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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

AS OMISSÕES INJUSTIFICADAS E O QUEIROZ.

Por Abdon Marinho.

OS ASSUNTOS mais comentados no estado nesta semana que finda foram o assassinato do jovem publicitário Diogo Costa, sobrinho-neto do ex-presidente da República José Sarney e a acusação, prisão e soltura do jovem apontado como responsável pelo crime, após comprovação de que fora injustamente acusado – como bem diria o saudoso amigo João Damasceno Moreira –, de um crime impossível. 

Uma tragédia dentro de outra tragédia. 

Ambas com dores e sofrimentos a familiares e amigos.

Imaginem um jovem boa praça, querido por todos, com pouco mais quarenta anos, com família, amigos, num dia qualquer ao sair para resolver algum assunto, ser assassinato praticamente na porta de casa por conta de um trivial acidente de trânsito. 

De repente você está vivo, apreciando dia de sol, pensando em encontrar os amigos logo mais, levar o cachorro para passear, resolver um assunto de trabalho, abraçar um familiar e, num piscar de olhos, você jaz morto, estendido no asfalto quente, coberto por um papelão ou um pedaço de pano que alguma alma caridosa colocou para evitar a exposição a alguma câmera ou olhares indiscretos.

Imaginem um “quase” adolescente, com pouco mais de vinte anos, igualmente boa praça, igualmente querido por todos, que nunca se envolveu em confusão, com família, amigos, trabalho e tudo mais, ser acusado de haver cometido um crime bárbaro. 

De repente você está em casa, descansando do almoço ou de um dia de trabalho, batendo um papo com a família ou com algum amigo e chega a polícia e o arrebata do seio da família; pouco depois está diante de um delegado que lhe imputa o crime que acabara de acontecer contra um “figurão”; pouco depois você está sendo fotografado com fardamento do presídio; sua imagem, seu nome sendo “vazados” para a imprensa; daí a pouco, seu nome, imagem, filiação – como um travesseiro de penas que se rasgou –, voam pelo mundo enquanto você é levado ao cárcere ao encontro de pessoas estranhas.

De nada lhe vale que jure inocência, que seus pais, parentes e/ou amigos digam que não foi você, a convicção da autoridade é que você cometeu o crime bárbaro.

Mesmo para quem está “fora” da situação, que não conhece nenhum dos envolvidos, desde que consiga sentir empatia pelo próximo, não tem como ficar indiferente a situações de tamanha gravidade.

A morte, claro, é a tragédia maior, mas o que aconteceu a esse quase adolescente, acusado injustamente por um crime que não cometeu, vem logo atrás. Não vem muito distante da morte. 

É o verdadeiro pesadelo kafkiano.

Um amigo meu, advogado experiente na área criminal, costumava dizer que em interrogatórios os criminosos calejados pela vida de crimes, saiam-se melhores do que aqueles cidadãos de bem, que acabara de cometer seu primeiro delito ou que nunca cometeram nenhum e estavam sendo acusados injustamente.

Pois bem, a tragédia que vitimou o publicitário ocorreu pouco antes do meio dia de terça-feira, pelo que fiquei sabendo ao acompanhar a notícia dos blogues, pouco depois das 19 horas, pelos mesmos canais, já éramos informados que o crime havia sido solucionado e até o final do dia, o suposto criminoso já estava no cárcere. 

Ponto para a polícia! Prego batido, a ponta virada.

Na velocidade em que corriam as notícias, com base nas informações policiais, já expondo a fotografia do suspeito preso preventivamente pelo horrendo crime, divulgou-se até que o rapaz havia confessado o crime, dizendo que o tiro não era para matar.

No dia seguinte, graças ao esforço da família e ao trabalho de seus advogados, começou-se a questionar a elucidação do crime, vídeos surgiram mostrando que o carro pertencente ao pai do suspeito estaria estacionado no local de trabalho de onde saiu com o pai e o suspeito pouco depois do homicídio. 

A polícia, conforme noticiou a imprensa, contestou a argumentação da defesa, mas, confrontada pelo exame feito pelo Instituto de Criminalística, que apontou ser outro o modelo de carro  e não o do pai do suspeito, quedou-se à realidade dos fatos. 

A quinta-feira iniciou com a notícia de que o crime bárbaro ocorrido numa área nobre da cidade, repleta de vigilância, não estava solucionado; que havia um inocente preso e um carro roubado, com placa falsa circulando pela cidade.

No final do dia (quinta-feira) o já ex-suspeito era posto em liberdade e retornava à sua casa onde foi recebido, com muita emoção, pelos familiares, vizinhos e amigos.

Em meus vagares fico angustiado pelo “e se”. E se o rapaz não tivesse um álibi forte? E se seus pais, amigos, parentes e advogados não tivessem movido céus e terra na busca da verdade? E se o vídeo das imediações do local de trabalho do pai do rapaz não existisse? 

É angustiante pensar que o rapaz, um quase adolescente, ainda estivesse preso; seria denunciado, condenado e passaria muitos anos no cárcere por um crime que não cometeu.

O assassino restaria solto; o homicídio do jovem publicitário, querido por todos, impune.

E se você com você? Com alguém de sua família? Terrível pensar nisso, não é?

Aqui que entra o Queiroz. 

O leitor que teve a gentil paciência de ler o texto até aqui deve se perguntar: o que diabos tem o Queiroz  com o texto?

Pois é, não deveria ter, mas tem. 

Na quinta-feira, no ápice de uma semana trágica, com os fatos narrados acima tomando conta do noticiário local, o governador do estado não ocupou suas redes sociais para falar fatos de tamanha gravidade envolvendo seus administrados, mas ocupou para falar da prisão do cidadão Fabrício Queiroz, amigo do presidente da República, ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro. 

Foram diversos tuítes, retuítes do governador tratando da prisão do Queiroz, do fato do mesmo ter sido encontrado homiziado na casa do advogado da família Bolsonaro, etc., mas não dispensou um minuto para falar de dois fatos graves sobre os quais tem responsabilidade direta: a segurança dos cidadãos e o trabalho da polícia.

Não discordo que a prisão do senhor Queiroz é relevante – tratarei dela, inclusive, no próximo textão –, mas, sua excelência tratar deste assunto e ignorar completamente o que ocorre “sob suas barbas”, no seu governo é um despropósito, uma falta de senso, solidariedade e empatia para com os maranhenses. 

Vejam, mesmo o Bolsonaro, que desconheço quem o assessora, tratou – de forma equivocada, ao meu sentir –, da prisão do Queiroz,  mas, para o governador do Maranhão e seu governo, tudo que aconteceu essa semana no estado é como se não tivesse qualquer gravidade. 

Duas famílias sofreram horrores, a segunda, diretamente por uma ação do polícia que comanda e é como se nada tivesse acontecido, é como se nada estivesse acontecendo. 

O importante, para sua excelência, é a prisão do Queiroz.

Eu entendo que a polícia possa cometer erros – são humanos –, ainda que alguns me pareçam primários, como parece ser o que ocorreu nesta última semana.

O que não compreendo e não entendo é a razão – diante de um erro cometido –, que as autoridades não peçam desculpas, às vítimas, aos familiares, aos amigos das vítimas e à sociedade. 

Em outros lugares do mundo –  e mesmo no Brasil –, é comum as autoridades pedirem desculpas publicamente quando elas próprias ou seus subordinados cometem erros, aqui, não.  

É como se nada devessem à patuleia ignara. 

Embora menos grave – pelo resultado final –, o que ocorreu nesta semana que finda não é o primeiro erro grave cometido pela segurança pública estadual. 

Antes deste fato tivemos o horroroso episódio do cidadão que foi levado para uma “gaiola” ao relento onde veio a morrer, no Município de Barra do Corda; antes deste tivemos a desastrada ação da polícia em Balsas, que metralhou um carro, levando a morte uma jovem que mal começara a vida. 

Estes só os fatos que lembro.

Em todos estes casos – e talvez existam outros –, não se tem notícias de um pedido de desculpas oficial do governador e demais autoridades ou mesmo uma manifestação de solidariedade.

Não se tem notícias de qualquer satisfação à sociedade.

É como se estes fatos e a vida das pessoas, o sofrimento de seus amigos e parentes não tivessem qualquer importância. 

Como disse – e repito –, erros ou mesmo excessos podem até acontecer, mas precisam ser punidos e, principalmente, as vítimas e/ou seus familiares e amigos, e a sociedade, de forma geral, merecem um pedido de desculpas. 

Não encontramos nada neste sentido. Nem no site oficial do governo, nem site da secretaria, nem nas redes sociais de sua excelência. Nada.

Mas o Queiroz  está preso.

Abdon Marinho é advogado.