AbdonMarinho - E ASSIM, AVACALHAM O BRASIL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

E ASSIM, AVA­CAL­HAM O BRASIL.

E ASSIM, AVA­CAL­HAM O BRASIL.
O livreiro, con­hecido de lon­gas datas, pas­sou no escritório na intenção de vender-​me uns livros. No meio da con­versa diz: – Dr., ava­cal­haram o Brasil. Não lem­bro de ter visto, em toda minha vida, um clima de desmor­al­iza­ção maior que esse que esta­mos vivendo. Acho que no resto do mundo as pes­soas devem pen­sar que somos uma piada. O sen­hor viu essa do juiz passear no carro do Eike Batista? Como é que pode isso, doutor?
Entre tan­tas notí­cias ruins nos últi­mos dias – dólar nas alturas, mais um rebaix­a­m­ento da Petro­bras, os ban­di­dos vesti­dos de mocin­hos chamando para briga –, a cena mais enig­mática, foi, sem dúvi­das, a do juiz dirigindo o veículo que man­dara apreen­der do empresário Eike Batista. A cena rep­re­sen­tou, com lou­vor, a crise ética pela qual passa o país. Nen­huma des­culpa, por mais verossímil que seja, será capaz de des­fazer a imagem do absurdo e amainar a man­cha que ficou no Poder Judi­ciário. O mag­istrado pilotando o veículo sin­te­ti­zou no imag­inário pop­u­lar a famosa frase “batom na cueca”, para a qual não há des­culpa plausível. Sobre ela, aliás, tenho um amigo, que meu cos­tuma dizer: – Abdon, fora batom na cueca, o resto eu jus­ti­fico tudo. O batom na cueca é aquilo para qual não temos des­cul­pas. O juiz no veículo do réu, o piano na casa do amigo, é o batom na cueca do judi­ciário. Ou, como cos­tumo dizer, a piada pronta.
Emb­ora “ava­cal­hado» o Brasil, tem uma van­tagem: somos capazes de rimos e fazer humor com nos­sas próprias des­graças. E, enquanto todos está­va­mos, ainda, incré­du­los com a ousa­dia do mag­istrado (eu, no primeiro momento, cheguei a pen­sar que fosse men­tira, alguma armação da defesa do réu), os humoris­tas se far­tavam em pro­duzir charges e piadas sobre o fato. Apare­ceu de tudo: charge do juiz dirigindo o carro e dizendo que estava con­duzindo os “autos do processo”, o juiz vestido com roupas ínti­mas da ex-​esposa do réu e até mesmo usando uma coleira com o nome do empresário, que quando usada pela atriz Luma de Oliveira (a ex-​esposa), num dos car­navais da vida, acred­ito que há quase vinte anos, gerou uma polêmica sem fim na mídia e nos segui­men­tos fem­i­nistas.
O gesto do juiz, impen­sado, tolo, infan­til ou do que quer que queiram chamar, até fez alguns pen­sarem que o cidadão Eike Batista é uma inocente vítima da situ­ação, um pobre coitado, o que não é ver­dade. Ao longo dos anos esse cidadão vendeu ilusões e destruiu o patrimônio de muitas pes­soas. Na eminên­cia de que­brar pas­sou a se des­fazer dos bens, sendo público e notório que fez doação de gor­das fatias do patrimônio aos fil­hos e, segundo dizem, a out­ras pes­soas do seu cír­culo íntimo. Está, por­tanto, muito longe de ser inocente de alguma coisa, na ver­dade, muito se aprox­ima de um esper­tal­hão, que com emprés­ti­mos gen­erosos de ban­cos públi­cos, infor­mações priv­i­le­giadas dos cor­rup­tos que lhe davam guar­ida e sem qual­quer escrúpulo, fez for­tuna e enganou a todos, com a falsa ideia de que era um gênio dos negó­cios.
A tra­pal­hada do juiz não retira dele a condição proces­sual em que se colo­cou, devendo o Poder Judi­ciário, ficar atento para não servir de inocente útil ao empresário e sua defesa, per­dendo de vista tudo que come­teu em sua meteórica e curta car­reira nos negó­cios. Os pre­juí­zos cau­sa­dos, têm as autori­dades, o dever de bus­car a reparação, já que não tiveram ou foram omis­sos no dever de vig­ilân­cia. Não é porque um juiz não resis­tiu à ten­tação da osten­tação, que devem ser esque­ci­dos, os supos­tos crimes ou fraudes. Vou além, a cor­rege­do­ria que afas­tou o juiz do caso, antes de anu­lar todos os atos prat­i­ca­dos pelo mag­istrado tra­pal­hão, dev­e­ria era nomear um ou dois juízes para exam­i­nar os os mes­mos, e só aí, anu­lar, os que por­ven­tura, este­jam eiva­dos de vícios, con­va­l­i­dando os que estiverem cor­re­tos e moti­va­dos.
Entendo que é o inter­esse da sociedade, da econo­mia pop­u­lar que devam ser preser­va­dos. Não é pos­sível que se jogue fora tudo que foi feito até aqui, seja a inves­ti­gação, seja o processo em si. Alguém se dá conta de quanto custa movi­men­tar a máquina pública para inves­ti­gar e proces­sar alguém? Claro que não. Tudo é lançado nos ombros do infe­liz con­tribuinte.
Diante de fatos com o pro­tag­on­i­zado por este juiz, meu pai, com sua sabedo­ria de anal­fa­beto diria: – é um povo que não se dar o respeito, meu filho. É ver­dade, trata-​se de um povo que não pos­sui mais o respeito próprio, que não respeita os demais cole­gas (quan­tos jus­tos não pagarão pela vaidade deste juiz?), ou a insti­tu­ição que serve e que a todos dev­e­ria impor respeito.
Entre­tanto, tam­bém estas insti­tu­ições não são víti­mas. São anos e anos fazendo vis­tas grossas, fazendo imperar o cor­po­ra­tivismo, acober­tando os “malfeitos”, os vícios. Por conta disso, país inteiro está assim, neste clima de ava­cal­hação, nesta des­or­dem per­ma­nente.
No car­naval, num raro momento em que vi as notí­cia li sobre um entrevero de juiz estad­ual maran­hense com um ofi­cial da PMMA. A notí­cia bizarra dava conta que o ofi­cial com o dedo em riste para o mag­istrado o “man­dava” reti­rar dois trios-​elétricos que colo­cara para tocar numa cidade do inte­rior.
Não acred­itei na noti­cia logo que vi. Juro. Pen­sei que fosse erro ou se tratava de árbi­tro de fute­bol. Lem­bro que li a manchete e pen­sei: que p… é essa?
Primeiro: desde quando juiz de dire­ito é pro­moter de even­tos? Qual a razão para está provendo bailes car­navale­scos?
Segundo: o ofi­cial da polí­cia mil­i­tar estava em serviço? cumprindo ordens de qual autori­dade? Estava impondo sua autori­dade pela força bruta ou das armas?
Pelo li e pude con­cluir, tudo estava errado neste fato. Tudo fora de ordem. Ainda assim, não tomei con­hec­i­mento de nen­hum esclarec­i­mento das cor­rege­do­rias. Seja do TJMA, seja da PMMA ou da Sec­re­taria de Segu­rança. Todo mundo silen­ciou como o fato não tivesse exis­tido. Como se con­du­tas assim não não com­pro­m­etessem o bom nome das insti­tu­ições, como se os mem­bros estivessem, nos momen­tos de fol­gas, livres para fazer o que lhes viesse a cabeça.
Ninguém, nem as asso­ci­ações de classe, apare­ce­ram para se man­i­fes­tar sobre o fato. Nem para dizer que esse ou aquele estava certo ou errado. O que seria difí­cil, pois razão, a qual­quer dos lados pas­sou foi longe.
A imensa capaci­dade de pro­duzir escân­da­los não fica ape­nas neste tipo de coisa. Outro dia li, num jor­nal de grande cir­cu­lação, que em deter­mi­nadas causas judi­ci­ais exis­tem ver­dadeiros leilões, pas­sando a ter razão que ofer­e­cer a mel­hor pro­posta aos mer­cadores de decisões. A notí­cia dada, até citando caso con­creto, não sofreu qual­quer embargo ou ques­tion­a­mento. Ficou o dito pelo não dito.
Como ninguém diz nada. Impera o mutismo é como se estivessem livres para con­tin­uar e a per­pet­uar os erros. Uma licença para con­tin­uarem a ava­cal­har o país. Mais ainda.
Abdon Mar­inho é advo­gado.
(A ilus­tração foi col­hida da internet).