AbdonMarinho - José Reinaldo colhe tâmaras. O Maranhão perde oportunidades.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

José Reinaldo colhe tâmaras. O Maran­hão perde oportunidades.


José Reinaldo colhe tâmaras. O Maran­hão perde oportunidades.

Por Abdon C. Marinho*.

NOTICIOU-​SE, não faz muito tempo, que o pres­i­dente do país, sen­hor Lula, agen­dara a inau­gu­ração do tre­cho der­radeiro da fer­rovia norte-​sul, per­mitindo, assim que uma carga possa sair do Porto do Itaqui, no Maran­hão até o Porto de San­tos, em São Paulo, um feito real­mente extra­ordinário na estru­tura do trans­porte no brasileiro.

Para a solenidade que acon­te­ceria no Estado de Goiás – acabou sendo can­ce­lada por algum motivo climático ou outro qual­quer –, foram con­vi­da­dos o ex-​presidente José Sar­ney, que pre­sidiu o país de 1985 a 1990, período que teve iní­cio a obra; e o ex-​ministro dos trans­portes da época, respon­sável por colo­car em prática o pro­jeto de interli­gar o Brasil por via fer­roviária, José Reinaldo Tavares, ex-​governador do Maran­hão.

Ao refle­tir sobre o assunto, lembrei-​me de um antigo ditado dos povos do deserto que diz: “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”, uma alusão ao fato de que as tamareiras para pro­duzirem seus primeiros fru­tos no deserto lev­avam de oitenta a cem anos – hoje com as novas tec­nolo­gias de pro­dução esse tempo foi bas­tante reduzido, mas ainda é con­sid­erável.

A lem­brança deveu-​se ao fato de que, quase quarenta anos depois de ide­al­izado, o pro­jeto da fer­rovia de inte­gração nacional, final­mente, tornou-​se uma real­i­dade – depois de uma demora injus­ti­fi­cada –, pos­si­bil­i­tando aos seus ide­al­izadores, tais quais os plan­ta­dores de tâmaras, a ale­gria de col­herem os fru­tos, ou seja, de teste­munharem a con­clusão do projeto.

Antes que algum desav­isado venha ques­tionar: — Ain, Abdon, dev­e­rias dizer no título que Sar­ney colhe tâmaras e não Reinaldo.

Esclareço que a opção por Reinaldo não se trata de uma ani­mosi­dade ou injustiça ao ex-​presidente, que à época pre­sidia o país e será muito rev­er­en­ci­ado como “pai” do pro­jeto. A opção pelo ex-​governador prende-​se ao fato deste vir ded­i­cando a vida a semear tâmaras, como, aliás, dev­e­riam fazer os demais agentes públi­cos do estado e do país. Não tenho notí­cias, se exis­tem, fazem questão de man­terem seg­redo, de outro político maran­hense, além de José Reinaldo, que esteja ide­al­izando pro­je­tos – e indo atrás de recur­sos para viabilizá-​los –, pen­sando nas ger­ações futuras, para daqui a vinte, trinta, quarenta anos …

Con­forme esclareci em tex­tos ante­ri­ores – e já foram diver­sos –, o ex-​governador não fez dos car­gos que ocupou – e ainda ocupa –, um tram­polim para a “feitura” de for­tuna, tanto assim que nunca se teve notí­cias de suas fazen­das, suas man­sões, seus aviões, suas mil­hares de “cabeças de gado”, muito pelo con­trário, não faz muito, o ex-​governador virou “notí­cia” ao acudir-​se em uma casa de crédito atrás de um emprés­timo ou nego­ciar uma dívida qual­quer – situ­ação bem difer­ente de tan­tos out­ros políti­cos, que emb­ora nunca ten­ham tido qual­quer uma ativi­dade profis­sional, indus­trial ou com­er­cial pri­vada, ficaram ricos nos exer­cí­cios de car­gos públi­cos e/​ou de mandatos ele­tivos.

A situ­ação de tão nor­mal sequer causa estran­hamento quando se noti­cia que algum fato deu-​se na fazenda ou man­são de algum imberbe dep­utado, senador ou sim­ples­mente de alguém que ocupou um cargo público qual­quer. Ninguém mais se dá o tra­balho de perguntar-​se: como assim?

Vejamos o próprio exem­plo da fer­rovia norte-​sul, durante anos foi tida como “maldita”, não porque as pes­soas esclare­ci­das não soubessem de sua importân­cia para o país e prin­ci­pal­mente para o nosso estado, mas, porque sem­pre foi fonte con­stante de escân­da­los e um sum­i­douro de ver­bas públi­cas.

Uma obra, como tan­tas out­ras, que os políti­cos mais anti­gos apel­i­dam de “obras para morder”, uma alusão ao fato de nunca ter­mi­nar porque os seus respon­sáveis têm inter­esse per­pet­u­arem “gan­hos” com as mes­mas.

Jamais, nunca, nunca mesmo, uma obra tão impor­tante para o país pode­ria levar quase quarenta anos para ficar pronta, até porque, a engen­haria para con­struir fer­rovias “não é coisa de outro mundo”, estando em prática há cen­te­nas de anos em todo mundo e o relevo do Brasil não deman­dar grandes obstácu­los.

Chega a ser ina­cred­itável que façamos “fes­tas de inau­gu­ração” para rece­ber uma obra que durou quase quarenta anos quando, pode­ria ter sido exe­cu­tada em qua­tro – ou mesmo que lev­asse uma década –, e fes­te­je­mos isso. É como se estivésse­mos fes­te­jando o nosso fra­casso.

E, mais ina­cred­itável ainda, que os políti­cos que nunca se deram o tra­balho de sequer inda­gar sobre tamanha demora, apareçam por lá fes­te­jando ou com cara de “pais­agem” e, pior, sem qual­quer con­strang­i­mento.

Temos um exem­plo até mais próx­imo a ilus­trar bem o que digo: a infind­ável dupli­cação da BR 135, único acesso ter­restre a cap­i­tal, já tem mais de uma de década que foi ini­ci­ada e ainda não avançou a casa dos 100 km.

Vejam, não avançamos cem quilômet­ros em mais de uma década, uma obra rodoviária, tam­bém, sem maiores com­pli­cações. É uma ver­gonha! Como diz certo jor­nal­ista.

Enquanto isso, como no mito do manto de Pené­lope, os con­tratos de manutenção da dita BR pare­cem ser uma “aposen­ta­do­ria” a décadas ali­men­tando seus felizes ben­efi­ciários.

E a grande novi­dade dos últi­mos dias é que o órgão que cuida das estradas vai con­tin­uar em “boas mãos”.

É com imensa tris­teza que “não vejo” os homens públi­cos do estado “brigarem” pelo pro­gresso do Maran­hão, pelo nosso desen­volvi­mento, por grandes pro­je­tos que tragam desen­volvi­mento e pros­peri­dade para todos, não con­seguimos assi­s­tir uma “hege­mo­nia” política a favor do estado, pelo con­trário, o que vemos são brigas, públi­cas ou ínti­mas, entre eles por espaços de poder, que para o con­junto da pop­u­lação brasileira e local, nada sig­nifica.

Não é fulano man­dar mais que sicrano que inter­essa ao cidadão na linha de pobreza extrema, no degrau mais baixo na escada de desen­volvi­mento, não é isso que impacta sua vida. Essa brigal­hada infe­liz só inter­essa aos próprios políti­cos sem nen­huma visão e aos pseu­dos escribas que “gan­ham” seus dias escrevendo sobre bobagens.

Quan­tas décadas de desen­volvi­mento econômico o Maran­hão não perdeu caso a fer­rovia norte-​sul tivesse sido con­cluída no tempo certo? Se por­tos no Itaqui ou em Alcân­tara tivessem fica­dos pron­tos? Se estivésse­mos com políti­cos empen­hados na real­iza­ção de grandes pro­je­tos de desen­volvi­mento ou invés de estarem nas eter­nas “brigas” pela emenda da prac­inha, da estrada vic­i­nal, etc? Qual seria a posição do Maran­hão nos índices de desen­volvi­mento econômico e social se estivésse­mos a pleno vapor na uti­liza­ção das nos­sas poten­cial­i­dades?

Agora mesmo, quando pos­suí­mos tan­tas posições de destaque na estru­tura de poder do gov­erno fed­eral, no leg­isla­tivo e até no judi­ciário, não temos notí­cias de uma “união” dessas autori­dades para o desen­volvi­mento do nosso estado, pelo con­trário, as noti­cias são que “estão de mal”, brig­ando pelo “car­rinho que­brado” ou por alguma “pan­ela furada”, quando dev­e­riam tra­bal­har pela implan­tação de grandes pro­je­tos econômi­cos como forma de “aliviar” o imenso sofri­mento do povo maran­hense, sem­pre ocu­pando as últi­mas posições em tudo que é indi­cador.

O MARAN­HÃO perde opor­tu­nidades mesmo quando as autori­dades não estão em cam­pos opos­tos ou dis­putando as mes­mas “raias da política”.

A impressão que tenho é que pade­cem de alguma dis­função que os deixam inca­pac­i­ta­dos a com­preen­derem que o pro­gresso, até do ponto de vista da política, seja local ou nacional, é fun­da­men­tal para suas ambições.

O Sar­ney, mesmo quando pres­i­dente, nunca deixou de levar con­sigo a “pecha” de ser ori­undo do estado mais atrasado do país, assim o foi, tam­bém, nas diver­sas vezes que foi senador da República e pres­i­dente do Senado.

Quase quarenta anos depois de Sar­ney ter ascen­dido ao cargo mais ele­vado país – não por culpa “só” dele –, o Maran­hão segue na mesma posição, na “rabeira” da fila de “tudo”. Os políti­cos do esta­dos rep­re­sen­tam o povo e o estado mais mis­erável da fed­er­ação.

Esse índice, que não é meu, mas do IBGE, dev­e­ria nortear o com­por­ta­mento de toda a classe política, faz­erem se per­gun­tar todos os dias ao se olharem no espelho enquanto esco­vam os dentes, o que estão fazendo ou farão para mudar tamanha ver­gonha.

Ver­dadeiros estadis­tas não se con­tentam em faz­erem algo com resul­tado ime­di­ato, pen­sando no amanhã ou na próx­ima eleição, mas, sim, tra­bal­ham no sen­tido traz­erem bene­fí­cios e pro­gresso para as ger­ações futuras, tal qual fazem os plan­ta­dores de tâmaras, eles têm con­sciên­cia que jamais com­erão o fruto daquela árvore que plan­tou, mas sabem que alguém, no futuro, vai comer e agrade­cer aquele que a plan­tou.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.