AbdonMarinho - AMIGOS PELO CAMINHO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AMI­GOS PELO CAMINHO.

AMIGOS PELO CAMINHO.

Por Abdon Marinho.

A NOITE prin­cip­i­ava engolir o dia quando o então dep­utado Ader­son Lago ini­ciou a oitiva do ex-​deputado Mar­cony Farias na CPI da Pis­to­lagem.

O auditório Fer­nando Fal­cão, da Assem­bleia Leg­isla­tiva estava lotado, com muitos da assistên­cia em pé aguardando aquele que seria um dos prin­ci­pais momen­tos da CPI. O dep­utado Ader­son Lago um dos mais respeita­dos par­la­mentares de todos os tem­pos no Maran­hão por sua inteligên­cia e per­spicá­cia, como inter­ro­gador.

O inter­ro­gado, um ex-​deputado estad­ual, tam­bém bas­tante respeitado e, como se dizia antiga­mente “pas­sado na casca do alho”.

— Dep­utado, o sen­hor con­hece fulano de tal? Per­gunta Ader­son Lago.

— Sim, sen­hor dep­utado, con­heci. Muito meu amigo, mor­reu. Responde Mar­cony Farias.

— E Sicrano de tal? Per­gunta o dep­utado da CPI.

— tam­bém con­heci, gente muito boa, mor­reu assim ou assado. Responde Mar­cony Farias.

— O sen­hor sabe dizer algo de de Bel­trano de Tal? Indaga o dep­utado Ader­son Lago.

— Sei, o con­heci muito, foi amigo do meu pai, de toda nossa família, mor­reu nesta circunstância.

E assim ia o dep­utado Ader­son Lago per­gun­tando sobre pes­soas e o ex-​deputado Mar­cony Farias respon­dendo sobre as mes­mas, sobre a amizade com elas, a forma como tin­ham mor­rido e nar­rando episó­dios sobre as vidas delas.

O dep­utado Ader­son Lago então fez a per­gunta que tirou risos da audiência:

— Sen­hor dep­utado, o sen­hor não acha estranho que todos esses seus “ami­gos” ten­ham morrido?

O ex-​deputado Mar­cony Farias não perdeu a viagem e respondeu-​lhe com uma pre­sença de espírito desconcertante:

— Acho não, sen­hor dep­utado, tanto assim que tenho mais ami­gos vivos que mor­tos.

A plateia foi ao delírio com a resposta. E, depois dela, se não me falha a memória, a sessão foi encer­rada.

Ainda está­va­mos nos anos noventa, não havia essa pro­fusão de apar­el­hos celu­lares gra­vando ou fil­mando tudo. A taquigrafia con­cen­trada nas per­gun­tas e nas respostas não reg­istrou – e não tinha como –, o clima daquela sessão. Uma pena, perdeu-​se um momento ímpar do par­la­mento estadual.

Assaltou-​me a lem­brança dos “ami­gos” do ex-​deputado Mar­cony Farias a que nos refe­r­i­mos acima a par­tir da provo­cação feita por um amigo.

Ele me chamou a atenção para fato de muitas pes­soas que apoiaram ou estiveram, ainda que cir­cun­stan­cial­mente, com o atual gov­er­nador Flávio Dino “ten­ham ficado pelo cam­inho”. Pelo menos, estes, vivos.

Na ver­dade, esse amigo ape­nas me fez recor­dar fatos que eu mesmo nar­rei em tex­tos ante­ri­ores.

Basta lem­brar o suce­dido com Roberto Rocha, com Waldir Maran­hão, com Zé Reinaldo e, agora, o ensaio feito em relação a Cleo­mar Tema na dis­puta pela FAMEM.

Em relação aos dois primeiros poder-​se-​ia até jus­ti­ficar: foram com­pan­heiros de uma chuva, não de uma uma caminhada.

Mas o que dizer em relação aos últi­mos?

Quando o ex-​governador José Reinaldo “inven­tou” a can­di­datura de Flávio Dino a dep­utado fed­eral já com o propósito de fazê-​lo gov­er­nador pos­te­ri­or­mente, con­fiou essa mis­são ao ex-​deputado Hum­berto Coutinho (já fale­cido), então prefeito de Cax­ias, e ao atual prefeito Cleo­mar Tema, que, naquela época, era prefeito de Tun­tum.

Foram estes, jun­ta­mente com o então gov­er­nador, que “que­braram lanças” para fazer do ex-​juiz um dep­utado fed­eral sem que este con­hecesse os cam­in­hos do Maran­hão pro­fundo.

Cumpri­ram com lou­vor a mis­são que lhes foi dada.

Em Tun­tum, o can­didato obteve Flávio Dino 8.801 votos; ape­nas para efeitos de com­para­ção, o segundo colo­cado, Pedro Fer­nan­des, obteve 3.544; ape­nas cerca de mil votos a menos que o can­didato a senador e cem votos a menos que o can­didato a gov­er­nador apoiado pelo prefeito no primeiro turno; em Cax­ias Flávio Dino obteve 20.825, con­tra 2.840 do segundo colo­cado, Sétimo Waquim.

O restante dos votos, além das artic­u­lações dos dois prefeitos, o próprio gov­er­nador tra­tou de arru­mar, graças a sua inques­tionável boa relação com a classe política.

Acred­ito que sua excelên­cia, naquela eleição nem teve a curiosi­dade de con­hecer os povoa­dos “Dois Irmãos” em Tun­tum ou no “Barro Ver­melho”, em Caxias.

Como é sabido eleição após a eleição o já ex-​governador con­tin­uou “que­brando lanças”, renun­ciando, con­cil­iando até que, final­mente con­seguiu o intento de fazer o “pro­te­gido” gov­er­nador do Maran­hão em 2014.

Nos qua­tro anos seguintes o ex-​governador José Reinaldo perseguiu um sonho: encer­rar a sua car­reira polit­ica como senador da República como rep­re­sen­tante do Maran­hão.

Con­tava com a ret­ribuição, pelo tanto que vez, do gov­er­nador Flávio Dino.

No final de 2017 o gov­er­nador anun­ciou, com dire­ito a lev­an­ta­mento de mão e tudo mais o seu “favorito”, o seu primeiro can­didato a uma das duas vagas ao Senado: seria o dep­utado Wev­er­ton Rocha, pres­i­dente do PDT.

E, fez pior, em relação ao ex-​candidato nat­ural, o seu padrinho politico, este teria que se “via­bi­lizar” junto as bases de sus­ten­tação ao gov­erno, con­forme declarou em entre­vista exclu­siva ao Jor­nal Pequeno. A segunda vaga iria para o “murro” como dizíamos no interior.

Ali, acred­ito eu, o ex-​governador tomou con­sciên­cia que jamais seria o can­didato do gov­er­nador por quem ele tanto lutou. Não move­ria “uma palha”, não faria um gesto. Fez cam­panha e “vestiu a camisa” dos seus can­didatos Wev­er­ton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS).

O resul­tado da eleição, como esper­ado, con­sagrou a vitória do gov­er­nador, em primeiro turno, dos seus can­didatos ao Senado, da maio­ria na Câmara dos Dep­uta­dos e da Assem­bleia Legislativa.

O ex-​governador ficou pelo cam­inho.

Sol­i­dariedade na der­rota só dos ami­gos verdadeiros.

Agora, por ocasião da eleição da Fed­er­ação dos Municí­pios do Estado do Maran­hão — FAMEM, a história se repete, o gov­er­nador ensaiou a mesma can­tilena e, por fim, anun­ciou sua “neu­tral­i­dade” ou seja, não “que­braria lanças” pelo ali­ado de primeira hora.

Segundo disse, apos­tava que hou­vesse con­senso, o que não acon­te­ceu.

Seria o caso de se per­gun­tar o que fez obje­ti­va­mente para que hou­vesse esse con­senso? Chegou chamar os con­tendores? Disse algo que pudesse uni-​los? Não se sabe.

O que ver­bal­izam seus adu­ladores é que pesou na “neu­tral­i­dade” a fidel­i­dade demon­strada pelo prefeito Tema ao ex-​governador José Reinaldo na última eleição para o Senado.

O que resta claro aos bons entende­dores é que o gov­er­nador já “tra­balha” de forma intensa no sen­tido de fazer o seu “senador favorito” o futuro gov­er­nador do Maran­hão. Colocá-​lo no “comando” da FAMEM é um passo sig­ni­fica­tivo neste propósito.

O prefeito Tema foi mais um amigo a ficar pelo caminho.

Ah, naquela eleição em que José Reinaldo, Hum­berto Coutinho e Cleo­mar Tema “que­braram todas as lanças” em favor do descon­hecido e obscuro can­didato a dep­utado fed­eral Flávio Dino, no Municí­pio de Igarapé Grande ele obteve 38 votos.

Fica o reg­istro para a posteridade.

Abdon Mar­inho é advogado.

PS. O suposto acordo cos­tu­rado pelo gov­er­nador na tarde de ontem (29÷01) pelo qual Tema foi “desis­tido” da dis­puta só con­firma o texto acima.