido do presidente, quem também estavam na “linha de frente” dos escândalos de corrupção acima referidos, eram, entre outros, o PTB, de Roberto Jefferson; o PP, de Ciro Nogueira e Arthur Lira; o PL, de Waldemar da Costa Neto, futura “casa” do presidente; parte do DEM e do MDB, além de  diversos outros. 

São as mesmas agremiações políticas, praticamente, as mesmas pessoas que deste os primeiros anos do petismo que “sangraram” a nação que continuam “dando as cartas” na atual gestão. 

Além de ocuparem os mesmos espaços políticos de antes – e se locupletarem como sempre –, na atual quadra política criaram uma nova modalidade de corrupção o “bolsolão” que também atende pelo singelo nome de “emenda do relator”. 

Quando “inventaram” isso lá atrás disse que o Brasil criaram o parlamentarismo irresponsável, pois entregaram uma parcela significativa do orçamento para ser administrada pelo parlamento sem que houvesse qualquer controle.

O tempo, senhor de tudo, comprova que estava certo. 

As emendas de relator ou “bolsolão” é apenas uma espécie de “neto” do velho mensalão dos primórdios do petismo, que tem como propósito comprar o apoio do parlamento para as medidas do governo.

No quesito bandalha, tudo como dantes no quartel de Abrantes. 

Agora mesmo, quando o STF determina que haja transparência no empenho das tais “emendas do relator”, o Congresso Nacional reage, reclama de interferência.

Ora, ora, quer dizer que as excelências, além disporem do orçamento da união, ou seja do nosso dinheiro, não querem que saibamos para onde ele está indo? Ou será que não está indo? O que as excelências querem ocultar? Por que o Congresso Nacional, quase todo, teme que se revele quem foram  (ou quem são) os beneficiários do bolsolão e para onde foram os bilhões e bilhões de reais que foram distribuídos nos anos de 2019, 2020 e 2021? Quem da oposição recebeu ou recebe mesada do governo Bolsonaro? 

Nesta reflexão chamo atenção do leitor para a seguinte situação: seja mensalão, seja petrolão, seja bolsolão, o “modus operandi” da turma que se encontra no poder é, com algumas variações, o mesmo. E a vítima é sempre a nação. 

O Brasil constituiu uma casta perdulária que fez – e continua fazendo –, fortuna a partir do patrimonialismo e da apropriação dos recursos públicos. 

Acho engraçado quando ouço algum ingênuo (ou tolo) dizer que não existe corrupção no atual governo, lembro sempre daquele velho bordão: sabe de nada, inocente. 

Agora mesmo se digladiam em torno da tal PEC dos precatórios ou do calote – que trataremos em um texto específico –, o discurso de quem a aprovou é que fizeram isso para permitir um benefício de 400 reais para o “Auxílio Brasil”, o novo apelido da “Bolsa Família”. 

Como nos tempos do governos petistas usam os pobres e a necessidades mais urgentes para esconder os verdadeiros interesses. 

No quesito falta de originalidade, empate técnico. 

Ninguém viu, por exemplo, falarem que poderiam eliminar, neste e no próximo ano, as emendas de relator – que o presidente poderia ter vetado; ou que poderiam suspender para as próximas eleições os recursos do fundo partidário ou fundo eleitoral; ou que poderiam cortar pelo menos um terço das mordomias e vantagens que auferem. 

Pois é, ninguém lembra disso, ninguém lembra que poderiam encontrar outras alternativas antes de aplicarem um calote em velhinhos que, na sua maioria, esperam há uma vida para receberem o que lhes é devido pela União. 

Sabem por que fazem isso? A resposta é muito simples: da verba do “calote” e do “furo de teto” tirarão um pedaço para si. 

E assim caminha o Brasil rumo ao caos. 

Certamente não é isso que queremos para o futuro. 

Abdon Marinho é advogado.