AbdonMarinho - A HUMANIDADE FRACASSOU?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A HUMANIDADE FRACASSOU?

A HUMANIDADE FRACASSOU?

Sem­pre que nos deparamos com atos que só a bes­tial­i­dade humana é capaz de pro­duzir, acabo por me fazer a per­gunta do título: a humanidade fracassou?

Há algum tempo assisti a um vídeo de Ari­ano Suas­suna (19272014) onde ele con­testa a Teo­ria da Evolução de Char­lie Dar­win. Dizia o dra­maturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro, não caber em sua cabeça que o homem tenha evoluído do macaco. Cita como exem­plo da genial­i­dade humana uma invenção sim­ples como um prende­dor de roupa, fazendo uma demon­stração com ele. Con­clui, em lin­has gerais, dizendo que se o macaco não con­segue criar algo como o prende­dor de roupa quanto mais algo como a Nona Sin­fo­nia de Beethoven (17701827).

Con­cor­dando ou não com qual­quer pen­sa­mento sou admi­rador e apre­ci­ador de um racio­cino bem feito, uma ideia bem exposta, ainda que um sofisma, desde que bem apre­sen­tado, é mere­ce­dor do meu respeito.

Assisti a este video do autor de “O auto da com­pade­cida” umas duas ou três vezes, em todas fiquei encan­tado com exposição feita.

Não duvido da imensa genial­i­dade do homem nas artes, na música, pin­tura, escul­tura, arquite­tura, quan­tas coisas mar­avil­hosas e que atrav­es­sam sécu­los, milênios ainda hoje nos encan­tam? Como ficar indifer­ente ao que pro­duziu Beethoven, Wag­ner (18131883), Leonardo da Vinci 14521519), Michelân­gelo (14751564), tan­tos out­ros? Como deixar de recon­hecer os avanços da med­i­c­ina? Como não se encan­tar com um Shake­speare 15641616), um Vieira (16081697) um Queiróz (18451900)? Como ficar indifer­ente a um Suas­suna e a sua capaci­dade de nos fazer rir?

A humanidade, em todos os cam­pos do con­hec­i­mento, das artes, está repleta de bons exem­p­los, de altruísmo, de atos herói­cos e de ded­i­cação ao próximo.

Noutra quadra, esta mesma humanidade nos lega as maiores barbaridades.

Quan­tos mil­hões de vidas não foram ceifadas ape­nas nas duas grandes guer­ras (I e II Guerra Mundial)? Quan­tos out­ros pere­ce­ram antes e depois delas por conta da intol­erân­cia, do ódio, da não aceitação do próx­imo com suas qual­i­dades e defeitos? A quem e por quem foi dado o dire­ito dizer ou repu­diar alguém por pen­sar, viver e ter uma fé difer­ente da que professamos?

Agora mesmo a humanidade está diante de inúmeros con­fli­tos em escala global, são mil­hões de pes­soas sendo desa­lo­jadas de seus lares, pere­gri­nado a esmo em busca de refú­gio. Famílias jovens, mul­heres, vel­hos, cri­anças que mar­cham con­duzi­dos e cer­ca­dos por tropas de segu­rança em busca de alguém que os aceite rece­ber. São pes­soas que perderam tudo e se agar­ram à esper­ança der­radeira de con­seguirem recomeçar suas vidas em ter­ras estra­nhas onde quase sem­pre são mal rece­bidos ou vis­tos com descon­fi­ança pelas pop­u­lações locais.

Além das guer­ras e con­fli­tos a diz­imando pop­u­lações inteiras, cau­sa­dos por moti­vações políti­cas, reli­giosas, há ainda a cor­rupção, sobre­tudo, nos países mais pobres, des­viando os recur­sos das nações e con­de­nando o povo ao obscu­ran­tismo da falta de edu­cação, à morte pela pro­lif­er­ação de diver­sas doenças que com muito pouco recur­sos seriam con­tro­ladas e vencidas.

Em busca do lucro, das riquezas e dos bens mate­ri­ais a humanidade destrói sua própria casa, o Plan­eta Terra. Que outra cat­e­go­ria de ser é capaz de destruir seu próprio habi­tat? Que lou­cura, o homem é a cada dia que passa, tra­balha na destru­ição do plan­eta, faz isso sem se dar conta que não temos outro plan­eta sub­sti­tuto, de reserva.

Deter­mi­nado pen­sador (não me recordo, agora, qual) disse que a humanidade dev­e­ria temer pela existên­cia de vida extrater­restre, pois estes, caso viessem até o nosso plan­eta, fariam isso na condição de con­quis­ta­dores e iria nos escravizar, pois, cer­ta­mente, seriam/​são bem mais evoluí­dos que os humanos.

Não duvido que tal pen­sa­mento esteja certo.

A humanidade, ape­sar do tanto que evoluiu e se desen­volveu mate­rial­mente ao longo de milênios é capaz de gestos tão mesquin­hos como matar civis inocentes, expul­sar de seus lares famílias inteiras, cidades inteiras, escravizar mul­heres, jovens, crianças.

Agora mesmo esta­mos diante de mais um aten­tado ter­ror­ista que ceifou em ataques sin­croniza­dos, mais de uma cen­tena de víti­mas, civis inocentes que ape­nas saíram de casa na intenção de se diver­tir e se con­frat­er­nizar com os ami­gos. O que move tais ataques ter­ror­is­tas, seja na Europa ou no Ori­ente Médio senão a intol­erân­cia e a inca­paci­dade de con­viver e aceitar as difer­enças? Evoluí­mos tanto e não con­seguimos aceitar que o nosso semel­hante seja difer­ente de nós, que pro­fesse outra fé e que faça coisas difer­entes das que faze­mos? Que evolução é essa?

Ainda no calor dos aten­ta­dos de Paris ouvi­mos até pes­soas inteligentes e cul­tas diz­erem que se deve restringir ou bar­rar a cir­cu­lação de islami­tas pela Europa, fazendo com que a pena passé além daque­les que come­teram os atos repul­sivos. Out­ros vão além, falam em fechamento de fron­teiras, em deixar mor­rer à min­gua os que baterem às suas portas.

Com certeza defendo apu­ração e punição dos respon­sáveis por este e por tan­tos out­ros atos de ter­ror, inclu­sive que respon­dam como ato de guerra à humanidade. Por outro lado, não podemos respon­der a intol­erân­cia com mais intol­erân­cia, respon­s­abi­lizar todo um povo, toda uma religião ou fé, por atos que são de poucos.

Não podemos per­mi­tir que o ter­ror nos tire a civil­i­dade que resta aos bons pois é isso que buscam.

Não podemos ceder-​lhes essa vitória.

Deve­mos, sim, derrotá-​los, respon­s­abi­lizar e punir exem­plar­mente os cul­pa­dos, ape­nas a eles.

Respon­der com ódio e intol­erân­cia é ates­tar o fra­casso da humanidade.

Ainda menino, lem­bro de ter lido que certo con­quis­ta­dor europeu fora rece­bido por um chefe tribal africano. Durante a con­versa, este chefe tribal inquiriu-​lhe sobre os belos fes­tins que haviam feito com os mil­hões de mor­tos que fiz­eram na II Guerra Mundial. O europeu respondeu-​lhe: – Não comemos os nos­sos semel­hantes. Foi a vez do chefe tribal demon­strar seu espanto: – Ué, então por que os matam!?

Seria bom refle­tir­mos sobre isso.

Abdon Mar­inho é advogado.