AbdonMarinho - A ÉTICA SACRIFICADA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ÉTICA SACRIFICADA.

A ÉTICA SACRIFICADA.

Por Abdon Marinho.

COMO ESPER­ADO – e anun­ci­ado –, o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, reg­istrou a can­di­datura do ex-​presidente Lula ao cargo de pres­i­dente da República.

O ex-​presidente não com­pare­ceu ao ato, que con­tou com a par­tic­i­pação de inúmeros políti­cos e mil­hares de mil­i­tantes, por estar preso em Curitiba, Paraná, onde cumpre pena de doze anos e um mês a que foi con­de­nado em primeira e segunda instân­cias por cor­rupção pas­siva e lavagem de din­heiro.

O par­tido tem plena con­vicção que, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa, lei de ini­cia­tiva pop­u­lar e san­cionada pelo próprio ex-​presidente que agora, ainda que por um período ostenta o título de presidiário/​candidato, ele não poderá ser can­didato.

Assim, à primeira vista, o ato do par­tido reg­is­trar alguém que sabem afrontar os dita­mes da lei, sig­nifica que este par­tido tem pouco ou nen­hum respeito pela ou, no plural, pelas leis do país. Leis, estas, para as quais deram uma parcela de contribuição.

A própria Lei da Ficha Limpa tem na sua gênese a movi­men­tação do par­tido e dos movi­men­tos soci­ais aos quais têm inserção, para cole­tar os mil­hões de assi­nat­uras pedindo a lei, além de terem votado pela sua aprovação e, na pes­soa do ex-​presidente, tê-​la san­cionado.

Agora, advogam que a lei não vale ou, pior, não vale para eles.

Mais. Não sat­is­feitos ape­nas em se mostrarem indifer­entes as leis do país, os meios de comu­ni­cações rev­e­lam – e os mem­bros do par­tido não negam –, que nada lhes sobrou de ética.

Somos infor­ma­dos que para burlar a exigên­cia da idonei­dade, ou seja que o ex-​presidente não se encon­tra na condição em que se encon­tra: con­de­nado em duas instân­cias da Justiça e, por isso mesmo, preso e cumprindo a pena, os respon­sáveis pelo reg­istro da can­di­datura jun­taram uma cer­tidão da Justiça Fed­eral de São Paulo, estado onde o pre­tenso can­didato não se encon­tra con­de­nado e duas instân­cias, emb­ora responda à diver­sas ações.

Com efeito, a leg­is­lação eleitoral exige que seja apre­sen­tada a cer­tidão do domicílio eleitoral, mas, está cor­reto, ética e moral­mente, que um par­tido político cuja respon­s­abil­i­dade nos ter­mos do artigo 1º., da Lei Orgânica dos Par­tidos Políti­cos é asse­gu­rar, no inter­esse do régime democrático, a aut­en­ti­ci­dade do sis­tema rep­re­sen­ta­tivo e a defender os dire­itos fun­da­men­tais definidos na Con­sti­tu­ição Fed­eral, apre­sen­tar um doc­u­mento à Justiça que, sabida­mente, não cor­re­sponde à verdade?

Não enten­dem que este pro­ceder rep­re­senta uma ten­ta­tiva de burla à leg­is­lação? Não se con­strangem em ten­tar enga­nar a Justiça brasileira e, por exten­são, toda a sociedade, com este tipo de estratégia?

Insultam-​nos ao nos terem por “lesos”, por inca­pazes de com­preen­der o que efe­ti­va­mente se passa, que é tentarem “empurrar” uma can­di­datura até onde puder e depois substituí-​la pelo “poste” de plantão.

Ainda nos dias de tanta indigên­cia moral, será que existe ética nesta estraté­gia? Ou será a ética ape­nas um detalhe?

Ora, exceto, talvez, pelos Sur­mas – mem­bros de uma tribo iso­lada da Etiópia –, por alguma outra tribo iso­lada na Ocea­nia e, mesmo, na Amazô­nia brasileira e peru­ana, não há, na face da terra, quem ignore a situ­ação jurídica do ex-​presidente Lula.

Até que uma corte supe­rior des­faça a sua con­de­nação – se é que existe espaço para isso –, o sta­tus é de inelegível, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa.

Entre­tanto insis­tem, “frau­dando o bom senso” ao apre­sentarem uma can­di­datura que sabem inex­is­tente. Tanto assim que já escalaram a comu­nista Manuela D’Ávila para ser vice do vice tão logo a Justiça sepulte a candidatura.

Aqui não se dis­cute outra matéria. Se sua defesa vai recor­rer ou se recor­reu; se o Supremo vai mudar o entendi­mento ante­rior para “impedir” (veja, impedir) prisões em segunda instân­cia; e até mesmo o reg­istro da can­di­datura em si.

O que acho estu­pe­fa­ciente é que tiveram a ousa­dia de jun­tar per­ante a Justiça um doc­u­mento que sabem não cor­re­spon­der à real­i­dade dos fatos.

Os par­tidos e seus políti­cos, sobre­tudo, aque­les que já tiveram a respon­s­abil­i­dade de con­duzir os des­ti­nos país dev­e­riam pos­suir um mín­imo de ética, enten­derem que mesmo a política (prin­ci­pal­mente ela) não admite todo tipo de ban­dalha.

O Brasil inteiro assis­tiu a pres­i­dente do par­tido – e não ape­nas ela –, grace­jarem sobre a situ­ação jurídica do ex-​presidente, afir­mando ser legit­ima sua can­di­datura, ela, a pres­i­dente, indo além, afir­mando que cumpri­ram as for­mal­i­dades exigi­das na lei; out­ros sus­ten­tando uma suposta “plau­sivi­dade de dire­ito” que, até aqui, “mil e quin­hen­tos recur­sos depois” nen­huma instân­cia da justiça recon­heceu.

Advogam, estes valentes, que os fins jus­ti­fi­cam os meios – quais­quer meios –, mas que fins? Que basta cumprir a for­mal­i­dade buro­crática, ainda que ela não cor­re­sponda aos fatos? Tudo é válido na luta do poder pelo poder para voltarem a san­grar os cofres da nação?

Fico estar­recido ao assi­s­tir pes­soas que durante toda a vida se apre­sen­taram como campeões da ética, hoje igno­rarem o que sejam seus princí­pios mais ele­mentares. Pare­cem igno­rar, por exem­plo, que exis­tem val­ores morais, princí­pios éti­cos a serem obser­va­dos e que pos­suem um alcance bem supe­rior às refre­gas eleitorais.

Abdon Mar­inho é advo­gado.