AbdonMarinho - O fracasso da geração Pirapora.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O fra­casso da ger­ação Pirapora.

O FRA­CASSO DA GER­AÇÃO PIRAPORA.

Por Abdon Marinho.

O SÍTIO PIRA­PORA, no Bairro Santo Antônio, na cap­i­tal do estado ocupa um lugar espe­cial, na memória afe­tiva da minha juven­tude. Era lá, em mea­dos dos anos oitenta, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que par­tidos políti­cos, movi­men­tos soci­ais, cidadãos comuns, estu­dantes e tan­tos out­ros ativis­tas se reu­niam para dis­cu­tir a traçar dire­trizes para o novo momento político e para o estado que gostaríamos de fazer e viver.

A área, que ante­ri­or­mente fora maior, ced­era espaços as con­stantes invasões, ficando, por fim, uma estru­tura menor, com espaços para reuniões, refeitórios, alo­ja­mento, esta­ciona­mento, etc., que a igreja católica alu­gava aos segui­men­tos descritos acima.

Os par­tidos e movi­men­tos soci­ais traziam suas lid­er­anças de quase todos os municí­pios do estado e lá se reu­niam para sem­i­nários e debates políti­cos. Eram opor­tu­nidades pre­ciosas para con­hecer­mos diver­sas pes­soas e a real­i­dade social de cada municí­pio maranhense.

Nos finais de sem­ana pro­lon­ga­dos aproveitá­va­mos ainda mais esses momen­tos de ale­gria, sobre­tudo, nos inter­va­los ou ao fim do dia, antes do recol­hi­mento noturno.

Foi no Sítio Pira­pora que, em 1994, em um con­gresso do Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB, o então senador Cafeteira aceitou dis­putar as eleições daquele ano numa das mais mem­o­ráveis cam­pan­has que o estado assis­tiu.

Em diver­sos out­ros momen­tos impor­tantes para a história política do Maran­hão, antes e depois de 1994, em situ­ações e reuniões que par­ticipei, o Sítio Pira­pora teve lugar.

Depois, muitos daque­les que lá estiveram se “eli­ti­zaram”, mesmo os par­tidos ditos pop­u­lares e pas­saram a fazer seus encon­tros em hotéis ou out­ros lugares lux­u­osos.

O leitor mais aflito e impa­ciente já deve estar se per­gun­tando a razão de tanta nos­tal­gia.

Pois bem, essas rem­i­nis­cên­cias têm como propósito infor­mar que foi em uma reunião destas no velho Pira­pora que os atu­ais man­datários do estado, há cerca de 35 anos, fiz­eram a pre­visão que chegariam ao poder.

Já tratei aqui, em out­ros momen­tos da reunião no Sítio Pira­pora onde um grupo de jovens dis­cu­tiam a situ­ação política do estado, estraté­gias políti­cas, alianças, e como pode­ria ser o Maran­hão no pós domínio do grupo Sar­ney – para os pre­sentes a razão de toda mis­éria e sofri­mento do nosso povo.

Eu estava lá. Pode­ria dizer: meni­nos eu vi, como disse Gonçalves Dias em Y-​Juca Pirama, quando o atual gov­er­nador, um jovem estu­dante uni­ver­sitário pre­viu que um dia seria gov­er­nador do Maran­hão e como seria difer­ente a real­i­dade política e econômica do nosso povo quando aquele dia chegasse.

A pre­visão seria a real­iza­ção de um sonho e, como tal, aplaudi­mos e fes­te­jamos.

Por sendas tor­tu­osas eis que a pre­visão se con­sumou, a difer­ença é que já cam­in­hando para o fim do mandato, daqui a oito meses, se for dis­putar o Senado da República ou um ano e dois meses, se pre­tender ficar até o fim, aquilo que em 198687 do século pas­sado fes­te­jamos como sendo um sonho, visto com os olhos de hoje, era uma ameaça.

Aque­les jovens “mor­tos” de felizes ante a pos­si­bil­i­dade de alguém da nossa ger­ação chegar ao poder, está­va­mos, na ver­dade, sendo ameaça­dos com tal vati­cino.

O sen­hor Dino – e sua turma dos quais alguns estiveram pre­sentes naquela reunião –, chegou ao poder em janeiro de 2015, já se vão quase sete anos, e ressal­vado um avanço aqui ou ali, o que temos, infe­liz­mente é que, naquilo que é essen­cial para povo e que se propôs fazer: reti­rar o Maran­hão da rabeira do desen­volvi­mento social e econômico, não avançou “um palmo”, pelo con­trário, os dados do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, rev­e­lam que no atual gov­erno as coisas pio­raram muito para o nosso povo.

Cabe obser­var que os dados cole­ta­dos pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU) e diver­sos out­ros organ­is­mos idô­neos cor­rob­o­ram com dados do IBGE.

Ape­nas para se ter uma ideia, nos primeiros cinco anos do atual gov­erno mais de 400 mil pes­soas foram lança­dos na faixa de extrema pobreza no nosso estado.

Para os que se pre­ocu­pam com o estado e seu povo é forçoso recon­hecer, infe­liz­mente, que com a pan­demia tal situ­ação agravou-​se bem mais. Temo pelo que sairá depois que todas as estatís­ti­cas fecharem depois que o gov­erno findar.

O IBGE aponta que ape­nas 34,6% das pes­soas com idade supe­rior a 14 anos pos­sui algum tra­balho for­mal; para se ter uma ideia esse per­centual rep­re­senta a metade do per­centual do Estado de Santa Cata­rina (68,6%) e é bem menor que o indi­cador de Rondô­nia (54,1%), ape­nas para citar dois esta­dos que pos­suem semel­hanças com o Maran­hão.

Por outro lado, na mesma faixa de idade, a taxa de des­ocu­pação é 13,9%, con­tra 6,2% de Santa Cata­rina e 8,1% de Rondô­nia.

Mas não é só, 31,4% dos maran­henses sofrem restrições de acesso à edu­cação – e olha que este é o setor “menina dos olhos” do gov­erno –, 5,4% à pro­teção social; 24,9% à condições de mora­dia; 82,1% a serviços de sanea­mento básico; 34,4% a comu­ni­cação; 15,5% dos lares não pos­sui um ban­heiro exclu­sivo para o domicílio; 34,9% não pos­sui doc­u­mento de pro­priedade do imóvel que reside; 16,6% são os anal­fa­betos com 34,3% pos­suindo ape­nas o fun­da­men­tal incom­pleto.

Depois de sete anos de gov­erno um estado que pos­sui esse nível de indi­cadores com­prova, infe­liz­mente, o fra­casso de um mod­elo de gestão.

Ao meu sen­tir os atu­ais donatários não tin­ham um plano para desen­volver o estado e não o con­struíram ao longo dos anos, preferindo a política rasteira do “deixa como estar para ver como é que fica”.

Por outro, para pare­cerem “bem na fita” pas­saram a desen­volver políti­cas com­pen­satórias e a enga­nar o povo com maciços inves­ti­men­tos na mídia e na dis­tribuição de esmo­las: ces­tas bási­cas, bolsa isso, bolsa aquilo, vale isso, vale aquilo, etc.

Não ques­tiono a importân­cia de se assi­s­tir as pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade com tudo que pre­cisam, ainda mais em tem­pos tão difí­ceis. Não ques­tiono a importân­cia de um restau­rante pop­u­lar ou do vale-​gás, etc.

O ques­tiono é a falta de políti­cas públi­cas que desen­volvam o estado e retire as pes­soas das condições de vul­ner­a­bil­i­dades em que se encon­tram.

O estado mel­horou sub­stan­cial­mente sua arrecadação, recebe mais do que con­tribui com a arrecadação de trib­u­tos fed­erais, con­traiu diver­sos emprés­ti­mos e, ape­sar disso, aumen­tou o número de pes­soas em condições de vul­ner­a­bil­i­dade e depen­dentes das esmo­las do gov­erno, quase sem­pre uti­lizadas como moeda de troca por votos.

Mas essa não era uma das prin­ci­pais críti­cas ao grupo Sar­ney, man­ter as pes­soas mis­eráveis para se per­pet­u­arem no poder com a dis­tribuição de esmo­las?

Se no iní­cio do gov­erno tín­hamos a esper­ança – ou ilusão –, de que have­ria uma rup­tura com os mod­e­los arcaicos de gov­ernar, hoje, sete anos depois, esta­mos vendo qua não ape­nas man­tiveram com ampli­aram as vel­has práticas.

Não é sem razão que muitos dos ali­a­dos (ou ex-​aliados) do atual gov­er­nador que “enricaram” na política ao invés de respon­derem por desafi­arem toda leg­is­lação crim­i­nal do país – e algu­mas leis extrav­a­gantes –, ao invés de estarem pre­sos ou respon­dendo por seus deli­tos, estão per­cor­rendo o estado na busca de mais um mandato ele­tivo. E tem até os que pleit­eiam coman­dar o estado.

Em sete anos não tive­mos um gov­erno que bus­casse aproveitar as condições favoráveis do estado para desenvolvê-​lo – que são muitas e de todos con­heci­das –, ou, ao menos, fin­car as bases para o desen­volvi­mento.

O que temos é um estado muito mais pobre, com uma pop­u­lação de mis­eráveis que só aumenta e sem qual­quer per­spec­tiva de futuro e, pior, com alguns dos que pre­ten­dem governá-​lo, com um pron­tuário no lugar de uma biografia.

Como disse outro dia o maluco que dirige o país que os poupo de dizer o nome, “nada é tão ruim que não possa piorar”.

Esse é o o retrato do fra­casso da ger­ação Pira­pora. O fra­casso da nossa ger­ação. Tan­tos son­hos e tanto ide­al­ismo em vão.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 Roberto Mor­eira 11-​10-​2021 20:59
Querido Dr. Abdon
Só para acres­cen­tar, nos anos 80, os esta­dos mais pobres do Brasil, Alagoas, Piaui e Maran­hão, está­va­mos na posição 25 e não o ultimo, gan­há­va­mos do Piaui e Alagoas. O Mais IDH, na ver­dade sub­traiu o nosso desen­volvi­mento. Triste para nosso Gov­er­nador, que teve um dis­curso pare­cido com o do Sar­ney de 66, e parece que que fez pior que ele.
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