AbdonMarinho - “Eles” continuam os mesmos.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Eles” con­tin­uam os mesmos.

ELESCON­TIN­UAM OS MES­MOS.

Por Abdon Marinho.

O ASSUNTO incon­tornável – pelo menos para a política local –, foi a declar­ação do ex-​presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva, que em entre­vista para os adu­ladores de sem­pre para as redes soci­ais declarou “de raspão” sobre o quadro político no Maran­hão “Nós defend­emos a can­di­datura do Flávio Dino. Agora, o com­pan­heiro Flávio Dino tem um can­didato, dele, que é o vice, que é do PSDB. Ele sabe que é difí­cil a gente apoiar o PSDB. Nós temos a can­di­datura do Wev­er­ton, então eles vão ter que se acer­tar lá para facil­i­tar a nossa vida”. (Texto col­hido do Blogue Atual 7).

Após a declar­ação de Lula a classe política local não falou mais de outra coisa, inclu­sive com muitos já apon­tando como sug­estão ao candidato/​vice-​governador uma mudança par­tidária para o PSB, par­tido atual do gov­er­nador, como forma de incluir a sucessão estad­ual no “bal­cão de negó­cios” entre os par­tidos.

A declar­ação do ex-​presidente muito emb­ora seja inusi­tada não chega ser sur­preen­dente.

Não sur­preende porque o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, Lula à frente, sem­pre fiz­eram seus cál­cu­los políti­cos pen­sando neles e nos seus inter­esses pes­soais e pro­je­tos de poder, os inter­esses do povo brasileiro (ou maran­hense), podem até con­ver­gir em algum momento, mas esse não é o obje­tivo prin­ci­pal.

Foi assim que o PT preferiu negar o apoio a Tan­credo Neves no Colé­gio Eleitoral, no iní­cio de 1985, para eles pouco impor­tava se o can­didato da ditadura mil­i­tar vencesse e adi­asse o fim do régime; foi assim que se opuseram a Con­sti­tu­ição de 1988; ao Plano Real, e a tan­tas out­ras coisas que fiz­eram o país avançar, pelo sim­ples fato de não terem sido pro­postas por eles.

Logo, não me sur­preende que con­tin­uem olhando para o próprio umbigo em detri­mento dos inter­esses do país.

Para eles, se não exi­s­tir a pos­si­bil­i­dade de vencerem as eleições pres­i­den­ci­ais que se aprox­i­mam, pref­erem que o país con­tinue a ser “des­gov­er­nado” pelo Bol­sonaro e pelo cen­trão.

Imag­inem que sur­gisse uma “ter­ceira via” que estivesse em condições eleitorais bem mel­hores que o can­didato do PT e sem o estigma que rep­re­senta essa divisão do país, alguém apos­taria um cen­tavo na pos­si­bil­i­dade do Lula e do PT desi­s­tirem da sua can­di­datura e apoiar essa ter­ceira via? Os que apos­tassem perde­riam o cen­tavo.

Na ver­dade, eles são os respon­sáveis e o prin­ci­pal “cabo eleitoral” do bol­sonar­ismo.

Entre­tanto, a declar­ação do ex-​presidente me parece inusi­tada, senão vejamos: o Lula quando elegeu-​se em 2002 foi através de uma aliança com o Par­tido Lib­eral — PL, de Walde­mar da Costa Neto, segundo dizem tal nego­ci­ação envolveu alguns mil­hões de motivos; o mesmo PL que abriga o atual pres­i­dente é que estará com o próx­imo, seja ele quem for; o mesmo PL que junto com o PT e os demais par­tidos do cen­trão pro­tag­oni­zaram todos os escân­da­los de cor­rupção que ocor­reram no país nos últi­mos vinte anos e, antes disso, nos gov­er­nos do PSDB.

Quando o ex-​presidente assumiu em 1º de janeiro de 2003, logo após, rece­ber a faixa pres­i­den­cial de Fer­nando Hen­rique Car­doso e fazer o famoso dis­curso con­tra a cor­rupção, com o capitão José Dirceu à frente, foram “nego­ciar” a República com o próprio PL, com Par­tido Pro­gres­sita — PP, de Ciro Nogueira; com o Par­tido Tra­bal­hista Brasileiro — PTB, de Roberto Jef­fer­son, e até mesmo com PMDB, de Sar­ney, Renan, Bar­balho, etc.

Em 2005, quando eclodiu o escân­dalo do men­salão o pacto de poder con­tin­uou o mesmo, ape­nas aumen­tando os nacos de par­tic­i­pação de cada um no “butim repub­li­cano”, voltando os inter­esses para a roubal­heira na Petro­bras, no viria a ser con­hecido como escân­dalo do petrolão.

Na sucessão de Lula, em 2010, o pacto de poder priv­i­le­giou o PMDB, com cessão da vice-​presidência ao então pres­i­dente da agremi­ação, ex-​presidente da Câmara dos Dep­uta­dos Michel Temer, que viria a suceder Dilma Rouss­eff após o impeach­ment em 2016.

Todos estes par­tidos, incluindo o MDB, caso o Lula vença as eleições deste ano, estarão no gov­erno em 2023, o próprio Lula já faz gestões e irá bus­car todos eles para lhe dar sus­ten­tação e con­tin­uarem com as far­ras que pro­moveram nos gov­er­nos petis­tas de 2003 a 2016.

Mas o sen­hor Lula, na sua declar­ação para a política local, diz ser “difí­cil” para eles apoiarem o PSDB. O que teria o PSDB?

Vejam que o ex-​presidente nem se ref­ere o vice-​governador pelo nome – mostrando que a restrição não é ao nome, pode­ria ser o João, a Maria, o Pedro, qual­quer um –, preferindo dizer que é do PSDB e que é difí­cil apoiar alguém do PSDB.

A ninguém da plateia amestrada socorre per­gun­tar qual o ver­dadeiro motivo da difi­cul­dade para quem esteve com todas as leg­en­das já referi­das acima e que estarão jun­tos nova­mente, con­forme os cír­cu­los da política.

Qual a ver­dadeira razão de ser “difí­cil” apoiar alguém do PSDB quando o próprio pres­i­dente de honra deste par­tido, o ex-​presidente Fer­nando Hen­rique Car­doso, já até declarou voto em Lula na even­tu­al­i­dade de, no segundo turno, restarem ele e o atual pres­i­dente?

Ora, que moral teria o Lula – e o PT –, para impor qual­quer restrição ao PSDB depois de terem se “pros­ti­tuí­dos” com todas as leg­en­das do espec­tro político brasileiro, com espe­cial voraci­dade em avançar sobre os cofres públi­cos e da Petro­bras, em particular?

A restrição ao PSDB, cer­ta­mente não é pelo fato deste par­tido pos­suir um can­didato a pres­i­dente pois na mesma sen­tença em que disse ser “difí­cil” apoiar o PSDB, referiu-​se a can­di­datura do senador Wev­er­ton como “nós temos”, esquecendo-​se que o seu par­tido, PDT, tem can­di­datura própria à presidên­cia, Ciro Gomes, até mel­hor posi­cionada que a can­di­datura do PSDB, João Dória, atual gov­er­nador de São Paulo.

Na even­tu­al­i­dade da can­di­datura de Bol­sonaro esfacelar-​se ou dele vir a desi­s­tir – o que não descar­tado, uma vez pre­cis­ará da “pro­teção” de um foro priv­i­le­giado a par­tir de 2023 para escapar da cadeia –, todas as demais can­di­dat­uras con­tra Lula gan­harão um novo fôlego, podendo, inclu­sive, Ciro Gomes, PDT, vir a ser o grande adver­sário do ex-​presidente.

Logo, quando Lula diz, “nós temos” a can­di­datura de Wev­er­ton – e Wev­er­ton “fes­teja” isso dizendo ser “amigo-​raiz” dele –, estaria sug­erindo que o can­didato pede­tista, que é líder do seu par­tido, “traia” a can­di­datura de Ciro Gomes?

Pesando todas as situ­ações políti­cas e con­siderando a hipótese de não ter sexo no meio – em todas as situ­ações da vida que você não con­seguir explicar a par­tir de um raciocínio lógico, pode ter certeza que tem sexo –, soa-​me bem mais inusi­tada a declar­ação do ex-​presidente.

Basta olhar para a história, dos anos oitenta pra cá, que ver­e­mos que poucos políti­cos man­tiveram uma “amizade-​raiz” mais fidedigna com o ex-​presidente do que o atual gov­er­nador Flávio Dino e o grupo mais fiel ao seu entorno. Isso desde a ado­lescên­cia, “com­prando” quase todas as brigas do ex-​presidente e do petismo até os dias atu­ais, quando per­maneceu quase que soz­inho nos embates con­tra o atual pres­i­dente, inclu­sive sac­ri­f­i­cando inter­esses do estado que dirige.

Tudo bem que Fre­itas Diniz*, que viveu quase noventa anos, por mais uma dezena de vezes, me disse ter con­hecido pou­cas pes­soas com um caráter tão duvi­doso quanto o ex-​presidente, mas daí a igno­rar a “amizade-​raiz” do atual gov­er­nador, sobre o qual nunca pairou dúvi­das quanto a inte­grar a “república de Planaltina”, ultra­passa todos os lim­ites.

Matu­tando sobre isso cheguei a pen­sar – atenção!! Não esta­mos impe­di­dos de pen­sar –, que a “inusi­tada” declar­ação de Lula seria parte de um “com­binemos” com o atual gov­er­nador.

O ex-​presidente ale­gria “difi­cul­dades” para apoiar alguém “do PSDB”, colo­caria na mesma fala a can­di­datura do PDT e diria que teriam que “se acertarem”.

Dino, por sua vez, ale­garia as “difi­cul­dades” e até a descon­fi­ança que pos­sui em relação ao can­didato pede­tista.

A solução: todos desi­s­tiriam para o surg­i­mento de um ter­ceiro nome. Neste caso, alguém com histórico de “amizade-​raiz” com o ex-​presidente Lula ou um nome do PT local.

Difí­cil será con­vencer Brandão a desi­s­tir da reeleição ou o senador pede­tista a colo­car marcha-​ré na can­di­datura.

Caso colo­quem difi­cul­dades no arranjo, Flávio Dino dará outra prova de “amizade-​raiz” e ficará no cargo para con­duzir o processo.

Em tal per­spec­tiva Brandão seria o nome para o Senado; Már­cio Jerry ou Felipe Camarão para o gov­erno.

Tudo pela paz e pelo sucesso de um “futuro” gov­erno petista.

Como diria aquele craque do fute­bol brasileiro, só falta com­bi­nar com os rus­sos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

*Domin­gos Fre­itas Diniz Neto 19332021), engen­heiro civil, ex-​deputado fed­eral, um dos fun­dadores do Par­tido dos Tra­bal­hadores PT.