AbdonMarinho - MEU QUERIDO INIMIGO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

MEU QUERIDO INIMIGO.

MEU QUERIDO INIMIGO.

Por Abdon Mar­inho.

FOI o gênio de Fer­nando Pes­soa que cun­hou as belas palavras que seguem abaixo no poema “Autopsicografia”:

O poeta é um fin­gi­dor.

Finge tão com­ple­ta­mente

Que chega a fin­gir que é dor

A dor que dev­eras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sen­tem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas cal­has de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse com­boio de corda

Que se chama coração.

Quando o poeta nos brindou com tais ver­sos não con­hecia o poder de fin­g­i­mento que acomete os políti­cos brasileiros de uma forma geral e aos maran­henses em espe­cial.

Agora mesmo vejo dois lados da política maran­hense se diglad­iando, din­istas e roseanistas ou sar­ne­y­sis­tas, com ataques mútuos e críti­cas recíp­ro­cas, fin­gem uma antipa­tia que de fato não sen­tem. Pelo con­trário, ambos, os gru­pos, até se admi­ram e pode­riam, por vezes até demon­strarem mais afeto se não fosse a neces­si­dade de fin­gir, como aliás, vimos recen­te­mente, o coman­dante do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, sen­hor Már­cio Jerry, com “capo” do Sis­tema Mirante de Comu­ni­cação e irmão da pré-​candidata Roseana Sar­ney, Fer­nando, num agradável colóquio com dire­ito a efu­sivo abraço no velório do ex-​senador Epitá­cio Cafeteira.

Só não digo que tudo que comu­nistas e sar­ne­y­sis­tas mais que­riam nesta quadra política era o con­fronto entre eles, porque do lado dos atu­ais donatários do poder foi aca­len­tada a ideia de que pode­ria vencer a eleição por WO, ou seja, sem adver­sários, chapa única, com adver­sários só para dar o verniz da legit­im­i­dade, como, aliás, registre-​se, é a prática em todos os regimes autoritários que se prezam.

Os comu­nistas maran­henses son­haram e tudo fiz­eram (ou fazem) para afas­tar os demais con­cor­rentes da dis­puta, não se podendo aferir o nível do “con­venci­mento” que empregam e/​ou mesmo sua legit­im­i­dade em face do mod­elo de democ­ra­cia que vive­mos.

Espal­haram a não mais poder que fulano, sicrano ou bel­trano não seriam can­didatos, que seriam “con­ven­ci­dos” a não dis­putar.

Fora o mod­elo da can­di­datura única – com a ver­tente do adver­sário de “men­tir­inha” ou para con­star –, tudo que eles dese­javam era a can­di­datura de Roseana Sar­ney, pedi­ram isso diver­sas vezes e vice-​versa.

O grupo Sar­ney tam­bém era e é dese­joso deste con­fronto. Querem fazer a con­frontação dos gov­er­nos de Roseana com o do atual gov­erno do sen­hor Dino, a quem acusam de pouco ou nada fazer

São os “queri­dos inimi­gos”. A ambos inter­essa o dis­curso da “encruzil­hada do atraso” entre Sar­ney e Anti-​Sarney que, como mostrei em tex­tos ante­ri­ores, só tem lev­ado o Maran­hão para insignificân­cia e para a mis­éria do povo, ape­sar de ser, dos esta­dos da fed­er­ação, um dos mais ricos.

Este é o debate que querem travar e que, sabe­mos, não inter­essa ao Maran­hão e ao nosso povo. O debate para saber quem é o respon­sável pela mis­éria e quan­tos mis­eráveis cada um gerou. Se nos gov­er­nos da sen­hora Roseana foram ger­a­dos mais mis­eráveis que no atual gov­erno do sen­hor Dino; se a vio­lên­cia era maior lá ou agora; se a cor­rupção era maior ou menor, e por aí afora.

Ora, sabe­mos o que foram os gov­er­nos da sen­hora Roseana e esta­mos vendo o que é o gov­erno do sen­hor Dino.

São gov­er­nos que não apon­taram e não apon­tam um futuro de desen­volvi­mento para o estado. Eles não têm pro­je­tos de desen­volvi­mento e não pos­suem a capaci­dade de ouvir quem tenha. Admin­is­traram e admin­is­tram com per­spec­tiva do “arroz com fei­jão”, das obras públi­cas que são próprias de gestores munic­i­pais e não de gov­er­nos que têm a respon­s­abil­i­dade com o cresci­mento econômico do estado, a ger­ação de empre­gos e renda, obras estru­tu­rantes capazes de ele­var a econo­mia estad­ual de pata­mar.

Um dos maiores prob­le­mas do estado é a falta de emprego para os jovens, para os pais de família e, já vimos – e esta­mos vendo –, as ini­cia­ti­vas dos atu­ais “cor­diais adver­sários”, não foram capazes de apre­sen­tar soluções.

O quadro político atual só não se apre­senta pior diante da ter­rível per­spec­tiva, que se afig­urou, e que foi ven­dida, da can­di­datura única. Fora isso, o quadro do debate dicotômico entre comu­nistas e sar­ne­y­sis­tas é a segunda pior opção.

Extraio de pos­i­tivo do anún­cio de que a ex-​governadora Roseana se apre­senta para a dis­puta, ape­nas a pos­si­bil­i­dade de que seu ingresso incen­tive a par­tic­i­pação de out­ros políti­cos, com out­ras pro­postas de gov­erno para o debate. E que isso nos prive do debate ver­gonhoso de quem gerou mais mis­eráveis e mor­tos.

O Maran­hão pre­cisa que out­ros quadros políti­cos – já tes­ta­dos ou não –, entrem no debate político apre­sen­tando suas pro­postas para sair­mos do final da fila do desen­volvi­mento. Pre­cisamos de pro­postas de gov­er­nos auda­ciosas e que apon­tem para o desen­volvi­mento, para o cresci­mento econômico, com ger­ação de emprego e renda para os jovens; pre­cisamos inte­grar pro­je­tos de infraestru­tura nas diver­sas regiões do estado.

Para que isso ocorra é necessário que as pes­soas que têm ideias, além do debate dicotômico Sarney-​Anti-​Sarney, se apre­sen­tem, par­ticipem do debate político, dis­putem a eleição que se aviz­inha. Quem não se apre­sen­tar agora não terá qual­quer legit­im­i­dade no futuro.

Chega a ser patético que já tendo avançado tanto no século 21, a nossa pauta ainda seja da mis­éria, das estradas que se des­man­cham nas primeiras chu­vas, da vio­lên­cia que assom­bra a família.

Este é o debate da ver­gonha. Os brasileiros/​maranhenses não temos estí­mulo para votar num quadro que se afigura tão desalen­ta­dor.

Pre­cisamos que sur­jam mais nomes, com tra­balho, pro­je­tos, história de vida limpa, que nos apre­sen­tem soluções para os prob­le­mas do estado como per­spec­tiva de desen­volvi­mento real. Os nomes que se apre­sen­tam, pelo mostraram e mostram estão longe de rep­re­sen­tar alguma novi­dade neste que­sito.

O Maran­hão não avançará se insi­s­tirem no debate de “comadres” que ensa­iam. Pre­cisamos ir além disso e este é o momento.

E exis­tem out­ras pos­si­bil­i­dades de trazer o desen­volvi­mento para o estado, uma delas é o pro­jeto da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, que o senador Roberto Rocha encampa desde que ini­ciou seu mandato; tam­bém o pro­jeto do polo aeroe­s­pa­cial de Alcân­tara, que tem o dep­utado José Reinaldo, como um dos pre­cur­sores. Além disso faz-​se necessário con­hecer os pro­je­tos de desen­volvi­mento de out­ros políti­cos, como da pré-​candidata Maura Jorge que se coloca na dis­puta ou até mesmo de out­ros políti­cos, como por exem­plo, o dep­utado Pedro Fer­nan­des; Eduardo Braide, e out­ros que devem apare­cer mas que não me ocorre lem­brar no momento. O debate político atual é tão ordinário que nem nomes para lem­brar temos.

O que reputo como impor­tante é que saiamos deste dueto de uma pro­posta só. A pro­posta do atraso.

Até fin­gem que são pro­postas diver­sas mas no fundo, tem o mesmo viés e não apon­tam para lugar algum que de fato inter­esse aos cidadãos, aos jovens, aos sen­hores e sen­ho­ras, pais de famílias que pre­cisam fechar as con­tas no final do mês.

Abdon Mar­inho é advo­gado.