AbdonMarinho - ELES NÃO CANSAM DE CONSTRANGER O BRASIL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ELES NÃO CANSAM DE CON­STRANGER O BRASIL.

ELES NÃO CANSAM DE CON­STRANGER O BRASIL.

Por Abdon Marinho.

A DER­RADEIRA con­tribuição que os “int­elec­tu­ais” brasileiros – e de out­ras nacional­i­dades –, deram ao país foi elevá-​lo à condição de republi­queta de bananas. Daque­las que o mundo inteiro passa a olhar por conta de seus exotismos.

No último dia 17 de agosto fomos sur­preen­di­dos com uma notí­cia: A ONU deter­mi­nou que o ex-​presidente Lula par­ticipe das eleições.

Emb­ora soubésse­mos se tratar de uma notí­cia fake – ONU tem con­sciên­cia de suas respon­s­abil­i­dades –, acon­te­ceu, entre­tanto, uma delib­er­ação lim­i­nar de um comitê que usa o nome das Nações Unidas em seus despautérios.

Por aqui, os nos­sos “int­elec­tu­ais” e “juris­tas” começaram a escr­ever tolices nas redes soci­ais infor­mando que o Brasil estaria “obri­gado” a per­mi­tir que o ex-​presidente par­ticipe da dis­putas inde­pen­dente da sua condição de pre­sidiário e da leg­is­lação nacional, no caso a Lei da Ficha Limpa, que proíbe can­di­dat­uras de pes­soas nas condições do sen­hor Lula. Qual­quer um que esteja nes­tas condições – e temos mil­hares, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa não poderão ser sub­metido ao sufrágio.

Ape­sar do absurdo da situ­ação pas­sei a fazer algu­mas conjecturas.

Se nos ter­mos da decisão do tal comitê, a cam­panha mar­car um comí­cio – e deve­mos ter dezenas – é para Poder Judi­ciário deter­mi­nar a soltura do con­de­nado para que ele par­ticipe do ato? E, neste caso, o candidato/​presidiário se fará acom­pan­har por agentes da Polí­cia Fed­eral, não para protegê-​lo, como é de dire­ito aos can­didatos, mas para impedir que fuja?

E a Lei da Ficha Limpa? O TSE não pode aplicar ao ex-​presidente? Ele se tornou “acima da lei”?

Mais, a Con­sti­tu­ição Fed­eral nos ter­mos do artigo 5º. deter­mina: “Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, nos ter­mos seguintes: ..”.

Logo, para que a decisão da “ONU”, valha para o sen­hor Lula, ter­e­mos que per­mi­tir a todos os demais políti­cos que se encon­tram con­de­na­dos em duas instân­cias e impe­di­dos de con­cor­rer nas próx­i­mas eleições que par­ticipem do pleito.

Ainda há tempo de muitos deles, emb­ora pre­sos, requer­erem reg­istros em vagas remanes­centes ou forçando a renún­cia de alguns can­didatos para que pos­sam con­cor­rer? O que acham? Repito: são milhares.

Mas não é só. Como as eleições a par­tir desde ano serão finan­ciadas com recur­sos públi­cos, através do Fundo Par­tidário e do Fundo Espe­cial de Finan­cia­mento de Cam­panha (FEFC), o Estado brasileiro não ape­nas vai per­mi­tir que cor­rup­tos, crim­i­nosos con­de­na­dos em duas instân­cias, par­ticipem do pleito eleitoral, como tam­bém, que usem recur­sos públi­cos, dos cidadãos, nas suas cam­pan­has.

O cidadão não ape­nas terá que pagar com o suor do seu rosto por cam­pan­has políti­cas – o que já é um absurdo –, ban­cará, tam­bém, as cam­pan­has daque­les que a leg­is­lação deter­mina que não podem ser vota­dos.

Será que não cansam de humil­har a sociedade brasileira? Não lhes sobrou nem um pouco de ver­gonha na cara?

Como podemos perce­ber, à luz da leg­is­lação nacional, um “man­da­mento” da ONU neste sen­tido teria con­se­quên­cias desas­trosas para a esta­bil­i­dade política do país. Não ape­nas pela situ­ação do sen­hor Lula – que já custa uma pequena for­tuna men­sal para mantê-​lo preso –, mas porque teria que ser esten­dida a todos os demais que este­jam na mesma situ­ação.

O pior seria para o Judi­ciário que teria uma nova instân­cia revi­sora de suas decisões, o tal do comitê da ONU que se acha no dire­ito de se introm­e­ter nas decisões judi­ci­ais do nosso país e na política de cumpri­mento de penas.

Um processo no Brasil, com sorte, dura, mis­er­av­el­mente, cerca de cinco anos, em média, mobi­liza ser­ven­tuários da justiça, pro­mo­tores, juízes, desem­bar­gadores, min­istros, além dos advo­ga­dos, defen­sores públi­cos, etc., pes­soas que cumprem seu min­istério e fazem valer a leg­is­lação do país.

Aí, vem um grupo de pouco mais de uma dúzia de “ilu­mi­na­dos”, que não con­hece o processo, que não sabe do tra­balho que se teve para que se chegasse ao des­fe­cho que se chegou e, numa cane­tada só, “manda” que se faça de conta que tudo foi um equívoco, que quem está preso pode par­tic­i­par de eleições, debates, comí­cios, sabati­nas, e o escam­bau, porque eles assim dese­jam.

Ao meu sen­tir, com o perdão do que dis­cor­dam, não faz qual­quer sen­tido. E aprendi que uma lei, uma decisão judi­cial, um decreto, para ser legit­im­i­dade pre­cisa ter um mín­imo de sen­tido.

O Brasil é uma democ­ra­cia com todas as insti­tu­ições em pleno e reg­u­lar fun­ciona­mento a não dever nada a nen­huma outra, pelo con­trário, com muitas das nos­sas leis servindo de exemplo.

Não vive­mos sob a égide de uma ditadura, esta­mos às vésperas de eleições gerais mar­cadas e sub­meti­das a um cal­endário de todos con­hecido com tempo expres­sivo. Aliás, a própria Con­sti­tu­ição asse­gura que as regras eleitorais não podem ser alter­adas com menos de um ano da data mar­cada para ocor­rer o pleito.

O ex-​presidente foi con­de­nado – e por isso, como tan­tos out­ros, encontra-​se impe­dido de par­tic­i­par da vida política do país –, após submeter-​se a um processo reg­u­lar, com instân­cias judi­ci­ais reg­u­lares em plena vigên­cia de leg­is­lação penal con­sol­i­dada da democ­ra­cia brasileira.

Se ainda assim alguns acham que isso de nada vale, talvez, estes não busquem uma democ­ra­cia e, se é assim, qual o sen­tido de se realizar e par­tic­i­par de eleições reg­u­lares? Aliás, qual o sen­tido delas existirem?

Diante desta clara afronta à sobera­nia nacional por um órgão “lig­ado” a ONU, emb­ora só pos­suindo poder de recomen­dação, o gov­erno brasileiro tem o dever de for­mu­lar um protesto for­mal per­ante a direção da ONU con­tra esse tipo de intro­mis­são na política interna do país.

O comitê ao expe­dir uma lim­i­nar inau­dita altera parte (sem ouvir a outra parte) – emb­ora sem efeito prático algum –, causa con­strang­i­men­tos ao Brasil e a própria ONU, dando lugar à ideias autoritárias de quê a enti­dade se encon­tra a serviço de ide­olo­gias políti­cas.

E os que pen­sam assim não podem ser cen­sura­dos.

Ainda há pouco a Venezuela real­i­zou eleições de “car­tas mar­cadas” com quase toda a oposição presa e/​ou impe­dida de con­cor­rer, mar­cada segundo a con­veniên­cia do dita­dor de plan­tão, e não temos notí­cias que o tal comitê tenha expe­dido qual­quer lim­i­nar “deter­mi­nando” que a oposição par­tic­i­passe daquele pleito.

Vejam, nações do mundo inteiro protes­taram con­tra as eleições que ali­jou a oposição venezue­lana do pleito, ape­sar disso, não vimos o tal comitê expe­dir uma lim­i­nar proibindo que as eleições ocor­ressem sem a par­tic­i­pação dos opos­i­tores que estavam e/​ou estão pre­sos.

Vejam bem, lá são pre­sos políti­cos, estão encar­cer­a­dos em condições desumanas por protestarem con­tra um gov­erno que destruiu o país e levou a sua pop­u­lação à ruína. Só para reg­is­trar, esse ano aquele país encer­ará o exer­cí­cio finan­ceiro reg­is­trando mais de um mil­hão por cento de inflação. Isso mesmo: UM MIL­HÃO POR CENTO de inflação. Sua pop­u­lação por conta da mis­éria e da repressão está deixando o país como pode – os que podem sair.

Alguém tem visto o tal comitê protes­tar, expe­dir lim­inares con­tra o gov­erno Maduro.

Agora mesmo o régime da Nicarágua matou quase qua­tro­cen­tos civis em protestos con­tra o gov­erno e, nova­mente, não tive­mos notí­cias de nen­huma lim­i­nar do tal comitê deter­mi­nando o fim da matança.

O mesmo silên­cio que fez/​faz o comitê em relação à Venezuela, à Nicarágua, ape­nas para citar os exem­p­los mais recentes, fez e fazem estes mes­mos que bradam que “eleições sem Lula é fraude”, “Lula livre já”, “a ONU man­dou o Lula ser can­didato”.

O sen­hor Lula, difer­ente dos mil­hares de pre­sos políti­cos reais exis­tentes na Venezuela, Nicarágua, Cor­eia do Norte, Cuba, etc., é um preso comum con­de­nado, segundo as leis brasileiras, por cor­rupção e lavagem de dinheiro.

O Brasil difer­ente do que muitos dese­jariam – pois sem­pre ambi­cionaram trans­for­mar o país numa Venezuela ou Cuba –, é uma democ­ra­cia con­sol­i­dada onde não exis­tem pre­sos políti­cos e a pop­u­lação é livre para par­tic­i­par da vida política do país e expor seus pen­sa­men­tos, com garan­tias legais e con­sti­tu­cionais.

A defesa do ex-​presidente ao insi­s­tir em poli­ti­zar sua con­de­nação, desre­spei­tando as instân­cias judi­ci­ais brasileiras, só causa con­strag­i­men­tos tanto ao Brasil – dizem amar tanto – e aos órgãos inter­na­cionais que, inad­ver­tida­mente, acabam por embar­car neste tipo de dis­curso vazio que os sujeitam a ques­tion­a­men­tos quanto ao seus com­por­ta­men­tos em relação as situ­ações reais que lhes são postas.

Basta sen­hores! Respeitem a democ­ra­cia! Respeitem o Brasil!

Abdon Mar­inho é advo­gado.