AbdonMarinho - ELEIÇÃO: A ESTRATÉGIA DO TERCEIRO TURNO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ELEIÇÃO: A ESTRATÉ­GIA DO TER­CEIRO TURNO.

ELEIÇÃO: A ESTRATÉ­GIA DO TER­CEIRO TURNO.

Por Abdon Mar­inho.

ACOM­PAN­HANDO o processo eleitoral desde a infân­cia, o que rep­re­senta quase quarenta anos de “janela”, con­fesso que tenho difi­cul­dades em fazer uma avali­ação do vem acon­te­cendo neste pleito, no Maran­hão.

Fal­tando pouco mais de qua­tro meses para eleição, os adver­sários do atual gov­er­nador, que, em tese, dev­e­riam cor­rer “atrás do pre­juízo” como no dito pop­u­lar, pare­cem pouco dis­pos­tos para a dis­puta. Não se ouve falar em for­mação de cha­pas, em críti­cas acalo­radas, em embates dire­tos. Até parece que ter­e­mos uma eleição com can­di­datura única, com o atual gov­er­nante gan­hando por WO.

E, é aí, neste cenário, que as coisas ficam mais esquisi­tas.

Vejam, a “trupe” gov­ernista não cansa de ocu­par todos os espaços de comu­ni­cação social, inclu­sive as redes “vendendo” a ideia de que a “fatura” está liq­uidada e que a vitória acacha­pante ocor­rerá logo no primeiro turno da dis­puta.

Pois bem, ao mesmo tempo que fazem isso, ven­dem a ideia de vitória por ante­ci­pação, tornam-​se se clientes pref­er­en­ci­ais da Justiça Eleitoral. São diver­sas ações, pelas mais diver­sas con­du­tas ile­gais, pro­postas, não ape­nas pelos opos­i­tores, mas tam­bém, pelo Min­istério Público Eleitoral.

Muitas das ações, pelo que noti­cia a mídia, tem fun­da­mento sólido, tanto que o MPE tem se inco­modado com as con­du­tas prat­i­cadas. E não se pode dizer que o gov­er­nador e seus ali­a­dos descon­hecem as leis. Ele próprio é jurista dos mais respeita­dos – seus ali­a­dos cos­tu­mam dizer que que foi aprovado em primeiro lugar no con­curso em que tam­bém foi aprovado o juiz Sér­gio Moro; seus adu­ladores ainda fecham a sen­tença dizendo que ele “pos­sui OAB” –, foi juiz eleitoral, o gov­erno, segundo dizem com certa troça, “tem mais advo­gado que gente”, ou seja, esta­mos falando de pes­soas ao menos teori­ca­mente com­pe­tentes e con­hece­do­ras da lei.

Assim, é de causar especie que, sem adver­sários fusti­gando, ensa­iando, pelo menos, na gar­ganta, que levará a vitória ainda no primeiro turno, insis­tam em desafiar a Justiça Eleitoral e colo­car em risco a “vitória certa”.

Se é certo que são com­pe­tentes e pro­fun­dos con­hece­dores da lei, fica-​se a dúvida se o desafio a leg­is­lação é per­pe­trado porque se acham acima da lei ou porque não têm tanta certeza da vitória ou, talvez, seja uma “estraté­gia” para levarem a eleição a um ter­ceiro turno.

Mas, perderão para quem? Se os supos­tos adver­sários, até o momento, não mostraram a cara ou dis­seram que irão para o embate.

Talvez, como já disse alguém, sem adver­sários, tra­balhe para perder para si mesmo.

A foto col­hida das redes soci­ais – e que acom­panha esse texto –, é um claro exem­plo do pouco apreço pela leg­is­lação eleitoral ou do receio que têm os inquili­nos de “perderem a eleição que gan­harão no primeiro turno” ou como disse, a prova cabal da “estraté­gia” de levarem a eleição para o ter­ceiro turno.

Na foto, o gov­er­nador e sua chapa apre­sen­tada for­mal­mente a pat­uleia: ele próprio, o vice-​governador e seus dois can­didatos ao Senado, e ainda, um can­didato a dep­utado fed­eral, tam­bém já apre­sen­tado for­mal­mente e dois can­didatos a dep­utado estad­ual, posam em cima de uma máquina de asfalto no lança­mento do pro­grama gov­er­na­men­tal “Mais Asfalto” no Municí­pio de Trizidela do Vale.

Acho que pouca coisa ilus­traria tão bem o “uso da máquina pública” quanto a foto em refer­ên­cia. Lit­eral­mente estavam usando “máquina”.

Vejam: numa sem­ana, em evento público, com dezenas de rep­re­sen­tantes de par­tidos e lid­er­anças políti­cas apre­sen­tam a chapa, dias depois essa mesma “chapa” aparece sobre maquinário de obras públi­cas. Isso tudo a pouco mais de qua­tro meses para o dia da eleição.

Não restam dúvi­das: só pode ser uma estraté­gia para levar as eleições para o ter­ceiro turno. É isso, pois não con­tentes ape­nas com o ato em si, tratam de ampliá-​lo com divul­gação e com­par­til­hamento infini­tos nas redes soci­ais.

Será que sur­girá algum áudio com pedi­dos de votos como foi feito outro dia num evento par­tidário divul­gado na rede mundial de computadores?

O que faziam pes­soas que não têm qual­quer lig­ação com aquela comu­nidade par­tic­i­pando de “lança­mento de pro­gra­mas públi­cos”, quê não cam­panha eleitoral? O que faziam pes­soas que não são agentes públi­cos “lançando” obras? O que faziam, inclu­sive autori­dades do primeiro escalão, sua­dos como tampa de chaleira, em comi­tiva, lançando sin­gela obra de asfal­ta­mento num municí­pio que nem é dos maiores, fal­tando tão pouco tempo para a eleição?

Ora, aque­las pes­soas “sobre a máquina” não estavam lá para verem o asfalto ou para oper­arem a máquina. Estavam lá para serem vis­tas pelos cidadãos. Coin­ci­den­te­mente eram as mes­mas pes­soas que estão com as pré-​candidaturas lançadas aos diver­sos car­gos em dis­puta.

Ainda que não façam “comí­cios”, peçam votos durante o ato ofi­cial, suas pre­senças têm o condão de dese­qui­li­brar o pleito. E isso é matéria de inter­esse da Justiça Eleitoral.

Causa espanto que pes­soas tão sábias, cer­ta­mente con­hece­do­ras dos lim­ites da lei; os lim­ites entre o que podem e o que não podem fazer, a linha – que não é tão tênue –, entre o legal e o ile­gal, cometam tan­tos desati­nos.

É isso que não con­sigo enten­der. Pois tanto o gov­er­nador quanto os demais que estiveram naquele ato – e em tan­tos out­ros –, têm plena con­sciên­cia disso, são con­hece­dores da lei. Logo, qual o sen­tido de desafi­arem a leg­is­lação, afrontar a Justiça Eleitoral, levar para a Justiça o resul­tado de uma eleição que, segundo eles mesmo dizem, está tran­quila? Liq­uidada em primeiro turno?

Seria ape­nas o desejo de darem “tra­balho” aos adver­sários? Estimulá-​los a saírem da letar­gia e entrarem na dis­puta? Trazer o Min­istério Público Eleitoral para o cen­tro das dis­cussões políti­cas, aumen­tando sua carga de trabalho?

Fosse eu o can­didato e estivesse tão certo da vitória, con­ven­cido que adver­sário algum me faria frente, jamais come­te­ria qual­quer deslize capaz de sus­ci­tar ques­tion­a­men­tos sobre a legit­im­i­dade do pleito. Pelo con­trário. Faria tudo no sen­tido da obe­diên­cia estrita da lei. Não fazendo e não per­mitindo que qual­quer ali­ado tivesse com­por­ta­mento dúbio capaz de sug­erir con­tro­vér­sias futuras. Estaria cuidando da con­fecção do terno da posse e cor­rendo mil­hares de quilômet­ros na esteira para estar em forma neste dia.

Pois é, estran­hamente, ape­sar de diz­erem que voam em céu de brigadeiro, comportam-​se como náufra­gos em busca da última tábua de sal­vação.

Já vi, noutras eleições, can­didatos que estavam mal posi­ciona­dos ou der­ro­ta­dos, tentarem levar a dis­puta para o ter­ceiro turno, can­didatos, suposta­mente, bem posi­ciona­dos, segundo eles mes­mos dizem, é a primeira vez.

Não tem qual­quer jus­ti­fica­tiva para com­por­ta­mento tão ata­bal­hoado e con­trário à leg­is­lação e ao bom senso.

Como disse, só pode ser uma estraté­gia mili­met­ri­ca­mente plane­jada para levar a eleição para o campo judi­ciário.

Uma outra jus­ti­fica­tiva seria o desejo de afrontar ou colocar-​se acima da lei. Vai enten­der, né? Acred­ito mais que seja uma estraté­gia. Eleição é uma coisa tão boa, mas tão boa, que ape­nas um ou dois turnos são insu­fi­cientes, bom mesmo é um “ter­ceirão” com a par­tic­i­pação das partes, procu­radores, advo­ga­dos e juízes.

Deve ser isso.

Abdon Mar­inho é advo­gado.