AbdonMarinho - Um apelo à racionalidade.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Um apelo à racionalidade.


UM APELO À RACIONALIDADE.

Por Abdon Marinho.

O TEXTO que plane­jei para escr­ever hoje nada tem a ver com o que segue abaixo.

Aquele – o texto não escrito –, iria tratar das reflexões sobre a vida, as rem­i­nis­cên­cias e as pro­jeções futuras que fiz nesta primeira sem­ana de iso­la­mento social. Não deu! Paciência!

Já o texto que ora escrevo, é um apelo à razão, ao bom senso, à hon­esti­dade int­elec­tual, à ver­gonha na cara, etc., neste momento em que ten­tam explo­rar os medos das pes­soas, sobre­tudo, das mais frágeis, em bene­fí­cio dos próprios e incon­fessáveis inter­esses.

Ini­cial­mente devo dizer que não esta­mos diante de uma “gripez­inha”, como querem alguns, ou, tão pouco, diante do “fim do mundo”, do ocaso da humanidade, como pre­ten­dem outros.

Logo, se você se encon­tra em um dos extremos e passa os dias – de ócio ou de labuta –, ten­tando con­vencer os out­ros que está certo e que ninguém o fará mudar de opinião, já se sinta des­o­bri­gado da leitura do que segue.

Este texto, como já dito, é um apelo à racional­i­dade, é, por­tanto, incom­patível com extremismos.

O brasileiro, de uns tem­pos para cá, começou a enx­er­gar as coisas em preto e branco, quer dizer, para eles, ou é preto ou é branco; ou é oito ou é oitenta, oito­cen­tos, oito mil …

Os extrem­is­mos nunca foram os mel­hores con­sel­heiros de ninguém.

Mas, por aqui, se tornaram a moda da estação. Pior, muitos, por indigên­cia moral e pelo caráter duvi­doso, ten­tam tirar van­ta­gens. Políti­cas, finan­ceiras, ou as duas.

Esse vale-​tudo do mau-​caratismo, infe­liz­mente, tem se esten­dido a tudo, até mesmo a uma situ­ação como esta da pan­demia cau­sada pelo surg­i­mento, na China – e se espal­hado pelo mundo –, do novo coro­n­avírus (Sars-​Cov-​2).

Por aqui, essa pan­demia que já ceifou mais de uma cen­tena de vidas e que deve cei­far out­ros mil­hares (ou mil­hões, não se sabe ao certo), tornou-​se um ele­mento a mais na “guerra” política que dom­ina o país.

Quando pen­sá­va­mos que, diante de um inimigo comum, teríamos alguma unidade que nos fizesse sair do prob­lema mais for­t­ale­ci­dos e com um sen­ti­mento de nação deu-​se o con­trário. O novo coro­n­avírus tornou-​se o com­bustível que ali­menta a insanidade.

Pelo que tenho visto, lido ou ouvido a respeito do novo coro­n­avírus, não se trata, como querem alguns, de uma “gripez­inha”.

Uma gripe não mata mil­hares de pes­soas em tão pouco espaço de tempo, como ocor­reu na China, e como vem ocor­rendo na Itália, com mais de 10 mil mor­tos; Espanha, quase 7 mil mor­tos; Irã, quase 3 mil mor­tos; Esta­dos Unidos, mais de 2 mil mor­tos; França, mais de 2 mil mor­tos; Reino Unido, mais de mil mor­tos; e por aí vai. Destes, exceção da China que está com situ­ação rel­a­ti­va­mente equi­li­brada, os números só aumen­tam – e numa pro­porção quase geométrica –, levando pane aos sis­temas de saúde e à exaustão os profis­sion­ais da área.

São números, que pelo curto espaço de tempo em que ocor­reram, não per­mitem que se min­i­mize o prob­lema.

Uma “gripez­inha” não levaria à dec­re­tação de quar­entena a todas as cap­i­tais da Europa e ao fechamento das fron­teiras daque­les países.

Uma “gripez­inha” não levaria Nova Iorque, uma espé­cie de cap­i­tal do mundo e que recebe mais de 60 mil­hões de tur­is­tas por ano a encontrar-​se às moscas, com par­ques e avenidas que nunca param a ficarem com­ple­ta­mente vazios.

Não seria um mero res­fri­ado que iria obri­gar o pres­i­dente dos Esta­dos Unidos, Don­ald Trump, a dizer que estu­dava dec­re­tar quar­entena em três esta­dos amer­i­canos por conta do novo coro­n­avírus: esta­dos de Nova York, Nova Jer­sey e Con­necti­cut – ainda que horas depois tenha dito que desi­s­tirá da ideia.

Ainda que tenha desis­tido – não sabe­mos se momen­tanea­mente, só o tempo dirá –, tal ideia, até então, só pas­sara pela cabeça dos roteiris­tas de Hol­ly­wood, assim mesmo, os mais inventivos.

Dito isso, ainda pelo respeito que deve­mos ter pela dor alheia, por aque­les que estão sofrendo, não deve­mos fazer pouco caso do assunto.

Noutra quadra, não podemos deixar de levar em con­sid­er­ação a existên­cia de estu­dos sérios ate­s­tando que o “mundo não vai acabar” por conta da atual pan­demia e que o Brasil, por suas car­ac­terís­ti­cas próprias, sofr­erá menos os impactos do novo coro­n­avírus que vêm sofrendo out­ras nações.

Segundo estes estu­dos o alas­tra­mento do vírus no Brasil será dis­tinto daquele que vem ocor­rendo na Europa e na América do Norte, argu­men­tando que ele (o vírus) tem pouca resistên­cia ao calor dos trópi­cos, pere­cendo mais rápido em tem­per­at­uras acima de 20º Celsius.

Ainda segundo estes estu­dos ape­sar do poder de con­t­a­m­i­nação deste vírus ser supe­rior aos daque­les que o pre­ced­eram, a sua letal­i­dade não é tão grande, ficando abaixo de quase todos os demais.

Mais, ape­nas estariam sujeitos à morte provo­ca­dos pelo coro­n­avírus (pelo menos em maior per­centual) deter­mi­na­dos gru­pos de indivíduos.

Faz parte da ciên­cia – e todos con­cor­dam –, que os ataques virais começam a dec­li­nar quando uma grande parcela da pop­u­lação é con­t­a­m­i­nada e começa a adquirir anti­cor­pos àquele ele­mento estranho.

Em relação a esse novo coro­n­avírus (Sars-​Cov-​2), pelo seu alto grau de con­tá­gio, ainda que seus efeitos mais graves só atinja a uma pequena parcela da pop­u­lação e sua letal­i­dade a uma parcela menor ainda, ainda assim, esses números estariam bem acima da capaci­dade dos sis­temas de saúde, inclu­sive do brasileiro que pos­sui o Sis­tema Único de Saúde — SUS – e para o nosso orgulho, senão o maior, um dos maiores sis­temas públi­cos do mundo.

Como podemos perce­ber o prob­lema não é de grande inda­gação.

Bas­taria, ao meu sen­tir, as autori­dades do setor médico, sem aço­da­men­tos, chegarem a um con­senso sobre os níveis de inter­venções a serem pro­pos­tos nas vidas das pes­soas para colo­car a curva de con­tá­gio pelo novo coro­n­avírus den­tro da capaci­dade de atendi­mento do sis­tema de saúde, pois é certo que o con­tá­gio haverá e quanto mais pes­soas forem con­ta­giadas e adquirirem anti­cor­pos para lidarem com a doença, mel­hor para todos.

O debate que propõe deve ser travado à luz da ciên­cia e desprovido de qual­quer sen­ti­mento de cunho político/​ideológico. Como dito ante­ri­or­mente os extrem­is­mos, neste, e em qual­quer outro momento, não são os mel­hores conselheiros.

Este é o apelo à racional­i­dade que se faz.

Não é hora de embates ide­ológi­cos.

É hora de sal­var o país da hecatombe e com os menores danos possíveis.

Quando se fala em retornar à ativi­dade econômica do país ape­sar da crise posta é porque sabe­mos (acred­ito que todos saibam disso) que a “que­bradeira” da indús­tria, do comér­cio e do setor de serviços, trará con­se­quên­cias igual­mente danosas à saúde das pes­soas: fome, desem­prego e vio­lên­cia.

É bom que se entenda que quando se par­al­isa todas as ativi­dades econômi­cas o país que­bra. Pois é da ativi­dade pro­du­tiva que vem o din­heiro para pagar as con­tas.

Não adi­anta dizer que vai parar tudo e o gov­erno vai prover, pois o gov­erno somos nós.

Se não tiver­mos din­heiro para dar ao gov­erno através dos impos­tos que pag­amos ele não terá a capaci­dade de hon­rar com­pro­mis­sos com o restante da sociedade.

Faz-​se necessário que parem com este embate ide­ológico, essas cam­pan­has ante­ci­padas, para que se busque uma saída para o país. Para que se encon­tre uma cura para o prob­lema sem que se mate o paciente, aprovei­tando – se reais –, as supostas van­ta­gens que teríamos.

Pre­cisamos das mel­hores cabeças das ciên­cias, da med­i­c­ina, da econo­mia, para apli­car­mos a mel­hor equação.

A China e a Cor­eia do Sul enfrentaram (e ainda enfrentam) o prob­lema e estão se saindo bem. Outro mod­elo a ser repli­cado é o da Ale­manha. Ali, no novo epi­cen­tro da pan­demia, próx­imo à Itália, França e Espanha, já tendo reg­istrado mais de 70 mil casos de infec­ta­dos “só” reg­is­tra pouco mais de 500 víti­mas fatais. Número bem aquém dos que os reg­istra­dos nos países viz­in­hos.

Claro que um país con­ti­nen­tal como nosso não teríamos as mes­mas condições de imple­men­tar o que se está imple­men­tando, numa Ale­manha, por outro lado, temos nos­sas próprias “van­ta­gens”, já referi­das acima.

O que pre­cisamos é de uma nação unida falando a mesma lín­gua no enfrenta­mento de um inimigo comum.

Isso vai muito além dos inter­esses políti­cos ou ide­ológico de quem só con­segue pen­sar no próprio umbigo.

Depois de ven­cido o “inimigo” sem ter­mos destruído o país, podem voltar a guer­rinha tola e por poder de vocês e de prefer­ên­cia se matem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.