AbdonMarinho - A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA

A FARSA DA HISTÓRIA OU HISTÓRIA DA FARSA.

Por Abdon C. Marinho.

QUEM já se deu ao tra­balho de estu­dar um pouquinho de história (não pre­cisa ser his­to­ri­ador) deve saber que desde sem­pre os inter­esses econômi­cos são pre­pon­der­antes nas alter­ações de coman­dos dos países, sobre­tudo, naque­les em que os proces­sos democráti­cos ainda pos­suem frag­ili­dades.

Quan­tos golpes de esta­dos não viven­ci­amos nos últi­mos duzen­tos, cem anos, ao redor do mundo? Quanto não lucraram as empre­sas que deram sus­ten­tação ao fas­cismo ou ao nazismo? Até com os mil­hões de mor­tos lucraram bil­hões. As câmaras de gás ou os fornos onde mil­hões perderam a vida tinha uma história de lucro por trás.

Quan­tas guer­ras não foram pro­movi­das na África por inter­esses econômi­cos? Se pux­amos pela memória, até a escravidão que enver­gonhou e enver­gonha o mundo por sécu­los foi pro­movido a par­tir dos inter­esses econômi­cos de empre­sas – e até de países.

Guer­ras, gov­er­nos depos­tos, ditaduras se suce­dendo, vezes para aten­der aos inter­esses de min­er­ado­ras, vezes para aten­der inter­esses de petroleiras … e por aí vai.

Muitas das vezes para aten­der os inter­esses de seus gru­pos econômi­cos, gov­er­nos usaram da própria força para der­rubar out­ros gov­er­nos em nações mais frágeis.

Isso é (foi) o que mais vimos ao redor do mundo, seja na África, na Ásia, nas Améri­cas ou no Caribe.

Mesmo no Brasil, na ditadura instau­rada em 1964, os inter­esses econômi­cos de empre­sas nacionais e, prin­ci­pal­mente, transna­cionais, foram deci­sivos.

Infe­lic­i­taram o país por duas décadas enquanto lucravam as cus­tas do sangue e do suor dos tra­bal­hadores brasileiros.

O dis­curso, já sur­rado de out­ras con­tendas era a liber­dade ameaçada.

Querem tirar a “nossa”liberdade! Bradavam.

Em nome da tal liber­dade, da tal democ­ra­cia, tan­tos crimes se cometeram …

Hoje o núcleo do poder econômico mudou. Não são as grandes min­er­ado­ras, as petroleiras ou sis­tema bancário que detém o poder econômico.

Os homens e empre­sas mais ricas são as voltadas para a tec­nolo­gia e, a cereja do bolo econômico, as chamadas Big techs.

Nos últi­mos anos essas empre­sas “invadi­ram” nos­sas vidas e pas­saram a ser inte­grantes dos nos­sos lares, prin­ci­pal­mente as redes soci­ais.

Por viver­mos cem por cento do nosso tempo conec­tadas a elas pas­samos a vê-​las como “da família” e não como empre­sas capazes de tudo para auferirem lucro.

Como ensina o dito que o poder cor­rompe e o poder abso­luto cor­rompe abso­lu­ta­mente, essas Big techs pas­saram a ditar diver­sas nor­mas e a tentarem se imporem acima das leis dos países onde auferem seus lucros.

Con­fi­antes no poder econômico que pos­suem fazem pouco caso das decisões judi­ci­ais e instruem seus advo­ga­dos a recor­rerem indefinida­mente nas deman­das cau­sando sérios pre­juí­zos, inclu­sive, para aque­las pes­soas que são suas colab­o­rado­ras e que as aju­dam nos vas­tos lucros que auferem.

A situ­ação é tão escan­dalosa que já até virou meme – esse um termo próprio da lin­guagem das redes.

Certa vez, ao pegar um caso con­tra uma dessas empre­sas recebi o tal “meme” onde mostrava que per­dendo a demanda iriam recor­rer, recor­rer, recor­rer, até que não sobrassem mais recur­sos no orde­na­mento jurídico.

Essa é uma real­i­dade que é viven­ci­ada por muitos brasileiros.

Esse pouco apreço pelas insti­tu­ições e pelo próprio Poder Judi­ciário nos últi­mos dias gan­hou um novo com­po­nente quando um “dono” de uma rede social através de uma fake news ou não, ameaçou des­cumprir as decisões judi­ci­ais ainda que emanadas das mais ele­vadas cortes do país.

Vejamos, con­forme já dito de forma exaus­tiva, desde que o mundo é mundo que o poder econômico “diz o dire­ito”, mas isso sem­pre se deu de forma disc­reta, mesmo quando patroci­navam guer­ras e pro­moviam golpes, pelo menos pub­li­ca­mente, não ousavam tanto.

Como nunca visto, nos últi­mos dias, um empresário do setor de redes soci­ais entrou em con­fronto com um min­istro da suprema corte de um país e, de que­bra, como dito, ameaçou não mais cumprir as decisões judi­ci­ais e a inter­ferir, com ilações, no processo eleitoral do país.

A impressão que me restou foi de estar­mos de volta aos anos 40, 50 ou 60 do século pas­sado, em uma republi­queta de bananas do Caribe ou da América do Sul.

Não temos reg­istros em quais­quer democ­ra­cias, que sejam recon­heci­das como tais, de empre­sas ou empresários agindo de forma tão acin­tosa con­tra uma nação e suas insti­tu­ições. Cheg­amos ao ponto de, fazendo coro, ao pros­elit­ismo e ao rad­i­cal­ismo dos nos­sos dias, empresa/​empresário acusarem o sis­tema eleitoral e as eleições legit­i­mas – recon­heci­das por todas as nações do mundo –, como fraud­u­len­tas.

Trata-​se algo muito sério, até porque faz a acusação e ilação de fora do país e longe do alcance das autori­dades para que prove o alegado.

Não é sem razão que disse anos atrás que, com o poder que det­inham, pode­riam pro­mover golpes de estado em quais­quer lugares do mundo.

Quer nos pare­cer que resolveram “tes­tar” a teo­ria no nosso país.

O pior dessa farsa histórica é que muitos por descon­hec­i­mento da história, por serem incau­tos ou por colo­carem os inter­esses de suas facções políti­cas acima de tudo, até dos inter­esses da própria nação, “embar­cam” na ideia do “empresário” lib­ertário, herói que pensa nos inter­esses do povo acima dos seus próprios e os tem por “sal­vadores”.

Não acred­ito, como dizem, que lutam pela liber­dade. Não é ver­dade, ainda ontem estavam imbuí­dos no propósito de der­rubarem um gov­erno eleito.

Apos­tam na bal­búr­dia polit­ica para lucrarem – inclu­sive com os “cliques” de suas posta­gens escan­dalosas e/​ou men­tirosas –, e para testarem suas próprias forças.

As insti­tu­ições brasileiras têm o dever moral de repelir com veemên­cia esse tipo de intro­mis­são e de exi­gir que cessem com tais com­por­ta­men­tos e, ainda, que respon­dam, nos ter­mos da lei, caso ten­ham cometido algum crime tip­i­fi­cado na leg­is­lação penal.

Os prob­le­mas do nosso pais pre­cisam ser resolvi­dos pelos brasileiros.

Não é con­ce­bível que uma nação como a nossa seja tratada como uma republi­queta de bananas.

A defesa insti­tu­cional da nação cabe a todos os brasileiros.

Não pre­cisamos e não aceita­mos a tutela de ninguém.

As empre­sas e empresários transna­cionais que se ocu­pem dos assun­tos dos seus países, a fome, a mis­éria, os prob­le­mas da imi­gração, do uso desen­f­reado de dro­gas, da falta de uma saude uni­ver­sal e de suas próprias ten­ta­ti­vas de golpe, con­forme viven­ci­amos na eleição passada.

Empresário ou empre­sas, ali­adas ou não de segui­men­tos nacionais, nada mais são do que golpis­tas.

E isso não podemos aceitar.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.