AbdonMarinho - E aí, agora vai?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

E aí, agora vai?


E aí, agora vai?

Por Abdon C. Marinho.

CONTA a lenda que em 2008 Jack­son Lago, gov­er­nador eleito em 2006, decidira pelo apoio ao ex-​governador João Castelo para prefeito da cap­i­tal. Castelo vinha de um histórico de der­ro­tas para car­gos majoritários: perdeu em 1986, para Cafeteira; perdeu em 1990, para Lobão; perdeu em 1994, a dis­puta para o Senado; perdeu a eleição para a prefeitura de São Luís em 1996 e 2000, para o próprio Jack­son; perdeu em 2004, para Tadeu Palá­cio; e, perdeu nova­mente para o Senado em 2006.

Daria um artigo inter­es­sante descorti­nar as moti­vações que levaram o ex-​governador a decidir-​se pelo apoio não ape­nas para um adver­sário con­tra o qual dis­putara algu­mas eleições, mas alguém que sem­pre estivera no campo oposto ao dele – mas isso é assunto para outro momento.

Deci­dido o apoio, como fazer para tornar a cam­panha vito­riosa? Após relutân­cias decidi­ram con­tratar a con­sul­to­ria de um dos papas do mar­ket­ing politico do Brasil: Duda Men­donça. Convidaram-​no para vir ao Maran­hão para con­hecer o can­didato e “tro­car” ideias com o comando da cam­panha e os “patroci­nadores” do pro­jeto.

No cam­inho entre o aero­porto e local da reunião o expe­ri­ente mar­queteiro ia inda­gando sobre o novo cliente, quem era, como era, etc. Tendo sido infor­mado que o can­didato ao longo da vida polit­ica tinha uma “boa largada”, mas que acabava per­dendo no final, “não chegando”.

Ouvindo isso, o mar­queteiro disse: Ah, mas agora vai.

Assim, no banco de um carro nascia um slo­gan de uma cam­panha vito­riosa, que levou o ex-​governador, ex-​senador, ex-​deputado, ex-​prefeito, ao seu último mandato majoritário, uma vez que em 2012, quando ia para reeleição perdeu para o então dep­utado fed­eral Edi­valdo Holanda Júnior, elegendo-​se em 2014, dep­utado fed­eral, exercendo o cargo até dezem­bro de 2016, quando veio a falecer.

A história é bem inter­es­sante e mere­ce­dora de reg­istros, já que não con­stam dos livros, mas ficará, como já dito, para outro momento, para o pre­sente texto, só nos servirá aquele mote de cam­panha, o “Agora vai”.

As diver­sas mídias divul­garam e o gov­erno fes­te­jou com fogos de artifí­cios a aprovação da Zona de Proces­sa­mento de Expor­tação — ZPE a ser imple­men­tada em Bacabeira.

Tem-​se razão para fes­te­jar.

Trata-​se de um alento visto que na mesma sem­ana, quase que simul­tane­a­mente, foram divul­ga­dos, pela ONU, os dados do desen­volvi­mento humano do mundo com o nosso estado, mais uma vez, fig­u­rando na “rabeira”, com indi­cadores abso­lu­ta­mente incom­patíveis com as poten­cial­i­dades que pos­suí­mos.

Na mesma linha dos números acacha­pantes, artigo do econ­o­mista Abdalaziz San­tos traz os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Con­tínua), do IBGE, divul­gada recen­te­mente, mostrando que o Maran­hão é o único estado da fed­er­ação com renda média infe­rior a R$ 1.000,00 e que tal renda é 47% (quarenta e sete por cento) infe­rior a renda média do país.

Muito emb­ora o próprio econ­o­mista ressalte não serem tais números fru­tos de um único gov­erno e ser incré­dulo quanto a uti­liza­ção de um pro­jeto de inves­ti­mento inten­sivo de cap­i­tal como solução para ala­van­car o desen­volvi­mento do estado mostrando de forma téc­nica suas razões diz não ser con­tra os mes­mos, lis­tando, além da ZPE, a Fer­rovia Açailândia-​Alcântara; o Ter­mi­nal Por­tuário de Alcântara …

O pen­sa­mento de Aziz San­tos cor­rob­ora com o que já dizia o engen­heiro e político Domin­gos Fre­itas Diniz (Araioses, 1933, São Luís, 2021), que foi severo crítico dos chama­dos, por ele, “enclaves econômi­cos” como solução para o desen­volvi­mento do estado.

Diniz citava como exem­plo de “enclaves econômi­cos”, a ALUMAR, prometida no iní­cio dos anos oitenta com a “redenção” do Maran­hão ou mesmo a antiga Com­pan­hia Vale do Rio Doce — CVRD, que depois de pri­va­ti­zada, “virou” ape­nas vale.

Os números que nos são rev­e­la­dos ano após ano com­pro­vam o acerto dos prognós­ti­cos de San­tos e Diniz em relação ao equívoco desse mod­elo de desenvolvimento.

Tanto San­tos como Diniz defen­dem como ponto de par­tida para o desen­volvi­mento do estado o inves­ti­mento nas poten­cial­i­dades region­ais.

Emb­ora me fil­iando ao entendi­mento de que pre­cisamos de um plane­ja­mento estratégico que vise o desen­volvi­mento das diver­sas regiões do estado como forma de ala­van­car o cresci­mento da nossa econo­mia acred­ito que podemos “tra­bal­har” de forma integrada aliando os grandes pro­je­tos econômi­cos ao cresci­mento das econo­mias dos municí­pios.

Uma frase no artigo de San­tos que me chamou a atenção, foi quando disse que o preço de son­har grande e son­har pequeno é o mesmo.

Sem­pre tive o “defeito” de son­har grande. Imag­ino o quanto de bene­fí­cios – se bem con­duzi­dos –, seria trans­for­mar o Golfão Maran­hense em mon­u­men­tal entre­posto com­er­cial com os trens e navios trazendo e levando riquezas para todo o mundo.

Trata-​se de um sonho muito grande? Talvez, mas os chama­dos “tigres asiáti­cos” não con­seguiram? Por que não con­seguiríamos também?

Vimos muitos daque­les países mudarem total­mente suas real­i­dades em duas décadas, no máx­imo, três décadas.

Nações que foram destruí­das na Segunda Guerra, na Guerra da Cor­eia ou mesmo na Guerra do Vietnã, encon­traram cam­in­hos para o desen­volvi­mento e, já fazem décadas, são mod­e­los.

Mesmo nações que não pos­suem ter­ritórios supe­ri­ores ao da Ilha do Maran­hão, se tornaram potên­cias.

Sem­pre me inqui­etou o baixo desen­volvi­mento do nosso estado.

Os pro­je­tos que são apre­sen­ta­dos e não saem do papel ou que são usa­dos pelos “esper­tal­hões” para se darem bem.

No iní­cio dos anos 2000 “inven­taram” que o nosso desen­volvi­mento viria com o trans­for­mação de São Luís e Rosário em Pólos Têx­teis – emprés­ti­mos foram feitos em nome de pes­soas sim­ples que devem até hoje; depois veio o Refi­naria de Bacabeira, que levou muita gente a “apos­tar” suas econo­mias em um pro­jeto que depois foi aban­don­ado, levando pre­juízo e que­bradeira a mil­hares de pes­soas.

Agora é a vez da ZPE de Bacabeira.

Falando com uma lid­er­ança política da região ela me indagou: — doutor, agora é sério?

Quero acred­i­tar que sim. E torço por isso. Acho que é pos­sível con­ju­gar os mod­e­los de desen­volvi­mento, como já disse.

Lá atrás, em 2012/​2013, acred­i­tando nesse propósito per­corri todos os municí­pios do corre­dor da Estrada de Ferro Cara­jás para criar um con­sór­cio inter­mu­nic­i­pal que cobrasse da Vale uma “con­tra­partida” para os municí­pios que só ficavam com os impactos da explo­ração e trans­porte do minério de ferro.

Conseguiu-​se a con­tra­partida em finan­cia­mento para pro­je­tos edu­ca­cionais, de saúde e ger­ação de renda e, ali­ado a isso, ainda, se garan­tiu os roy­al­ties do minério para esses municí­pios.

Pouco tempo depois fui um dos prin­ci­pais entu­si­as­tas do pro­jeto de lei do então senador Roberto Rocha, que cri­ava a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, que tinha como propósito atrair empre­sas para cap­i­tal e seu entorno, para desen­volvi­mento de pro­du­tos volta­dos a expor­tação aprovei­tando a posição estratég­ica da Ilha do Maran­hão em relação aos diver­sos países da América do Norte, Ásia ou África.

Dizia que aquela (a causa do ZEMA) era uma causa para unir o Maran­hão. O Maran­hão não se uniu e o PL 316/​2015, não sei o fim que levou. Virou essa ZPE?

Com todas as ressal­vas que possa fazer, sou entu­si­asta da ZPE de Bacabeira – e de todos os demais que visem cor­ri­gir as desigual­dades no estado.

Pre­cisamos que tal pro­jeto seja efe­ti­va­mente lev­ado a prática, até para com­pen­sar as frus­trações dos dois pro­je­tos ante­ri­ores. Em out­ras palavras, é pre­ciso “arran­car a cabeça de burro” enter­rada por aqui.

A ZPE de Bacabeira poderá fomen­tar diver­sos eixos de desen­volvi­mento: talvez um novo porto na Baía de São José; talvez uma ponte e uma fer­rovia e rodovia saindo de Bacabeira para a Baix­ada, para aproveitar o TPA de Alcân­tara; talvez novos berços no próprio Porto de Itaqui.

Impor­tante, ainda, do ponto de vista estratégico que o Maran­hão tenha como foco a qual­i­fi­cação de toda pop­u­lação do estado, seja com o obje­tivo de aproveitar as poten­cial­i­dades region­ais, no tur­ismo, no agronegó­cio, nas indús­trias de trans­for­mação, no comér­cio; seja nos grandes empreendi­men­tos tidos como “enclaves”.

Como o atraso não “culpa” de um só gov­erno, o sucesso tam­bém não será, impor­tante é que se comece a fazer alguma coisa.

A per­gunta que pre­cisamos fazer e para a qual pre­cisamos obter uma resposta pos­i­tiva é: E aí, agora vai?

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.