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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A OFENSA GAY: UMA BREVE REFLEXÃO.
UMA importante figura da sociedade referiu-se a duas outras figuras, ambas casadas, não entre si, mas com respectivos cônjuges, como um casal.
Foi o que bastou para sua colocação ganhasse ares de escândalo e fosse compartilhada exaustivamente como se fora uma agressão àqueles que supostamente comporiam o casal.
Um dos referidos teria falado em processo. O movimento de diversidade ligado aos supostos ofendidos saiu-se em suas defesas (?) e atacando (?) o autor do chiste.
E, por fim, o próprio autor da assertiva veio a público pedir desculpa pela suposta ofensa.
A reflexão que trago é: referir-se a pessoas do mesmo sexo como um casal é uma ofensa? A homossexualidade implícita na assertiva é um xingamento? Dizer que alguém é gay, lésbica, chega a ser uma agressão?
A discussão é interessante porque suscitada por um cidadão que representa um estado da federação e, pelo menos supostamente, como uma ofensa, tanto que quedou-se a fazer um pedido de desculpas.
Por sua vez, pelo menos um dos supostos ofendidos, também encarou o chiste como uma agressão, tanto que ameaçou o primeiro com um processo criminal na mais alta corte do país.
Vejam, temos duas pessoas importantes, candidatas a cargos mais importantes ainda, que consideram uma parcela significativa da sociedade, como ofensiva, e por isso mesmo não quer ser comparada a ela. Foi isso mesmo?
Conseguem perceber o preconceito explícito?
O mais curioso de todo o episódio é que o próprio movimento representante da diversidade encarou a colocação como uma ofensa, não as pessoas a que representa, mas sim, as suas importantes lideranças políticas referidas na graça. A situação torna-se ainda mais delicada para o movimento diante da ameaça de processo feita pelo(s) suposto(s) ofendido(s).
Ora, se eu me considero ofendido por alguém “insinuar” que sou gay, estou, então me achando melhor que os gays? Se represento um grupo que se diz defensor dos direitos das minorias, por que razão, ainda que por um momento, não posso ser considerado ou sentir todo o preconceito que sofrem no seu dia a dia? Ah, já sei gay é bom, mas na casa do vizinho. É isso?
Quer me parecer que o gracejo suscitado, pelas repercussões que alcançou, revela muito da personalidade dos seus protagonistas. Quem lançou, por tê-lo feito como ofensa; quem recebeu por se achar melhor que o suposto “objeto” da ofensa; quem escandalizou o assunto, políticos, representantes da mídia, etc, que tratou como uma ofensa o fato de um cidadão ter se referido a dois outros como um casal.
A prova maior da absurda situação é o indevido pedido de desculpas formulado. A pilhéria em si, ao meu sentir, pelo menos, não foi ofensiva. Ofensivo, sim, o pedido de desculpas, pois deu a entender que a pilhéria fora feita na intenção de ofender.
Se alguém é merecedor de desculpas, é a comunidade gay, que entrou na briga das “comadres” apenas para ser ofendida por todos, inclusive pelo movimento que se diz defensor da diversidade.
Vejam o absurdo da situação: um cidadão vai a televisão dizer que ele (ou a mulher) vai se dirigir a mais alta Corte do país para processar um outro por ter “sofrido” a insinuação que comporia um casal gay. E, acaso, ele e o suposto cônjuge acham-se melhores que os casais gays? Ou mesmo suas cônjuges o são? O fato de alguém ser gay é crime?
Aí, vem o outro com um pedido de desculpas “reconhecendo” que os ofendera, como se o fato de alguém compor um casal gay fosse uma ofensa.
Está ficando interessante a reflexão: se não considerasse o que disse uma ofensa não teria porque pedir desculpas. Certo?
Na outra ponta, se os destinatários não tivessem considerado como uma ofensa não teriam porque falar em processo, fazer cara de ofendidos, etc. Correto?
O mais vergonhoso da situação toda é que “ofensores” e “ofendidos” se dizem defensores do povo, legítimos representantes da sociedade que entre os seus membros possuem milhões de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais e simpatizantes. Todos eleitores. Infelizmente, nem todos atentos para agressão, gratuita, que sofreram.
No fundo, ofensores e ofendidos, estão no mesmo barco: no que considera as minorias que compõem a sociedade brasileira motivos de piadas e merecedora de ofensas.
Mesmo a sociedade – que parece deleitar-se com o espetáculo – parece não perceber o alto grau de preconceito que uma de suas parcelas sofreu no episódio.
Acha “fofo” e divertido que apareçam nas novelas das sete – até como casais –, mas não ver nada demais no fato de alguém ser chamado de gay, lésbica como forma de xingamento.
Uma lástima.
Abdon Marinho.