AbdonMarinho - O BRASIL E AS OPORTUNIDADES PERDIDAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O BRASIL E AS OPOR­TU­NIDADES PERDIDAS.

O BRASIL E AS OPOR­TU­NIDADES PERDIDAS.

Não há quem nunca tenha ouvido a expressão: «o Brasil é o país do futuro».

Lem­bro de ouvi-​la desde a infân­cia, out­ros a ouvi­ram bem antes de mim. O certo é que o tempo vai pas­sando, o futuro vira pre­sente e o país não real­iza o seu des­tino traçado desde sem­pre. Não se torna a grande nação prometida. Vamos ficando para trás, servindo de cha­cota para as demais nações, a sociedade se ape­quena e vamos nos tor­nando uma terra de ninguém.

Isso se deve, sobre­tudo, ao fato da rep­re­sen­tação política — que dev­e­ria reunir estadis­tas — ter se tor­nado um ajun­ta­mento vul­gar de cafa­jestes – a maior parte dela –, mais pre­ocu­pa­dos com seus próprios inter­esses, com o quanto podem san­grar da nação do que com reais inter­esses da mesma.

O país pos­sui uma das maiores car­gas trib­utárias do mundo, entre­tanto, a maio­ria dos serviços bási­cos não chegam ao con­junto da pop­u­lação. O din­heiro «se perde» entre o cofre e seu des­ti­natário final. Rouba-​se mais no Brasil do que a nossa mente tem capaci­dade de processar.

Só o último escân­dalo, o da roubal­heira na Petro­bras, a parte até aqui iden­ti­fi­cada –imagina-​se que é bem maior – é o mais volu­moso escân­dalo de cor­rupção do mundo, de todos os tempos.

A roubal­heira de tal mag­ni­tude vai muito além do alcance puro e sim­ples, ela cor­rói a con­fi­ança de investi­dores no país. O Brasil se torna, cada vez mais, sím­bolo da ban­dal­heira inter­na­cional, pro­tag­o­nista de pro­gra­mas de humor e de horror.

O mais grave de tudo é ver­mos «os maiores» da República, sejam da rep­re­sen­tação política, sejam do empre­sari­ado, enreda­dos no escân­dalo sem pre­tendentes. Um escân­dalo que envolve ex-​presidentes da República (no plural), senadores, dep­uta­dos, min­istros de tri­bunais, inclu­sive de controle.

As denún­cias obti­das através de delações pre­mi­adas, apon­tam para os pres­i­dentes da Câmara dos Dep­uta­dos, do Senado da República, para a própria pres­i­dente da nação, que teria rece­bido finan­cia­mento eleitoral através de desvios. Lev­ado a cabo uma inves­ti­gação e punirão não teríamos quem assumisse o poder.

Diante de denún­cias tão graves, o pres­i­dente do STF acha ser o momento certo para fazer uma reunião sem agenda pública com a pres­i­dente Dilma Rouss­eff fora do país, em Portugal.

Mas, vamos além, o Supremo Tri­bunal Fed­eral deter­mina busca e apreen­são nos imóveis de um ex-​presidente e senador da República e, além de doc­u­men­tos, os agentes da Polí­cia Fed­eral, saem de lá pilotando veícu­los de altís­simo luxo, segundo apu­rado, fruto de corrupção.

Sobre um outro ex-​presidente, a história mais leve, é que o mesmo era uma espé­cie de gigolô de empre­it­eiras envolvi­das no maior roubo da história da humanidade. Delas recebendo todos os tipos de favores e mimos, jat­in­hos a hora que que­ria, aparta­men­tos, sítios e favores diver­sos (que, com certeza, esta­mos longe de imaginar).

Como lobos fam­intos, os agentes políti­cos brasileiros, deixaram de servir ao Brasil para se servir do Brasil.

E assim, o país foi per­dendo as opor­tu­nidades de se sobres­sair no cenário político e econômico mundial. Somos objeto de piada, de escárnio diante das nações do mundo civ­i­lizado, se o Obama diz que somos uma potên­cia mundial, ten­ham certeza: ele está sendo gen­til com a destram­bel­hada vis­i­tante ou fazendo graça. Não é outra coisa.

Quando dize­mos que os últi­mos doze anos foram espe­cial­mente nefas­tos para o país, que sig­nificaram o sím­bolo das per­das de opor­tu­nidades é porque não pre­cisamos ir muito longe para detectar.

Desde 2003 que os escân­da­los se avolumam, quando descobriu-​se, em 2005 o chamado «men­salão», pensava-​se que era maior escân­dalo de todos os tem­pos, agora sabe­mos, da pior forma pos­sível, que era ape­nas um aque­c­i­mento para o chamado «petrolão» e out­ros roubos.

Quan­tos não se desviam das obras de infraestru­tura exe­cu­tadas pelo DENIT? Ou dos gen­erosos emprés­ti­mos do BNDES? Ou dos fun­dos de pensão?

Num cenário de incertezas no mundo, o Brasil ia bem, estava com sua econo­mia esta­bi­lizada, pode­ria ter investido em indús­trias, infraestru­tura primária, em ger­ação de riquezas.

O que fize­mos foi o oposto, ao invés de ger­amos riquezas pas­samos a gerar con­sumo, ao invés de fábri­cas, con­struí­mos shop­ping cen­ter. Os diri­gentes, ocu­pa­dos em se locu­ple­tar dos bens públi­cos, não apon­taram um cam­inho para o país.

Outro dia ouvi uma análise sobre isso, que o Brasil e demais países latino-​americanos, difer­ente dos asiáti­cos, ao invés de inve­stir em ger­ação de riquezas inve­sti­ram em con­sumo. Não há como não con­cor­dar que esta é uma equação que tem tudo para dar errado.

Até a cap­i­tal do Maran­hão, reflete isso. Quan­tas fábri­cas foram aber­tas na cidade ou no seu entorno? Pouquís­si­mas. Agora com­pare com shop­ping cen­ter, quan­tos foram aber­tos somente nos últi­mos doze anos? Numa cidade com pouco mais de um mil­hão de habi­tantes, cer­ta­mente foram aber­tos mais de cinco, sem con­tar as gale­rias e cen­tros com­er­ci­ais. Se fiz­er­mos uma pesquisa sobre os pro­du­tos que são ven­di­dos nestes comér­cios, em todos setores, com exceção do de ali­men­tos, con­statare­mos que a maio­ria dos pro­du­tos ven­di­dos vêm da Ásia, são pro­du­tos made in China, made in Cor­eia, e por aí vai.

A conta é fácil de ser feita.

O Brasil não investiu em ger­ação de riquezas. Nos­sas fábri­cas, as que não foram sucateadas não pos­suem condições de com­pe­tir com out­ros mer­ca­dos. Assim, os pro­du­tos, sobre­tu­dos, asiáti­cos, chegam aqui mais em conta que os pro­duzi­dos aqui. Con­sum­i­mos estes pro­du­tos e nosso din­heiro vai finan­ciar a ger­ação de empre­gos lá fora. Pior de tudo é que não se vis­lum­bra mudanças para breve. O Brasil con­tin­uará expor­tando minérios «in natura» e com­prando pro­du­tos indus­tri­al­iza­dos lá fora, como já fazíamos desde os tem­pos que Cabral apon­tou por aqui.

O único setor da econo­mia brasileira que apre­senta bons resul­ta­dos é o agropecuário, assim mesmo, perde quase 30% (trinta por cento) dev­ido à ausên­cia de infraestru­tura de trans­portes, esto­ques e expor­tação. Como podemos avançar assim?

O gov­erno e seus ali­a­dos, con­duzi­dos mais pelo viés ide­ológico que com base na real­i­dade, não con­seguem enx­er­gar isso.

Ora, como é pos­sível tratar um paciente se os médi­cos não pos­suem a capaci­dade de recon­hecer que o mesmo encontra-​se enfermo? Não tem como.

O Brasil que já foi o país do futuro, corre o risco de virar um país sem futuro e sem presente.

Abdon Mar­inho é advogado.