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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

ORELHAS E CONTRADIÇÕES.
Por Abdon Marinho.
— ABDON, tenha cuidado com as orelhas.
Quando ouvi tal recomendação pensei tratar-se de uma referência as minhas próprias orelhas, que a natureza fê-las tão generosas ou as da pessoa que recomendava, igualmente bem servido das conchas protetoras do aparelho auditivo.
Tomar cuidado com as orelhas foi um dos conselhos que me deu o ex-deputado Juarez Medeiros quando passei a publicar minhas ideias.
Cuidar das orelhas é não deixar margem para contestarem o que escrevemos.
Um amigo, especialista em segurança pública, disse que fui generoso ao me referir à violência urbana no Maranhão, pois, segundo seus estudos, seria bem maior. Disse-lhe que como não podia provar, preferia colocar os números oficiais.
Acredito que falta aos atuais inquilinos dos Leões cuidado com as “orelhas”. Quase tudo que dizem ou dizem deles pode ser questionado.
Vejam o caso do ranking do G1. A crítica que fiz foi, prioritariamente, à metodologia empregada. Que critérios utilizaram para escolherem 37 propostas de um e sessenta de outro; vinte e cinco ou trinta de um outro? E por que escolher aquelas proposta em detrimento de outras? Como considerar que alguém que realizou dois por cento de determinada promessa a cumpriu parcialmente? Mesmo que seja dez ou vinte por cento, a parte não cumprida é bem superior ao cumprido, logo, não faz sentido se dizer que a promessa “foi parcialmente cumprida”. Isso não é implicância, é lógica.
Vou além, o referido ranking fez parecer competentes aqueles que fizeram promessas de baixa expectativa com efeitos nefastos para os próximos pleitos. Os candidatos, para parecerem bem fita, vão prometer coisas simplórias, afinal o que importa é o cumprimento da promessa e não o nível das mesmas.
Ao fazerem tanto alarde diante de um ranking tão inconsistente, deram margem a diversos questionamentos, como, por exemplo, a verificação se aquilo apontado como cumprido o foi, efetivamente e, até mesmo, se fez ou se apenas inaugurou o que foi feito pelo governo anterior.
A questão da segurança pública, para citar outro exemplo, o governador prometeu dobrar o efetivo da policia, até agora, não chegou nem a um terço do prometido e, assim mesmo, chamando os aprovados no concurso realizado pela gestão anterior.
Estes detalhes são orelhas que os adversários podem “puxar” pois estão à vista de todos.
Agora mesmo, o próprio governador, deixa uma “orelha” à descoberto ao acusar o ex-presidente Sarney de mandar no Maranhão há 62 anos e sê-lo, portanto, responsável pela miséria do povo.
No mesmo dia que fez a afirmação, foi admoestado por um jornalista, que, noutras palavras, disse que o governador não conhecia a história política do Maranhão e que, pelo seu raciocínio, ele, o governador, já estaria a mandar no estado desde que assumiu o mandato de deputado federal em 2007.
Podia passar sem essa, até porque, durante a campanha de 2014 dizia que os Sarney não fariam jubileu de ouro no poder. Três anos depois, 49 viram 62 anos? Não enxergam a tolice?
Além do mais, não fica bem o governador, ou qualquer outro membro do seu partido, reclamarem da longevidade de poder do ex-presidente Sarney e sua responsabilidade pela miséria.
Qualquer outro pode, eles não. E é fácil explicar.
Como podem reclamar de longevidade no poder ou da miséria do nosso povo se, em 19 de novembro de 2017, aprovaram, no 14º Congresso do Partido Comunista do Brasil, uma Resolução com moção de apoio e solidariedade aos regimes comunistas da China, Cuba, Coreia do Norte, Laos e Vietnã?
Isso, sem contar toda louvação ao regime ditatorial que massacra o povo venezuelano, lhes negando, até mesmo, comida e medicamentos básicos ou ao regime dos aiatolás iranianos, que levou a nação persa a regredir no tempo e nos costumes.
O senhor Dino não pode ignorar isso pois fazia parte da mesa de honra do Congresso partidário, foi, inclusive, citado no documento onde consta, dentre outras coisas, que:
“Em cinco países, onde vivem mais de 20% da população do planeta, partidos comunistas dirigem experiências de construção e de transição ao socialismo. China, Vietnã, Cuba, República Popular Democrática da Coreia e Laos, cada um com suas peculiaridades e com diferentes níveis de resultados, empenham-se na luta por uma nova sociedade, em meio a situações nacionais complexas e a um quadro mundial hostil. O seu fortalecimento como nações soberanas, os esforços que fazem os seus povos, sob a direção dos partidos comunistas dirigentes do Estado, para viabilizar as estratégias de desenvolvimento e a transição ao socialismo, as ações de cooperação internacional e em prol da paz, têm o apoio e a solidariedade do PCdoB”.
Falar dos males que o sarneysismo causou ao Maranhão – que já tratei por diversas vezes –, e ao mesmo tempo hipotecar “apoio e solidariedade” a regimes ditatoriais que oprimem e matam seus cidadãos é uma contradição em si. É algo absolutamente sem sentido e muito próximo da patologia.
Na Coreia do Norte, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o poder tem passado de pai para filho, uma espécie de dinastia familiar comunista.
A miséria humana defendida pelo regime – e causada pela fome –, reduziu a estatura daquele povo; lá, as penas passam da pessoa do suposto “criminoso” – pois, criminoso é qualquer um que ousa divergir –, para seus familiares.
São famílias inteiras postas em Campos de Concentração com trabalhos forçados para serem “reeducadas”, gerações nascem, vivem e morrem em tais campos.
O restante da população não tem, sequer, o direito de pensar livremente, quando mais se manifestar. Aliás, se tivessem esse direito, talvez, não tivessem o que pensar ou o que manifestar, tal o nível de “domesticação” a que foram submetidos durante estas décadas todas.
Por fim, e graças ao apoio do regime autoritário chinês e ao rigoroso controle de fronteiras no sul, mantém a população aprisionada. Menos de duas mil pessoas conseguiram fugir ano passado, isso não se deu por uma melhoria nas condições de vida ou por não desejarem, mas em virtude do aumento da vigilância sobre os cidadãos.
A tática de confinar populações deve fazer parte do modelo “luminoso” que querem para humanidade, como é em Cuba, talvez o único lugar no mundo, onde pescadores não têm o direito de possuírem barcos de pesca, e onde a mesma família controla o poder com mão de ferro desde 1959.
Mesmo a China, com seu capitalismo disfarçado, mantém sua população privada de liberdades básicas, sem poder participar, livremente, da vida política da nação. Liberalismo econômico e opressão política. Este é o mote.
E os outros dois, com menor ou maior grau, as populações enfrentam idênticos níveis de restrições às suas liberdades básicas.
Pois é, estes modelos de sociedade estão exaltados no documento produzido pelo 14º Congresso do PCdoB.
Querem ver outra contradição dos comunistas maranhenses?
Fizeram um escarcéu com o suposto veto ao deputado Pedro Fernandes para o Ministério do Trabalho, onde, tenho certeza, faria um excelente trabalho e seria uma espécie de premiação a sua carreira política – já que manifesta interesse em aposentar-se.
Não entrando no mérito se foi ou não Sarney que vetou, qualquer um maranhense poderia reclamar da não nomeação de Pedro Fernandes para o ministério, menos os integrantes do PCdoB e de outros partidos que comungam seus ideais.
No caso do partido do governador, menos razão ainda para reclamar, uma vez que a mesma resolução, já referida, trata o governo Temer como golpista, ilegítimo e detentor de uma “agenda maldita” para o país, propondo revogação de tudo que foi aprovado no atual governo, inclusive a reforma trabalhista.
Fiquei sem entender os protestos. Será que não gostam do Pedro Fernandes? Será que não acham mais governo golpista, ilegítimo e com agenda maldita? Será que não sabem o que dizem? Será que não percebem a incongruência de suas posições, com o que escrevem, com o que defendem, etc.?
Já sei, queriam o Pedro Fernandes para que trabalhasse para derrubar a reforma que ele ajudou a aprovar. Era isso?
Sem querer colocar guizo em ninguém, entendo que as pessoas, sobretudo, as autoridades, precisam de um mínimo de coerência na exposição de suas ideias. Escrevem e difundem uma infinidade de tolices, que os militantes e aduladores reproduzem, curtem e compartilham sem, sequer, atentar para incongruência histórica ou real das mesmas.
Querem ver outra? Uma grande parte dos governos “sarneysistas” contou, oficialmente, com a participação e colaboração tanto do PCdoB quanto do PT. Isso, sem contar que desde 2003 então no consórcio governista que dirigiu o Brasil e que levou o país à bancarrota, refletindo no aumento da miséria no Maranhão a partir de 2015.
Em sua entrevista no Jornal Pequeno, no início do ano, o governador disse que o Maranhão não era uma ilha, que sofria com situação econômica do país. Pois é, esqueceu de nominar os responsáveis pela desgraça. Aliás, contraditoriamente, os defende com unhas e dentes.
Essa turma, também, precisa ser chamada para dividir conta da miséria, seja por estarem nos governos do “Sarney”, seja porque estiveram nos governos lulopetistas, a partir de 2003, seja porque sempre foram sarneysistas e agora convertidos ao comunismo de resultados.
Como dizia meu pai: “se com porcos estavam, com os porcos farelos comeram”.
As autoridades deveriam seguir o sábio conselho do ex-deputado Juarez Medeiros e cuidarem de suas “orelhas” e suas contradições, estas, a cada dia, maiores.
Abdon Marinho é advogado.