AbdonMarinho - FALTA UM GRILO AOS LEÕES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

FALTA UM GRILO AOS LEÕES.

FALTA UM GRILO AOS LEÕES.

– Você é ape­nas um homem.

A frase acima era repetida por todo per­curso da parada, por um cri­ado posto ao lado de um César em tri­unfo, que fes­te­java mais uma vitória, um con­quista para o vasto e poderoso império romano.

A providên­cia tinha por propósito evi­tar que o imper­ador, adu­lado, fes­te­jado fosse tomado pela ideia que seria supe­rior aos demais. São muitas as ten­tações do poder, muitos são os aduladores.

Um livro que encantou-​me na infân­cia foi Pinóquio, o boneco de madeira que é muito lem­brado por crescer o nariz à medida que men­tia. Ouvi­mos muito isso. Que político fulano ou sicrano mente como Pinóquio; para que fique igual a Pinóquio só falta que lhe cresça o nariz; nariz de Pinóquio, tan­tos outros.

Na fábula, antes do boneco, o que me chamava a atenção era a sabedo­ria, os ensi­na­men­tos, a prudên­cia do grilo falante apel­i­dado de Pepe, que fora nomeado como a sua con­sciên­cia e que, como sabe­mos, nem sem­pre era ouvido.

Pen­sava sobre isso ao exam­i­nar a situ­ação do Maranhão.

Ven­cido quase um ano do mandato de Flávio Dino, sobra – ao menos a mim – a impressão que o gov­er­nador colocou-​se (ou foi colo­cado) numa redoma, onde poucos, lhe têm acesso. Assim, como poucos, exper­i­menta a chamada solidão do poder.

As pou­cas pes­soas que têm acesso ao gov­er­nador, são divi­di­das em três gru­pos: o grupo dos fãs, o grupo dos adu­ladores e o grupo dos par­a­sitas (aque­les de sem­pre). Nen­huma destas pes­soas, por admi­ração, tietagem ou con­veniên­cia, ousa dizer quando o gov­er­nador erra ou o acon­sel­har para que não cometa equívocos.

Pelas mes­mas razões o tem, equiv­o­cada­mente, como um gênio da raça humana, inca­paz de errar, de come­ter desatinos.

A solidão do gov­er­nador – a falta de alguém que lhe diga que cer­tas ati­tudes não com­por­tam ao chefe do exec­u­tivo estad­ual –, se tornou clara para mim no tris­te­mente famoso episó­dio de Lago da Pedra. À luz do fato não existe ângulo que torne con­fortável a posição do gov­er­nador e do governo.

Não tinha (e não tem) qual­quer cabi­mento o gov­er­nador envolver-​se num bate-​boca público com a prefeita do municí­pio ou com quem que seja. Diminui a autori­dade do cargo.

Primeiro, o gov­er­nador que disse ser plural, a serviço de todos os maran­henses, dev­e­ria man­ter uma salu­tar relação insti­tu­cional com todos os prefeitos, sejam eles de quais­quer lados ou cor­rentes política. Ainda que o gestor tenha um lado, o ente munic­i­pal não tem, e, todos pre­cisam do apoio do estado para se desenvolverem.

Segundo, não tem qual­quer sen­tido o gov­erno estad­ual realizar de um evento num municí­pio e não per­mi­tir que o prefeito par­ticipe, que tenha ceceado sua palavra. Se o cer­i­mo­nial do palá­cio tivesse excluído a fala do gestor, o gov­er­nador, até por uma questão de edu­cação e boas maneiras, dev­e­ria ser o primeiro a garan­tir e a se des­cul­par pelo «vac­ilo». Ade­mais, falta de edu­cação não com­bina com ninguém, muito menos com autoridades.

No caso especí­fico de Lago da Pedra, ambas as autori­dades, gov­er­nador e prefeita, pos­suem legit­im­i­dade, talvez, ela até mais que ele, uma vez que já foi eleita e reeleita pela pop­u­lação, enquanto que ele ainda está no primeiro mandato. Havia, sim, a neces­si­dade de se respeitar a autori­dade local, legí­tima, eleita pelo povo.

Ter­ceiro, até agora (quase um mês depois) não con­segui uma expli­cação plausível para a cen­sura à gestora munic­i­pal. Conhecendo-​a, não acred­ito que fosse come­ter qual­quer indel­i­cadeza com o gov­er­nador ou lhe fazer-​lhe uma des­feita ou ainda qual­quer crítica mais ácida e acima do tom. Ainda que o fizesse, ele pode­ria retru­car na sua opor­tu­nidade de falar. De mais a mais, quem tem medo de crítica não pode se aven­tu­rar na vida pública ou nos even­tos públi­cos. As críti­cas são as guarnições dos mandatos.

O resul­tado é que ficou feio para todo mundo: para a prefeita, para o secretário-​genro da prefeita, para os pre­sentes, que tiveram que teste­munhar esse tipo de «bar­raco». Ficou, feio, sobre­tudo, para o governador.

Faltou-​lhe o cri­ado de César. Faltou-​lhe o grilo que servia de con­sciên­cia a Pinóquio.

Mas a falta de con­sel­hos não se resume ao triste episó­dio do Mearim. Continuam.

O gov­er­nador decidiu vestir-​se de mil­i­tante político e trans­for­mar o Palá­cio dos Leões em trincheira na defesa do mandato da sen­hora Dilma Rousseff.

Trata-​se de um equívoco generalizado.

Mais uma vez, não apare­ceu uma viva alma para lhe dizer que não lhe cabe o papel de governador/​militante ou o palácio/​aparelho. Ainda mais com o governador/​militante dizendo que um regra­mento con­sti­tu­cional é um golpe nas insti­tu­ições e na democracia.

Ainda que o cidadão tenha uma posição política con­trária ao processo – por razões de cunho pes­soal ou íntimo –, o gov­er­nador não pode­ria ou não dev­e­ria ter. Ele é gov­er­nador de todos os maran­henses, os que são con­tra (acho que a mino­ria) e os que são favoráveis ao processo de impeach­ment da presidente.

Trata-​se de uma escan­dalosa balela essa história de defesa insti­tu­cional con­tra o golpe. A Con­sti­tu­ição, ele sabe bem, não é golpista. O Con­gresso Nacional e o Supremo Tri­bunal Fed­eral, muito menos. Ape­sar de todos os atro­pe­los as insti­tu­ições estão fun­cio­nando. O processo de impeach­ment de Dilma Rouss­eff não difer­ente do que foi sub­metido Color de Mello.

Pois é, fal­tou alguém para lhe dizer que não dev­e­ria se man­i­fes­tar como gov­er­nador, ainda mais para dizer que os defen­sores do impeach­ment, inclu­sive os mil­hares de cidadãos maran­henses, que votaram nele ou não, são «golpis­tas; ainda mais quando muitos destes «golpis­tas» estavam na linha de frente de sua cam­panha; ainda mais usando o palá­cio que é de todos os maran­henses. O Palá­cio pode­ria e dev­e­ria ser poupado de causa tão ingrata.

O gov­er­nador, caso tivesse alguém para lhe acon­sel­har, não per­mi­tiria que sua posição pes­soal, de mil­i­tante, fosse con­fun­dida com a posição de gov­er­nador, que pre­cisa dialogar com todas as forças políti­cas, com todas as tendên­cias, muito menos levar a enten­der que esta posição é uma posição de Estado. Não é, o Maran­hão é maior que seu gov­er­nador e que o seu governo.

O maior prob­lema do Brasil, segundo pesquisas, é a corrupção.

O excesso de ênfase que faz o líder do Maran­hão de um gov­erno, que mais que qual­quer outro, se iden­ti­fica com a cor­rupção – difí­cil encon­trar um setor imune à prática, que o diga os escân­da­los que pon­tif­i­cam na mídia diari­a­mente –, acabará por com­pro­m­e­ter seu próprio cap­i­tal político. O gov­erno Dilma Rouss­eff, caso supere o processo de impeach­ment, não pos­sui mais condições de con­duzir o país. Ficará como um cadáver insepulto a espal­har fedor e a assom­brar a nação.

Uma pena que não tenha essa com­preen­são; uma pena que não tenha no seu cír­culo alguém que tenha per­cepção da real­i­dade; uma pena que esteja cer­cado de fãs, adu­ladores ou oportunistas.

Uma pena que lhe falte ami­gos com cor­agem para lhe dizer a ver­dade. Alguém que diga que o gov­er­nador é ape­nas um homem.

Abdon Mar­inho é advogado.