AbdonMarinho - A imolação dos inocentes na Paixão de Cristo.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A imo­lação dos inocentes na Paixão de Cristo.


A IMO­LAÇÃO DOS INOCENTES NA PAIXÃO DE CRISTO.

Por Abdon C. Marinho*.

CHOREI bas­tante e, enquanto fazia isso, a lem­brança de uma canção de Natal chamada Rei Pequenino, de Siba e Fuloresta – que usei no vídeo da cam­panha Natal Solidário 2022 –, assaltou-​me à mente pois na sua última estrofe ela pon­tua:

A todo instante

Que uma mul­her dá à luz

Vê-​se a feição de Jesus

Numa cri­ança inocente

Como a semente

já tem árvore guardada

Toda cri­ança é sagrada

Não pode ser diferente

É Natal diariamente

Pois, a vida não se cansa

E onde nasce uma criança

Nasce Jesus novamente”.

Ainda pro­fun­da­mente impactado com os acon­tec­i­men­tos da Quarta-​feira Santa, quando, em Blu­me­nau — SC, um ser dis­farçado de humano, inva­diu uma crèche e imolou qua­tro cri­anças de 04 a 07 anos e feriu out­ras tan­tas, lembrei-​me e me pus a refle­tir sobre a canção de natal que tanto me emocionou.

Imag­inei, então, em sen­tido reverso, que a imo­lação de cri­anças inocentes sig­nifica, a cada morte, a cada sac­ri­fí­cio de um inocente, a morte de Jesus nova­mente. Em Blumenau-​SC, em uma única manhã, mataram Jesus Cristo qua­tro vezes e o feri­ram infini­ta­mente mil­hares ou mil­hões de out­ras vezes – e não me refiro ape­nas aque­las cri­anças se feri­ram no ataque covarde, ou mesmo aque­las que estiveram próx­i­mas aos acon­tec­i­men­tos, e, cer­ta­mente, estão trauma­ti­zadas e com receio de irem à escola –, todas as cri­anças do nosso país.

Roubaram-​lhes a infân­cia, tiraram-​lhes o dire­ito de serem inocentes.

A vio­lên­cia injus­ti­fi­cada – e toda ela é injus­ti­fi­cada –, pas­sou a dom­i­nar os debates nas esco­las, nas mesas de bares, no seio das famílias.

Mesmo aqui, no norte e nordeste do Brasil, tão dis­tante do local onde se deu a tragé­dia, e que já vinha sendo noti­ci­ado pos­síveis atos de vio­lên­cia con­tra cri­anças e ado­les­centes, as famílias firam ansiosas em man­dar seus fil­hos para as esco­las.

Pos­suo, por for­mação, uma imensa de difi­cul­dade em aceitar qual­quer ato ou abuso con­tra pes­soas inde­fe­sas, idosos, defi­cientes, cri­anças, além das mul­heres, tan­tas vezes vio­ladas e abu­sadas sex­ual­mente, psi­co­logi­ca­mente, finan­ceira­mente, e tan­tas out­ras for­mas.

Já trata­mos tan­tas vezes disso.

O que acon­te­ceu um Santa Cata­rina é algo que, de tão absurdo, não con­seguimos com­preen­der. Uma vez me deparei com uma con­statação bem curiosa, a de que exis­tem coisas tão grandes, mas tão grandes, que não con­seguimos enxerga-​las. É dizer, são tão imen­sas que ocu­pam todo o nosso campo visual a ponto de não con­seguirmos saber do que se trata.

Um ato de vio­lên­cia – assim como tan­tos out­ros –, é algo que a mente humana nor­mal não pos­sui capaci­dade para “divisar”, não há como com­preen­der, sob qual­quer aspecto, que alguém pule o muro de uma crèche, e, com golpes de machado, tire a vida de cri­anças.

Uma situ­ação ou fato desses não é algo que “caiba” den­tro das nos­sas mentes.

Acho que na natureza pou­cas são as espé­cies capazes de destruir os seus semel­hantes. A raça humana ocupa o topo dessas exceções.

Sobre o fato especí­fico – e sobre out­ros acon­tec­i­men­tos dos últi­mos dias –, bem como, sobre os infini­tos boatos de que mais atos de vio­lên­cia irão eclodir a qual­quer momento e em qual­quer lugar, urge que as autori­dades de segu­rança, autori­dades médi­cas e, prin­ci­pal­mente, as famílias, inves­tiguem o que vem ocor­rendo no nosso país na quadra que vive­mos.

As famílias, prin­ci­pal­mente elas, pre­cisam acol­her e con­viver mel­hor com os fil­hos, procu­rando saber se efe­ti­va­mente estão bem ou se estão recebendo out­ros tipos de influên­cias que os tornem capazes de praticar atos insanos e incom­preen­síveis.

Soube que a mãe do assas­sino das cri­anças de Blu­me­nau teria dito que o mesmo não apre­sen­tava “condição” anor­mal, exceto pelo o uso de dro­gas. As primeiras infor­mações ofi­ci­ais sobre o fato davam conta que ele teria tido um “surto psicótico”.

Ora, a menos que ele tenha tido tal surto em casa, de onde saiu com machad­inha. Nesse meio tempo, antes de come­ter o ato inom­inável, teria repen­sado, ces­sado o surto? Ouvi de um del­e­gado que o plano do indig­i­tado seria imo­lar 30 (trinta) cri­anças.

Não me parece surto algum, mas uma ação plane­jada e exe­cu­tada, que não teve seu des­fe­cho com­pleto graças a ação das pro­fes­so­ras.

As autori­dades, por sua vez, pre­cisam “mer­gul­har” fundo no sub­mundo das redes mundi­ais de com­putares, a fim de desco­brir que tipo de crimes ou de plane­ja­mento de crimes estão em curso.

São muitas coin­cidên­cias entre os fatos ocor­ri­dos e a série de boatos surgi­dos nos últi­mos tem­pos. Talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, talvez este­jam rela­cionadas e este­jamos diante de algo tão grande e ruim, como disse ante­ri­or­mente, que nem pos­suí­mos a capaci­dade de divisar ou com­preen­der.

Mas deix­e­mos isso, por enquanto, ao escrutínio das autoridades.

Esta­mos na Sexta-​feira Santa, a Sexta-​feira da Paixão de nosso Sen­hor e por isso, como falamos no iní­cio, nos­sas palavras devem ser no sen­tido de bus­car Nele, no seu sofri­mento por todos nós, o con­forto que tanto pre­cisamos, pois vive­mos um momento em que só a fé em algo bem maior é capaz de trazer um pouquinho de “refrigero” as nos­sas vidas.

Toda vio­lên­cia é inom­inável, a vio­lên­cia con­tra cri­anças inde­fe­sas, penso eu, não cabe numa definição, é algo que ape­nas dói muito, pois dói dire­ta­mente na alma.

É algo que nos faz duvi­dar, em um rasgo de revolta, da própria existên­cia div­ina. Pois, como pode Deus per­mi­tir, ante seus olhos, tamanha maldade?

O que dizer a um pai, uma mãe quando estes per­dem um filho? Que palavras os con­for­t­ariam? Cer­ta­mente nen­huma.

Quando perda se perde um ente querido, alguém que amamos, perdemos um pouco de nós mes­mos.

Lembrei-​me do pequeno Bernardo, órfão de mãe, assas­i­nado pelo pai em con­sór­cio com a madrasta e mais out­ros seres abje­tos, no Rio Grande do Sul, há alguns anos.

Numa triste e dramática coin­cidên­cia, uma das víti­mas da tragé­dia insana de Blu­me­nau tam­bém se chamava Bernardo, cer­ta­mente, em hom­e­nagem ao santo.

Em plena Sem­ana Santa e antes do dia da Paixão, mataram o Cristo nova­mente qua­tro vezes, e tan­tas vezes mais o fiz­eram antes.

Nós, os que cre­mos, temos a con­vicção de que Cristo ressus­ci­tará e com Ele ou Nele ressus­ci­tarão todas as cri­anças imo­ladas. Estarão elas, como anjos que são, ao lado do Sen­hor por toda a eternidade.

Uma Sexta-​feira Santa de reflexão para todos.

Abdon C. Mar­inho é advogado.