AbdonMarinho - MINHA CASA, MINHA ÉTICA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

MINHA CASA, MINHA ÉTICA.

MINHA CASA, MINHA ÉTICA.

ACOM­PANHO o desen­ro­lar dos fatos em torno das peripé­cias imo­bil­iárias do ex-​presidente Lula e seus famil­iares. Agora mesmo o Min­istério Público de São Paulo o inves­tiga, e à sua esposa por conta do aparta­mento do Guarujá (SP). Suposta­mente o casal estaria ocul­tando patrimônio. Mais grave, seria uma forma de lavagem de din­heiro ori­undo de propinas de empre­sas já inves­ti­gadas na \«Oper­ação Lava-​Jato\».

São acusações por demais graves para qual­quer cidadão. Ainda mais quando este cidadão é um ex-​presidente da República, querido e odi­ado por muitos.

O Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, informa que irá fazer uma ampla cam­panha em defesa do seu líder máx­imo e pres­i­dente de honra. Cam­panha que, aliás, já começou, com seus ali­a­dos difundindo por todos os meios tratar-​se de uma orques­tração da dire­ita, da mídia, dos cox­in­has e tan­tas out­ras babo­seiras que cos­tu­mam dizer. Na defesa do líder, apelam para o ataque, mostram que este ou aquele empresário pos­sui um palacete, que aquele adver­sário pos­sui um aparta­mento mon­u­men­tal. Até para ex-​presidente FHC – que nada disse sobre o assunto e de quem col­hem alguns elo­gios à pes­soa da pres­i­dente –, sobrou ataques: acusam-​no de pos­sui um aparta­mento e Paris.

Cam­panha alguma seria necessária se os negó­cios imo­bil­iários do ex-​presidente não fugisse tanto do convencional.

Outro dia ouvi alguém dizer que não enten­dia tanta polêmica por conta do aparta­mento do ex-​presidente; de outra ouvi que ele, Lula, mais que qual­quer outro, mere­ce­ria morar bem, com­ple­tou: \«logo ele que fez tanto pelos pobres\».

Pois bem, por má-​fé ou ingenuidade, ten­tam desviar a atenção para o que real­mente importa na pre­sente questão.

Ora, ninguém – não as pes­soas sérias – ques­tiona o dire­ito do ex-​presidente pos­suir um apartamento.

Ele, prin­ci­pal­mente depois que deixou a presidên­cia, tornou-​se um homem rico. Só com palestras teria fat­u­rado quase trinta mil­hões de reais. É uma for­tuna con­sid­erável. Vá lá que se ques­tione o razão e o con­teúdo de tais palestras, ainda assim são val­ores que entraram de forma \«legí­tima\» em suas con­tas. Pode­ria supor­tar a aquisição do aparta­mento do Guarujá, mesmo o triplex da celeuma. Pode­ria, tam­bém, supor­tar uma reforma, adap­tação e mobília.

Mas o vicio pelo difer­ente acaba se impondo. Se a aquisição do imóvel foi lícita, uma com­pra nor­mal de cota, com prestações pagas de forma reg­u­lar, por que tan­tas ver­sões, tan­tos des­en­con­tros? Por que usar uma empre­it­eira para refor­mar? Uma outra para mobil­iar? Tudo sem custo. Não havia necessidade.

O mesmo raciocínio serve para sítio de Ati­baia. Não faço ideia de quanto vale, mas acred­ito que a for­tuna ameal­hada pelo palestrante mais caro do mundo seria mais que sufi­ciente para que com­prasse aquele ou outro imóvel e refor­masse a seu gosto. Não havia neces­si­dade do engodo, de se usar o nome de ter­ceiros, de se usar a empre­it­eira do amigo para refor­mar, de se pagar os serviços e mate­ri­ais em din­heiro vivo – con­forme con­sta dos autos.

Até os seus fil­hos, prin­ci­pal­mente os que desen­volveram um espe­cial tal­ento para os negó­cios, pode­riam morar, e bem, nos seus próprios imóveis, com­prado com o suor do \«tra­balho\» ao invés de ocu­par ami­gos e sócios.

A forma como as coisas estão postas, dão razão ao Min­istério Público para que acred­ite tratar-​se de ocul­tação de patrimônio, ou, pior, uma forma de rece­ber propina das gen­tis empreiteiras.

As des­cul­pas forneci­das pelos envolvi­dos e por seus advo­ga­dos são risíveis, chegam a ofender a inteligên­cia das pessoas.

Quer dizer que é nor­mal um ex-​presidente, esposa e fil­hos vis­itarem obras de um imóvel com o qual não têm relação alguma? Será que é nor­mal empre­it­eiras refor­marem e mobil­iarem imóveis para qual­quer do povo a custo zero? Será que é usual uma ex-​primeira-​dama man­dar deixar uten­sílios em imóveis que não lhe per­tence? Será que é comum um dono de empre­it­eira ir vis­i­tar uma reforma em um aparta­mento? Algum deles já foi no seu?

Nada disso é o que acon­tece na vida do cidadão comum. Empre­it­eiras não saem por aí fazendo refor­mas gra­ciosas ou dis­tribuindo mobílias. Pelo menos nunca acon­te­ceu comigo.

Outra coisa que não é comum é usar um imóvel alheio como seu de forma tão inci­siva a ponto de todos con­fundi­rem a pro­priedade dos imóveis. Caseiros, porteiros, pedreiros, engen­heiros e até os cidadãos viz­in­hos, sem­pre tiveram como pro­pri­etários dos imóveis ocu­pa­dos pelo ex-​presidente e seus famil­iares os próprios ocu­pantes. Ledo engano.

Pior que isso são as des­cul­pas esfar­ra­padas forneci­das pelas defe­sas do ex-​presidente, seja por dizer que nunca tiveram um aparta­mento – mesmo quando diver­sas pes­soas teste­munharam o entra e sai no pré­dio e o suposto \«não aparta­mento\» foi declar­ado a receita, seja por jus­ti­fi­carem como sendo nor­mal ofer­tar refor­mas e mobílias a autoridades.

Qual­quer pes­soa com um mín­imo de bom senso é capaz de deduzir que tudo é muito estranho e que não é razoável que um ex-​presidente e sua família ocu­pem por anos a fio e gra­tuita­mente imóveis que não lhes perte­cem, pior, sem pagar qual­quer locação.

Isso não é algo que acon­tece todo dia, com qual­quer um. Hoje, se um cidadão trans­fere ou recebe uma quan­tia em din­heiro, nem pre­cisa ser muita coisa, tem que declarar à receita fed­eral. Até o din­heir­inho das con­tas do mês e da mer­cearia trans­ferido para a conta da \«patroa\» pre­cisa ser comunicado.

Com o sen­hor Lula e seus famil­iares, querem nos fazer crer, que todos episó­dios nar­ra­dos diu­tur­na­mente são nor­mais. Não são.

Com tan­tos imóveis para habitar e a \«tal preço\», cer­ta­mente que o ex-​presidente não pre­cis­aria se inscr­ever num destes pro­gra­mas do tipo Minha Casa, Minha Vida, mas sim num do tipo Minha Ética, Minha Desculpa.

Abdon Mar­inho é advogado.