AbdonMarinho - SARNEY & DINO E O ACORDO QUE NÃO OUSA DIZER O NOME.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SAR­NEY & DINO E O ACORDO QUE NÃO OUSA DIZER O NOME.

SARNEY & DINO E O ACORDO QUE NÃO OUSA DIZER O NOME.

Por Abdon Marinho.

CON­TINUA reper­cutindo – até mais do que dev­ido –, a tertúlia do ex-​presidente Sar­ney com o gov­er­nador Flávio Dino.

Após alardear o “feito” em suas redes soci­ais, o gov­er­nador, talvez, diante da “baixa audiên­cia” do fato e das cobranças por coerên­cia, já no final de sem­ana que se seguiu tra­tou de dizer que não ocor­reu qual­quer acordo rela­cionado à política local.

Disse que só tra­tou da política nacional, do “risco” que corre a democ­ra­cia brasileira e, no mais, trataram de assun­tos rela­ciona­dos à cul­tura, autores maran­henses e out­ras coisas triviais.

Bened­ito Buzar, respeitado int­elec­tual do nosso estado e que priva da amizade do ex-​presidente, em sua col­una sem­anal em “O Estado Maran­hão”, datada de 07 de julho, disse ter con­fir­mado, em lin­has gerais, o teor da con­versa entre o gov­er­nador e o ex-​presidente, sendo que este último ao ini­ciar a con­versa teria deix­ado claro à visita que não trataria de qual­quer assunto rela­cionado à política local, ale­gando para isso a idade avançada e o fato de ter pas­sado tal “mis­são” aos fil­hos Roseana e José Sar­ney Filho e ao neto Adriano.

Da col­una de Buzar extrai-​se, tam­bém, a infor­mação que a con­versa entre os líderes ocor­reu em ambi­ente reser­vado, sem a pre­sença de mais ninguém: nem do filho Zequinha Sar­ney, que o aju­dou na recepção da visita, nem do dep­utado Orlando Silva, que acom­pan­hava o gov­er­nador.

O que, para a pat­uleia, será sem­pre a palavra de um con­tra o outro (em caso de dis­cordân­cia) ou a palavra de ambos no mesmo sen­tido (o que rev­e­laria a comunhão de vontades).

Se assim o foi, sua excelên­cia acabou por reed­i­tar um clás­sico do cin­ema mundial: “Uma Linda Mul­her”, no qual a atriz Júlia Roberts inter­pre­tou uma garota de pro­grama que, a despeito de transar com o clientes, não os bei­java.

Ou, tam­bém dos anos noventa, reed­i­tou a famosa frase de Bill Clin­ton que inda­gado se já fumara maconha saiu-​se com essa: — fumei mais não traguei.

Quem somos nós para ques­tionar a palavra de sua excelên­cia ou a infor­mação prestada por Buzar, após ouvir Sar­ney?

Quem duvi­dou mesmo foi o neto do moru­bix­aba, dep­utado Adri­ano, que, em dis­curso na assem­bleia leg­isla­tiva, disse que teria ocor­rido, sim, um “acordo” entre os dois políti­cos.

Mas se sua excelên­cia e o escritor e político Sar­ney dizem que trataram de assun­tos literários e não políti­cos. Pela verve da lit­er­atura, se algum “acordo” ocor­reu naquela tertúlia solitária entre ambos, na tarde brasiliense, talvez o tenha sido nos moldes do que dis­sera o autor irlandês Oscar Wilder (18541900), que do cárcere, para onde foi man­dado, escreveu sobre um “certo amor que não ousa dizer o nome”.

Fes­te­jado por muitos dos ali­a­dos do gov­er­nador, porém, cau­sando con­strang­i­men­tos em alguns – chama­dos a diz­erem sobre os “cinquenta anos de atraso” –, o suposto “acordo” tem esse quê de ver­gonha, de “amor que não ousa dizer o nome”. Mas, registre-​se, menos por pudor e mais pelo prag­ma­tismo do “perde-​ganha” político.

O gov­er­nador do Maran­hão, que bem recen­te­mente, deixou em aberto três opções para o seu futuro político em 2022, tem con­sciên­cia da frag­ili­dade do seu pro­jeto político pres­i­den­cial.

O estado que dirige não é mod­elo para nada, faz uma admin­is­tração acan­hada – não ape­nas pela falta de recur­sos, mas pela falta de aptidão admin­is­tra­tiva –, com piora de todos os índices econômi­cos e soci­ais, sem uma obra de infraestru­tura para chamar de sua, sem nada para mostrar ao Brasil além de dizer que se opõe ao gov­erno Bol­sonaro e ao min­istro Sér­gio Moro – sua segunda obsessão.

Não bas­tasse tudo isso, sabe da imensa difi­cul­dade de se “vender” como um can­didato de “esquerda” fil­i­ado a um par­tido “comu­nista”. Tudo entre aspas mesmo.

Assim, nada mais óbvio para o gov­er­nador que “sonha” em ser o novo Sar­ney, copiar o Sar­ney com o próprio Sar­ney.

Ficou con­fuso? Eu tentarei explicar.

Quando Sar­ney ten­tou fazer de Roseana a pres­i­dente da República para suceder FHC uma das estraté­gias foi ten­tar unir o estado em torno do pro­jeto ace­nando para a oposição: Jack­son Lago seria apoiado para prefeito em 2000, na chapa com Tadeu Palá­cio, e depois seria o can­didato a gov­er­nador da “união” em 2002.

Este era o plano de Sar­ney – se com­bi­nado ou não com Jack­son Lago, não sei –, que não deu certo por conta da chamada “Oper­ação Lunus”, que levou ao naufrá­gio os planos pres­i­den­ci­ais de Sar­ney, através da filha, e o con­duziu aos braços do petismo, a ponto de virar o “mel­hor” amigo de Lula, como este mesmo fez questão de dizer mais de uma vez.

O que cus­taria a Dino repe­tir a estraté­gia, agora com o sinal tro­cado? Uma can­di­datura de “esquerda” e “comu­nista” pre­cis­aria de um “tem­pero” mais à dire­ita do espec­tro político.

Quem mel­hor rep­re­sen­taria isso que José Sar­ney, o último dos coro­néis do Brasil?

Se trataram de algum acordo político ou não, por enquanto, não saber­e­mos. Mas a intenção do sen­hor Dino, parece-​me bas­tante clara: na hora dos can­didatos “esquerdis­tas” mostrarem suas car­tas para se via­bi­lizarem, ele apre­sen­taria o Sar­ney como seu prin­ci­pal trunfo, seu ás na manga, o mel­hor amigo do Lula.

E ainda faria isso “paci­f­i­cando” toda a provín­cia do Maran­hão. Todos unidos em torno de sua excelên­cia rumo ao Planalto.

Devolve­riam o estado aos Sar­ney depois dizer que eles foram a maior des­graça do estado, do atraso, e de todos os males? Não ten­ham dúvi­das.

Não rep­re­sen­taria qual­quer difi­cul­dade para ele ou para o seu par­tido.

Lem­bro que uma vez, lá pelos idos de 1986/​87, fui con­vi­dado para uma reunião da juven­tude do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT. Eu era do movi­mento estu­dan­til, envolvido com a cri­ação de grêmios, etc. Naquela reunião, ocor­rida no sitio Pira­pora, sua excelên­cia, já na uni­ver­si­dade, era um dos palestrantes/​organizador e, já naquele momento, com todas as críti­cas que se fazia a Sar­ney por sua lig­ação com a ditadura e tudo mais, ele defendia que para chegar/​conquistar o poder não tinha nada demais em fazer uma aliança com o então pres­i­dente. Aliás, para nos impres­sionar – até porque pela idade dele (14÷15 anos) não sabe­mos ser pos­sível –, disse que estivera com Sar­ney por conta das Diretas.

Quanto ao seu par­tido, o PCdoB, já em 1994, enten­dia não haver nada demais em se “jun­tar” ao Sar­ney. Naquele ano, quando tive­mos, pela primeira vez a chance de der­ro­tar o grupo Sar­ney na política estad­ual, PCdoB, já no primeiro turno, rece­bia apoio de Roseana para suas cam­pan­has. No segundo turno, fechou de vez o apoio e só saiu do grupo quando este não os quis mais.

Logo, não há qual­quer difi­cul­dade em se cos­tu­rar uma aliança “prag­mática” em torno de inter­esses comuns, ainda que seja para negar tudo que se disse até aqui e pas­sarem a dizer que o mel­hor para o Maran­hão é o retorno de um Sar­ney ao comando do estado.

Quando sua excelên­cia, recu­sou ou não quis o apoio dos Sar­ney para os seus pro­je­tos políticos?

Sobre isso exis­tem dois episó­dios, que se con­fun­dem em um só.

O primeiro, em mea­dos de 2007, o processo de cas­sação de Jack­son Lago, cam­in­hava acel­er­ado e, por alguma razão de cunho pes­soal, seu advo­gado orig­inário não pode­ria com­pare­cer a uma deter­mi­nada audiên­cia. Eis que alguém sug­eriu o nome do então dep­utado fed­eral, para fazer às vezes de advo­gado do gov­er­nador. Com o prestí­gio do cargo de dep­utado e de ex-​juiz, seria de grande valia.

Con­cluído o ato proces­sual, acho que foram em palá­cio “prestar con­tas” ao cliente.

Um amigo me disse que ainda hoje lem­bra quando sua excelên­cia bateu em suas costas e disse: — agora quero saber o que vocês vão fazer por mim, pois me “queimei” com o outro lado.

O segundo episó­dio é um pouco menos edi­f­i­cante e só acred­itei porque quem me disse teste­munhou com os próprios olhos.

Disse ele que no dia em que o TSE, em abril de 2009, sacra­men­tou a cas­sação de Jack­son Lago, o seu advo­gado, o dep­utado fed­eral e ex-​juiz, ao invés de ir “con­so­lar” o cliente que acabara de ser der­ro­tado, foi a casa de Sar­ney felic­i­tar a vence­dora pela vitória.

O amigo, teste­munha ocu­lar de tal fato, confidenciou-​me: — Abdon, nunca tinha visto algo semel­hante até então.

Tudo bem, talvez tenha sido só um gesto de sol­i­dariedade pelo apoio “infor­mal” que rece­bera do grupo na eleição para prefeito da cap­i­tal em 2008.

Mas me parece que tenha sido ape­nas o velho prag­ma­tismo que tenha se feito pre­sente mais uma vez, como o foi antes e depois, quem não lem­bra do episó­dio Waldir Maranhão?

Quem ainda se sur­preende com tal prag­ma­tismo, talvez devesse olhar para o ex-​governador José Reinaldo Tavares.

Quem pode­ria imag­i­nar que depois de tudo que fez pelo pro­jeto político de sua excelên­cia, o ex-​governador seria sim­ples­mente “rifado”, como foi, do seu sonho de ser senador da República?

Todos tin­ham por certo que seria o seu primeiro can­didato, que não tivera mais força no gov­erno por visões dis­tin­tas de gov­erno, mas seria o senador garan­tido. Não foi. Sua excelên­cia preferiu como primeiro senador, o sen­hor Wev­er­ton Rocha e para segundo, a sen­hora Eliziane Gama. Ape­sar de José Reinaldo, ter dito que só sairia do grupo se não o quisessem, foi sim­ples­mente igno­rado e lançado ao ostracismo político ape­sar de tudo que fez – e do quando, ainda, pode­ria con­tribuir com o Maran­hão e o Brasil.

É assim mesmo, na nova política não há espaço para amizades sin­ceras, respeito ou gratidão, mas, sim, para os “acor­dos” que não ousam dizer o nome.

Abdon Mar­inho é advo­gado.