AbdonMarinho - Uma eleição federalizada.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Uma eleição federalizada.


UMA ELEIÇÃO FEDERALIZADA.

Por Abdon Marinho.

A ANÁLISE POLÍTICA não é con­tra ou a favor de ninguém.

Se ela se porta em bene­fí­cio de um ou con­trária a outro não se trata de análise, mas, sim, de uma peça pub­lic­itária ou de pro­pa­ganda.

A análise, tam­bém, não é um exer­cí­cio de adi­v­in­hação ou de achismo.

Se o indi­ví­duo, sem qual­quer base, diz alguma coisa, o que disse pode ser um desejo, uma von­tade, ou uma sug­estão do que gostaria que acon­te­cesse, mas, não uma análise política.

Como uma grande parcela dos jor­nal­is­tas e/​ou blogueiros do estado (e do país) encontra-​se vin­cu­lada aos can­didatos ou mesmo às pau­tas políti­cas desta ou daquela cor­rente, difi­cil­mente encon­tramos no que lemos no dia a dia análises políti­cas, mas, sim, opiniões – que até podemos achá-​las per­ti­nentes –, ou, na maior parte das vezes, sug­estões de pau­tas para os políti­cos incau­tos ou mesmo para a pop­u­lação.

O ver­dadeiro anal­ista (ou quem merece assim ser chamado), indifer­ente ao que gostaria que fosse e aos seus inter­esses e con­vicções pes­soais, exam­ina os fatos e faz sua pro­jeção para o futuro.

Pode errar, pode ser que não pos­sua infor­mações sufi­cientes, pode ser que o quadro político dê uma quinada.

São muitas as razões para que uma análise política deixe de acon­te­cer e elas inde­pen­dem da von­tade de quem as pro­je­tou.

Situ­ação diversa é daquela em que uma opinião, indução ou sug­estão não se con­fir­mou.

Pois bem, faço essa intro­dução pra dizer que o atual quadro político no nosso estado já havia sido pro­je­tado em nos­sos tex­tos há cerca de um ano. Para ver­i­ficar basta fazer uma sin­gela pesquisa.

Já em maio do ano pas­sado – e até mesmo antes –, assen­tava que o can­didato do grupo gov­ernista seria o vice-​governador e que os demais can­didatos seriam colo­ca­dos no espec­tro político do bol­sonar­ismo.

Em pelo menos três ou qua­tro tex­tos de mea­dos do ano pas­sado digo exata­mente isso.

Faço tal reg­istro ape­nas para dizer que uma mul­ti­dão de pes­soas que escreve para jor­nais e/​ou blogues ou sites con­tinua a não fazer análises políti­cas, mas a expres­sar o que gostaria que acontecesse.

O exem­plo mais claro assisti na última sem­ana ao acom­pan­har alguns gru­pos de aplica­tivos e mesmo blogues e sites de notí­cias a respeito do anún­cio da decisão de um dep­utado fed­eral e do seu grupo a cerca de quem iriam apoiar nas eleições deste ano.

Ficaram em clima de expec­ta­tiva, como se fica em final de Copa do Mundo, e trataram como “novi­dade” a decisão anun­ci­ada.

Fiquei pasmo ao perce­ber que mesmo políti­cos de “alto escalão” deu trata­mento de novi­dade a um fato por mim anun­ci­ado há mais de um ano.

Fiquei com sen­sação de que não leram o que havia escrito ou, que, na ver­dade, tanto políti­cos quando os cidadãos comuns, pas­sando por alguns for­madores de opinião, gostam de acred­i­tar naquilo que lhes “faz bem” ou que de alguma forma atenda aos seus inter­esses e con­vicções pes­soais, ainda que isso desafie a ver­dade e a lóg­ica.

Vamos aos fatos?

Leio que em muitos esta­dos da fed­er­ação os políti­cos ten­tam a todo custo “fugir” do ambi­ente de polar­iza­ção política que toma de conta do país.

No Maran­hão, como sabe­mos, dar-​se o oposto. A política estad­ual foi “cap­turada” pela polar­iza­ção entre o bol­sonar­ismo e o lulismo.

Desde a cam­panha de 2018 que o ex-​governador do estado e o atual pres­i­dente da República vêm con­stru­indo uma relação de ódio ple­na­mente cor­re­spon­dida.

Ambos eleitos, o ódio mútuo foi se con­sol­i­dando com o ex-​governador sem­pre que teve opor­tu­nidade – e ainda hoje –, fusti­gando o pres­i­dente e seu gov­erno e sendo respon­dido e/​ou ata­cado na mesma moeda.

Este “culto” ao ódio é per­feita­mente per­cep­tível entre os próprios – pres­i­dente e ex-​governador –, e entre os seguidores de ambos.

Logo, con­hecendo o pres­i­dente e o seu entorno e mesmo o bol­sonar­ismo, de uma forma geral, não é de duvi­dar – e os fatos elim­i­nam quais­quer dúvi­das –, que têm inter­esse e tra­bal­harão, “sem tomar chegada”, con­tra a eleição do ex-​governador.

Imag­i­nar que have­ria espaço político para o par­tido do pres­i­dente da República apoiar uma chapa tendo o ex-​governador como líder – ainda que não o apoiassem –, me parece ingenuidade ou tolice.

Acred­ito que, mesmo que o pres­i­dente do par­tido local resolvesse “com­prar” a briga para apoiar o atual gov­er­nador, can­didato a reeleição, não con­seguiria, pois, tomariam o par­tido dele.

Con­siderando que a dis­cussão deu-​se ape­nas entre o apoio a dois can­didatos e um já car­regava o óbice de ser o can­didato do “inimigo público número um” do bol­sonar­ismo, a opção óbvia seria, como foi, a outra can­di­datura.

Ainda assim, para “carim­bar o apoio” do par­tido do pres­i­dente o can­didato oposi­cionista ao gov­erno teve que “pagar uma prenda”, que foi declarar pub­li­ca­mente – difer­ente do que vinha fazendo até então –, que não mais apoiaria a can­di­datura ao Senado do ex-​governador, agora ex-​aliado desde sem­pre.

A declar­ação pública foi a “senha” para con­seguir o apoio do par­tido do pres­i­dente e do grupo político a par­tir das artic­u­lações feitas na cap­i­tal da República.

A análise política não admite juízo de valor sobre os fatos, ape­nas que os colo­que­mos com clareza.

É isso que procu­ramos fazer, inclu­sive, com a omis­são delib­er­ada dos per­son­agens. Pode­ria ser qual­quer um.

Os can­didatos, cada um no seu quadrado, pode­riam ser Pedrinho, Joãoz­inho e Huguinho, que não mudaria em nada os fatos pos­tos.

Imag­ino tam­bém tratar-​se de uma “estraté­gia” para enganar-​se a si e aos incau­tos, que, em uma eleição tão polar­izada quanto a atual, com pos­si­bil­i­dade de ser deci­dida no primeiro turno, exista espaço para uma “frente ampla”, com uma can­di­datura ao gov­erno “abrindo” palanque para diver­sas can­di­dat­uras presidenciais.

Não existe isso.

Ainda que o Maran­hão rep­re­sente muito pouco do ponto de vista do número de eleitores, como dito ante­ri­or­mente, em nen­hum outro estado existe tanto ódio entre dois can­didatos quanto o ódio reli­giosa­mente cul­ti­vado entre o pres­i­dente da República e o ex-​governador, bem como, entre o bol­sonar­ismo e o lulismo.

Não estran­haria se o próprio pres­i­dente viesse ao estado ou gravasse vídeos não ape­nas pedido votos para o “seu” can­didato a senador, mas, sobre­tudo, pedindo aos seus seguidores que não votem no seu “desafeto” de jeito nen­hum.

Diante disso, não me parece lógico imag­i­nar que o can­didato do PT aceite subir no palanque pedetista/​liberal, assim como, que o PL, par­tido do pres­i­dente e que dev­erá ter a can­di­datura a vice na chapa ou ainda que não seja, o maior destaque da can­di­datura, aceite esse tipo de “arranjo” ou que o ex-​governador, alvo do ódio recíproco do bol­sonar­ismo con­corde “de boa” que isso venha acon­te­cer – que o can­didato da col­i­gação PT/​PSB, suba em tal palanque.

Digo com pesar, que a política brasileira chegou a um nível de acir­ra­mento tal, que as posições de bol­sonar­is­tas e lulis­tas são inc­on­cil­iáveis. Mesmo nos seios das famílias já não os con­vi­dam para os mes­mos even­tos, pois a con­fusão é quase certa.

Se me dis­serem que bol­sonar­is­tas e lulis­tas estarão no mesmo palanque, muito emb­ora na política maran­hense, segundo lição de Vitorino Freire, “até boi avoe”, custarei a acred­i­tar.

O que me parece fac­tível que ocorra, ainda den­tro do já havia afir­mado desde o ano pas­sado, é que todas as forças bol­sonar­is­tas – as de raiz e as de ocasião –, estarão unidas con­tra a eleição do ex-​governador ao Senado – e este será o maior desafio –, unindo-​se no apoio a uma can­di­datura ao gov­erno no segundo turno, se, difer­ente do que imag­i­nam, não tiverem duas can­di­dat­uras bol­sonar­is­tas naquela dis­puta.

Já o con­sór­cio gov­ernista, imag­ino que tra­bal­hará com muito mais afinco para colo­car o carimbo de bol­sonar­is­tas nos opos­i­tores no intento de cap­i­talizarem para as suas can­di­dat­uras o apoio do lulismo – ainda muito forte no estado.

O ex-​governador e can­didato ao Senado, como ide­al­izador ou, no mín­imo, impul­sion­ador de tal “estraté­gia” pre­cis­ará de todo “jogo de cin­tura” e, prin­ci­pal­mente, utilizar-​se de todo prestí­gio que pos­suir para “fed­er­alizar” ainda mais a dis­puta, não ape­nas a seu favor, mas, prin­ci­pal­mente, em favor do seu can­didato ao gov­erno.

Fal­tando qua­tro meses para as eleições e fal­tando pou­cas definições, as peças estão prontas para serem mex­i­das no tab­uleiro da política.

Vamos ao jogo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.