AbdonMarinho - Recorte de mais uma década perdida.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Recorte de mais uma década perdida.

RECORTE DE MAIS UMA DÉCADA PERDIDA.

Por Abdon C. Marinho.

UMA REDE SOCIAL, no último dia 4 de julho de 2022, informa que tenho fatos a recor­dar rel­a­tivos àquela data. Come­cei a rolar a tela e ver­i­ficar fotos, situ­ações, posta­gens até que me deparei com um “tex­tinho” daquela data escrito há dez anos. Achei-​o tão atual que o com­par­til­hei nova­mente.

O texto cujo título é “Real­i­dade”, narra uma das min­has via­gens pelo inte­rior do Maran­hão e a dis­crepân­cia exis­tente entre a pro­pa­ganda ofi­cial e o que obser­vava como a sendo a vida e as difi­cul­dades do maran­hense e do brasileiro em sen­tido mais amplo.

Em 2012 gov­er­navam o estado e o país, respec­ti­va­mente, as sen­ho­ras Roseana Sar­ney e Dilma Rousseff.

O meu “diário” de viagem afirma “no meu périplo pelo inte­rior, a con­statação de que o mundo real é bem difer­ente da pro­pa­ganda ofi­cial” para dizer “quando cheguei ao Cujupe não encon­trei pas­sagem de volta em nen­hum ferry-​boat. Con­segui fazer uma reserva no ferry das 21:10 horas. A dis­tân­cia do Cujupe a Pin­heiro é cerca de 100 km, você gasta mais 1:30 horas de trav­es­sia, fazendo todo per­curso em, no máx­imo, 3 horas. Pois é. Mas não é assim. Não temos ferry-​boat sufi­cientes. Isso em plena terça-​feira“.

Hoje, quase diari­a­mente, assis­ti­mos protestos dos usuários do sis­tema tanto do lado de Alcân­tara, no Cujupe, quanto de cá, São Luís, na Ponta da Espera. Quando voltei na quinta-​feira de uma viagem pela baix­ada, para pegar ferry-​boat das 17:30 horas, a fila de espera, mais uma vez, estava chegando na curva, o que sig­nifica tumulto quase certo pois não tem como aten­der com bre­v­i­dade quem deseja atrav­es­sar.

Na sem­ana ante­rior um amigo me disse que ficou mais de 8 horas na fila de espera – que já pode­ria chamar-​se de fila do deses­pero –, até con­seguir embar­car.

Ontem, sexta-​feira, um dos dias com maior movi­mento no sen­tido Cujupe-​Ponta da Espera, soube que havia um ferry-​boat em ativi­dade. Podemos imag­i­nar o grau de angús­tia dos que têm que esperar por uma vaga para atrav­es­sar.

Como disse em tex­tos ante­ri­ores não acred­ito em uma solução ráp­ida para o prob­lema da escassez de ferry-​boat para a trav­es­sia rumo à Baix­ada Maran­hense e vice-​versa. Essa solução demanda tempo uma vez que não temos esse tipo de trans­porte à dis­posição no “super­me­r­cado” e mesmo recu­per­ação dos que estão para­dos ou sucatea­dos é algo que demanda tempo.

Não ajuda, tam­bém, a explo­ração política que fazem em torno do tema até porque, a maio­ria dos críti­cos, nos últi­mos dez anos, uma década, só para me referir à data do texto de 4 de julho de 2012, nunca deram um pio sobre o prob­lema, des­ti­naram ver­bas para uma rodovia ou ponte que reduzisse o tempo dos “baix­adeiros” que pre­cisam deslocar-​se até a ilha e dos ilhéus que neces­si­tam deslocar-​se até a Baix­ada.

Acho, aliás, que esse tema nunca esteve entre as suas pre­ocu­pações. Há dez anos, repito, o sis­tema já apre­sen­tava prob­le­mas.

Agora, às vésperas das eleições, ten­tam tirar “casquinha” de um prob­lema para o qual nunca tiveram um momento de atenção.

Como já disse noutras opor­tu­nidades, amenizaria o clima de angús­tia e sofri­mento das pes­soas nas filas de espera do lado de cá e do lado de lá, se tivésse­mos uma inter­net de qual­i­dade a per­mi­tir durante as lon­gas esperas que as pes­soas pudessem tra­bal­har, divertir-​se ou mesmo, ape­nas se comu­nicar. Mesmo uma cober­tura de tele­fo­nia móvel já aju­daria.

Para angús­tia de cem por cento dos usuários do sis­tema deste trans­porte, tanto quem chega no Cujupe quanto os que chegam na Ponta da Espera, ficam inco­mu­nicáveis. São cri­anças, jovens e adul­tos que ficam por horas a fio sem qual­quer comu­ni­cação.

Acred­ito que o gov­erno estad­ual, dep­uta­dos fed­erais, estad­u­ais e senadores pode­riam, ao invés de estarem explo­rando o sofri­mento dos cidadãos, faz­erem algum tipo de gestão para ini­cia­rem a implan­tação do 5G no estado por estes dois locais (Cujupe e Ponta da Espera), são ambi­entes restri­tos que não deman­daria muito inves­ti­mento para fazer as insta­lações, já se tem até tor­res de comu­ni­cação que pode­riam ser usadas pelas diver­sas oper­ado­ras.

Há dez anos dizia que “finda a audiên­cia, decidi voltar por terra, sub­sti­tuído, no máx­imo, 3 horas por quase 6 horas. Aí a real­i­dade se torna mais pre­sente, não bas­tasse a decadên­cia das cidades por onde pas­samos, não se vê ao longo da rodovia pro­dução de nada, áreas imen­sas sem pro­dução alguma, homens, jovens sen­ta­dos embaixo de árvores, vendo o tempo passar”.

Pas­sa­dos dez anos vemos que pouco ou nada daquela real­i­dade se mod­i­fi­cou. Con­tin­u­amos com o estado mais pobre da fed­er­ação a despeito de pos­suirmos um solo fér­til, rios perenes com água em abundân­cia.

Por onde pas­samos, nas cidades ou nos cam­pos não vemos quais­quer sinais de ativi­dades econômi­cas, não exis­tem indús­trias, não existe pro­dução agrí­cola, as cidades estão deca­dentes e os cam­pos ociosos e aque­las mes­mas pes­soas que vi nos alpen­dres das casas ou sob as árvores con­tin­uam lá em pleno horário de expe­di­ente, aguardando dia após dia que caia auxílios da várias bol­sas, as aposen­ta­do­rias ou os salários dos servi­dores públi­cos.

Como podemos son­har com um estado desen­volvido se nunca fez-​se nada no sen­tido de explo­rar­mos as suas potencialidades?

Na mesma pas­sagem, informo que “a rodovia estre­ita apre­senta mar­cações de uma pos­sível reforma, entre­tanto não havia homens ou máquinas na pista. Ape­nas numa local­i­dade encon­trei uma meia dúzia de tra­bal­hadores tocando a reforma da MA-​014, nas prox­im­i­dades de Viana. Só. Nos cortes feitos se percebe a espes­sura do asfalto sug­erindo ainda muitas refor­mas nos anos vindouros”.

A mesma real­i­dade que se apre­sen­tava há dez anos con­tinua se apre­sen­tando hoje. Quan­tas refor­mas nestes dez anos não foram feitas na MA-​014? Não “adi­v­in­hei” que seria assim, ape­nas con­statei – e con­tinuo a con­statar –, que o poder público “joga din­heiro fora”, mil­hões e mil­hões todos os anos com obras de infraestru­tura feitas para não durar um inverno. A velha mis­são de enx­u­gar gelo ou as vel­has “estradas para morder”.

E con­tin­u­ava: “ao pegar a BR 135 em Miranda do Norte o caos se instala, com os veícu­los tendo que andar em com­boios e sendo sur­preen­di­dos com perigosas ultra­pas­sagens na estre­ita pista. Ora um carro tenta pas­sar na nossa frente, ora o veículo que vem na mão con­trária força uma redução de veloci­dade para evi­tar uma batida frontal”.

E não con­tinua a mesma coisa?

Há dez anos dizia: “leio que a refi­naria de Bacabeira foi can­ce­lada”. E me per­gun­tava: “Como adi­ada? Como can­ce­lada? Cadê os políti­cos do Maran­hão, tão poderosos e dili­gentes? Por que não cuidam dessas coisas ele­mentares que aten­de­riam os inter­esses da pop­u­lação? Que inter­esses defen­dem, os seus, dos seus familiares?”.

Pois é, meus ami­gos, há dez anos diziam que a Refi­naria de Bacabeira seria adi­ada. Alguns já dizia que seria can­ce­lada.

O pior acon­te­ceu, ficamos sem refi­naria, sem os mil­hares de empre­gos, com dezenas de pequenos, médios e grandes empresários que acred­i­taram nos gov­er­nos “que­bra­dos” e o Brasil, país autossu­fi­ciente em pro­dução de petróleo, tendo que pagar muito mais caro pelo com­bustível que uti­liza e sub­metido, mis­er­av­el­mente, as intem­péries do mer­cado, da oscilação do dólar e aos humores dos “sen­hores das guer­ras”.

Naquela opor­tu­nidade, há dez anos, me per­gun­tava: “Por que o Maran­hão não tem um plano de desen­volvi­mento real, den­tro de suas potencialidades?”.

Cadê o plano de desen­volvi­mento? Por que con­tin­u­amos, prati­ca­mente, sem ter­mos avançado quase nada nos índices de desen­volvi­mento humano e nos indi­cadores soci­ais – tendo, na maio­ria deles apre­sen­tado uma sig­ni­fica­tiva piora?

Fechava aquele texto com uma con­statação: “a sen­sação que temos é que os políti­cos do Maran­hão não têm ideia nen­huma de como desen­volver o estado. Tra­bal­ham ape­nas para se elegerem e elegerem os seus a cada dois anos. Falta seriedade. falta, sobre­tudo, ver­gonha na cara, essa mesma falta de ver­gonha se estende tam­bém a população”.

Hoje, dez anos depois, gostaria de estar errado nas min­has pre­visões, gostaria de pedir des­cul­pas a aque­les que de alguma forma se sen­ti­ram ofen­di­dos com min­has palavras, não ape­nas as palavras escritas naquele texto especí­fico de 2012 e que inspira este texto, mas de todas escritas antes e depois.

Infe­liz­mente isso é algo que não posso fazer. A situ­ação do país e estado, em par­tic­u­lar, é de imensa difi­cul­dade. O país volta ao Mapa da Fome da ONU, são mais de 33 mil­hões de brasileiros que não têm o que comer; são idosos, homens, mul­heres, cri­anças, vagando todos os dias atrás de um prato de comida ou de um pedaço de pão.

Ontem, mesmo, cortou-​me o coração as lágri­mas de uma sen­hora chorando ao dizer que só con­seguia fazer uma refeição por dia, só almoçava e por isso estava chorando. Mais difí­cil, ainda, é a situ­ação dos idosos, sen­horz­in­hos e sen­hor­in­has já pas­sando dos setenta, oitenta anos tendo que sobre­viver nas sel­vas das ruas jus­ta­mente na fase da vida que mais pre­cisam de cuida­dos e acol­hi­men­tos.

Que país é este que deixa seus idosos pere­cerem? Que des­graça nos acometeu?

Não, não devo des­cul­pas a ninguém, ainda mais con­siderando que estes mes­mos políti­cos do Brasil e Maran­hão em ape­nas uma década se tornaram mul­ti­m­il­ionários tendo como único emprego o mandato out­or­gado pelo povo, com pou­cas exceções.

E ninguém se per­gunta como enricaram, como ficaram ricos “bem novinhos”.

Pobre Brasil!

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.