AbdonMarinho - UM BODE INVISÍVEL NA ALEMA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM BODE INVISÍVEL NA ALEMA.

UM BODE INVISÍVEL NA ALEMA.

Por Abdon Marinho.

NO ANO DE 2013 o dep­utado inglês Chris Huhne renun­ciou ao cargo após se declarar cul­pado de haver ocul­tado a ver­dade para evi­tar uma multa de trân­sito que havia cometido dez anos antes, e que pedira sua esposa que a assumisse.

Tam­bém, no mesmo país, agora em 2018, foi a vez de Michael Bates, que tem o título de barão, renun­ciar ao cargo no Depar­ta­mento de Desen­volvi­mento Inter­na­cional, um órgão do gov­erno britânico que aux­ilia países pobres, por ter chegado alguns min­u­tos atrasa­dos para o iní­cio de uma sessão onde respon­de­ria a per­gun­tas sobre sua atu­ação frente ao órgão.

Há poucos dias escrevi sobre o mau começo da atual leg­is­latura na Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão, com graves acusações mútuas entre os dep­uta­dos (um imputando a outro, e vice-​versa, práti­cas de cor­rupção, extorsão, chan­tagem, traficân­cia de influên­cia, etc.); ou um acu­sando o outro de plá­gio de pro­je­tos de lei; out­ros se engalfin­hando pelo apoio ou não a um time de fute­bol do inte­rior; ou, se anu­lando na prática de negar aprovação a requer­i­men­tos de infor­mação; ou, ainda, sendo desre­speita­dos pub­li­ca­mente por aux­il­iares de out­ros poderes.

Isso, para não falar nas graves denún­cias – as quais recuso o crédito –, de venda de emen­das ou mesmo de cargos.

Na minha ingenuidade e mania de duvi­dar do óbvio, jamais pode­ria imag­i­nar que pudesse pio­rar. Estava errado.

Dias depois daquele texto um dep­utado estad­ual, na cap­i­tal do estado viz­inho, após fazer uso exces­sivo de bebidas alcoóli­cas e, segundo o mesmo, medica­men­tos, envolveu-​se em uma mon­u­men­tal con­fusão com dire­ito à lesão cor­po­ral de out­ras pes­soas, desacato, ameaça de morte aos poli­ci­ais que o deteve, detenção, saindo da del­e­ga­cia de polí­cia, por fim, após “inten­sas con­ver­sas”, com um Termo Cir­cun­stan­ci­ado de Ocor­rên­cia — TCO.

Segundo dizem, não foi a primeira vez que sua Excelên­cia “apron­tou”. Noutra ocasião, aqui mesmo, na cap­i­tal do estado onde exerce o mandato, o dep­utado estad­ual, tam­bém, após fazer uso de bebidas alcóoli­cas (e sabe-​se lá que out­ros “medica­men­tos”), envolveu-​se num aci­dente de trân­sito cau­sando danos mate­ri­ais a diver­sas pes­soas. Ainda segundo dizem, a polí­cia mil­i­tar estad­ual ao invés de ado­tar as medi­das legais cabíveis, fez foi con­duzir o dep­utado até em casa, ou seja, deu-​lhe uma “carona”.

Pois bem, no mesmo dia do ocor­rido na cap­i­tal do estado viz­inho, o dep­utado emi­tiu uma nota nas suas redes soci­ais assumindo-​se como depen­dente químico e pedindo des­cul­pas públicas.

Achei sim­pática a ati­tude do dep­utado – e até me sol­i­darizo com o seu prob­lema. É fato que a dependên­cia química é uma doença que merece ser tratada.

Em toda minha vida sem­pre tive muita sim­pa­tia pelos enfer­mos, idosos, cri­anças, por todos os desvali­dos de uma forma geral, até porque tive poliomielite, sou defi­ciente, e sem­pre que podem os xerim­ba­bos do gov­erno estad­ual, fazem questão de estam­par que sou “alei­jado”, que sou manco, que sou “doidão”.

E vejam que esse é um gov­erno que se diz “inclusivo”.

Sig­amos. O fato do dep­utado ser depen­dente químico a dis­pen­sar trata­mento médico o que fez e, sobre­tudo, o que disse é algo muito grave a não com­por­tar o silên­cio das autoridades.

Disse sua Excelên­cia: “Vocês são polí­cia, né? A gente mata gente”. Mais: “Eu sou, eu sou mais que tu. Eu sou dep­utado, e sou rico. Vou man­dar te matar, vagabundo. Vou te pegar, eu te mato. Sou filho do ****. Per­gunta quem é ****. Eu vou te matar. Vou man­dar te matar”. E ainda: “Tá morto ele. Per­gunta quem é ****. Esse cara tá morto”, completou.

Não me recordo ter ouvido coisas tão graves da boca de um par­la­men­tar, em todos esses anos. Cini­ca­mente alguns adu­ladores reti­ram da boca do par­la­men­tar as palavras que disse, para colocá-​las na boca de outro cidadão chamado: Walker, John­nie Walker.

Inde­pen­dente do dep­utado ser depen­dente químico, de está alcoolizado, suas ações e suas próprias palavras não podem ser igno­radas. Até por que, aquilo que disse (ou con­fes­sou?) é o que se comenta no estado inteiro.

Ape­sar disso, não foi o que se viu. As autori­dades maran­henses, começando pela ALEMA parece que tomou “um porre” de perder a memória. Por isso mesmo ninguém lem­brou do ocor­rido com um dos seus mem­bros no final de sem­ana anterior.

Pelo site da Casa de Manoel Bequimão – e por suas redes soci­ais (Face­book) –, acom­pan­hei os tra­bal­hos na casa do povo durante toda a semana.

Não vi uma nota ofi­cial sobre o triste episó­dio, um posi­ciona­mento de qual­quer dos dep­uta­dos. Não se tem notí­cia, pelo menos no seu canal de notí­cias ofi­cial, de uma reunião da Mesa para tratar do assunto.

Ape­sar do pres­i­dente da Assem­bleia, instado a se man­i­fes­tar para uma matéria tele­vi­siva, dizer que o Con­selho de Ética iria apu­rar os fatos, tal assunto pas­sou foi longe dos debates das excelên­cias estad­u­ais durante toda a semana.

Sim­ples­mente fin­gi­ram que nada acon­te­ceu, que o fato de um dep­utado estad­ual dizer “a gente mata gente”, que é mais que as demais pes­soas, por ser dep­utado e ser rico, além de dizer tex­tual­mente que vai man­dar matar um poli­cial, não tem relevân­cia alguma.

Como, aliás, já tin­ham pro­ce­dido na leg­is­latura passada.

Tenho difi­cul­dades com o silên­cio. Ainda mais quando o silên­cio se opera em uma situ­ação de tamanha gravidade.

A Assem­bleia Leg­isla­tiva, com­posta por rep­re­sen­tantes do povo, no mín­imo dev­e­ria ter dado uma nota ofi­cial a ser repro­duzida em todos os veícu­los de comu­ni­cação, prin­ci­pal­mente no estado viz­inho, indi­cando que providên­cias iria tomar ou para se “sol­i­darizar” com o dep­utado ou, dizer que con­corda com o que ele fez e disse ou, ainda dizer que ele estava certís­simo ao dizer “a gente mata gente” e ameaçar man­dar matar o poli­cial que estava cumprindo seu dever.

O silên­cio, este sim, não com­bina com a situação.

Não é aceitável que se tenha uma casa de rep­re­sen­tantes do povo agindo como se não devesse sat­is­fação alguma à patuleia.

Nada. O silên­cio como resposta.

A mesma resposta, ou seja, o silên­cio, tam­bém foi ado­tada pelo par­tido do par­la­men­tar que desde sua fun­dação sem­pre “se vendeu” como defen­sor dos inter­esses da sociedade, dos dire­itos humanos, do respeito ao próximo.

Quando a situ­ação exigiu um esclarec­i­mento público à sociedade fin­giu que não era com ele, que “não con­hece” o deputado.

Vejam, se tanto a ALEMA quanto o par­tido tra­tou do assunto intra­muros – e não duvido que tenha feito –, não inter­essa, ambos devem esclarec­i­men­tos, posi­ciona­men­tos claro, per­ante à sociedade de dois esta­dos, para dizer o mín­imo, entre­tanto, já tendo se pas­sado uma sem­ana não foi o que se viu.

Apos­taram no esquec­i­mento do “patrão”, o povo.

As autori­dades do Poder Exec­u­tivo, tam­bém, pare­cem terem tomado “todas”, ficado esque­ci­dos. Elas que “pal­pi­tam” sobre tudo, até sobre “briga de viz­in­hos”, sobre­tudo, nas redes soci­ais, diante de um fato de tamanha gravi­dade não dis­seram, ofi­cial­mente e pub­li­ca­mente, nada.

Ora, talvez fosse impor­tante o próprio gov­er­nador esclare­cer que um ali­ado seu “de primeira hora”, na ver­dade ‚não disse o que disse, ou se disse o que disse, como autori­dade máx­ima, iria deter­mi­nar rig­orosa apu­ração sobre a “incon­fidên­cia” do par­la­men­tar de que “a gente mata gente”, sem con­tar que se escu­dou no pai para “arro­tar” toda valentia.

O pai do “valente” foi (não sei se ainda é) apoiador do atual inquilino dos Leões desde pretéri­tas cam­pan­has. Na época, não sei se com ver­dade, os adver­sários diziam que sua Excelên­cia rece­beu apoio incondi­cional do cidadão a quem filho (com desconto que se atribui ao alcoolismo) aponta como “chefe” dos que “matam gente”, “per­gunta quem é ***. Esse cara está morto”.

A família do “valente” priva da con­fi­ança do gov­er­nador, com um irmão, “até ontem” ocu­pando uma pasta do primeiro escalão do governo.

Como é que ninguém, nem Assem­bleia Leg­isla­tiva, nem par­tidos que apoiam o gov­erno, nem o gov­er­nador têm expli­cações alguma a dar a sociedade? Esse é o novo Maran­hão que nos prom­e­teram? Isso é o que querem para o Brasil caso cheguem à Presidên­cia da República?

O bode está na sala, ainda que fin­jam não vê-​lo não tem como dis­farçar o cheiro.

Abdon Mar­inho é advogado.