AbdonMarinho - MISSÃO: ENXUGAR GELO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

MIS­SÃO: ENX­U­GAR GELO.

MISSÃO: ENX­U­GAR GELO.
Afirmo, sem medo de errar, que se ensa­iassem não rep­re­sen­tariam tão bem. O roteiro nos últi­mos tem­pos é o seguinte: a equipe de TV, o jor­nal ou mesmo um blogue, denun­cia um prob­lema de respon­s­abil­i­dade do estado ou do municí­pio exis­tente há dias, às vezes meses, ouvem as autori­dades com­pe­tentes e a resposta é a mesma que serve para tudo, que já sabiam do prob­lema é que mesmo será solu­cionado na próx­ima sem­ana, nos próx­i­mos dias, nas próx­i­mas horas. Dito isso, denun­ciantes e denun­ci­a­dos se dão por sat­is­feitos até uma nova denún­cia é um novo esclarec­i­mento, que é o mesmo ape­nas tro­cando a situ­ação.
A primeira per­gunta que vem a mente é por que não resolveram antes? Só resolvem os prob­le­mas da cidade, da admin­is­tração, após os mes­mos viraram manchete de jor­nal?
Por esses dias vi uma situ­ação que logo em seguida virou notí­cia. Fui à UFMA e con­statei que as pis­tas do Anel Viário na Areinha apre­sen­tavam diver­sos bura­cos e que a película asfáltica ced­era em vários pon­tos. À noite, foi batata, lá estava o assunto como manchete do jor­nal da TV Mirante e a Sec­re­taria de Obras respon­dendo à imprensa, não à pat­uleia, que resolverão o prob­lema nos próx­i­mos dias.
No caso, não temos sequer que inda­gar o por quê de não tê-​lo solu­cionado antes e ape­nas depois de denun­ci­ado para o inteiro. Deve­mos inda­gar é a razão de uma obra que mal foi inau­gu­rada ( se é que foi) já apre­sen­tar pon­tos com o asfalto estourado e com diver­sas crat­eras. Não faz sen­tido que isso ocorra, o asfalto é novo, a inter­venção nas vias, acred­ito, nem foi total­mente con­cluída, ainda assim, terão que, nova­mente, inter­romper o tráfego, per­tur­bar o sossego dos cidadãos para cor­ri­gir uma obra pública que foi mal feita, cujo din­heiro investido virou lama.
O alcaide não pode querer que a pop­u­lação lhe mande flo­res diante de uma situ­ação dessas.
O cidadão ficou até o fim de maio tra­bal­hando só para pagar impos­tos para ver seu imposto ir nas chu­vas do primeiro inverno e ser inco­modado infini­tas vezes pelos reparos con­ser­tos exigi­dos pela obra. Isso não é cor­reto, não é justo com os cidadãos. Ainda mais quando sabe­mos que ter­e­mos que pagar mais de uma vez pelo serviço e que os respon­sáveis, secretários, empre­it­eiros, fis­cais, e tan­tos mais mais quan­tos forem os cul­pa­dos, sequer sejam chama­dos à atenção, levem um puxão de orelha, sofram uma descom­pos­tura pública ou sejam demi­ti­dos. Será que o prefeito per­gunta ao secretário a razão da obra que acabou de fazer seja manchete nos jor­nais?
Emb­ora pareça nor­mal –já vimos isso à exaustão –, obras públi­cas não são feitas para serem reparadas a cada mês, a cada inverno, a cada ano, são – ao menos dev­e­riam ser – feitas para durarem vinte, trinta anos ou mais. Chega às raias do absurdo que obras públi­cas sejam refor­madas antes de serem inau­gu­radas, como parece ser o caso da obra do Anel Viário, como é o caso da dupli­cação da Avenida dos Holan­deses, como é o caso da Via Expressa, IV Cen­tenário, e tan­tas out­ras sob a respon­s­abil­i­dade do municí­pio ou do gov­erno estad­ual.
Outro dia um amigo me con­tou – acho que tam­bém saiu na tele­visão – o suplí­cio que é para os pacientes, cidadãos comuns ou servi­dores, chegarem à Unidade de Saúde do São Bernardo, tan­tos são os bura­cos que exis­tem nas duas vias de acesso. Disse que o paciente corre risco de mor­rer com os sola­van­cos ou de não chegar a tempo caso exija uma inter­venção ráp­ida. Esse amigo, como cidadão comum, que não neces­sita dos serviços daquela unidade, se sente revoltado com o trata­mento que o poder público dis­pensa aos pacientes. Mas revoltante, segundo ele, porque fiz­eram um tra­balho nas vias, tão mal feito, que já foi emb­ora nas chu­vas, ressurgindo os vel­hos e novos bura­cos, inclu­sive na porta da unidade obri­g­ando, pacientes e servi­dores a entrarem por um buraco que foi feito no muro.
Vamos com­bi­nar que não tem cabi­mento que isso ocorra na cap­i­tal do estado. Nem em lugar nen­hum.
Lem­bro que outro dia um jor­nal local divul­gou matéria mostrando diver­sas crat­eras no cen­tro da cidade, Cen­tro Histórico, inclu­sive, o patrimônio da humanidade. Como noutros casos estavam lá há sem­anas, quiçá meses. Sobre um, na rua da Mangueira, per­gun­tei a um amigo – que pas­sou na via e o ver­i­fi­cou in loco, como engen­heiro –, se o prob­lema era de difí­cil solução. Respondeu-​me que era serviço que levaria, no máx­imo, três horas para ser con­cluído, o tempo de chegar com um cam­in­hão de areia, con­ser­tar o cano, tapar o buraco com areia e repor os para­lelepípe­dos. Não tem sen­tido que um serviço que não levaria três horas para ser feito, leve sem­anas, meses e só seja feito após a imprensa «dá em cima».
Nen­huma admin­is­tração pode ter êxito se os encar­rega­dos de resolver os prob­le­mas só agem se insti­ga­dos ou, pior, se só tomam con­hec­i­mento dos assun­tos de suas respon­s­abil­i­dades pela imprensa.
Vez por outra vejo, nos meios de comu­ni­cação, o alcaide da cap­i­tal vis­i­tando uma ou outra obra, se não for tarde (acho que já perdeu muito tempo), recomendo que se mire no exem­plo de out­ros prefeitos que tiveram sucesso em suas gestões, um bom exem­plo foi o ex-​prefeito de Teresina, Wall Fer­raz, dirigiu aquela cap­i­tal por três opor­tu­nidades, quando fale­ceu a pop­u­lação for­mou filas quilométri­cas para ver seu esquife.
A influên­cia de sua gestão fez-​se sen­tir até em Timon, no lado de cá do Rio Par­naíba.
Um antigo aux­il­iar contou-​me, que ele, como prefeito, pouco par­ava no gabi­nete, pas­sava os dias per­cor­rendo a cidade, vis­i­tando os órgãos, acom­pan­hando o tra­balho nas sec­re­tarias. Usando um blo­quinho de notas, ia ano­tando tudo de errado ou malfeitos que encon­trava. Nas reuniões com os secretários, pas­sava ao respon­sável o que tinha visto e dava-​lhe um prazo para a solução do caso. Ven­cido o prazo cobrava.
O gestor pre­cisa con­hecer a cidade, viver os prob­le­mas dos cidadãos. Não adi­anta apare­cer nos locais que está fazendo algo e igno­rar as demais aflições do povo. Tem que saber o que se passa em cada sec­re­taria, chegar sem ser anun­ci­ado, sem séquito de adu­ladores, para ver como as coisas fun­cionam no dia a dia; vis­i­tar, sem aviso, esco­las, pos­tos de saúdes, feiras, mer­ca­dos, obras. Vis­i­tar as ruas dos bair­ros, andar na per­ife­ria. Ver­i­ficar se os presta­dores de serviço estão, de fato, fazendo um bom tra­balho ou se estão comendo o nosso din­heiro, aquele que o gestor prom­e­teu cuidar com zelo.
Se os olhos muitas vezes nos enganam, mais enganado está o que se deixa guiar ape­nas pelo que ouve.
O prefeito tem que con­hecer a real­i­dade da cidade com seus próprios olhos e não se deixar enga­nar pelos ouvi­dos, com as des­cul­pas esfar­ra­padas de aux­il­iares descom­pro­meti­dos, incom­pe­tentes e muitas vezes cor­rup­tos, que se man­tém nos car­gos graças ao tal­ento para baju­lar e vender facil­i­dades.
Abdon Mar­inho é advogado.