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Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SUCESSÃO ESTAD­UAL: O QUE ACHO, ATÉ AQUI.


SUCESSÃO ESTAD­UAL: O QUE ACHO, ATÉ AQUI.

Por Abdon C. Marinho.*

A POLÍTICA, como dizia um político mineiro do século pas­sado, é como as nuvens: você olha está de um jeito, você baixa a vista, olha nova­mente e já está de outro jeito.

Outro dia um amigo me per­gun­tava como estava vendo a sucessão estad­ual.

Contei-​lhe que, emb­ora cuidando de out­ras pau­tas e acom­pan­hando o desen­ro­lar dos fatos “de longe”, na sem­ana ante­rior estava com uma espé­cie de over­book (excesso de assun­tos para tratar), entre eles um gan­hava mais destaque: a per­for­mance do ex-​prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahé­sio Bon­fim.

Disse-​lhe que o texto não escrito até chegou a ter título: “Quem vai ao segundo turno com Lahé­sio Bonfim?”.

O título, claro, era uma provo­cação, uma vez que o ex-​prefeito, nas pesquisas eleitorais divul­gadas aquela altura, apare­cia com, prati­ca­mente, a metade das intenções de votos de qual­quer dos dois out­ros que estavam à sua frente, o gov­er­nador Car­los Brandão e o senador Wev­er­ton Rocha.

A leitura que fazia era que, dos três, ele era o único que vinha apre­sen­tando um cresci­mento con­sis­tente, podendo alcançar e ultra­pas­sar os demais, ainda mais levando-​se em con­sid­er­ação que difer­ente dos dois out­ros já estão em cam­panha há bas­tante tempo e sendo muito mais con­heci­dos.

Ao meu sen­tir – e con­tinuo com o mesmo pen­sa­mento –, o can­didato “garan­tido”, pelo poten­cial de cresci­mento, até então, seria o Bon­fim, deixando para Brandão e Rocha a “briga” pela outra vaga – não digo com isso que chegue em primeiro lugar.

Uma outra pesquisa – pos­te­rior aque­las até então, sem­pre apon­tando “empate téc­nico” entre os dois primeiros can­didatos –, mostrou um dis­tan­ci­a­mento entre Brandão e Rocha, mostrando o primeiro com uma boa van­tagem em relação ao segundo e já o can­didato Lahé­sio nos cal­can­hares de Rocha.

Não “brigo” com pesquisas, ape­nas examino-​as e observo as reações dos inter­es­sa­dos. Enquanto o grupo de Brandão fes­te­java vi o grupo de Rocha “tra­bal­hando” para desqual­i­ficar a pesquisa e o insti­tuto, colocando-​a sob a sus­peição de con­tro­ver­tidos prognós­ti­cos ante­ri­ores.

Esse tipo de com­por­ta­mento e con­tes­tação são nor­mais, assis­ti­mos a isso em todos os pleitos.

Ape­sar de con­testarem os dados da pesquisa senti o que o grupo de Rocha “deu recibo” aos dados apre­sen­ta­dos, tanto assim que muitos dos que o seguem, políti­cos, jor­nal­is­tas, etcetera, pas­saram a atuar em duas frentes: uma no ataque a Dino/​Brandão – e coloco assim, porque é assim que ref­erem ao gov­erno ante­rior e atual, colo­cando na conta dos dois todos os insuces­sos –, e na outra, no ataque ao can­didato Bon­fim, até então, tido por “inofen­sivo” ou um pos­sível ali­ado no segundo turno.

Ora, é público a existên­cia de um con­sór­cio político dos segui­men­tos oposi­cionistas no propósito de der­ro­tar as hostes gov­ernistas, prin­ci­pal­mente o can­didato ao Senado e ex-​governador, Flávio Dino, tanto assim, que acor­daram em apoiarem ape­nas um can­didato nesta dis­puta, o atual senador Roberto Rocha.

Não vejo sen­tido nos ataques vela­dos, nas not­in­has mali­ciosas, nas insin­u­ações sobre ocul­tação de patrimônio ou mesmo os fal­sos elo­gios, vin­dos da cam­panha de Rocha con­tra Bon­fim – con­siderando inte­grarem o mesmo “con­sór­cio”, e choveu delas nos dias –, se a cam­panha do primeiro já não se sen­tisse ameaçada pelo segundo.

Em tal con­texto, mesmo uma inques­tionável demon­stração de força política pode rev­e­lar frag­ili­dade.

Cria-​se um cenário político de potên­cia para intim­i­dar os demais adver­sários, mas que, na ver­dade não retrata o sen­ti­mento das ruas.

Cor­rob­ora com tal pen­sa­mento o fato do PDT, par­tido de Rocha, ter ido à Justiça (e con­seguido lim­i­nar) para obstac­u­lar a con­venção do par­tido de Brandão, o PSB.

Desde o surg­i­mento dos dois par­tidos no estado, ainda no iní­cio e mea­dos dos anos oitenta, os dois par­tidos – e mesmo o PSDB, um pouco mais dis­tante o PT –, sem­pre con­viveram como co-​irmãos, mesmo no período da rup­tura tem­porária, em 1994, havia espaço para dis­cussão entre suas lid­er­anças políti­cas e entre seus fil­i­a­dos e mil­i­tantes, tanto assim, que já em 1996, se ini­cia­ram as trata­ti­vas para o retorno às anti­gas parce­rias, o que só foi pos­sível nas eleições de 1998.

Em quase quarenta anos nunca tive­mos con­hec­i­mento de uma, sequer, ten­ta­tiva ou cog­i­tação de uma das leg­en­das para impedir ou obstac­u­lar a con­venção do outro. Aliás, não recordo deste tipo de ini­cia­tiva nem mesmo con­tra os arquir­rivais do grupo Sar­ney con­tra quem as duas leg­en­das sem­pre dis­putaram o poder.

Não dis­cuto o mérito da ação, até acred­ito na existên­cia de ele­men­tos, tanto assim que o mag­istrado con­cedeu lim­i­nar para inter­di­tar a par­tic­i­pação pop­u­lar no evento sob pena de multa pesadís­sima.

Muito emb­ora a con­venção do PDT/​PL tenha ocor­rido em um lugar for­mal­mente fechado, um está­dio de fute­bol, os mil­hares de par­tic­i­pantes, falam em dez, vinte, trinta mil e até mais par­tic­i­pantes, eram fil­i­a­dos aos par­tidos políti­cos que lá estavam? Mais, a Justiça Eleitoral ou mes­mos os par­tidos adver­sários estavam lá cobrando a “carteira de fil­i­ado” de cada um?

A ati­tude “histórica” de se ten­tar impedir ou impor obstácu­los a real­iza­ção de uma con­venção par­tidária, ainda mais quando o par­tido político “inter­di­tado” sem­pre foi um co-​irmão, ao meu sen­tir, repito, não “com­bina” com o dis­curso que se tenta propalar de que o can­didato encontra-​se muito bem, obri­gado, já “garan­tido” no segundo turno.

Se assim o fosse, deixaria a “bola rolar” para lá na frente con­quis­tar as lid­er­anças e os sim­pa­ti­zantes dos can­didatos que não foram para o segundo turno para o seu palanque.

Afi­nal, que mérito há em ten­tar impedir a par­tic­i­pação de pop­u­lares em uma con­venção? Pior ainda quando se sabe que estas pes­soas via­jaram dezenas, cen­te­nas de quilômet­ros para par­tic­i­parem do evento dos seus candidatos.

Imag­ino que as lid­er­anças do PSB e das out­ras leg­en­das que sem­pre estiveram jun­tas em tan­tos embates sentiram-​se “traí­das” diante da ati­tude do par­tido co-​irmão.

Bem antes de tudo isso, anal­isava para um amigo querido e quadro histórico do PDT que have­ria uma tendên­cia nat­ural da can­di­datura do seu par­tido vir a “min­guar”.

Dizia isso a ele com base na “teo­ria dos con­jun­tos”, que apren­demos lá no primário.

A análise é fácil com­preen­são: con­siderando que o can­didato Dino pos­suía mas de 50% (cinquenta por cento) do votos e que os dois can­didatos deriva­dos do seu grupo pos­suíam em torno de 25% (vinte e cinco por cento) cada um, a tendên­cia seria que um dos con­jun­tos perdesse ele­men­tos à medida que o con­junto da qual deriva se desloque em bene­fí­cio do outro.

Trata-​se de um raciocínio em cima de uma questão matemática – e política pos­suir razões que a própria razão descon­hece –, este amigo dizia discordar.

Emb­ora con­cor­dando que os votos dos can­didatos sejam deriva­dos do “mesmo campo” político, argu­men­tava que o papel do can­didato ao Senado, Flávio Dino, não seria (será) deter­mi­nante, dizendo, inclu­sive, que Dino já seria “freguês” de Rocha, citando como exem­plo as eleições de 2008, quando teria per­dido por conta da artic­u­lação do seu can­didato e a eleição de 2018, quando o seu can­didato teria tido mais votos do que ele, quando dis­putou o Senado e ele o Gov­erno Estad­ual.

Por tal raciocínio, Dino, ape­sar de fig­u­rar nas pesquisas eleitorais para o Senado com o dobro das intenções de votos do can­didato dele, para gov­er­nador, não pos­suiria a “capaci­dade” de tirar votos do mesmo em favor de Brandão.

Só saber­e­mos se o meu amigo estava certo no seu prognós­tico quando as urnas “falarem”, em 02 de out­ubro próx­imo.

A política é feita de gestos e ati­tudes que são ori­en­ta­dos por pesquisas inter­nas.

O fato da cam­panha do senador pede­tista “queimar a largada” e par­tir para o ataque con­tra os can­didatos Lahé­sio e Dino/​Brandão, não com­bi­nam com o con­forto dos que já estão à espera do adver­sário para o próx­imo round.

Mas estas são opiniões e pon­tos de vis­tas pes­soais – e de quem encontra-​se “dis­tante” do processo.

Até aqui, vejo que o can­didato Lahé­sio pode crescer muito mais do que cresceu até aqui; que o can­didato Rocha não con­seguiu con­quis­tar os votos do bolsonarismo-​raiz – ape­sar do,partido do,presidente inte­grar sua chapa –, que migraram para Lahé­sio e que pode, ainda perder, votos à medida que for fusti­gado pelo próprio Lahé­sio ou pela chapa Dino/​Brandão; que, para a vitória ou para der­rota, a can­didato Brandão depende do enga­ja­mento do can­didato ao Senado, Flávio Dino, para trans­ferir os votos que pre­cisa ainda vin­cu­la­dos ao can­didato Rocha pra ele (Brandão), noutras palavras, para Brandão avançar para a segunda etapa é necessário o “tra­balho her­cúleo” de “amar­rar” cada voto (ou a maio­ria deles) de Dino em Brandão e vice-​versa. De onde virão estes votos ou se virão, será a chave para saber­mos se Brandão vai ao segundo turno e/​ou se Dino é mesmo “freguês” de Rocha.
Uma dica: na minha opinião, a chapa de Rocha “ajuda” Brandão ao só se referirem ao gov­erno como Dino/​Brandão, ajuda a “amar­rar” os votos nos dois.

Os demais can­didatos, até aqui, não os vejo com poten­cial para irem para a segunda etapa da disputa.

Ressalvo, por fim, que o processo eleitoral ainda se encon­tra no iní­cio, a cam­panha mesmo só daqui a alguns dias, ou seja, temos muita água a rolar por baixo da ponte.

Aí, sim, será o momento, que se diz na política, de “vaca descon­hecer bez­erro”.

Abdon C. Mar­inho é advogado.