SUCESSÃO ESTADUAL: O QUE ACHO, ATÉ AQUI.
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- Criado: Domingo, 31 Julho 2022 12:44
- Escrito por Abdon Marinho
SUCESSÃO ESTADUAL: O QUE ACHO, ATÉ AQUI.
Por Abdon C. Marinho.*
A POLÍTICA, como dizia um político mineiro do século passado, é como as nuvens: você olha está de um jeito, você baixa a vista, olha novamente e já está de outro jeito.
Outro dia um amigo me perguntava como estava vendo a sucessão estadual.
Contei-lhe que, embora cuidando de outras pautas e acompanhando o desenrolar dos fatos “de longe”, na semana anterior estava com uma espécie de overbook (excesso de assuntos para tratar), entre eles um ganhava mais destaque: a performance do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Bonfim.
Disse-lhe que o texto não escrito até chegou a ter título: “Quem vai ao segundo turno com Lahésio Bonfim?”.
O título, claro, era uma provocação, uma vez que o ex-prefeito, nas pesquisas eleitorais divulgadas aquela altura, aparecia com, praticamente, a metade das intenções de votos de qualquer dos dois outros que estavam à sua frente, o governador Carlos Brandão e o senador Weverton Rocha.
A leitura que fazia era que, dos três, ele era o único que vinha apresentando um crescimento consistente, podendo alcançar e ultrapassar os demais, ainda mais levando-se em consideração que diferente dos dois outros já estão em campanha há bastante tempo e sendo muito mais conhecidos.
Ao meu sentir – e continuo com o mesmo pensamento –, o candidato “garantido”, pelo potencial de crescimento, até então, seria o Bonfim, deixando para Brandão e Rocha a “briga” pela outra vaga – não digo com isso que chegue em primeiro lugar.
Uma outra pesquisa – posterior aquelas até então, sempre apontando “empate técnico” entre os dois primeiros candidatos –, mostrou um distanciamento entre Brandão e Rocha, mostrando o primeiro com uma boa vantagem em relação ao segundo e já o candidato Lahésio nos calcanhares de Rocha.
Não “brigo” com pesquisas, apenas examino-as e observo as reações dos interessados. Enquanto o grupo de Brandão festejava vi o grupo de Rocha “trabalhando” para desqualificar a pesquisa e o instituto, colocando-a sob a suspeição de controvertidos prognósticos anteriores.
Esse tipo de comportamento e contestação são normais, assistimos a isso em todos os pleitos.
Apesar de contestarem os dados da pesquisa senti o que o grupo de Rocha “deu recibo” aos dados apresentados, tanto assim que muitos dos que o seguem, políticos, jornalistas, etcetera, passaram a atuar em duas frentes: uma no ataque a Dino/Brandão – e coloco assim, porque é assim que referem ao governo anterior e atual, colocando na conta dos dois todos os insucessos –, e na outra, no ataque ao candidato Bonfim, até então, tido por “inofensivo” ou um possível aliado no segundo turno.
Ora, é público a existência de um consórcio político dos seguimentos oposicionistas no propósito de derrotar as hostes governistas, principalmente o candidato ao Senado e ex-governador, Flávio Dino, tanto assim, que acordaram em apoiarem apenas um candidato nesta disputa, o atual senador Roberto Rocha.
Não vejo sentido nos ataques velados, nas notinhas maliciosas, nas insinuações sobre ocultação de patrimônio ou mesmo os falsos elogios, vindos da campanha de Rocha contra Bonfim – considerando integrarem o mesmo “consórcio”, e choveu delas nos dias –, se a campanha do primeiro já não se sentisse ameaçada pelo segundo.
Em tal contexto, mesmo uma inquestionável demonstração de força política pode revelar fragilidade.
Cria-se um cenário político de potência para intimidar os demais adversários, mas que, na verdade não retrata o sentimento das ruas.
Corrobora com tal pensamento o fato do PDT, partido de Rocha, ter ido à Justiça (e conseguido liminar) para obstacular a convenção do partido de Brandão, o PSB.
Desde o surgimento dos dois partidos no estado, ainda no início e meados dos anos oitenta, os dois partidos – e mesmo o PSDB, um pouco mais distante o PT –, sempre conviveram como co-irmãos, mesmo no período da ruptura temporária, em 1994, havia espaço para discussão entre suas lideranças políticas e entre seus filiados e militantes, tanto assim, que já em 1996, se iniciaram as tratativas para o retorno às antigas parcerias, o que só foi possível nas eleições de 1998.
Em quase quarenta anos nunca tivemos conhecimento de uma, sequer, tentativa ou cogitação de uma das legendas para impedir ou obstacular a convenção do outro. Aliás, não recordo deste tipo de iniciativa nem mesmo contra os arquirrivais do grupo Sarney contra quem as duas legendas sempre disputaram o poder.
Não discuto o mérito da ação, até acredito na existência de elementos, tanto assim que o magistrado concedeu liminar para interditar a participação popular no evento sob pena de multa pesadíssima.
Muito embora a convenção do PDT/PL tenha ocorrido em um lugar formalmente fechado, um estádio de futebol, os milhares de participantes, falam em dez, vinte, trinta mil e até mais participantes, eram filiados aos partidos políticos que lá estavam? Mais, a Justiça Eleitoral ou mesmos os partidos adversários estavam lá cobrando a “carteira de filiado” de cada um?
A atitude “histórica” de se tentar impedir ou impor obstáculos a realização de uma convenção partidária, ainda mais quando o partido político “interditado” sempre foi um co-irmão, ao meu sentir, repito, não “combina” com o discurso que se tenta propalar de que o candidato encontra-se muito bem, obrigado, já “garantido” no segundo turno.
Se assim o fosse, deixaria a “bola rolar” para lá na frente conquistar as lideranças e os simpatizantes dos candidatos que não foram para o segundo turno para o seu palanque.
Afinal, que mérito há em tentar impedir a participação de populares em uma convenção? Pior ainda quando se sabe que estas pessoas viajaram dezenas, centenas de quilômetros para participarem do evento dos seus candidatos.
Imagino que as lideranças do PSB e das outras legendas que sempre estiveram juntas em tantos embates sentiram-se “traídas” diante da atitude do partido co-irmão.
Bem antes de tudo isso, analisava para um amigo querido e quadro histórico do PDT que haveria uma tendência natural da candidatura do seu partido vir a “minguar”.
Dizia isso a ele com base na “teoria dos conjuntos”, que aprendemos lá no primário.
A análise é fácil compreensão: considerando que o candidato Dino possuía mas de 50% (cinquenta por cento) do votos e que os dois candidatos derivados do seu grupo possuíam em torno de 25% (vinte e cinco por cento) cada um, a tendência seria que um dos conjuntos perdesse elementos à medida que o conjunto da qual deriva se desloque em benefício do outro.
Trata-se de um raciocínio em cima de uma questão matemática – e política possuir razões que a própria razão desconhece –, este amigo dizia discordar.
Embora concordando que os votos dos candidatos sejam derivados do “mesmo campo” político, argumentava que o papel do candidato ao Senado, Flávio Dino, não seria (será) determinante, dizendo, inclusive, que Dino já seria “freguês” de Rocha, citando como exemplo as eleições de 2008, quando teria perdido por conta da articulação do seu candidato e a eleição de 2018, quando o seu candidato teria tido mais votos do que ele, quando disputou o Senado e ele o Governo Estadual.
Por tal raciocínio, Dino, apesar de figurar nas pesquisas eleitorais para o Senado com o dobro das intenções de votos do candidato dele, para governador, não possuiria a “capacidade” de tirar votos do mesmo em favor de Brandão.
Só saberemos se o meu amigo estava certo no seu prognóstico quando as urnas “falarem”, em 02 de outubro próximo.
A política é feita de gestos e atitudes que são orientados por pesquisas internas.
O fato da campanha do senador pedetista “queimar a largada” e partir para o ataque contra os candidatos Lahésio e Dino/Brandão, não combinam com o conforto dos que já estão à espera do adversário para o próximo round.
Mas estas são opiniões e pontos de vistas pessoais – e de quem encontra-se “distante” do processo.
Até aqui, vejo que o candidato Lahésio pode crescer muito mais do que cresceu até aqui; que o candidato Rocha não conseguiu conquistar os votos do bolsonarismo-raiz – apesar do,partido do,presidente integrar sua chapa –, que migraram para Lahésio e que pode, ainda perder, votos à medida que for fustigado pelo próprio Lahésio ou pela chapa Dino/Brandão; que, para a vitória ou para derrota, a candidato Brandão depende do engajamento do candidato ao Senado, Flávio Dino, para transferir os votos que precisa ainda vinculados ao candidato Rocha pra ele (Brandão), noutras palavras, para Brandão avançar para a segunda etapa é necessário o “trabalho hercúleo” de “amarrar” cada voto (ou a maioria deles) de Dino em Brandão e vice-versa. De onde virão estes votos ou se virão, será a chave para sabermos se Brandão vai ao segundo turno e/ou se Dino é mesmo “freguês” de Rocha.
Uma dica: na minha opinião, a chapa de Rocha “ajuda” Brandão ao só se referirem ao governo como Dino/Brandão, ajuda a “amarrar” os votos nos dois.
Os demais candidatos, até aqui, não os vejo com potencial para irem para a segunda etapa da disputa.
Ressalvo, por fim, que o processo eleitoral ainda se encontra no início, a campanha mesmo só daqui a alguns dias, ou seja, temos muita água a rolar por baixo da ponte.
Aí, sim, será o momento, que se diz na política, de “vaca desconhecer bezerro”.
Abdon C. Marinho é advogado.