AbdonMarinho - O PECADO DA HONESTIDADE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O PECADO DA HONESTIDADE.

O PECADO DA HONESTIDADE.

NESTE iní­cio de ano disseminou-​se, prin­ci­pal­mente, por meio das redes soci­ais, mas tam­bém por out­ras mídias, uma espé­cie de cor­rente no qual o mote prin­ci­pal era o fato do pres­i­dente norte-​americano, Barack Obama, encer­rar seus oito anos de mandato sem qual­quer escân­dalo, fosse no campo pes­soal, fosse no campo político. A proeza, desta­cada até por grandes veícu­los de comu­ni­cação, estendia-​se aos famil­iares e tam­bém aos seus auxiliares.

Não resta dúvida que o feito foi extra­ordinário. Um gov­erno con­cluir oito anos de poder sem pon­tif­icar escân­da­los é, de fato, uma bênção, mas, como podemos ver, per­feita­mente pos­sível, tanto que Obama conseguiu.

O que me causa espé­cie é ver a sociedade (não só a brasileira) tratar uma coisa que dev­e­ria ser nor­mal, rotineira em quais­quer gov­er­nos, como algo extra­ordinário, capaz de causar estupefação:

– Olha eles são honestos!

– Hon­estos?!

– Meu Deus, existe pes­soas honestas!

Pois é, esta foi a reação de boa parte da comu­nidade mundial ao fato dos Obama, não terem pon­tif­i­cado escân­da­los. Mas o que dizer num mundo em que aquilo que dev­e­ria ser a regra tornou-​se exceção?

Esta sem­ana mesmo o gov­erno da Romê­nia teve a bril­hante ideia de «anis­tiar» a cor­rupção até deter­mi­nado valor, só voltando atrás na patus­cada após amplas man­i­fes­tações pop­u­lares con­trárias a tal cor­rupção censitária.

No Brasil há quem aposte e defenda pro­posta neste sen­tido. Só que, por aqui, defende-​se anis­tiar o crime, vez que os desvios não encon­tram para­lelo no mundo inteiro, a ideia é esta­b­ele­cer que políti­cos ou par­tidos que rece­beram recur­sos do chamado caixa 2, inde­pen­dente da origem do din­heiro – seja da velha con­hecida cor­rupção ou de out­ras fontes igual­mente espúrias –, não sejam alcança­dos pela lei.

Recen­te­mente con­de­nado o casal de mar­queteiros das cam­pan­has pres­i­den­ci­ais de Lula e Dilma e inúmeros out­ros políti­cos no Brasil e no mundo, assen­taram de forma cân­dida que a cul­tura das cam­pan­has políti­cas era de se fazer os paga­men­tos «por fora», no caixa 2, em con­tas no estrangeiro. Não duvido disso. Ainda hoje, com o lim­ite de gas­tos esta­b­ele­cido para as cam­pan­has, muitos políti­cos gas­tam infini­ta­mente além daquele valor, muito emb­ora na prestação de con­tas nada disso apareça.

O juiz não se con­venceu que o aspecto cul­tural de uma prática crim­i­nosa os inven­tassem de pagar por ela e os con­de­nou a uma pena de oito anos.

Mas a real­i­dade é que vive­mos em um mundo de con­du­tas inver­tidas, onde a hon­esti­dade causa estu­por e os crimes são tidos como aspec­tos culturais.

Outro dia um amigo, engen­heiro dos mais com­pe­tentes e que fazia tempo que via, apare­ceu pelo escritório. Perguntei-​lhe a razão do desa­parec­i­mento. Explicou-​me que estava tra­bal­hando em deter­mi­nado órgão, mas que naquele dia entre­gara o cargo. Curioso indaguei a razão de ter saído ao que respondeu-​me:

– A razão da minha saída foi o fato de ter impe­dido a san­gria dos cofres públi­cos em mais de 800 mil no inter­valo de ape­nas oito meses. Isso só nos proces­sos que me per­mi­ti­ram fis­calizar. Se tivessem per­mi­tido a fis­cal­iza­ção nos demais proces­sos a econo­mia aos cofres públi­cos seriam de bem mais de 2 mil­hões de reais, neste período.

Com­ple­tou:

– Segundo fui infor­mado estava «atrapalhando».

A real­i­dade do Brasil é esta: as pes­soas hon­es­tas «atra­pal­ham», por isso mesmo não chegam muito longe. São demi­ti­das, difamadas, humil­hadas. Ao con­trário daque­les que são capazes de tudo para aten­der aos mais incon­fessáveis inter­esses. Esses vão longe e se troux­erem no gene o DNA da adu­lação atingem os pín­caros do sucesso.

Certa vez – já faz muito tempo –, um cliente reclamou da minha insistên­cia na obe­diên­cia a lei:

– Abdon quer que eu faça tudo certo. Se for para fazer tudo certo não pre­cis­arei de advogado.

Este, tempo depois veio a agrade­cer por nunca tê-​lo deix­ado fazer o que lhe vinha à cabeça.

Mas a cul­tura da ban­dalha parece ter gan­hado mais adep­tos do que se imag­i­nava a ponto de deter­mi­na­dos órgãos recla­marem da con­tratação de advo­ga­dos sob o argu­mento de que há pouco ou quase nada a ser feito. Não passa pela cabeça de tais gênios que a ausên­cia de demanda ocorre jus­ta­mente pelo fato de que houve um bom tra­balho de assessoria/​consultoria a impedir os equívo­cos ou erros, ou mesmo a delib­er­ada von­tade de se fazer as coisas de qual­quer jeito.

Não faz muito acon­te­ceu algo bem semel­hante. Um amigo com quem tra­bal­hei noutras empre­itada recomen­dava nosso escritório a deter­mi­nado cliente:

– Acho que seria muito bom se pudésse­mos con­tratar o Dr. Abdon, já tra­bal­hei com ele e me sinto muito mais seguro con­tar­mos com a sua assessoria.

O cliente, um amigo de mais de vinte anos virou-​se para ele e respondeu:

– Tam­bém gosto muito do tra­balho do Dr. Abdon, meu amigo de muito tempo. Mas tem um prob­lema, ele é muito «certinho».

O amigo que nunca perde a viagem não se deu por vencido:

– Mas, doutor, nos tem­pos atu­ais, talvez seja hora de con­tar­mos com alguém que nos ori­ente a fazer o certo e não nos deixe errar.

São tem­pos estran­hos estes em que vive­mos quando a hon­esti­dade, o zelo pela coisa pública pas­sou a ser um «defeito», pas­sou a atra­pal­har. Atra­pal­har o que? Que esse ou aquele faça con­luio para saquear o din­heiro que dev­e­ria virar esco­las, pos­tos de saúde ou obras de infraestrutura?

O tempo passa, gov­er­nos mudam, mas a prática, infe­liz­mente, é quase sem­pre a mesma, com os os inter­esses políti­cos e pes­soais sendo colo­ca­dos à frente do inter­esse público.

Dizia Rui Bar­bosa que chegaria o dia em que o cidadão de bem teria ver­gonha de se dizer hon­esto. Para o deses­pero dos bons, esse dia já chegou.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 João Luiz Pereira 12-​02-​2017 01:14
O PT
se «acha». É metido. Nar­ci­sista.
Mas não passa de um par­tido brega.

Eles são os bonzões. Os int­elec­tu­ais (mas não passa de «inteligentin­hos»).
Mas se se vêem em uma SITU­AÇÃO DIFÍ­CIL ou EMBARAÇOSA, ver­gonhosa divul­gada (roubar, por exem­plo), aí dão uma de víti­mas. Fazem dra­mas, recla­mam, dão uma de chorões (fiquem esper­tos! Tudo para te inibir de criticá-​los. Para te PAS­SAR SEN­TI­MENTO DE CULPA).

Pois é…

Esse é o real & ver­dadeiro PT.
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