AbdonMarinho - A DIPLOMACIA IDEOLÓGICA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A DIPLO­MA­CIA IDEOLÓGICA.

A DIPLO­MA­CIA IDEOLÓGICA.

Mais de uma vez trata­mos da grave situ­ação da diplo­ma­cia brasileira, con­duzida, nos últi­mos anos, com base na ide­olo­gia dos gov­er­nantes. Ao que parece, a situ­ação atingiu o ápice – se bem que este gov­erno é sem­pre capaz de nos surpreender.

Há meses o gov­erno brasileiro «coz­inha» o embaix­ador israe­lense para o Brasil. A recusa é mate­ri­al­izada na não con­cessão do «agré­ment» a Danny Dayan, nomeado pelo país do Ori­ente Médio.

Não tenho notí­cias do Brasil recusar embaix­adores. Fora o breve inci­dente com o embaix­ador da Indone­sia, por conta do cumpri­mento de sen­tenças de morte con­tra brasileiros – depois aceito sem maiores trau­mas –, nem lem­brava mais da expressão “agré­ment”, ape­sar das muitas vezes que ouvi sobre o tema nas aulas de OSPB min­istradas pela pro­fes­sora Maria da Luz, no Liceu Maran­hense, e já se vão quase trinta anos.

Volte­mos ao tema principal.

A recusa ao embaix­ador tem por fun­da­mento, segundo fontes extrao­fi­ci­ais, o fato do mesmo ser defen­sor da ocu­pação, por seu país, de ter­ritórios na Cisjordâ­nia, sendo, inclu­sive um dos líderes dos colonos judeus. Registre-​se que agên­cias da ONU já se man­i­fes­taram con­tra tal ocu­pação e a reti­rada dos colonos de tais ter­ritórios. Registre-​se, ainda, que o Brasil é defen­sor da coex­istên­cia dos dois esta­dos (israe­lense e o palestino).

Pois bem, a per­gunta que se faz é: o fato de um cidadão, dev­i­da­mente nomeado por seu país, defender esta ou aquela posição ide­ológ­ica, que pouco ou nada terá de rel­e­vante com sua mis­são no Brasil, é motivo para o gov­erno recusar-​se a con­ceder o agré­ment? O gov­erno brasileiro entende que sim por isso tem «coz­in­hado o galo» na aceitação do embaix­ador israe­lense agra­vando, ainda mais as relações entre os dois países.

Outra per­gunta que se faz é se o Brasil com min­guadas relações bilat­erais pode tratar um país com Israel da forma que vem tratando. Esta não é a primeira vez que o gov­erno brasileiro fustiga aquela nação e seu povo.

Não estou aqui, de forma alguma, dizendo que se deva apoiar e endos­sar as políti­cas inter­nas de Israel, pelo con­trário, algu­mas são mere­ce­do­ras de críti­cas, mas, até para isso, faz-​se necessário a existên­cia de relações menos tensas.

Noutra ponta não podemos deixar de recon­hecer que a má von­tade em relação a Israel é de cunho mera­mente ide­ológico porque qual­quer um sabe que o Brasil não tem essa cautela toda em acol­her embaix­adores de out­ros países – muitos, sabida­mente, vio­ladores dos dire­itos humanos –, com é o caso de diver­sas ditaduras africanas, asiáti­cas, muitas, inclu­sive, fes­te­jadas pelo nosso governo.

E, nem pre­cisamos ir muito longe. Não faz muito tempo (acho cerca de um mês), a rede ban­deirantes de tele­visão exibiu uma série de reporta­gens sobre o nosso viz­inho boli­var­i­ano ao norte.

A série mostrou, além do desas­tre econômico que destruiu aquele país, graves vio­lações aos dire­itos humanos, como o caso de dois jovens que estão há quase um ano deti­dos na «tumba» – sede do serviço secreto do país –, uma espé­cie de mas­morra onde os jovens não têm, sequer, acesso à luz do sol, onde per­dem a noção do tempo, tudo isso sem culpa for­mada, sem serem apre­sen­ta­dos a um juiz (ainda que boli­var­i­ano), para que se con­doa da situ­ação deles. Vi o depoi­mento emo­cionado de suas mães. Estes entre out­ros casos mais graves de pri­sioneiros políti­cos, apar­el­hamento ide­ológico do Estado, exílio de con­ci­dadão, cercea­mento da liber­dade de expressão e de jul­ga­men­tos orquestra­dos, como bem con­fes­sou o pro­mo­tor que atuou no processo con­tra Leopoldo Lopez, con­de­nado a qua­torze anos de prisão.

O pro­mo­tor con­fes­sou que as provas con­tra o líder oposi­cionista foram for­jadas. Ainda assim, há meses, a esposa do político tenta ser rece­bida pelo gov­erno brasileiro e não consegue.

Aliás, o gov­erno brasileiro man­tém um servil e obse­quioso silên­cio em relação a todos os des­man­dos que vêm acon­te­cendo na Venezuela, até quando aquele país faz claras ameaças de ini­ciar uma guerra de expan­são con­tra a Guiana para abo­can­har dois terços do seu ter­ritório, nossa diplo­ma­cia emudece.

O com­por­ta­mento servil e obse­quioso ao régime de Cara­cas já vem de muito tempo. Nos oito anos de Lula, nos cindo de Dilma. Lá atrás, ape­nas para recor­dar, o Brasil par­ticipou e con­duziu a sus­pen­são do Paraguai – que sem­pre se mostrara con­trário ao ingresso daquele pais (Venezuela) no Mer­co­sul – e assim admi­ti­ram a Venezuela no bloco, ape­sar de não cumprir a cláusula democrática.

Nunca se soube bem a util­i­dade da Venezuela no Mer­co­sul, se deram alguma con­tribuição a mim é descon­hecida. Agora mesmo, logo após a eleição do Sr. Macri à presidên­cia da Argentina, o pres­i­dente Venezue­lano fez foi desejar-​lhe um pés­simo gov­erno. Esse é o tipo de com­por­ta­mento de quem quer o for­t­alec­i­mento das relações entre as nações sul amer­i­canas? Der­ro­tado nas urnas pela oposição que con­quis­tou dois terços do par­la­mento, ameaça “melar» o jogo.

O Brasil não ver nada disso. Não tem um gestor de repreen­são. Pelo con­trario, o que vemos são os mem­bros do gov­erno brasileiro saudarem como heróis da humanidade os caudil­hos que que­braram o país e levaram a pop­u­lação a exper­i­men­tar toda sorte privação.

E nem fale­mos das graves sus­peitas de envolvi­mento com trafico de armas e dro­gas para todo o mundo.

O que se percebe é que o país deixou de ter uma diplo­ma­cia profis­sional e con­sis­tente para mer­gul­har de cabeça na diplo­ma­cia de conivên­cia de cunho ideológico.

O Brasil cam­inha, mais uma vez na con­tramão da história.

Abdon Mar­inho é advogado.