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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


A Venezuela e o destino de uma nação.

Por Abdon C. Marinho. 

RECOMENDO aos amantes da política que assistam ao filme  “ O Destino de Uma Nação”. Nele é retratada a improvável ascensão de Winston Churchill ao cargo de primeiro-ministro durante a expansão do nazismo pela Europa. 

No filme aprendemos que precisamos fazer determinadas escolhas; que existe limites intransponíveis para que possamos considerar viver sob um regime democrático ou uma ditadura.

Foi durante esse período que Churchill fez o célebre discurso onde dizia que nada teria a oferecer senão o sangue, o suor e as lágrimas. 

Com o experiente político também é possível aprender que ao fazermos concessões aos autoritários não estamos refreando seus instintos autoritários mas apenas fazendo com que eles aumentem ainda mais. No dizer daquele político, durante determinada discussão: — você não pode negociar com o tigre quando se está com a cabeça na boca do felino. 

Essa introdução é para iniciarmos uma discussão sobre a situação política da Venezuela e como o Brasil, leia-se todas as suas instituições, têm “vacilado” ao não terem um comportamento mais incisivo em reprovação de todos os abusos que já vinham ocorrendo ao longo das últimas décadas e que culminaram na tensa e dramática situação que vivenciamos hoje. 

Se o leitor tiver curiosidade e digitar no canto superior direito dessa página a palavra “Venezuela” apertando o botão de busca verá que já tratei desse tema pelo menos umas cinco dezenas de vezes. Quase sempre dizendo tratar-se da construção de uma ditadura e o Brasil, e seus políticos, erravam (e erram) ao buscarem artifícios retóricos para justificar o que é injustificável. 

O principal erro do Brasil diz respeito a falsa percepção de que há “ditaduras do bem”. Não existe isso. Ditadura é ditadura e ponto final. 

Ainda que em nome dos interesses das nações se possa manter relações diplomáticas e comerciais elas não devem ir muito além disso. 

Acho bisonha e desmoralizante que os governantes brasileiros não apenas mantenham relações comerciais com determinados países como “desejem” certas “intimidades” com os “tiranetes” de plantão. 

Os atuais dirigentes do Brasil sempre tiveram uma admiração ridícula por todos os ditadores “ditos” de esquerda. Com os irmãos Castro, de Cuba; com Chávez e Maduro, da Venezuela; com Ortega, da Nicarágua, e por aí vai. 

Ainda lembro da admiração quase mítica que tinham pela chamada Revolução Sandinista ocorrida na Nicarágua, em 1979. 

O tempo passou o sandinismo que governou a Nicarágua de 1979 a 1990 perdeu o poder. Retomando-o em 2006 e a partir de então em um viés tão autoritário que aqueles que se lembravam (ou lembram) desejaram a volta dos Somoza ao poder. 

Essa digressão sobre a Nicarágua é apenas para mostrar que as ditaduras podem até nascer com um viés popular e de interesse coletivo, mas a sua manutenção é pela violência, o desatino e a loucura. 

Os dirigentes do Brasil, espero que tenham aprendido essa lição com a Nicarágua. Aqueles que gritavam vivas para FSLN (Frente Sandinista de Libertação da Nicarágua) estão vendo que não é tão fácil lidar com ditadores autocratas. 

A ditadura da Nicarágua se voltou, inclusive, contra a Igreja Católica, que nos primórdios da “revolução” os apoiou. 

Agora tem mandado encarcerar padres e bispos. 

O governo brasileiro tentou intermediar, a pedido do Papa Francisco, a libertação de um bispo e outros clérigos e o ditador da Nicarágua sequer atendeu o telefonema do nosso presidente.  

Mas não foi só isso, determinou a expulsão do embaixador do Brasil porque este não compareceu a solenidade de comemoração do 45º Aniversário da Revolução Sandinista. 

Fico até imaginando o diálogo entre o Papa Francisco e o Presidente Lula: 

— Ô Lula quero lhe pedir que fale com o Ortega para soltar o nosso bispo. Pode lhe dizer que ele (o bispo) não vai mais receber as reclamações do povo nicaraguense aos seus abusos. 

— Deixa comigo, Chico, essa eu mato no peito. Já falo com o Daniel e logo logo o bispo estará solto. 

O resultado, como já disse anteriormente, é que o “amigo” Daniel nem atendeu ao telefonema do amigo Lula, e de “lambuja” ainda expulsou o embaixador brasileiro. 

O papa como deve ser educado sequer deverá perguntar o resultado do “obséquio”. 

Outra prova do nosso vergonhoso julgamento dos fatos é a falta de condenação efetiva as barbaridades cometidas pela Rússia na guerra contra a Ucrânia. 

Veja, se é correto que o governo brasileiro age certo ao condenar os abusos israelenses na Faixa de Gaza promovendo o extermínio de uma população inteira escudado na desculpa de “perseguir” os terroristas do Hamas, erra feio ao ignorar o que vem acontecendo na guerra de expansão da Rússia contra a Ucrânia. 

Imaginem que nosso presidente até chegou a convidar o presidente russo para o encontro do G20 a ser realizado no Brasil ainda este ano, garantindo ao mesmo que deixaria de cumprir um acordo internacional para garantir sua segurança já que contra o sanguinário de Moscou pesa uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e o nosso país teria o dever de prendê-lo na hora que pousasse em solo brasileiro. 

Espero que tenham “esquecido” tal insanidade. Putin invadiu uma nação livre e promove uma das guerras mais sujas que se tem notícia, inclusive com sequestros de crianças de seus pais para que sejam criados na Rússia. 

Como é que uma nação que é signatária de todos os tratados internacionais de direitos humanos pode fingir que não está acontecendo nada, que não aconteceu nada? 

Só para encerrar o debate em torno da falta de noção dos nossos governantes (para não aplicar outro tipo de adjetivação) acho insano esse debate, que já dura quase dois anos,  em torno dos “presentes” recebidos por governantes – e que o TCU acaba cometer mais um desatino –, a primeira coisa que deveríamos ter em mente é que os tais presentes deveriam ser incorporados imediatamente ao patrimônio do país fosse o que fosse. Até porque o chefe de governo, os ministros, os governadores de estado não os receberiam se não fosse pelo cargo que ocupam, logo o presente não é para ele é para o “cargo” e o cargo não é dele. 

A segunda coisa, mais desmoralizante ainda, é o fato dos presenteados – de esquerda ou de direita, de antes, de agora ou do futuro –, “brigarem de faca” para justificar que os tais presentes são pessoais. 

Fosse eu um governante e recebesse um presente de um sanguinolento ditador da África ou das Arábias ou de qualquer outro país, faria questão de tê-lo como um presente para Brasil e não para mim. Acredito que não teria muito orgulho em me achar amigo de um ditador oprime seu povo, que não respeita qualquer regra básica da vida em sociedade ou que manda esquartejar jornalistas por discordar do ele escreveu. 

No Brasil vemos justamente o contrário. Existe orgulho em receber jóias ou contêiner de ditaduras odientas. Aliás, brigam por isso. 

Vejo que são pessoas que jamais poder-se-iam comparar a um Winston Churchill. 

Retorno à Venezuela para dizer que não será fácil para o Brasil encontrar uma alternativa que não seja a humilhação escancarada. 

Os atuais governantes sempre apoiaram essa ditadura em formação desde os tempos de Chávez. Apoiou a ascensão de Maduro ignorando todo tipo de abusos que vinha cometendo com o objetivo de se perpetuar no poder. Foi o “fiador” acordo que culminou com essa eleição silenciando a todos os abusos cometidos, inclusive a inabilitação de todos os adversários ou mandado-os para a prisão. 

Com tudo isso, as provas estão aí, Maduro perdeu para o adversário que permitiu que concorresse e, mesmo assim não respeitou o resultado, perpetrando uma fraude com o Conselho Nacional Eleitoral. 

Agora a decisão está com a Suprema Corte daquele país que, assim como o CNE é composto por aliados do governo, aliás, por prepostos da ditadura. 

Pergunta-se: essa Suprema Corte vai corrigir a besteira que fizeram ou insistir na fictícia eleição de Maduro? E o Brasil, o que vai dizer?

Mesmo as nações que sempre procuram o diálogo como forma para solucionar os conflitos precisam entender que existem limites até onde podem ir. 

 

Abdon C. Marinho é advogado.