AbdonMarinho - ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS.

ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS.

NAQUELE 13 de dezem­bro de 1968, numa reunião min­is­te­r­ial do gov­erno do general-​presidente Artur da Costa e Silva, o coro­nel Jar­bas Pas­sar­inho, então min­istro do Tra­balho, hipote­cando incondi­cional­mente seu apoio ao Ato Insti­tu­cional nº. 5 – tido por muitos como aquele mais duro do Régime Mil­i­tar insta­l­ado qua­tro anos –, pro­feriu a seguinte frase: «Às favas, sen­hor pres­i­dente, neste momento, todos os escrúpu­los de consciência”.

Às favas com os escrúpu­los tam­bém foi uma peça no for­mato comé­dia escrita por Juca de Oliveira, dirigida por Jô Soares, da qual par­tic­i­param, o próprio autor, Bibi Fer­reira, Bár­bara Paz, entre outros.

Neste 1º de março de 2017, a famosa, polêmica e crit­i­cada frase de Jar­bas Pas­sar­inho encontrou-​se – ainda que indi­re­ta­mente –, mais uma vez, com a chamada «int­elec­tu­al­i­dade» brasileira. Nesta data, mais de qua­tro­cen­tos destes valentes int­elec­tu­ais sub­screvem um doc­u­mento onde con­cla­mam o ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva, a lançar-​se, desde já, como can­didato à Presidên­cia da República no próx­imo ano.

Sem con­tar o fato de que estão inci­tando o seu preferido ao come­ti­mento de um ilíc­ito eleitoral, uma vez que a leg­is­lação não acoita esse tipo de cam­panha ante­ci­pada, o texto deixa de trazer con­sid­er­ações impor­tantes para a vida nacional.

Em nen­hum momento os «int­elec­tu­ais» usam o termo hon­esti­dade ou pro­bidade admin­is­tra­tiva. Será que não con­sid­eram a cor­rupção, senão a maior, umas das maiores cha­gas a dene­gar dire­itos e dig­nidade ao povo brasileiro?

Outro termo ausente no man­i­festo «Por que Lula?» é o termo ÉTICA. Os valentes «int­elec­tu­ais» devem achar irrel­e­vante que os gestores públi­cos ten­ham na ética um norte a perseguir e a diri­gir seus passos.

Será que descon­hecem que a cor­rupção que tomou de assalto o Estado brasileiro, nos tirou a dig­nidade, o orgulho e autono­mia e que, por conta disso, somos motivo de cha­cota ao redor do mundo?

Será que não sabem que a fome é tem relação direta com os desvios de recur­sos para as con­tas dos cor­rup­tos que se locu­ple­taram e ainda se locu­ple­tam dos gov­er­nos petis­tas nos últi­mos 13 anos?

Será que não sabem, do mesmo modo, que os recur­sos da edu­cação, da saúde, da habitação, da inserção social, mesmo os recur­sos das aposen­ta­do­rias dos servi­dores públi­cos foram desvi­a­dos pela quadrilha insta­l­ada na Esplanada dos Min­istérios pelo gov­erno da companheirada?

Será que igno­ram que os pre­juí­zos que causaram a Petro­brás com suas políti­cas equiv­o­cadas, com o roubo delib­er­ado de suas riquezas são causas que levaram ao retro­cesso na explo­ração do pré-​sal e que apre­sen­tam como avanço estrangeiro sobre a sobera­nia nacional e suas riquezas?

Os «int­elec­tu­ais» brasileiros são de uma pobreza crítica de fazer ver­gonha a qual­quer cidadão min­i­ma­mente esclare­cido. Não cobram do ex-​presidente ou de seu par­tido, sequer, pas­mem, uma autocrítica, mas, ao con­trário, estão imbuí­dos no firme propósito de lhes con­ceder um salvo-​conduto para torná-​lo inal­cançável à lei intim­i­dando as autori­dades do Min­istério Público e do Poder Judiciário.

O man­i­festo tem o duplo sen­tido. A dupla intenção.

Os «int­elec­tu­ais» que falam no man­i­festo em Estado Democrático de Dire­ito, ten­tam jus­ta­mente o con­trário, como se estivessem em obstrução à Justiça. Não há Estado Democrático de Dire­ito sem insti­tu­ições fortes fun­cio­nando de forma reg­u­lar e cumprindo seus papéis con­forme des­ig­nadas pela Constituição.

Ao tempo em o «man­i­festo» dos «int­elec­tu­ais» fala que não é democrática a sociedade que sep­ara seus cidadãos em difer­entes cat­e­go­rias, faz o inverso ao colo­car os petis­tas e seus cúm­plices na cat­e­go­ria dos que são inim­putáveis, dos que estão fora do alcance da leg­is­lação penal.

Existe maior dis­tinção que essa?

Muitos anos depois daquele 13 de dezem­bro de 1968, assisti a uma entre­vista do ex-​senador Jar­bas Pas­sar­inho onde o mesmo se pen­i­ten­ci­ava pelas palavras que dis­sera naquela reunião. Por suas palavras.

Os «int­elec­tu­ais» que hoje sub­screvem o “man­i­festo”, não se acham no dever de cobrar, sequer, uma «mea culpa» seja pelas ações, seja pelas omis­sões cometi­das nos treze anos em que o ex-​presidente Lula e os seus estiveram à frente dos des­ti­nos da nação.

A falta de crítica dos «int­elec­tu­ais» sobre tudo que se deu no Brasil torna-​os pouco menos que cúm­plices. Não sei se perderam ou nunca tiveram quais­quer escrúpu­los – não ape­nas os de con­sciên­cia –, ou se é mesmo falta de ver­gonha ou caráter.

Abdon Mar­inho é advogado.

Abaixo o “Manifesto».

Por que Lula?

É o com­pro­misso com o Estado Democrático de Dire­ito, com a defesa da sobera­nia brasileira e de todos os dire­itos já con­quis­ta­dos pelo povo desse País, que nos faz, através desse doc­u­mento, solic­i­tar ao ex-​Presidente Luiz Iná­cio LULA da Silva que con­sidere a pos­si­bil­i­dade de, desde já, lançar a sua can­di­datura à Presidên­cia da República no próx­imo ano, como forma de garan­tir ao povo brasileiro a dig­nidade, o orgulho e a autono­mia que perderam.

Foi um tra­bal­hador, filho da pobreza nordes­tina, que assumiu, alguns anos atrás, a Presidên­cia da República e deu sig­nifi­cado sub­stan­tivo e autên­tico à democ­ra­cia brasileira. Desco­b­ri­mos, então, que não há democ­ra­cia na fome, na ausên­cia de par­tic­i­pação política efe­tiva, sem edu­cação e saúde de qual­i­dade, sem habitação digna, enfim, sem inclusão social. Apren­demos que não é democrática a sociedade que sep­ara seus cidadãos em difer­entes categorias.

Por que Lula? Porque ainda é pre­ciso incluir muita gente e rein­cluir aque­les que foram ban­idos outra vez; porque é fun­da­men­tal para o futuro do Brasil asse­gu­rar a sobera­nia sobre o pré-​sal, suas ter­ras, sua água, suas riquezas; porque o País deve voltar a ter um papel ativo no cenário inter­na­cional; porque é impor­tante dis­tribuir com todos os brasileiros aquilo que os brasileiros pro­duzem. O Brasil pre­cisa de Lula!