AbdonMarinho - BOLSONARO JÁ PODE CHUTAR A GRÁVIDA?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BOL­SONARO PODE CHUTAR A GRÁVIDA?

BOLSONARO PODE CHUTAR A GRÁVIDA?

Por Abdon Marinho.

O SAUDOSO Cafeteira (Epitá­cio Cafeteira Afonso Pereira), ex-​deputado fed­eral, ex-​prefeito de São Luís, ex-​governador, ex-​senador, além de pro­tag­o­nista de “cau­sos” mem­o­ráveis era pos­suidor de um feel­ing político extra­ordinário – o que não sig­nifica que tam­bém não errasse.

Estive­mos jun­tos em duas eleições: a que gan­hamos e não lev­a­mos, em 1994 e a que não poderíamos gan­har, em 1998. Depois ainda cuidei do processo em que ques­tion­avam sua eleição para o Senado República quando elegeu-​se já numa col­i­gação com o grupo Sar­ney, em 2006.

Pois bem, quando diante de deter­mi­na­dos cenários políti­cos, Cafeteira dizia: – este só perde de começar a chutar grávida na Praça Deodoro; ou, — este aí nem se começar a chutar grávida na Praça João Lis­boa perde a eleição.

A dupla Bolsonaro/​Lula ou Lula/​Bolsonaro, con­forme preferirem, criou uma situ­ação em que qual­quer um dos dois poderá “chutar grávi­das” sem que tal fato retire o país da nefasta situ­ação de divisão em que se encon­tra, com o ódio, não ape­nas entre os políti­cos, mas, prin­ci­pal­mente, entre os cidadãos.

Como venho dizendo há qua­tro anos, o maior ali­ado do petismo/​lulista é o bol­sonar­ismo, assim como o maior ali­ado do bol­sonar­ismo é o petismo/​lulista, são as faces da mesma moeda e tra­bal­ham jun­tos para levar o país à destruição.

Tanto fiz­eram que pela primeira vez desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985, poder­e­mos ter uma dis­puta pres­i­den­cial encer­rada no primeiro turno, muito emb­ora saibamos que a larga maio­ria da pop­u­lação, no fundo, no fundo, preferiria out­ras opções a estas duas que estão postas.

A maio­ria dos eleitores de ambos os lados, mes­mos entre aque­les que já estão “cristal­iza­dos”, a opção por um ou por outro ocorre em função do adver­sário e não do can­didato em si.

Veja que Bol­sonaro mesmo com uma rejeição acima de 50%, segundo algu­mas pesquisas, teve um sig­ni­fica­tivo cresci­mento e aproximou-​se do Lula, primeiro, porque “sui­ci­daram” a can­di­datura do ex-​juiz Sér­gio Moro e, segundo, por conta dos posi­ciona­men­tos destram­bel­ha­dos de Lula.

A polar­iza­ção irra­cional é a respon­sável pela migração dos eleitores que dis­cor­dam dos posi­ciona­men­tos do ex-​presidente, como por exem­plo em relação ao aborto, à lim­i­tação do poder de com­pra da classe média, a esse anacro­nismo em relação as diver­sas ditaduras ditas de esquerda ao redor do mundo e mesmo o bisonho posi­ciona­mento em relação a invasão da Ucrâ­nia pela Rús­sia (muito emb­ora, no último caso, os dois can­didatos se assemel­hem na ado­ração ao car­ni­ceiro de Moscou), para a can­di­datura do atual pres­i­dente.

Na polar­iza­ção mais do que as qual­i­dades dos can­didatos, conta de ver­dade, os defeitos dos opo­nentes.

Em análise ante­rior, quando se vis­lum­brava a pos­si­bil­i­dade de surg­i­mento e até do cresci­mento de uma ter­ceira via, imag­i­nava a can­di­datura do atual pres­i­dente ape­nas como anteparo a impedir o avanço das destas can­di­dat­uras, mas sem o poten­cial de ameaçar ou impedir a vitória do ex-​presidente Lula.

E era assim que o cenário político se por­tava até o aniquil­a­mento da can­di­datura Moro e o can­didato Lula resolver falar o que pensa sobre deter­mi­na­dos temas.

Nem mesmo o ex-​governador e adver­sário histórico do petismo, Ger­aldo Alkimin, escal­ado como forma de equi­li­brar a chapa petista, foi sufi­ciente para con­ter os arrou­bos anacrôni­cos de Lula quando este começou a falar, pelo con­trário, parece que os mes­mos arrou­bos acabaram por con­t­a­m­i­nar o político pin­da­mon­hangabense, recon­hecido pela tem­per­ança.

Aos fatores acima – e não menos impor­tante –, merece destaque a atu­ação da mil­itân­cia política dos bol­sonar­is­tas.

Estes “militantes-​raiz”, que provavel­mente não alcança vinte mil­hões de almas, estão em cam­panha vinte e qua­tro horas por dia, sete dia por sem­ana, não con­hecem o Natal, a Sem­ana Santa ou qual­quer outro feri­ado ou assunto, é o tempo todo em gru­pos de aplica­tivos, redes soci­ais ou mesmo na rua fazendo o seu pros­elit­ismo politico, com pau­tas ver­dadeiras ou fal­sas e, prin­ci­pal­mente, fer­men­tando o germe da dis­cór­dia entre os eleitores.

Para estes mil­i­tantes o seu líder ou men­tor, a sua família e o seu gov­erno não pos­suem um defeito, estão efe­ti­va­mente fazendo a trans­for­mação que o Brasil pre­cisa e que nos aguarda um futuro glorioso.

Para eles não existe inflação e se existe a culpa jamais pode ser atribuída ao gov­erno, as aos adver­sários ou a mídia e tam­bém ao STF que não deixa o gov­erno trabalhar.

A destru­ição da Amazô­nia ates­tada por todos os insti­tu­tos de pesquisa do Brasil e do mundo, inclu­sive ofi­ci­ais, não existe e se ocorre não é por culpa do gov­erno brasileiro, mas dos gov­er­nos estrangeiros, da mídia e do STF.

Assim, tam­bém, como são cul­pa­dos pela froux­idão com que gov­erno lida com a gri­lagem de ter­ras, a invasão de reser­vas ambi­en­tais ou mesmo da explo­ração das ter­ras indí­ge­nas por garimpeiros crim­i­nosos.

Se o dólar subiu e ocor­reu de forma injus­ti­fi­cada a desval­oriza­ção do real, tam­bém, não foi culpa do gov­erno mas dos gov­er­nos ante­ri­ores, bem como o aumento dos com­bustíveis não lhes dizem respeito.

A cor­rupção não existe mais no Brasil por isso mesmo acabou-​se com a Oper­ação Lava Jato. Sem cor­rupção qual o sen­tido de se con­tin­uar inves­ti­gando “malfeitos”?

Se pas­tores estavam inter­me­diando negó­cios den­tro MEC ou do FNDE, mesmo que nas reuniões com os prefeitos estivessem sen­ta­dos lade­ando o min­istro e depois das reuniões saíssem para achacarem os prefeitos, o gov­erno ou mesmo o min­istro nada tinha com o fato, bem provável que o min­istro fosse o Cristo reen­car­nado na sua figura e ali estivesse entre os dois pas­tores. Muito emb­ora tenha sido o próprio min­istro que tenha dito no áudio vazado que as regalias dos ser­vos do Sen­hor den­tro da pasta se dava por recomen­dação do próprio presidente.

Como o pres­i­dente nada tenha com fato daqui a cem anos saber­e­mos os motivos de tan­tas reuniões com os pas­tores den­tro do Palá­cio do Planalto.

Os mais afoitos do bol­sonar­ismo chegam a cobrar os vídeos das entre­gas das propinas ou das nego­ci­ações das mes­mas e colo­cam a culpa na imprensa ou em que fez as denún­cias.

Os mes­mos vídeos que cobram para diz­erem que as tor­turas ocor­ri­das no Brasil durante o período da ditadura mil­i­tar nunca existiram.

Mesmo os desac­er­tos do gov­erno fed­eral, as omis­sões ou retardo na aquisição de vaci­nas durante a pan­demia que ceifou a vida de quase sete­cen­tas mil pes­soas não ocor­reu por culpa do gov­erno ou por sua inques­tionável negação.

Na ver­dade nem mesmo a pan­demia exis­tiu e todas essas mortes são uma ficção midiática ou porque os que mor­reram eram mesmo “morre­dores”.

Se algum incauto ousa ques­tionar por que não dizer que se tratar de assunto de inter­esse da segu­rança nacional e dec­re­tar um sig­ilo por 100 anos?

O gov­erno, o pres­i­dente, os seus asse­clas nada têm a ver com os infortúnios que ator­men­tam o país mas são donos de todo mérito das coisas boas que ocorrem.

Agora mesmo estão dia e noite divul­gando que pres­i­dente baixou a conta de luz da pat­uleia em vinte por cento ou mais. Isso é dito à exaustão.

Na ver­dade, a conta de luz foi ele­vada através de diver­sas taxas por conta da escassez de água nos reser­vatórios. Como este inverno foi/​está sendo bas­tante chu­voso os reser­vatórios estão cheios, nat­ural que se reti­rasse as ban­deiras que ele­varam as con­tas, porém mesmo isso que parece tão óbvio é “ven­dido” como mérito do gov­erno.

Não tarda pas­sarão a difundir agradec­i­men­tos ao pres­i­dente pelas chu­vas que estão caindo.

Ainda que não rep­re­sen­tem o pen­sa­mento majoritário do país, a difusão que fazem – através de gru­pos de aplica­tivos, redes soci­ais, etc –, de suas ideias ou mesmo das próprias pau­tas, sejam elas reli­giosas, arma­men­tis­tas, anti-​vacinas, de cos­tumes ou mesmo dos pre­con­ceitos que car­regam, acabam por induzir o voto no atual man­datário, mais, prin­ci­pal­mente, minam as can­di­dat­uras adver­sárias, prin­ci­pal­mente, a can­di­datura do ex-​presidente Lula, eleito como inimigo a ser batido.

Não vejo esse nível de mil­itân­cia em nen­huma outra can­di­datura, mesmo na can­di­datura do

Lula, que sem­pre foi maior que o petismo, ainda que muitos eleitores este­jam dis­pos­tos a votar nele, segundo as pesquisas mais de quarenta por cento ou num cenário de segundo turno, bem mais de cinquenta por cento, não vemos os seus eleitores ou defen­sores se ocu­pando (não como os bol­sonar­is­tas) em fazer qual­quer defesa ou defendê-​lo dos mais vari­a­dos tipos de ataques, dev­i­dos ou inde­v­i­dos.

Para os bol­sonar­is­tas o fato do sen­hor Bol­sonaro chutar ou não grávi­das não faz qual­quer difer­ença, mas irão espal­har que os out­ros estão fazendo isso para con­quis­tar estes votos.

No cenário atual – e se nada difer­ente acon­te­cer –, acho que a eleição poderá ser definida no primeiro turno, con­forme dito ante­ri­or­mente, e o resul­tado me parece indefinido.

Abdon Mar­inho é advo­gado.