AbdonMarinho - O TRIUNVIRATO ATRÁS DAS GRADES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O TRI­UN­VI­RATO ATRÁS DAS GRADES.

O TRI­UN­VI­RATO ATRÁS DAS GRADES.

Por Abdon Mar­inho.

A FOTOGRAFIA que acom­panha esse texto foi edi­tada, entre­tanto rep­re­senta bem mel­hor o momento atual que a orig­i­nal, pois mostra, 15 anos depois, o que se deu com o tri­un­vi­rato petista: os três homens mais fortes do Brasil, em 2003, estão, hoje, atrás das grades.

Os três con­de­na­dos por crimes diver­sos e respon­dendo por out­ros tan­tos deli­tos con­tra o país.

Naquele 2003, época da foto orig­i­nal, não tinha para ninguém: José Dirceu, o capitão do time, con­duzia a política do gov­erno recém-​instalado, era um espé­cie de primeiro-​ministro infor­mal, coman­dando os arran­jos políti­cos, a dis­tribuição de car­gos entre os ali­a­dos, fazendo fun­cionar a política de alianças que garan­tiu a eleição e garan­tiria a “gov­ern­abil­i­dade”, para isso, pouco inter­es­sava com quem faria os acor­dos e o que daria em troca; na econo­mia o todo-​poderoso czar Anto­nio Palocci, homem de con­fi­ança do par­tido, com a mis­são de fazer inter­locução com a “banca” finan­ceira e “azeitar» a engrenagem que faria fluir os recur­sos para um pro­jeto politico de hege­mo­nia; pairando sobre eles, o pres­i­dente Lula, o comandante-​em-​chefe do pro­jeto de poder em nome do qual não exi­s­tiria lim­ites entre o certo e o errado. O poder era um fim em si a ser atingido e man­tido, por dez, vinte, trinta ou cinquenta anos, talvez cem.

O resul­tado é o que esta­mos assistindo: o ex-​presidente, há quase dois meses ini­ciou o cumpri­mento da pena de 12 anos e um mês, no primeiro processo a que foi con­de­nado; Dirceu, há poucos dias ini­ciou o cumpri­mento da pena de mais de trinta anos; e Palocci, preso e já con­de­nado em primeira instân­cia a mais de doze anos de prisão, nego­cia acor­dos colab­o­ração com a justiça visando a redução desta e das demais penas que advirão.

A situ­ação dos três homens mais poderosos do país naquele, já longín­quo 2003, no momento é a mesma: os três estão atrás das grades. O que já é algo hor­rível e inimag­inável para qual­quer um ser humano e mais ainda ainda para quem se imag­i­nou e tin­ham a chance de um futuro dourado pela frente.

O des­tino pode ser difer­ente para um e pior para os out­ros dois – e muito mais gente –, na even­tu­al­i­dade, quase certa, da ou das delações de Anto­nio Palocci virem a ser homolo­gadas. Como homem forte da econo­mia e do par­tido tem infor­mações e ele­men­tos que pode afun­dar, se é que isso é pos­sível a situ­ação dos out­ros mem­bros do tri­un­vi­rato petista.

Nos basti­dores da política já dão como certo que a homolo­gação do acordo de colab­o­ração de Palocci aumen­tará, em muito, o calvário do Par­tido dos Tra­bal­hadores, que já tem a cúpula das últi­mas décadas já presa ou impli­cada nos mais diver­sos esque­mas, da ex-​presidente Dilma Rouss­eff e de muitas cabeças da banca econômica nacional.

Não é sem tris­teza que assisto a esse ocaso. O tri­un­vi­rato que assumiu o comando do pais em 2003 tinha tudo para ter o mais lumi­noso futuro e colo­car o Brasil no cam­inho da pros­peri­dade.

A eleição do sen­hor Lula foi inques­tionável, ninguém dis­cu­tia sua legit­im­i­dade para coman­dar o país; a larga maio­ria da pop­u­lação o apoiava; o con­gresso, for­mado quase sem­pre por pes­soas sem cred­i­bil­i­dade, não tinha como enfrentar o gov­erno que “sur­fava” nos mais ele­va­dos índices de pop­u­lar­i­dade; podiam fazer aprovar todas as medi­das que quisessem sem maiores embargos.

Ainda hoje me per­gunto o porquê de terem optado pelo cam­inho do fisi­ol­o­gismo; dos acor­dos espúrios; do “toma lá dá cá”, ao invés de con­stru­irem uma base de sus­ten­tação política com as mel­hores pes­soas do Con­gresso Nacional.

Ora, mesmo o PSDB que perdera a eleição e entre­gava o gov­erno, não tenho dúvi­das, apoiaria um gov­erno de união nacional. Vimos isso na tran­sição. O gov­erno de Fer­nando Hen­rique Car­doso facil­i­tou e apoiou em tudo que lhe foi solic­i­tado na troca de gov­erno. Mesmo a cessão de nomes para inte­grar o gov­erno e evi­tar maiores sobres­saltos foi ofer­tada a nova equipe, que con­tou, no primeiro momento, com este suporte.

Ape­sar de tudo isso preferi­ram apos­tar na política de «terra arrasada” satanizando o gov­erno ante­rior e se apre­sen­tando como “fun­dadores» da República, quem não lem­bra do bor­dão “nunca antes na história deste país”?

O resul­tado para o país das opções erradas que tomaram naquele momento são estas que esta­mos vivendo.

Foi o tri­un­vi­rato, que aparece na fotografia que ilus­tra esse texto, o respon­sável por quase tudo que o Brasil vem pas­sando, por vaidade, arrogân­cia e cin­ismo, os seus defen­sores não recon­hecem isso.

Entre­tanto, não há como fugir da real­i­dade de que foram eles – o tri­un­vi­rato –, e out­ros inte­grantes de ponta do chamado “núcleo duro» que fiz­eram a opção de lotear os gov­er­nos de Lula/​Dilma entre o que se tinha de pior da política brasileira.

Foram eles que mon­taram, coor­denaram, tin­ham con­hec­i­mento, par­tic­i­param ou silen­cia­ram enquanto as bur­ras da viúva eram alivi­adas.

Na sanha alu­ci­nada do «poder pelo poder”, não medi­ram as con­se­quên­cias que os seus atos trariam para o país. Man­tiveram e ampli­aram todos os esque­mas de cor­rupção em todas as áreas do gov­erno, investindo pesado no desmonte da Petro­bras, onde todos os recur­sos, inclu­sive os dos rou­bos, eram e são superla­tivos.

Agora mesmo, quando os vejo satanizar o gov­erno Temer, fico com a impressão que estão desconec­ta­dos da história. Agem como se esque­cessem que o Temer – e todos os que o cer­cam – não tivesse sido escol­hido por eles para vice-​presidente na chapa de Dilma e apre­sen­tado como uma espé­cie de gênio da polit­ica, o mais capac­i­tado, que pode­ria ocu­par tal cargo na sua ausên­cia. Nos enga­naram nisso tam­bém? Parece que sim.

O tri­un­vi­rato petista, atrás das grades, purga parte dos seus peca­dos. Infe­liz­mente são tan­tos, que a sociedade brasileira tam­bém é con­vi­dada a pagar a conta dos seus “malfeitos”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.