AbdonMarinho - BOTÂNICA: VIVA O AGUAPÉ!
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BOTÂNICA: VIVA O AGUAPÉ!

BOTÂNICA: VIVA O AGUAPÉ!

Por Abdon Mar­inho.

DESDE 2016 um prob­lema me desafi­ava. Naquele ano con­strui um lago arti­fi­cial para a cri­ação de carpas orna­men­tais aqui no meu sitio.

A cri­ação, como já can­sei de mostrar nas min­has redes soci­ais me rende muita ale­gria. Os peixes são lin­dos e, na maio­ria das vezes, mais inteligentes que muitos humanos. Já con­tei, tam­bém, sobre o espírito solidário deles é sobre o tem­pera­mento.

Ape­sar de toda essa sat­is­fação com a cri­ação das carpas que, até, se repro­duzem no lago que criei, havia um prob­lema: não con­seguia con­ser­var a água trans­par­ente dev­ido a grande pro­lif­er­ação de algas. Estava sem­pre tro­cando a água, o que estres­sava os peixes, além da eficá­cia do método sem bem efêmera, limpava e tro­cava a água num dia e, dois dias depois, a água já estava turva.

As out­ras opções, como colo­car fil­tros ultra­vi­o­le­tas me pare­ceu demasi­ada­mente cus­tosa. Pelo tamanho do lago teria que ser, pelo menos, uns cinco fil­tros e bom­bas con­sumindo ener­gia.

Foi aí que pas­sei a estu­dar botânica e redesco­bri o aguapé como alter­na­tiva para resolver meu prob­lema.

Digo “redesco­bri” porque, além de ser do inte­rior, do mato, pro­pri­a­mente dito, sou “vici­ado” em assi­s­tir o Globo Rural, quase nunca perco e já tinha ouvido alguma coisa sobre a planta, só fal­tava apro­fun­dar.

Aos desav­isa­dos a Eich­hor­nia cras­sipes é uma espé­cie de planta aquática da família Pont­ed­e­ri­aceae, con­hecida pelos nomes comuns de jacinto-​de-​água e aguapé. A espé­cie é orig­inária das mas­sas de água doce das regiões trop­i­cais quentes da América do Sul, com dis­tribuição nat­ural nas bacias do Ama­zonas e do Rio da Prata.

O que inter­essa aos apre­ci­adores de lagos é o resul­tado que alcan­cei. Pedi a um amigo que trouxesse algu­mas mudas de aguapés do inte­rior (ape­nas umas três).

Em pouco tempo (muito pouco mesmo) con­segui mel­ho­rar a tur­bidez da água. Ape­nas para se ter uma ideia sobre a clareza da água no está­gio atual, é pos­sível avistar-​se tudo no fundo do laguinho, coisa que não con­seguia antes, ape­sar dele pos­suir ape­nas 60 cm de pro­fun­di­dade.

Este resul­tado só foi obtido graças a inclusão da planta no processo de fil­tragem da água.

No sis­tema que implantei a água sai do lago para os fil­tros biológi­cos – um total de três, dev­ido tamanho do lago –, e depois passa pelo fil­tro de aguapés retor­nando ao lago. Os aguapés “devo­ram” toda matéria orgânica, devol­vendo ao lago a água limpa e trans­par­ente.

Segundo os pesquisadores da planta, ela apre­sen­tou exce­lente resul­tado até mesmo na limpeza de lagos e rios onde foram despe­ja­dos deje­tos de mata­douros, seja de origem bov­ina, cap­rina ou de aves.

Como as plan­tas se “ali­men­tam” da matéria orgânica, quanto mais matéria orgânica nos cur­sos d’água, mas elas se repro­duzem, dobrando sua quan­ti­dade a cada sem­ana. Ou seja, a cada sem­ana uma planta “vira” duas e assim, suces­si­va­mente, em forma expo­nen­cial.

Dev­ido a grande pro­lif­er­ação é tratada, por vezes, como vilã. O que, ao meu sen­tir é um equívoco. Na ver­dade, não é a planta que polui os rios ou lagos, ela se repro­duz jus­ta­mente para fazer a limpeza da sujeira deix­ada pelo homem.

A par­tir da minha exper­iên­cia, vejo que se os humanos sou­ber­mos aproveitar este grande poten­cial desta planta podemos pro­mover uma sen­sível mel­hora da qual­i­dade da água dos rios, lagos, igara­pés e out­ros cur­sos d’água.

O gov­erno pode­ria aproveitar e desen­volver pesquisas a par­tir dos resul­ta­dos já com­pro­vado e ten­tar um processo de limpeza dos rios e Igara­pés, inclu­sive estes atingi­dos pelos desas­tres ambi­en­tais de Mar­i­ana e Bru­mad­inho, em Minas Gerais.

Uma outra van­tagem dos aguapés, segundo os pesquisadores, é que, como se repro­duzem numa veloci­dade eston­teante e pos­sui grande riqueza nutri­cional, podem ser aproveita­dos como ração ani­mal ou mesmo na ger­ação de ener­gia.

Mas isso é assunto para um outro texto. Já me basta ter resolvido o prob­lema da qual­i­dade da água das min­has carpas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.