AbdonMarinho - Por quem choram as mães?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Por quem choram as mães?

(Foto AFP)

POR QUEM CHORAM AS MÃES?

Abdon C. Marinho*.

SEM­PRE que nos deparamos com tragé­dias humanas como as que vive­mos atual­mente em diver­sos can­tos do mundo uma ideia me vem à mente: como estão as mães? Por quem elas choram?

Faço isso diante de todos os con­fli­tos. As guer­ras na África; a guerra na Ucrâ­nia dev­ido a invasão russa; os con­fli­tos nas Améri­cas, a fome em todos os can­tos do plan­eta.

Há uma sem­ana, prati­ca­mente, desde que estourou mais esse con­flito con­flito entre o Hamas e o gov­erno israe­lense, essa é uma ideia que não me sai da cabeça.

Primeiro, o sofri­mento cau­sado às mães judias ante o ataque ter­ror­ista do Hamas que ceifou a vida de cen­te­nas de judeus e não judeus no dia 7 de out­ubro. Jovens, idosos, homens, mul­heres e até cri­anças que perderam a vida ou se encon­tram sequestradas, em condições indizíveis e sofrendo todo tipo de pri­vações, humil­hações e o risco per­ma­nente e imi­nente da morte.

Como estarão suas mães? Como aguen­tam tamanha provação?

Segundo, o sofri­mento cau­sado às mães palesti­nas ante a reação israe­lense.

O cerco à Faixa de Gaza há mais uma sem­ana cria situ­ações de vio­lên­cia e sofri­mento ímpares.

Esse tempo todo estão sem água potável, sem elet­ri­ci­dade, sem ali­men­tação, força­dos a se deslo­carem para o sul do ter­ritório, sem saber se voltam as suas casas e com bom­bas sendo ati­radas sobre suas cabeças, uma a cada dois min­u­tos, segundo os espe­cial­is­tas que se deram o tra­balho de con­tar.

Quão deses­per­adas não estão essas mães para pro­te­gerem seus fil­hos, para alimentá-​los, para curá-​los de suas enfer­mi­dades ou dos estil­haços das bom­bas ou mesmo o sofri­mento que pas­sam diante da morte que os ron­dam e está sem­pre presente?

Como essas mães refrig­eram seus corações diante do medo, do deses­pero, da angús­tia, da impotên­cia por nada poderem faz­erem por seus fil­hos?

Caberia alguma com­para­ção ou sime­tria entre os povos para saber quem sofre mais? Acred­ito que não.

Em maior ou menor pro­porção o sofri­mento é igual para as mães.

Talvez não o seja para os que ata­cam e para os que são ata­ca­dos, mas, para as mães, não.

Para elas o sofri­mento é o mesmo de Maria diante do martírio de Jesus Cristo. O sofri­mento de vê-​lo pade­cer sob Pilatos, de ser humil­hado, de car­regar a própria cruz ao monte do calvário e ser cru­ci­fi­cado.

Até porque, a ver­dadeira mãe sofre com a dor de outra mãe, mesmo que em cam­pos opos­tos.

São capazes de sen­tir o deses­pero que acomete a outra.

Pode­ria exam­i­nar essa etapa do con­flito judaico-​palestino de forma bem prática.

Dizer, de forma pro­to­co­lar, que o Estado de Israel tem total dire­ito de defender-​se mas, que mesmo o dire­ito à mais ampla defesa pos­sui lim­ites; que a própria guerra pos­sui lim­ites muito claros nas con­venções internacionais.

Pode­ria dizer que o direto que tem Israel de defender-​se dos ataques ter­ror­ista do Hamas não o exime de obser­var tais con­venções e a respeitar os dire­itos humanos das pop­u­lações civis alo­jadas na Faixa de Gaza, que no fundo é uma prisão a céu aberto, e que os países de todo o mundo são cúm­plices de toda desumanidade prat­i­cada con­tra o povo.

Pode­ria, ainda, chamar a atenção para o fato do gov­erno israe­lense não poder ou não ser aceitável que use o pre­texto dos ataques para con­fi­nar ainda mais o povo palestino, notada­mente aquele que vive na Faixa de Gaza.

Guerra nen­huma, em tem­pos mod­er­nos, pode ter esse caráter expan­sion­ista.

Por isso deve­mos repu­diar a invasão russa na Ucrâ­nia; por isso deve­mos protes­tar con­tra qual­quer ten­ta­tiva do gov­erno israe­lense de pre­tender um metro, sequer, de qual­quer ter­ritório, recon­hecido como palestino.

Uma coisa são as incursões para irem atrás do Hamas, lib­er­tar os reféns sub­traí­dos de seus famil­iares, outra coisa, bem difer­ente, é querer ou pre­tender acrescer qual­quer metro de terra da Faixa de Gaza ao seu ter­ritório.

Aliás, desde 1947, quando a ONU criou o Estado de Israel e a solução de dois esta­dos difer­entes em um mesmo espaço ter­ri­to­r­ial (divi­dido entre o Estado de Israel e Estado da Palestina) que per­manece insolúvel a questão da definição das fron­teiras entre eles.

Já passa da hora – e faz tempo –, da ONU e seus organ­is­mos pararem com a polit­icagem e se debruçarem sobre essa questão resolvendo-​a defin­i­ti­va­mente, com ambos os esta­dos respei­tando os ter­mos da res­olução que dividiu o ter­ritório entre eles.

Nesses anos todos, desde que “cri­aram” a solução de dois esta­dos que não resolvem a questão fron­teir­iça com o povo palestino con­fi­nado em dois ter­ritórios: Faixa de Gaza (maior den­si­dade pop­u­la­cional do mundo, com dois mil­hões de pes­soas no espaço de 365 km2) e a Cisjordâ­nia, com Israel, sem­pre que pode, trans­ferindo judeus para áreas recon­heci­das como palesti­nas.

Nada, repito, nada jus­ti­fica um ataque ter­ror­ista com os prat­i­ca­dos pelo Hamas, mas, por outro lado, a omis­são reit­er­ada dos organ­is­mos inter­na­cionais e mesmo de algu­mas nações em não protestarem ou faz­erem “vis­tas grossas” a uma questão pen­dente desde 1947, tem sido o com­bustível para incen­ti­var essa guerra e tan­tas out­ras que vieram antes.

Em 1947 resolveu-​se o prob­lema dos Judeus, mas­sacra­dos e espo­li­a­dos por todos os regimes autoritários do mundo, com a cri­ação do Estado de Israel, mas criou-​se um prob­lema para os povos que ocu­pavam aquele ter­ritório desde o iní­cio da Era cristã quando se deu a última grande diás­pora que durou 19 sécu­los, pois somente a par­tir 1948 o povo judeu pode se reunir nova­mente em mesmo ter­ritório.

Os con­fli­tos veem desde então.

Desde 1948 que não há con­vivên­cia pací­fica entre judeus e palesti­nos, com diver­sas guer­ras, con­fli­tos entre eles e o sofri­mento indizível dos povos, prin­ci­pal­mente, da pop­u­lação civil que em todas as guer­ras é quem mais sofre.

Muitas lágri­mas as mães destes povos ainda vert­erão até que os sen­hores das guer­ras dêem-​se por saci­a­dos com os seus lucros e os políti­cos tomem juízo.

Chorarão as mães pelos fil­hos que perderão nas guer­ras e pelos fil­hos que mor­rerão sem ter a chance de crescer; chorarão pelas pri­vações e pelas as angús­tias de cada dia.

Deus salve as mães de tan­tos sofri­men­tos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.