AbdonMarinho - AOS PERSEGUIDOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AOS PERSEGUIDOS.

AOS PERSEGUI­DOS.

Por Abdon Marinho.

QUANDO acordei, ainda na madru­gada, a primeira lem­brança que assaltou-​me à mente foi da con­ver­são de Saulo, que nos conta os Atos dos Após­to­los. Fiquei repetindo, inti­ma­mente, Saulo, por que me persegues? Diver­sas vezes, até lem­brar da con­strução com­pleta: “Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Sen­hor? E disse o Sen­hor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. (at. 9:45).

Durante todo o dia fiquei com a lem­brança a marte­lar a cabeça. Não sou tão reli­gioso assim, a ponto de lem­brar pas­sagens bíbli­cas. Até, pelo con­trário, muitos devem ser os peca­dos que car­rego. E, me per­gun­tei: por que esta pas­sagem tão especí­fica?

Voltei-​me a Saulo. Esta parte do livro dos Atos, trata, jus­ta­mente, da sua con­ver­são. Sabe­mos que antes dela, Saulo tinha como ofí­cio a perseguição aos primeiros Cristãos. Era sua “mis­são”. Não por pos­suir um ódio a este ou aquele ou a todos daquele grupo, especi­fi­ca­mente, mas sim, por com­bater as ver­dades que pre­gavam. A boa nova que, por des­ig­nação de Jesus Cristo, tin­ham a incum­bên­cia de propa­gar a todos os povos.

Esse era o tra­balho de Saulo: perseguir aque­les que propa­gassem aque­las ver­dades.

Ao longo da história humana – até hoje –, muitos são os sofrem perseguições por pro­fes­sarem uma fé dis­tinta da maio­ria, difer­ente daquela dos donos do poder, ou por falarem a ver­dade. Quan­tos não foram os már­tires a mor­rerem de forma hor­renda por não se cur­varem aos deuses pagãos de Roma? Quan­tos não são os que ainda hoje sofrem perseguições por sua fé, suas ideias ou seus princí­pios? Quan­tos não são os que sofrem por expor as incon­sistên­cias, as incom­petên­cias dos “líderes com pés de barro”? Não teria sido mais fácil negar a Deus e aos ensi­na­men­tos de Jesus para sal­varem as próprias vidas e dos seus próx­i­mos? Não era (e não é) mais cômodo “ficar na sua” para não ser molestado, podendo até auferir algu­mas van­ta­gens dos poderosos que acham não mere­cerem ques­tion­a­men­tos ou que lhes apon­tem as fal­has?

Saulo ouviu a Jesus, con­heceu a ver­dade, converteu-​se. De perseguidor pas­sou a perseguido. E, por sua fé, morreu.

Depois – e por sécu­los –, foi a vez dos cristãos se tornarem perseguidores, agora usando a sua fé como justificativa.

Com o pas­sar dos anos, dos sécu­los, dos milênios, até chegar­mos aos dias atu­ais, em que a sociedade se orgulha de viver tem­pos de tol­erân­cia, as perseguições con­tin­uam. São as mes­mas, talvez com novas roupa­gens.

Quan­tos não são os exem­p­los que nos chegam diari­a­mente, pelos vários meios de comu­ni­cação, infor­mando sobre tor­tura, encar­ce­ra­men­tos arbi­trários, punições cole­ti­vas de pes­soas por pro­fes­sarem uma fé?

Em alguns países mesmo a posse de uma bíblia é motivo para prisão por anos.

Quan­tos não foram os jor­nal­is­tas ou comu­ni­cadores mor­tos ou apri­sion­a­dos nos últi­mos anos por divul­garem notí­cias con­tra os poderosos?

O Brasil, que há mais de trinta anos diz viver uma democ­ra­cia plena, ocupa o sexto lugar nas perseguições con­tra os profis­sion­ais de imprensa, atrás, ape­nas, de ditaduras san­guinárias.

Aqui mesmo, próx­imo a nós, temos con­hec­i­mento das perseguições sofridas por aque­les que não temem dizer a ver­dade, ou de posicionar-​se de forma dis­tinta àquela dos donos do poder.

Não faz muito tempo pas­samos o desagradável con­strang­i­mento, ver­gonha mesmo, ao ver­mos a mais ele­vada Corte de Justiça do país “inven­tando” uma inves­ti­gação clan­des­tina cujo o propósito único é perseguir aque­les que emitem críti­cas as posições e exces­sos das excelên­cias, bem como aos seus incon­táveis abu­sos.

E, por menos que isso, essa mesma Corte orde­nou a cen­sura prévia a duas pub­li­cações jor­nalís­ti­cas, em fla­grante vio­lação à Con­sti­tu­ição da nação.

E, nes­tas ter­ras tim­bi­ras, quan­tos não já foram os jor­nal­is­tas, comu­ni­cadores ou mesmo cidadãos, que sofr­eram (ou sofrem) perseguições por expres­sarem suas ideias ou faz­erem críti­cas aos poderosos de plan­tão? Ao denun­cia­rem a empul­hação e as men­ti­ras ven­di­das como ver­dades?

Quan­tos não são “punidos”, tendo que gas­tar o pouco que pos­suem para custear suas defe­sas nas varas da Justiça? Quan­tos não já foram con­de­na­dos por crimes de opinião, inclu­sive, com restrições à suas liber­dades de loco­moção?

O com­bate à ver­dade con­tinua cada vez mais firme, talvez, mais sofisti­ca­dos, onde os poderosos querem pas­sar de respeitáveis democ­ratas. Mas as perseguições estão aí, à vista de todos, sem quais­quer con­strang­i­men­tos.

Antes, pelo con­trário, é exer­cida com orgulho, como demon­stração de força, para aniquilar e calar qual­quer um que ouse pre­gar a ver­dade ou a mostrar seus peca­dos.

Agem, assim, como Saulo perseguindo aque­les por sua fé, sua crença, por pre­garem a ver­dade que lhe foi orde­nada por Jesus para que pregassem.

Aos persegui­dos, aos não se cansam ou que têm cor­agem para sofrer os martírios em nome da ver­dade ou do que con­sid­eram justo, como muitos já o fiz­eram ante­ri­or­mente, em nome da fé, resta a esper­ança nas palavras do próprio Jesus: “Bem-​aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. (Mateus 5:10).

Abdon Mar­inho é advo­gado.