AbdonMarinho - Trinta anos de uma campanha memorável.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Trinta anos de uma cam­panha memorável.


TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL.

Por Abdon C. Marinho*.

Episó­dio 1 — Fatos históri­cos ante­ri­ores.

ENQUANTO me preparo para mais uma cam­panha eleitoral – leitura de res­oluções, regras, entendi­men­tos, debates sobre o que vai ou não poder se fazer –, min­has lem­branças foram sendo tomadas por flash­backs daquela que, para mim, foi a mais impor­tante cam­panha que par­ticipei.

Falo da cam­panha eleitoral de 1994 – aquela que gan­hamos e não lev­a­mos.

Os indi­cadores do IBGE apon­tam o nosso estado “ainda” na rabeira de tudo. Por der­radeiro saiu de renda per capita e lá estava o Maran­hão com uma renda de menos de mil reais, um com­par­a­tivo com um mais ele­vado, chega a ser menos de um terço da renda per capita do Dis­trito Fed­eral, que encabeça a lista. Antes dessa tinha saído a de esgo­ta­mento san­itário, mais uma vez, lá atrás; e, antes ainda indi­cadores edu­ca­cionais (os foi de infraestru­tura?), atrás. Pouca difer­ença faz qual é o indi­cador, rara­mente o nos desta­camos de forma positiva.

Esses números e fatos me fiz­eram pen­sar: e se em 1994, além de gan­har­mos, tivésse­mos lev­ado a vitória para “casa”? Se tivésse­mos feito a “tran­sição” de poder com Cafeteira? O Maran­hão seria um estado mel­hor? Teríamos nos desen­volvido como fiz­eram out­ros esta­dos ao romperem com suas oli­gar­quias estad­u­ais?

Em 1986, Cafeteira elegeu-​se gov­er­nador numa aliança com o grupo do arqui-​inimigo Sar­ney, alçado à presidên­cia da República por conta da morte de Tan­credo Neves. O grupo “Nossa Luta”, for­mado por diver­sas lid­er­anças cam­pone­sas, lid­er­ado por Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, José Car­los Sabóia, José Costa, Celso Veras, e tan­tos out­ros, inte­grava o PMDB (Par­tido do Movi­mento Democrático Brasileiro) e apoiou, em torno de alguns com­pro­mis­sos, a eleição de Cafeteira, em 1986.

Deve­mos lem­brar que em 1986, após a eleição de Tancredo/​Sarney o país ainda fazia uma tran­sição do bipar­tidarismo para o sis­tema pluri­par­tidário que vive­mos até hoje. Todos os que eram con­tra a ditadura ficaram “hospeda­dos” no MDB.

Um esclarec­i­mento: até o iní­cio da rede­moc­ra­ti­za­ção do país os par­tidos políti­cos não eram chama­dos par­tidos, com isso tín­hamos a ARENA, que dava sus­ten­tação ao régime mil­i­tar e o MDB, onde ficavam todos que se opun­ham ao mesmo.

Com o iní­cio da aber­tura política a ARENA transformou-​se em PDS; e por ocasião da eleição indi­reta no Colé­gio Eleitoral, surgiu a dis­sidên­cia do par­tido chamada “Frente Lib­eral”, que pos­te­ri­or­mente veio a chamar-​se Par­tido da Frente Lib­eral — PFL.

Além do MDB e ARENA/​PDS, poucos par­tidos tin­ham reg­istros e/​ou pos­suíam den­si­dade política para enfrentar dis­putas, den­tre eles, o Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, que con­seguiu reg­istro em 1981 e o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que con­seguiu reg­istro em 1982.

No Maran­hão, além de todos os prob­le­mas que per­du­ram até hoje, vivíamos uma fase de muitos con­fli­tos agrários, tradução para assas­si­natos, “gri­lagem de ter­ras” – e toda sorte de vio­lên­cia.

Foi em tal con­texto que o grupo “Nossa Luta” apoiou a eleição de Cafeteira em 1986 e con­seguiu eleger três par­la­mentares: José Car­los Sabóia, dep­utado fed­eral; Juarez Medeiros e Con­ceição Andrade, dep­uta­dos estad­u­ais.

Cabe, ainda, salien­tar que em 1985, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção, tive­mos a eleição para prefeitos das cap­i­tais. Em São Luís a dis­puta teve como atores prin­ci­pais, a esposa do ex-​governador João Castelo, que foi eleita, sendo uma das primeiras mul­heres a se elegerem prefeita de cap­i­tal; o dep­utado fed­eral Jaime San­tana, pelo PFL, com o apoio do prefeito biônico, Mauro Fecury, do gov­erno estad­ual, e do gov­erno fed­eral, a cam­panha gan­hou o sug­es­tivo nome de “força total”, que perdeu por menos de dez mil votos; na mesma dis­puta, logo em seguida vieram Jack­son Lago, pelo PDT; Haroldo Sabóia, pelo PMDB; Luis Soares (Vila Nova), pelo PT; e, Ema­noel Viana, pelo PMB.

Cafeteira foi eleito, em 1986, pela Col­i­gação “Aliança Democrática”, que reuniu PMDB, PFL, PTB, PCB e PCdoB, esses últi­mos par­tidos tira­dos da ile­gal­i­dade recen­te­mente pelo gov­erno Sar­ney. Nas palavras de Ader­son Lago, que foi um dos que coor­de­nou a cam­panha foi “uma festa”, bas­tava pen­sar numa neces­si­dade que a solução já se mostrava pre­sente.

A vitória con­tra o ex-​governador João Castelo foi con­tun­dente: 81,03% con­tra 16,52%; a can­di­datura do PT, rep­re­sen­tado por Delta Mar­tins obteve ape­nas 2,45%.

O PDT de Jack­son Lago apoiou Cafeteira mas sem inte­grar a col­i­gação, lançando cha­pas para o Senado e para Câmara dos Dep­uta­dos e Assem­bleia.

Nessa mesma eleição, por conta do quo­ciente eleitoral o líder do PDT, Jack­son Lago, ape­sar de ter obtido uma votação das mais expres­si­vas, na con­seguiu ir para o Con­gresso Nacional como dep­utado.

O gov­erno Cafeteira, a par­tir de 1987, foi mon­tado a par­tir das forças que o apoiaram, inclu­sive, cabendo ao PDT a Sec­re­taria de Saúde, que pas­sou a ser coman­dada por Jack­son Lago.

Em 1988, eleições munic­i­pais nova­mente, dois secretários de Cafeteira deixam o gov­erno para dis­putarem a prefeitura da cap­i­tal, Jack­son Lago, do PDT, pela col­i­gação União da Ilha, com­posta por PDT, PMC, PCdoB, PSB e PSDB; e Car­los Guter­res, PMDB, que for­mou a col­i­gação Aliança Democrática for­mada pelos par­tidos PMDB, PFL, PJ, PND, PDC; Ainda fig­u­raram na dis­puta Jairz­inho da Silva, pela col­i­gação Resistên­cia, for­mada por PDS, PTB. PMB e PTR; José Heluy, do PT; e Edi­valdo Holanda, pelo PL, estes últi­mos em col­i­gações menores.

Cabe uma obser­vação sobre o per­son­agem Jairz­inho da Silva, radi­al­ista pop­u­lar que há muitos anos tinha um pro­grama na Rádio Riba­mar. Em 1982 ele foi eleito vereador da cap­i­tal (o prefeito era biônico, mas os vereadores eram eleitos); em 1985, foi eleito vice-​prefeito na chapa com Gardê­nia Gonçalves; em 1986, foi eleito dep­utado estad­ual e em 1988, estava can­didato a prefeito da cap­i­tal, ficando em ter­ceiro lugar, com 20% dos votos váli­dos.

Como sabe­mos, aquela foi uma das mais dis­putadas eleições, tendo Jack­son Lago sido eleito com 31,14% (85.801) e Car­los Guter­res, ficando em segundo lugar com 30,71% (84.636), pouco mais de mil votos entre os dois can­didatos.

Con­vém obser­var, que a regra dos dois turnos foi imple­men­tada na Con­sti­tu­ição de 1988, mas como o processo eleitoral já havia sido defla­grado por ocasião de sua pro­mul­gação a regra não pode­ria ser apli­cada.

(Juarez Medeiros, Neud­son Claudino, Luiz Vila Nova, Domin­gos Dutra e José Costa, reg­istro de 1990).


Em 1990, Cafeteira renun­cia ao gov­erno estad­ual para candidatar-​se ao Senado, assu­mindo o gov­erno o vice-​governador, João Alberto Souza. Após Cafeteira descer a rampa do Palá­cio do Planalto com Sar­ney que deix­ava o gov­erno para Fer­nando Col­lor, eleito em 1989, assumir, recomeçou o dis­tan­ci­a­mento (e a oposição) entre ambos.

Naquela eleição Cafeteira apoiou, jus­ta­mente o adver­sário da eleição ante­rior, o ex-​governador João Castelo, da col­i­gação Maran­hão Livre, PRN, PMDB, PDC, PSDB, PDS, PL, e PSD, con­tra o can­didato do grupo Sar­ney, Edi­son Lobão, do PFL, da col­i­gação Maran­hão do Povo, PFL, PTB, PSC,

Nessa eleição, pela primeira vez na história do estado, a oposição de esquerda teve uma can­di­datura com­pet­i­tiva – não digo com condições de gan­har, mas de dis­putar –, a dep­utada estad­ual Con­ceição Andrade (PSB) foi lançada ao gov­erno tendo o empresário Neud­son Claudino (PT) como vice, na chamada Frente Pop­u­lar do Maran­hão for­mada pelos par­tidos PSB, PR, PDT, PCB e PCdoB.

O resul­tado do primeiro turno foi: Castelo, com 595.392 votos (45,75%); Lobão, com 459.542 votos (35,31%); e Con­ceição com 246.468 votos (18,94%). Se com­para­r­mos com os quase e dois e meio da pro­fes­sora Delta Mar­tins na eleição de 1986, foi um salto extra­ordinário.

No segundo turno esses votos da oposição de esquerda migraram para a chapa Lobão/​Fiquene que obtiveram 695.727 votos (53,92%) con­tra 594.620 votos (46,08%) da chapa Castelo/​Ney Bello.

A oposição de esquerda vin­culava o ex-​governador João Castelo à ditadura por conta de ter sido nomeado gov­er­nador biônico em 1978; por ser rela­cionado aos atos de vio­lên­cia no campo e con­tra os estu­dantes em 1979; por ser ali­ado de Col­lor de Melo nas eleições de 1989.

Todos esses fatores fiz­eram com que preferis­sem o Lobão, can­didato de Sar­ney.

Mesmo os que não o apoiaram não dis­seram nada con­tra.

Nessa eleição de 1990 Cafeteira foi eleito senador com quase sessenta por cento dos votos (59,56%), para ser­mos mais pre­cisos.

Na eleição seguinte, 1992, Con­ceição Andrade eleita prefeita da cap­i­tal pelas forças políti­cas da oposição de esquerda.

No próx­imo (ou próx­i­mos) episó­dio falare­mos da eleição de 1992 e de como a oposição de esquerda perdeu a opor­tu­nidade de gan­har aquela mem­o­rável eleição de 1994.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. Os fatos nar­ra­dos são per­cepções de um ado­les­cente que estava “de fora”, assistindo, com pouca par­tic­i­pação efe­tiva e nos dados cole­ta­dos do TSE.