AbdonMarinho - UMA NOVIDADE DO SÉCULO PASSADO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA NOVI­DADE DO SÉCULO PASSADO.

UMA NOVI­DADE DO SÉCULO PASSADO.

DESDE que, suposta­mente, Mar­garet Thatcher, então Primeira-​ministra do Reino Unido, disse que o “social­ismo dura enquanto durar o din­heiro dos out­ros”, ou algo semel­hante, os assim chama­dos gov­er­nos pro­gres­sis­tas têm se des­do­brado para provar que ela estava certa.

Eles partem do pres­su­posto de que não existe riqueza hon­esta. Se você pros­perou – não importa as pri­vações que pas­sou, se acor­dou de madru­gada ou se foi dormir tam­bém na madru­gada por está tra­bal­hando incansavel­mente –, tem que pagar mais e mais impos­tos para sus­ten­tar aque­les que nunca tiveram dis­posição para o labor. Impres­siona que se dizem defen­sores dos “tra­bal­hadores”. A bem da ver­dade há um ind­is­farçável pre­con­ceito con­tra aque­les que os tra­bal­ham, con­tra aque­les que pro­duzem alguma coisa e que faz o país crescer.

Agora mesmo, por ocasião da dis­cursão sobre o lim­ite de gas­tos do poder público ou da urgente e necessária reforma da pre­v­idên­cia não são poucos os que atribuem aos empresários a respon­s­abil­i­dade pelo infortúnio do país. Exigindo maior cobrança de trib­u­tos e fim de todos e quais­quer incen­tivos fis­cais. Uns mais auda­ciosos chegam a dizer que um dos respon­sáveis pelo descon­t­role das finanças públi­cas e prev­i­den­ciária seria decor­rente da cri­ação do “sim­ples» uma modal­i­dade de cobrança para peque­nas e médias empre­sas, com deter­mi­nado fat­u­ra­mento, que pas­saram a pagar seus impos­tos através de uma única guia. Segundo os sábios esse tipo de incen­tivo rep­re­sen­taria para os cofres públi­cos um pre­juízo de 80 bil­hões de reais.

Trata-​se obvi­a­mente de uma insanidade. Os tra­bal­hadores e empresários do país já pagam trib­u­tos em excesso. São quase seis meses por ano tra­bal­hando só para arcar com a carga trib­utária e nem se fale nos demais pre­juí­zos decor­rentes da buro­c­ra­cia excepcional.

Se há dis­torções – e acred­i­ta­mos que exis­tam – elas pre­cisam ser cor­rigi­das, mas a classe pro­du­tiva não pode sofrer com a ele­vação da carga trib­utária, mais uma vez.

Os gov­er­nos têm o pés­simo hábito de só enx­er­gar no aumento de impos­tos a solução para resolver suas inefi­ciên­cias. Os gov­er­nos ditos pro­gres­sis­tas têm essa verve ainda mais acen­tu­ada pelo pre­con­ceito que trata­mos acima.

Vejamos um exem­plo dos nos­sos dias. O gov­erno “comu­nista» do Maran­hão resolveu ele­var os trib­u­tos e taxas. Só a alíquota de ICMS de alguns pro­du­tos pas­sou de 12% (doze por cento) para 18% (dezoito por cento); de 25% (vinte e cinco por cento) para 27% (vinte e sete por cento). Isso sig­nifica dizer, por exem­plo, que o cidadão que, numa conta de luz – que atinge todo mundo –, se paga R$ 12,00 (doze reais) na conta de R$ 100,00 (cem reais) pas­sará a pagar R$ 18,00 (dezoito reais), são R$ 6,00 (seis reais) que vai sair do pai de família que pre­cisa ali­men­tar a família. Isso num momento em que país exper­i­menta a crise mais aguda dos últi­mos anos, com o desem­prego alcançando quase 12 mil­hões de brasileiros.

O aumento do ICMS alcança os com­bustíveis, o que sig­nifica aumen­tará o custo de pas­sagens, ali­men­tos e tudo que dependa de trans­porte, ainda que digam que aumento não alcança o diesel, sabe­mos que ainda indi­re­ta­mente esse aumento virá.

Ficare­mos ape­nas nestes dois exem­p­los para ver­i­ficar o quanto é absurdo esse aumento de impostos.

Li, numa mídia qual­quer, que o gov­er­nador Flávio Dino atribuiu a rejeição à ele­vação da carga trib­utária aque­las pes­soas que são favoráveis ao esta­b­elec­i­mento do teto de gas­tos públi­cos e a reforma da pre­v­idên­cia ou os ladrões do din­heiro público e, ainda, aos que locu­ple­taram a vida inteira e agora perderam a boquinha. Ledo engano. Todos são con­tra o aumento de trib­u­tos implan­tado pelo exec­u­tivo com a conivên­cia da Assem­bleia Leg­isla­tiva, inclu­sive aque­les que defen­dem o teto e a reforma da previdência.

Se tem alguém defend­endo este despautério deve ser aque­les que estão obnu­bi­la­dos pelos encan­tos do poder e não se dão conta dos efeitos nefas­tos para sociedade, sobre­tudo para os mais necessitados.

Ainda não ouvi um amigo meu dizer que chegou ao posto de gasolina e ficou felicís­simo, soltou rojões ao encon­trar o com­bustível mais caro, dez ou quinze cen­tavos. Talvez exis­tam, eu que não os encontro.

Enten­demos que os gov­er­nos pre­cisam reduzir seus cus­tos, prin­ci­pal­mente os da máquina pública, quase sem­pre exces­siva e ine­fi­ciente. Neste sen­tido, o gov­erno do sen­hor Flávio Dino, foi um pri­mor em não seguir as regras bási­cas de um gov­erno enx­uto e eficiente.

Isso se deve à inca­paci­dade de ouvir opiniões de quem quer que seja. Lem­bro que antes mesmo do gov­erno começar e, tam­bém, logo depois, escrevi aler­tando para a crise que se aviz­in­hava e dizia que o gov­erno pode­ria e dev­e­ria fazer refor­mas estru­tu­rais na máquina pública. Tinha tudo para fazê-​las.

Como se dizia lá no inte­rior, o sen­hor Dino começou o gov­erno com a faca e o queijo na mão. Suce­dia a um grupo político no poder por quase 50 anos; elegeu-​se, como se diz na jargão «sem dever nada a ninguém”; sem gas­tos exces­sivos, com estado finan­ceira­mente em ordem. Pode­ria muito bem ter dado uma “limpa» no gov­erno, enx­u­gar toda a máquina pública e ainda, depois de colo­car todos os “seus», sobrar uma infinidade de vagas. O que se sabe é que não tirou quase ninguém e ainda colo­cou os «seus». O resul­tado, segundo dizem, é que o gov­erno do Maran­hão que ia muito bem, obri­gado, “inchou» o estado e, agora, começa a enx­er­gar a crise pelo retro­vi­sor e ela chegando cada vez mais rápido.

Na vã ten­ta­tiva de suprir as neces­si­dades, o gov­er­nador do estado vestiu-​se de Papai Noël às aves­sas: invés de trazer um saco com pre­sentes, nos traz um saco com mal­dades. Pior, ainda cobra sol­i­dariedade da pop­u­lação enquanto lhe enfia a faca nas finanças pes­soais, com a ele­vação de trib­u­tos que nat­u­ral­mente têm efeitos em cascata.

Vejam, até sou com­preen­sivo com gov­er­nos em tem­pos de crise, sei das difi­cul­dades pelas quais pas­sam os gestores, as cobranças, o din­heiro que não rende para nada. Mas no caso do gov­erno do Maran­hão a crise era anun­ci­ada, pre­vista, e ainda assim, não fiz­eram o dever de casa, pelo con­trário, agi­ram como surdos.

Agora, com caldo der­ra­mado, tenta – usando toda mídia que lhe é sim­pática –, impor à sociedade que o aumento de impos­tos é uma coisa muito boa, e que, aque­les que se opõe são os que tiveram inter­esses con­trari­a­dos; que roubaram o estado por toda vida; os antipa­trióti­cos, etc.

Me per­doem a sin­ceri­dade, mas essa ideia é absurda.

As medi­das apre­sen­tadas são ino­por­tu­nas e pouco efi­cazes. A pop­u­lação maran­hense passa por um momento de extrema neces­si­dade não dev­e­ria ser instada a con­tribuir com mais impos­tos, prin­ci­pal­mente quando o gov­erno não foi sufi­cien­te­mente efi­ciente na hora de fazer sua parte.

Como os impos­tos são «impos­tos» não temos como deles fugir. Mas pagare­mos o acréscimo na conta de luz, água, tele­fone e com­bustível, além dos demais, com imensa contrariedade.

Não con­tam com a minha sol­i­dariedade. O Maran­hão não crescerá com o empo­brec­i­mento do nosso povo.

Abdon Mar­inho é advogado.