AbdonMarinho - A pátria dos que querem pátria.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A pátria dos que querem pátria.


A PÁTRIA DOS QUE QUEREM PÁTRIA.

Por Abdon C. Marinho.*

COMO os cor­pos celestes que vez ou outra se alin­ham, no Brasil de 2022 ter­e­mos um raro e fes­te­jado alin­hamento: daqui a um mês fes­te­jare­mos o bicen­tenário da nossa inde­pendên­cia da nação irmã Por­tu­gal; e, dali, nova­mente, a menos de um mês será a vez de escol­her­mos os futuros gov­er­nantes do país, pres­i­dente, gov­er­nadores, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais; e um terço dos senadores da República.

São acon­tec­i­men­tos impor­tantes.

Muito emb­ora já con­te­mos com duzen­tos anos como nação inde­pen­dente, temos, ainda, uma democ­ra­cia frágil e vac­ilante onde muitos brasileiros, infe­liz­mente, con­fun­dem o sen­ti­mento de “per­tenci­mento” a este ou aquele grupo, com os inter­esses da própria nação.

Os inter­esses da nação são supe­ri­ores aos inter­esses de quais­quer gru­pos ou ver­tentes ide­ológ­i­cas.

Daí ser tão impor­tante por assim dizer, este “alin­hamento”, pouco depois de fes­te­jar­mos o nosso ingresso no bicen­tenário das nações livres, ter­mos a opor­tu­nidade de escol­her­mos através do voto livre, direto e secreto os nos­sos gov­er­nantes, aque­les que irão con­duzir os des­ti­nos do país em obe­diên­cia à Con­sti­tu­ição da República, às leis, aos trata­dos, jurando o respeito aos seus princí­pios fun­da­men­tais: sobera­nia, cidada­nia, dig­nidade da pes­soa humana, os val­ores soci­ais do tra­balho e da livre ini­cia­tiva e o plu­ral­ismo político. Tudo isso coroado pelo princí­pio de que “todo o poder emana do povo que o exerce através dos seus rep­re­sen­tantes ou dire­ta­mente, nos ter­mos da con­sti­tu­ição”.

Há cinquenta anos, em agosto de 1977, o pro­fes­sor Gof­fredo da Silva Telles Junior, no Largo de São Fran­cisco, lia Carta aos brasileiros, denun­ciando os abu­sos do régime mil­iar e con­cla­mando por uma nova ordem política nacional através do pacto de uma Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte.

A par­tir do ano seguinte, 1978, começamos o processo de dis­ten­são política, com a Lei da Anis­tia de 1979, começamos a rein­tro­dução no país de mil­hares de brasileiros lev­a­dos ao exílio por dis­cor­dar do régime mil­i­tar.

Nas eleições de 1982, muitos dos anti­gos exi­la­dos já pud­eram con­cor­rer a mandatos ele­tivos para o Con­gresso Nacional, gov­er­nos estad­u­ais e Assem­bleias Legislativas.

Em 1985, em janeiro, tive­mos nossa última eleição indi­reta para pres­i­dente da República, no ano seguinte, 1986, elege­mos o Con­gresso Nacional com poderes con­sti­tu­intes e, em 1988, gan­hamos uma nova Con­sti­tu­ição Fed­eral, que neste ano fes­teja seu 34º aniver­sário.

Como bem disse Ulysses Guimarães, por ocasião de sua pro­mul­gação, trata-​se de uma con­sti­tu­ição cidadã e, talvez por isso, não é per­feita, tanto assim que admite, ela própria, revisões e emen­das, entre­tanto, durante todos estes anos, tem sido a garan­tia da esta­bil­i­dade nacional.

Desde a sua pro­mul­gação tive­mos as eleições pres­i­den­ci­ais de 1989; eleições para os gov­er­nos estad­u­ais e para o Con­gresso Nacional, em 1990; eleições munic­i­pais em 1992; eleições gerais, 1994; eleições munic­i­pais, em 1996; nova­mente eleições gerais, 1998; e assim, suces­si­va­mente, até os dias atu­ais.

A cada dois anos temos eleições locais ou gerais sem maiores prob­le­mas e, prin­ci­pal­mente, sem que as mes­mas sejam ques­tion­adas por fraudes eleitorais ou quais­quer coisas do gênero.

Desde as eleições munic­i­pais de 1996 que Brasil adota o sis­tema de votação através de urnas eletrôni­cas sem qual­quer com­pro­vação, por menor, que seja de que o sis­tema eleitoral tenha sido frau­dado. Mais, a cada ano (ou a cada eleição) o sis­tema eleitoral é apri­morado, gan­hando em transparên­cia e mecan­is­mos de con­t­role, sendo ates­tado pela Polí­cia Fed­eral, TCU, ABIN, uni­ver­si­dades e enti­dades diver­sas, do país e do estrangeiro, como seguro.

Logo, não há qual­quer sen­tido, a não ser os que guiam pelos cam­in­hos do retro­cesso, em, depois de 26 anos, vir ale­gar ou colo­car, sem qual­quer prova ou mesmo indí­cios, que as eleições nacionais são “fraudáveis”.

Com base em que ele­men­tos, em que provas, em quais indí­cios, dizem que as eleições brasileiras são frau­dadas ou fraudáveis?

Seria cômico se não fosse trágico, chegam a afir­mar que o sis­tema pos­sui um mecan­is­mos de fraude tão sofisti­cado quen­tão deixa qual­quer prova de que foi frau­dado.

Quer me pare­cer, que aque­les que lev­an­tam tais aleivosias agem com as mes­mas malévolas intenções dos seus con­gêneres do norte que à mín­gua de votos, ten­taram sola­par uma das robus­tas democ­ra­cias do plan­eta: a amer­i­cana.

As inves­ti­gações do con­gresso daquele país está lev­an­tando e provando até onde foram capazes de chegar para colo­carem suas pau­tas adi­ante dos princí­pios e dos inter­esses do país. Cer­ta­mente, por lá, os respon­sáveis pela infâmia, assim como seus ide­al­izadores e inspi­radores, serão punidos exem­plar­mente. Muitos do que invadi­ram o Con­gresso Amer­i­cano em 6 de janeiro de 2021, aten­dendo o apelo do líder para impedir a cer­ti­fi­cação do resul­tado eleitoral já estão recebendo suas punições – alguns deles, altas penas.

Por aqui, não é de hoje, alguns, com as mes­mas intenções – que podem ser tudo, menos democráti­cas –, ten­tam fazer um “remake” da patus­cada amer­i­cana, por isso é necessário atenção.

Em boa hora, inspi­ra­dos na Carta aos brasileiros, de 1977, mil­hares de cidadãos brasileiros, sub­screvem uma “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Dire­ito!” – eu assinei –, onde reafir­mam a con­fi­ança no nosso processo eleitoral eletrônico e na transparên­cia da Justiça Eleitoral; ques­tionam os infun­da­dos ataques as insti­tu­ições e ao processo político brasileiro con­cla­mando os cidadãos para que fiquem aten­tos a quais­quer manobras que visem levar o país ao retro­cesso político e insti­tu­cional.

O doc­u­mento acima referido será lançado, lido ofi­cial­mente, no dia 11 de agosto, no mesmo local que foi lido aquele de 50 anos atrás.

Na mesma linha é tam­bém um doc­u­mento lançado pela FIESP em con­junto com diver­sas fed­er­ações empre­sari­ais e de tra­bal­hadores.

O que resta claro em ambos os doc­u­men­tos é que os brasileiros não quer­e­mos uma situ­ação de retro­cesso insti­tu­cional para o país.

O que se quer é que os eleitos – como sem­pre foram nas últi­mas décadas –, assumam livre­mente os seus mandatos pois essa foi a von­tade do dono do poder orig­inário: o povo, o cidadão/​eleitor.

Não é um doc­u­mento con­trário ou a favor de ninguém, mas de uma pauta política que, pelo menos em tese, dev­e­ria (ou dev­erá) unir a todos: a pauta do respeito às regras pré-​estabelecidas, do não a qual­quer tipo de retro­cesso.

Este é o o ter­ceiro alin­hamento a somar-​se ao bicen­tenário da inde­pendên­cia do Brasil e às eleições de out­ubro: o respeito ao resul­tado eleitoral, orga­ni­zado como sem­pre foi pela Justiça Eleitoral há mais de oitenta anos, e a defesa intran­si­gente do Estado Democrático de Dire­ito.

Exceto por uns poucos esbir­ros de viés autoritário, o Brasil, em pleno século XXI, não com­porta retro­ces­sos insti­tu­cionais.

Ninguém (são) deseja um retorno à ditadura mil­i­tar ou qual­quer outro régime que não seja a livre e sober­ana man­i­fes­tação dos cidadãos/​eleitores na escolha dos seus rep­re­sen­tantes nas urnas, como tem sido feito ao longo das últi­mas décadas.

O com­pro­misso com o Estado Democrático de Dire­ito é uma pauta comum que deve unir, inde­pen­dente de inter­esses políti­cos e ide­ológi­cos, os brasileiros de bem, mesmo aque­les que em algum momento da vida tenha apoiado regimes de exceção, desde con­scientes dos seus equívo­cos e arrepen­di­dos, dev­e­riam manifestar-​se, neste ano tão sim­bólico, a favor do Brasil e do for­t­alec­i­mento da nossa democ­ra­cia.

A pátria não é exclu­dente. A pátria com­porta a todos que querem pátria.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.